Manuscrito da continuação de Laranja Mecânica é encontrado
Um manuscrito para uma continuação do livro “Laranja Mecânica” foi encontrado no meio de vários papéis acumulados pelo autor Anthony Burgess em sua antiga casa. A informação foi divulgada pela fundação criada em homenagem ao escritor britânico. São 200 páginas, escritas entre 1972 e 1973, que oferecem mais pensamentos sobre a condição humana, refletem sobre as controvérsias geradas pelo filme dirigido por Stanley Kubrick em 1971 e elaboram ainda mais os temas apresentados na obra original, lançada em 1962. Esse trabalho nunca lançado é descrito pela Fundação Internacional Anthony Burgess como “parte reflexão filosófica e parte autobiográfica”. Segundo Andrew Biswell, diretor da fundação, “essa incrível continuação não publicada esclarece mais questões sobre Burgess, Kubrick e as polêmicas que envolvem o livro”. O pesquisador afirmou que o material, batizado de “Clockwork Condition” (A Condição Mecânica, em tradução livre), oferece um maior panorama sobre o contexto da obra mais famosa do autor, além de ampliar sua visão “sobre crime, castigo e os possíveis efeitos destruidores da cultura visual”.
Bolsonaro usa técnica de lavagem cerebral de Laranja Mecânica em vídeo contra Cultura
Para justificar sua política de cerco ao “setor que alguns dizem ser de cultura”, a partir da ordem de corte de patrocínios culturais da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro publicou um vídeo no mínimo questionável em seu Twitter e YouTube oficiais. O material, sem fonte clara – como tem sido praxe na comunicação do governo – , é uma versão editada de um noticiário da Globo News, submetida à tática de choque “golden shower” do presidente. Ele incorpora flashes aleatórios, alguns escatológicos, outros “apenas” preconceituosos, para forçar generalização contra o conceito de incentivo cultural. Entre os exemplos subliminares está um pôster do filme “Lula, o Filho do Brasil”, que apesar de ser um vexame, não foi feito com dinheiro da Petrobras – ao menos, não diretamente – nem usou qualquer lei de incentivo fiscal federal, estadual ou municipal. Outro exemplo é um flash de cartaz do Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT de 2014, com destaque para o fato de que ele ocorreu no Centro Petrobras de Cinema. A imagem entrou no momento em que a cineasta Lais Bodanzky (“Como Nossos Pais”), presidente da Spcine, falava sobre a importância do Festival do Rio, que é dos eventos ameaçados após os cortes da Petrobras. Tendo em vista que todas as imagens aleatórias tem o objetivo de “negativar” as falas apresentadas, o uso do cartaz trata a cultura LGBT como se fosse uma perversão. O vídeo editado segue incorporando fake news, preconceito e generalizações de modo subliminar, para formar opiniões a partir de presunções completamente equivocadas. É uma técnica de lavagem cerebral, popularizada durante a Guerra Fria, para fomentar ódio contra aquilo que é mostrado. Uma das cenas mais icônicas do clássico filme “Laranja Mecânica” (1971), de Stanley Kubrick, lança mão de projeções de filmes para fazer lavagem cerebral no protagonista. O objetivo é recondicionar Alex (Malcolm McDowell) a reagir com repulsa à determinadas situações exemplificadas nas imagens. O condicionamento pela repulsa se alia a outra tática de lavagem cerebral. Você conhece o ditado que diz que “uma mentira contada mil vezes se transforma em uma verdade”? Pois o cérebro humano funciona mais ou menos dessa maneira e, quando não está preparado, cai nas armadilhas da repetição e do reforço de falsidades, passando a acreditar numa visão de mundo completamente mentirosa. Contrariando a visão de mundo do presidente, a Petrobras foi responsável por salvar o cinema brasileiro, junto da Lei Rouanet, do caos criado por Fernando Collor de Mello ao extinguir a Embrafilme – isto e a popularização da música sertaneja foram os maiores legados culturais de Collor, ao passo que a destruição da Cultura nacional parece ser o projeto de Bolsonoro. Em release divulgado em dezembro passado, dias antes de Bolsonaro assumir o poder, a Petrobras ainda se dizia orgulhosa de sua atuação como incentivadora do cinema nacional. “São 22 anos e mