Retrospectiva: Os 50 melhores filmes de 2022
Listar os melhores filmes do ano é sempre uma atividade de mergulho cinéfilo profundo. Afinal, o cinema não se resume aos blockbusters que todo mundo viu. Nem mesmo à sala de cinema propriamente dita, já que alguns filmes fundamentais chegam direto pelo streaming. Além de apresentar os destaques, a seleção abaixo também tem o objetivo de despertar a curiosidade dos leitores para os filmes eleitos, que por ventura não foram vistos em 2022. Por isso, a amplitude de 50 títulos. Um listão para desbravar. Foram considerados apenas filmes lançados comercialmente no Brasil em 2022, tanto nos cinemas como nos serviços digitais. A organização é por ordem alfabética, de “A Lenda do Cavaleiro Verde” a “X – A Marca da Morte”, sem distinção hierárquica ou de gêneros. E para quem quiser conferir melhor, ainda há indicações de onde assistir (se disponíveis em streaming). Siga abaixo. | A LENDA DO CAVALEIRO VERDE | AMAZON PRIME VIDEO, VOD* Em clima de terror medieval e repleto de imagens impressionantes, “A Lenda do Cavaleiro Verde” oferece uma visão alternativa para a fábula dos Cavaleiros da Távola Redonda. Na trama, Sir Gawain (Dev Patel, de “Lion”) parte em uma jornada condenada e cheia de desafios para enfrentar uma criatura sobrenatural gigante, mesmo sabendo que viaja rumo à morte certa, com a esperança de que seja uma morte com honra. O filme tem direção de David Lowery (“Meu Amigo, O Dragão”), especialista em fantasias de visual deslumbrante, e ainda destaca em seu elenco Alicia Vikander (“Tomb Raider”), Joel Edgerton (“O Rei”), Sean Harris (“Missão: Impossível – Efeito Fallout”) e Barry Keoghan (“Eternos”). | A MULHER DE UM ESPIÃO | MUBI O cineasta japonês Kiyoshi Kurosawa alterna sua filmografia entre terrores cultuados e dramas premiados. O novo trabalho pertence ao segundo grupo e conquistou nove prêmios internacionais, inclusive Melhor Direção no Festival de Veneza de 2020. A trama gira em torno da decisão de um comerciante de deixar sua esposa no Japão para viajar até a China no começo da 2ª Guerra Mundial, onde testemunha um ato de barbárie. Suas ações causam mal-entendidos, ciúmes e problemas legais para a mulher. | A MULHER REI | VOD* O épico de ação traz Viola Davis (“O Esquadrão Suicida”) como líder de um exército de guerreiras africanas do século 19 – que foram a inspiração real das Dora Milaje dos quadrinhos e filmes do “Pantera Negra”. Durante dois séculos, as Agojie defenderam o Reino de Daomé, uma das nações africanas mais poderosas da era moderna, contra os colonizadores europeus e tribos vizinhas que tentavam invadir o país, mas sua transformação em personagens de cinema pela diretora Gina Prince-Bythewood (“The Old Guard”) deve mais à ficção dos quadrinhos mesmo, evocando as amazonas de “Mulher-Maravilha”, com todas as cenas de lutas e adrenalina que isso implica. A trama se concentra na relação da general Nanisca (Davis) com uma nova geração de guerreiras, destacando a ambiciosa Nawi (Thuso Mbedu, de “The Underground Railroad”), enquanto combatem lado a lado contra forças escravagistas. Há ainda uma interessante conexão com o tráfico de escravos para o Brasil. Elogiadíssimo, o filme atingiu 95% de aprovação entre a crítica do Rotten Tomatoes e um raro A+ entre o público americano no CinemaScore. E seu elenco ainda destaca Lashana Lynch (“007 – Sem Tempo Para Morrer”), a cantora Angélique Kidjo (“Arranjo de Natal”), Hero Fiennes Tiffin (“After”) e John Boyega (“Star Wars: A Ascensão Skywalker”) como o rei de Daomé. | A PIOR PESSOA DO MUNDO | VOD* A obra mais premiada do dinamarquês Joachim Trier (“Mais Forte que Bombas”), vencedora de 19 prêmios internacionais, indicada a dois Oscars (Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Internacional) e com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, acompanha uma mulher que se aproxima dos 30 anos com uma crise existencial. Vários de seus talentos foram desperdiçados e seu namorado está pressionando para que eles se estabeleçam. Uma noite, ela invade uma festa, conhece um homem charmoso e se joga em um novo relacionamento, esperando encontrar uma perspectiva diferente em sua vida. Elogiadíssima pelo desempenho, a norueguesa Renate Reinsve (“Oslo, 31 de Agosto”) foi consagrada como Melhor Atriz no Festival de Cannes e se tornou assediadíssima por Hollywood para novos projetos. | ADEUS, IDIOTAS | AMAZON PRIME VIDEO, VOD* Esta comédia de humor sombrio foi a grande vencedora do prêmio César, considerado o “Oscar francês”. O longa conquistou ao todo cinco estatuetas na cerimônia de 2021, incluindo Melhor Filme, Direção e Roteiro Original para o cineasta Albert Dupontel. A trama absurda acompanha uma mulher gravemente doente (Virginie Efira, de “Benedetta”) que tenta encontrar seu filho há muito perdido com a ajuda de um burocrata suicida (o próprio Dupontel) e um ativista cego (Nicolas Marié). Os três se aliam após a tentativa de suicídio do burocrata ser confundida com um ataque armado à repartição pública em que se encontram. Com o esvaziamento súbito do prédio cercado pela polícia, os homens decidem ajudar a mulher sem a frieza dos funcionários da instituição que a embarreiravam. | AFTERSUN | MUBI (6/1) O premiado drama britânico acompanha as lembranças de uma mulher chamada Sophie. Ela recorda a alegria e a melancolia de um feriado de verão na Turquia, que passou com o pai 20 anos atrás, quando era criança. Nesse passeio pela memória, eventos reais se misturam a fragmentos e fatos imaginários, enquanto ela busca preencher lacunas e reconciliar a imagem do pai com quem conviveu com as verdades sobre o homem que nunca conheceu. A estreia da diretora Charlotte Wells venceu 15 prêmios internacionais, inclusive nos festivais de Cannes e Deuville, além de concorrer a mais cinco troféus no Spirit Awards 2023 (o Oscar do cinema independente) e render uma indicação a Paul Mescal (“A Filha Perdida”), intérprete do pai, ao troféu de Melhor Ator Europeu do Ano no European Film Awards. | ARGENTINA, 1985 | AMAZON PRIME VIDEO O drama histórico é inspirado na luta real dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, que ousaram investigar e processar a ditadura militar da Argentina no ano de 1985. Sem se deixar intimidar pela influência dos militares, que continuava poderosa na nova democracia a ponto de amedrontar os profissionais do Ministério Público, os dois reuniram uma equipe jurídica de jovens, que, sem ter carreira para perder, viraram heróis improváveis na luta contra a impunidade. Sob constante ameaça a si mesmos e suas famílias, eles enfrentaram tudo até trazer justiça às vítimas da junta militar – ao contrário do que aconteceu no Brasil, onde a “anistia” escondeu os crimes da ditadura brasileira. A direção é do premiado Santiago Mitre (“Paulina”) e o elenco repleto de estrelas destaca Ricardo Darín (“O Segredo de Seus Olhos”) e Peter Lanzani (“O Clã”) como Strassera e Ocampo. Premiado nos prestigiosos festivais de Veneza (Itália) e San Sebastián (Espanha), e finalista no Oscar 2023 como representante da Argentina, atingiu 97% de aprovação no Rotten Tomatoes. | ATHENA | NETFLIX Premiado no Festival de Veneza, o filme ultraviolento apresenta uma batalha campal entre os moradores de um subúrbio francês, o Athena do título, e tropas de choque da polícia, após a morte acidental de uma criança gerar uma revolta popular. Visualmente impressionante, o filme é uma extensão dos clipes do diretor Roman Gavras, que já tinha abordado a tensão das periferias no clipe “Stress”, da dupla eletrônica Justice, e mostrado seu forte apuro estético em “Gosh”, de Jamie XX. Para seu longa-metragem, o filho do famoso cineasta político Costa-Gavras (“Z”, “Estado de Sítio”, “Os Desaparecidos”) se juntou ao malinês Ladj Ly, autor do roteiro de “Athena” – que venceu uma prateleira de prêmios com seu longa de estreia, “Os Miseráveis” (2019), também sobre conflito entre polícia e garotos do subúrbio. Opção porrada. | BATMAN | HBO MAX, VOD* A superprodução da Warner Bros. foi uma das maiores bilheterias de 2022. Longo, ambicioso e sombrio, também é o filme que os fãs esperavam que fosse. Nem pior nem melhor, seu tom extremamente sério combina com a abordagem de Christopher Nolan, enquanto o visual expressionista o aproxima do “Batman” de Tim Burton. A maior diferença é que o novo diretor, Matt Reeves, mostra-se mais integrado à visão sinergética do conglomerado, introduzindo vários elementos na trama para multiplicá-los em séries de streaming e na inevitável continuação. Se Robert Pattinson interpreta o primeiro Batman emo, por outro lado demonstra a melhor química com uma Mulher-Gato do cinema, papel desempenhado por Zoe Kravitz com um visual inspirado na Selina Kyle dos quadrinhos de “Batman: Ano Um”. Esta fase, por sinal, é exatamente a época explorada pela trama, antes da fama do herói se solidificar no submundo do crime. O período ainda permite apresentar os demais vilões em seus primeiros passos – e bem diferentes dos quadrinhos – , como um Pinguim mafioso (Colin Farrell) e principalmente um Charada serial killer (Paul Dano), mais perigoso que nas publicações da DC Comics – cometendo crimes tão brutais que tornam este “Batman” nada apropriado para crianças. | BELFAST | VOD* Vencedor do Festival de Toronto e do Oscar de Melhor Roteiro Original de 2022, o novo filme de Kenneth Branagh (“Morte no Nilo”) recria as lembranças da infância do diretor-roteirista na cidade do título durante os anos 1960. Predominantemente em preto e branco, a trama de época é apresentada pelo olhar de um menino de uma família trabalhadora e alterna momentos de nostalgia alegre com cenas de tensão, evocando os sonhos, as músicas e até as séries do período, mas também os perigos da era dos “troubles”, quando enfrentamentos entre nacionalistas que queriam a independência do país e as autoridades leais ao Reino Unido costumavam virar batalhas campais. A tensão da ameaça de confrontos nas ruas e a cobrança constante de posicionamentos políticos levam o pai do menino a considerar mudar-se com a mulher e os filhos para a Inglaterra. Mas essa possibilidade aperta o coração da criança, que não quer separar-se dos avôs que adora e da menina que finalmente começou a reparar nele. O elenco da produção destaca Jamie Dornan (“Cinquenta Tons de Cinza”) e Caitriona Balfe (“Outlander”) como os pais, Judi Dench (“007 – Operação Skyfall”) e Ciaran Hinds (“Game of Thrones”) como os avôs, Lewis McAskie (“Here Before”) como o irmão mais velho e o menino Jude Hill no papel de alter-ego mirim de Branagh em sua estreia no cinema. | BELLE | VOD* Versão futurista da fábula de “A Bela e a Fera”, “Belle” também é uma parábola crítica sobre as farsas da internet e os perigos das redes sociais. A trama gira em torno de uma cantora virtual chamada Belle, que tem sua turnê interrompida no metaverso pela viralização de uma criatura batizada pela mídia de a Fera. Nada, porém, é o que parece, já que Belle é o avatar de uma adolescente “caipira” e pouco popular chamada Suzu, e a criatura misteriosa que surge em seu caminho não é realmente uma ameaça, mas uma vítima de bullying digital e cancelamento. O anime é assinado por Mamoru Hosoda, responsável por “Mirai”, filme indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2019 e diretor de obras cultuadas como “Crianças Lobo” (2012), “Guerras de Verão” (2009) e “A Garota que Conquistou o Tempo” (2006). | BENEDETTA | GLOBOPLAY, VOD* A nova provocação de Paul Verhoeven (“Instinto Selvagem”) é das mais polêmicas de sua trajetória, ao trazer cenas de sexo lésbico e blasfêmias variadas em um convento do século 15. O roteiro de David Birke, que volta a trabalhar com o cineasta após a parceria em “Elle” (2016), é supostamente inspirado na história real de Benedetta Carlini, uma noviça que desde muito cedo foi considerada milagrosa. Seu impacto na vida da comunidade de Toscana é imediato e chama atenção do Vaticano. Mas logo sua pureza é confrontada pela chegada de uma jovem tentadora ao convento, que decide seduzi-la. Segunda produção consecutiva em francês do cineasta holandês, “Benedetta” é estrelada por Virginie Efira (“Elle”) e Daphné Patakia (“Versailles”),...
Novos filmes: “Cyrano” e as estreias do cinema em casa
Repleta de títulos inéditos e/ou de passagem relâmpago pelos cinemas brasileiros, a programação de estreias digitais da semana reúne astros conhecidos e premiados, como Peter Dinklage e Joaquin Phoenix, traz o filme que lançou a carreira internacional de Maria Fernanda Cândido, surpreende com tramas originais, assusta, emociona e diverte bastante. Veja abaixo 10 sugestões para acompanhar com pipoca durante o fim de semana em casa. | CYRANO | VOD* Inédita nos cinemas brasileiros, a nova adaptação de “Cyrano de Bergerac”, que traz Peter Dinklage (o Tyrion de “Game of Thrones”) no papel principal, chega às telas como a mais diferente de todas. Para começar, a escalação de Dinklage muda totalmente o aspecto físico de Cyrano, que deixa de ser o feioso narigudo da peça clássica de Edmond Rostand (1868-1918) para se tornar uma pessoa com nanismo. Só que a novidade das telas é notícia velha nos palcos. O ator viveu o papel no teatro em 2019, no circuito off-Broadway de Nova York. Aquela montagem tinha Blake Jenner (de “Glee”) no papel do galã Christian, e aí o filme inova mais, ao escalar Kelvin Harrison Jr. (o Fred Hampton de “Os 7 de Chicago”) e transformar o jovem cadete num homem negro. Pra quem não lembra desta história bastante conhecida, Cyrano é apaixonado por Roxanne (vivida no filme por Haley Bennett, de “O Diabo de Cada Dia”), mas ela só tem olhos para o belo e simplório Christian. Conformado, o feio tenta ensinar ao belo como conquistar sua amada, fazendo-o assinar cartas românticas de sua autoria e a declarar poemas arrebatadores que ele criou. Mas isso cria problemas óbvios, porque Christian não é nada romântico e decepciona Roxanne num encontro real, sem a simulação de Cyrano. Para complicar ainda mais, ainda há um pretende rico (Ben Mendelsohn, de “Capitã Marvel”) querendo a amada de todos. E tudo isso se passa durante uma guerra. Esta trama já foi encenada de muitas formas, desde aventura clássica de capa espada até comédia romântica moderna, mas desta vez se materializa como um musical dirigido por Joe Wright (de “Anna Karenina” e “Orgulho e Preconceito”), em que os poemas viram música e o triângulo amoroso tira todos para dançar. | EMERGÊNCIA | AMAZON PRIME VIDEO Boa surpresa da Amazon, esta ótima comédia junta elementos hilários a uma trama com consciência social, e marca um começo brilhante na carreira cinematográfica da roteirista K.D. Dávila (da série “Motherland: Fort Salem”), premiada no Festival de Sundance de 2022 pela estreia em longa-metragem. É pra rir, mas também sentir um tapa na cara. A trama acompanha o dilema de dois estudantes negros e seu amigo latino, que, ao se preparar para uma maratona de festas universitárias, deparam-se com uma jovem branca desmaiada de bêbada em seu dormitório, mas têm medo de ajudá-la por poderem ser mal interpretados. Debatendo se chamam a polícia, os universitários tomam a pior decisão e a levam para seu carro. Enquanto isso, sua irmã acaba de perceber sua falta na festa de uma fraternidade vizinha, resolvendo localizá-la pelo sinal do celular. Uma decisão ruim leva à outra, com inúmeras consequências e a complicação extra de a menina desmaiada ser menor de idade. O filme é baseado num curta que a roteirista premiada e o diretor novato Carey Williams fizeram em 2018. Eles se juntam novamente na versão ampliada, trabalhando desta vez com um elenco de jovens atores conhecidos, como RJ Cyler (“Power Rangers”) e Sabrina Carpenter (“Crush à Altura”), entre outros. Elogiadíssima pela capacidade de perturbar e divertir ao mesmo tempo, tem 93% de aprovação no Rotten Tomatoes. | SEMPRE EM FRENTE | VOD* Primeiro filme de Joaquin Phoenix após vencer o Oscar por “Coringa”, o drama em preto e branco traz o ator como um documentarista que pretende entrevistar crianças sobre a situação do mundo. Nesse processo, estabelece um relacionamento tênue, mas transformador, com seu sobrinho sem filtros de 8 anos, que ele leva em suas viagens. “Sempre em Frente” tem roteiro e direção de Mike Mills, que não lançava uma nova obra desde “Mulheres do Século 20” em 2016. E embora tenha passado ao largo do Oscar 2022, o menino Woody Norman (“Troia: A Queda de Uma Cidade”), que vive o sobrinho, foi indicado ao BAFTA (o Oscar britânico) como Melhor Ator Coadjuvante. Elogiadíssimo pela crítica, atingiu uma avaliação até mais positiva que muitos indicados ao prêmios da Academia – 94% de aprovação no Rotten Tomatoes. | O TRAIDOR | CLARO TV+ Coprodução com o Brasil, o longa do maestro italiano Marco Bellocchio (“A Bela Que Dorme”) é uma cinebiografia de Tommaso Buscetta, o primeiro chefe de alto escalão da máfia a se transformar em informante da justiça – o traidor do título. Buscetta viveu o Brasil por um período e a produção tem cenas rodadas no Rio de Janeiro, além de destacar, em seu primeiro papel internacional, Maria Fernanda Cândido como a mulher do mafioso, que o convence a tomar a decisão de cooperar com a justiça italiana em 1984. A repercussão positiva da produção, que conquistou 21 prêmios importantes, abriu as portas para a atriz atuar no exterior. O filme traz Pierfrancesco Favino (da série “Marco Polo”) no papel do mafioso e foi o grande vencedor do David Di Donatello (o Oscar italiano) de 2020. | KLONDIKE – A GUERRA NA UCRÂNIA | VOD* A diretora Marina Er Gorbach concebeu seu filme, exibido sob elogios no Festival de Sundance em janeiro e premiado em Berlim em fevereiro, como um alerta ao mundo sobre a situação da Ucrânia. Mas após a invasão do país pela Rússia, quatro dias após a Berlinale, “Klondike” acabou se tornando ainda mais relevante, um retrato da população submetida ao que o título no Brasil chama de “Guerra na Ucrânia”. A trama, na verdade, aborda o conflito civil do leste do país de 2014, época em que começaram os bombardeios de separatistas apoiados por Moscou. A personagem principal é Irka, jovem grávida que vive com o marido num vilarejo sob a sombra da violência, até tudo virar destroços. A destruição de seu lar é refletida pelo esfacelamento de famílias, com irmãos se dividindo entre “russos” e ucranianos. Com o teto caindo sob suas cabeças, o casal grávido também representa a luta pelo direito à vida em meio ao caos. Por todo o contexto, a obra atingiu 95% de aprovação no Rotten Tomatoes. | A MULHER DE UM ESPIÃO | MUBI O cineasta Kiyoshi Kurosawa tem se alternado entre terrores cultuados e dramas premiados. O novo trabalho pertence ao segundo grupo e conquistou nove prêmios internacionais, inclusive Melhor Direção no Festival de Veneza de 2020. A trama gira em torno da decisão de um comerciante de deixar sua esposa no Japão para viajar até a China no começo da 2ª Guerra Mundial, onde testemunha um ato de barbárie. Suas ações causam mal-entendidos, ciúmes e problemas legais para sua esposa. | EXIT | CLARO TV+, VIVO PLAY, VOD* A divertida comédia de ação sul-coreana acompanha um rapaz derrotado pela vida que vira herói nacional. Ele faz aulas de alpinismo para conquistar uma garota que não se importa com esse esforço e ainda é humilhado pela mãe que questiona seu futuro profissional como escalador de montanhas desempregado. Mas quando um gás venenoso começa a fazer vítimas fatais em Seul, sua habilidade subestimada é a única coisa capaz de salvá-lo, impulsionando-o a subir em prédios cada vez mais altos para escapar da nuvem tóxica, enquanto sua façanha mobiliza uma torcida televisiva. Destacando Jo Jung-Suk (da série “Oh My Ghost”) como protagonista e a cantora Yoona (do grupo K-pop Girls’ Generation) como sua musa alpinista, o primeiro longa escrito e dirigido por Lee Sang-geun registra 83% de críticas positivas no Rotten Tomatoes. | SMALL ENGINE REPAIR | CLARO TV+, VIVO PLAY, VOD Um thriller poderoso sobre masculinidade tóxica, alimentado por excelentes interpretações. Escrito, dirigido e estrelado por John Pollono (“This Is Us”), que adapta uma peça de sua própria autoria em sua estreia atrás das câmeras, o filme independente entrega sua origem teatral ao se passar em grande parte no interior de uma garagem mecânica. É onde três velhos amigos, interpretados por Pollono, Jon Bernthal (“O Justiceiro”) e Shea Whigham (“Perry Mason”) viram a noite celebrando seu reencontro, após um deles voltar da prisão. Mas depois de muito whisky, marshmellows e causos, um jovem traficante abastado (Spencer House, de “The Society”) adentra o recinto, convocado pelo ex-presidiário dono da garagem. É neste momento que ele revela suas verdadeiras intenções, cobrando dos amigos um pequeno favor em nome de sua filha (Ciara Bravo, de “Wayne”). A guinada só vem depois de mais de metade do filme, mas é tão claustrofóbica quanto o recinto em que acontece. | MENTIRA NADA INOCENTE | CLARO TV+, VIVO PLAY, VOD* Premiado no circuito dos festivais norte-americanos, o quarto filme do casal canadense Yonah Lewis e Calvin Thomas (ambos de “Amy George”) retrata o golpe de uma estudante universitária que finge ter câncer. Ela raspa o cabelo, falsifica diagnósticos e enfrenta até um tratamento agressivo para levantar fundos numa campanha beneficente, conquistar um bolsa de estudos e deixar de trabalhar. Sua falsa condição também a transforma numa celebridade no campus, rendendo-lhe todo o apoio que sempre sonhou, de colegas, professores e até da namorada, nunca antes tão atenciosa. Tudo vai bem, até que os responsáveis pela bolsa pedem cópias de seus exames médicos, o que a conduz a uma espiral de desespero e transforma o drama num thriller psicológico. Destaque para a performance de Kacey Rohl (a vilã Marina de “The Magicians”), que raspou mesmo a cabeça diante das câmeras para a produção. | NOME PRÓPRIO | NETFLIX Até então inédita em streaming, esta produção nacional de 2007 se mantém forte pelo retrato de sua personagem, inspirada nos escritos de Clara Averbuck, e pela interpretação de Leandra Leal, dando sinais de grandeza em seu primeiro filme como protagonista adulta. Na trama, ela busca levar uma vida extrema para poder escrever a respeito em seu blog, rompendo barreiras e correndo riscos como uma mulher sozinha contra tudo. Vencedor do Festival de Gramado, o filme conta com direção do veterano Murilo Salles (“Nunca Fomos Tão Felizes”), que só fez outro longa de ficção desde então, “O Fim e os Meios”, em 2015. Mas o mais curioso é reparar como a conexão discada da era dos blogs datou rápido diante da ascensão dos influencers de redes sociais. É praticamente uma relíquia para a geração de Instagramers e Tiktokers, reforçando que a internet não forma mais escritores, mas exibicionistas. * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Microsoft Store, Loja Prime e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.
Coprodução brasileira, O Traidor vence o “Oscar italiano”
A coprodução brasileira “O Traidor” (Il Traditore), que conta com a atriz Maria Fernanda Cândido em seu elenco, venceu o troféu David di Donatello, considerado o “Oscar do cinema italiano”, em cerimônia realizada na noite de sexta-feira (8/5). Dirigido pelo veterano Marco Bellocchio, o filme narra a história do mafioso Tommaso Buscetta, primeiro grande delator da máfia e que teve sua vida intimamente ligada ao Brasil, de onde foi extraditado duas vezes. “O Traidor” teve cenas filmadas no Rio, que foram produzidas pela empresa brasileira de cinema Gullane. Além do troféu de Melhor Filme, “O Traidor” venceu mais cinco prêmios, entre eles o de Melhor Direção, Melhor Ator para Pierfrancesco Favino (o intérprete de Buscetta) e melhor Ator Coadjuvante para Luigi Lo Cascio. Já o prêmio de Melhor Atriz ficou com Jasmine Trinca, pela atuação em “La Dea Fortuna”, de Ferzan Ozpetek. Os prêmios foram anunciados – mas não entregues fisicamente – durante uma cerimônia sem frescuras, realizada no horário nobre da emissora italiana RAI pelo apresentador Carlo Conti, em um estúdio vazio, com participações de artistas via videoconferência ao vivo. Até o presidente da Itália, Sergio Mattarella, enviou uma mensagem para o evento em que afirmou que “o cinema, como muitos grandes mestres italianos nos ensinaram, é a arte do sonho”. E que, “para reconstruir nosso país após a dramática epidemia, será necessário recuperar inspirações e, portanto, voltar a sonhar e fazer as pessoas sonharem”. A premiação serviu como um ritual de renascimento coletivo justamente quando as restrições locais de circulação, para contar a pandemia de coronavírus, começaram a ser eliminadas lentamente. “Meu desejo é que a comunidade cinematográfica italiana comece a trabalhar novamente”, disse Bellocchio, falando de sua casa. “Tenho 80 anos e também espero fazer mais alguns filmes”, acrescentou.
A Favorita é o Melhor Filme Europeu de 2019 em premiação consagradora
“A Favorita”, produção britânica dirigida pelo grego Yorgos Lanthimos, foi o grande vencedor da premiação da Academia Europeia de Cinema, numa cerimônia realizada na noite de sábado (7/12) em Berlim. Venceu, ao todo, oito categorias, entre elas as de Melhor Filme Europeu, Melhor Comédia, Direção e ainda consagrou Olivia Colman, que, após vencer o Oscar no começo do ano, chegou ao fim de 2019 com o troféu de Melhor Atriz europeia. A obra de Yorgos Lanthimos dominou a premiação, superando “J’Accuse”, de Roman Polanski, “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, “Os Miseráveis”, de Ladj Ly, “Systemsprenger”, de Nora Fingscheidt, e “O Traidor”, de Marco Bellocchio, todos eles nomeados para o prêmio de Melhor Filme Europeu. O espanhol Antonio Banderas ficou com o prêmio de Melhor Ator, por “Dor e Glória”, e a cineasta francesa Céline Sciamma com o troféu de Melhor Roteiro, por “Retrato de uma Jovem em Chamas”. Pela primeira vez, a Academia Europeia também atribuiu um prêmio para Melhor Série de Ficção, distinguindo a produção alemã “Babylon Berlin”, de Achim von Borries, Henk Handloegten e Tom Tykwer. O evento também prestou homenagens para o cineasta alemão Werner Herzog e a atriz francesa Juliette Binoche, com prêmios pelas realizações de suas carreiras. E ainda contou com a presença do diretor ucraniano Oleg Sentsov, recém-libertado após ficar cinco anos preso na Rússia, acusado de terrorismo. Ele anunciou uma iniciativa da Academia, a criação da Coligação Internacional de Cineastas em Risco, destinada a apoiar “realizadores que enfrentem perseguições políticas por causa do seu trabalho”. Confira abaixo a lista dos premiados. Melhor Filme “A Favorita” Melhor Direção Yorgos Lanthimos (“A Favorita”) Melhor Atriz Olivia Colman (“A Favorita”) Melhor Ator Antonio Banderas (“Dor e Glória”) Melhor Roteiro Céline Sciamma (“Retrato de uma Jovem em Chamas”) Melhor Documentário “For Sama” Melhor Comédia “A Favorita” Melhor Animação “Buñuel In The Labyrinth Of The Turtles” Melhor Fotografia Robbie Ryan (“A Favorita”) Melhor Cenografia Antxón Gómez (“Dor e Glória”) Melhor Montagem Yorgos Mavropsaridis (“A Favorita”) Melhor Figurino Sandy Powell (“A Favorita”) Melhor Maquiagem Nadia Stacey (“A Favorita”) Melhor Som Eduardo Esquide, Nacho Royo-Villanova e Laurent Chassaigne (“A Noite de 12 Anos”) Melhores Efeitos Visuais Martin Ziebell, Sebastian Kaltmeyer, Neha Hirve, Jesper Brodersen e Torgeir Busch (“About Endlessness”) Prêmio Descoberta/Fipresci (Prêmio da Crítica) “Os Miseráveis” Prêmio do Público “Guerra Fria” Melhor Curta-Metragem “The Christmas Gift” Melhor Série “Babylon Berlin”
Academia Europeia de Cinema indica filmes de Polanski, Bellocchio e Almodóvar como Melhores do Ano
A Academia Europeia de Cinema anunciou os indicados a seus prêmios anuais. Na lista, divulgada neste sábado (9/11) durante o Festival de Sevilha, na Espanha, quatro filmes se destacam com o mesmo número de nomeações. Empatados em número de categorias, aparecem o espanhol “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, o italiano “O Traidor”, de Marco Bellocchio, o britânico “A Favorita”, de Yorgos Lanthimos, e o francês “An Officer and a Spy” (J’accuse), de Roman Polanski. As indicações ao filme de Polanski foram as que mais chamaram atenção. Não pela qualidade do filme, que, inclusive, foi premiado no Festival de Veneza deste ano, mas pelo timing. Polanski volta a ser celebrado um dia após ser novamente acusado de ter cometido estupro nos anos 1970. Em denúncia publicada pelo jornal Le Parisien na sexta (8/11), a fotógrafa francesa Valentine Monnier afirmou que o cineasta a estuprou em 1975 na Suíça, quando ela tinha 18 anos. Ela foi a sexta mulher a acusar o diretor de crime sexual, embora apenas um caso tenha ido à julgamento e levado Polanski a se exilar na França, para escapar da condenação nos Estados Unidos em 1977. Os quatro filmes citados vão disputar o troféu de Melhor Filme Europeu do ano, juntamente com o francês “Les Miserables”, de Ladj Ly, e o alemão “Systemsprenger” (“System Crasher”), de Nora Fingscheidt. Almodóvar, Polanski, Bellocchio e Lanthimos estão ainda na disputa de Melhor Direção, juntando-se à francesa Celine Sciamma por “Retrato de um Jovem em Chamas”. Nas categorias de interpretação, destacam-se as presenças da vencedora do Oscar Olivia Colman por “A Favorita”, António Banderas por “Dor e Glória”, Jean Dujardin por “J’accuse”, e Adèle Haenel por “Retrato de um Jovem em Chamas”. Esta última também esteve nas manchetes da imprensa francesa nesta semana, igualmente às voltas de denúncia de abuso sexual, mas na condição de vítima, tendo acusado o diretor que lançou sua carreira cinematográfica, Christophe Ruggia, de assédio quando ela tinha 12 anos de idade. Os Prêmios Europeus de Cinema (European Film Awards) visam reconhecer a excelência dos filmes produzidos na Europa e são entregues anualmente pela Academia Europeia de Cinema, composta por cerca de 3,5 mil profissionais da indústria cinematográfica do continente. A 32ª cerimônia de premiação vai acontecer em Berlim, Alemanha, no dia 7 de dezembro. Confira abaixo a lista dos indicados. Melhor Filme Les Misérables – Ladj Ly J’accuse – Roman Polanski Dor e Glória – Pedro Almodóvar System Crasher – Nora Fingscheidt A Favorita – Yorgos Lanthimos O Traidor – Marco Bellocchio Melhor Direção Pedro Almodóvar – Dor e Glória Marco Bellocchio – O Traidor Yorgos Lanthimos – A Favorita Roman Polanski – J’Accuse Céline Sciamma – Retrato de uma Jovem em Chamas Melhor Atriz Olivia Colman – A Favorita Trine Dyrholm – Queen Of Hearts Noémie Merlant & Adèle Haenel – Retrato de uma Jovem em Chamas Viktoria Miroshnichenko – Beanpole Helena Zengel – System Crasher Melhor Ator Antonio Banderas- Dor e Glória Jean Dujardin – J’Accuse Pierfrancesco Favino – O Traidor Levan Gelbakhiani – And Then We Danced Alexander Scheer – Gundermann Ingvar E. Sigurðsson – A White, White Day Melhor Roteiro Pedro Almodóvar – Dor e Glória Marco Bellocchio, Ludovica Rampoldi, Valia Santella & Francesco Piccolo – O Traidor Ladj Ly, Giordano Gederlini & Alexis Manenti – Les Misérables Robert Harris & Roman Polanski – J’Accuse Céline Sciamma – Retrato de uma Jovem em Chamas Melhor Documentário For Sama – Waad Al-kateab & Edward Watts Honeyland – Ljubomir Stefanov & Tamara Kotevska Putin’s Witnesses – Vitaly Mansky Selfie – Agostino Ferrente The Disappearance Of My Mother – Beniamino Barrese Melhor Comédia Ditte & Louise – Niclas Bendixen Tel Aviv On Fire – Sameh Zoabi A Favorita – Yorgos Lanthimos Melhor Animação Buñuel In The Labyrinth Of The Turtles – Salvador Simó J’ai Perdu Mon Corps – Jérémy Clapin L’extraordinaire Voyage de Marona – Anca Damian Les Hirondelles de Kaboul – Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec Curta-Metragens Cães que Ladram aos Pássaros Rekonstrukce The Christmas Gift Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre
Quatro produções brasileiras são selecionadas para o Festival de Cannes 2019
O Festival de Cannes anunciou a seleção de filmes para sua edição de 2019. E quatro obras brasileiras figuram entre os escolhidos, duas delas competindo pela Palma de Ouro, principal premiação, e outras duas na mostra paralela Um Certo Olhar. O diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, que já tinha exibido seu filme “Aquarius”, em 2016, concorre novamente com seu novo longa, “Bacurau”, em codireção com Juliano Dornelles. O filme foi descrito como uma mescla de gêneros como faroeste e ficção científica em pleno sertão nordestino. “O Traidor”, dirigido pelo italiano Marco Bellocchio, narra a história de Tommaso Buscetta, mafioso italiano que alcaguetou seus antigos companheiros da Cosa Nostra e se refugiou no Brasil. O longa, que traz no elenco os atores Maria Fernanda Cândido e Luciano Quirino, foi rodado parcialmente no Rio de Janeiro e é uma coprodução nacional, graças à participação da produtora brasileira Gullane. Já os filmes que serão exibidos na mostra Um Certo Olhar são “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Ainouz, e “Port Authority”, de Danielle Lessovitz. O 72º Festival Anual de Cinema de Cannes será realizado entre 14 a 25 de maio na Riviera Francesa.




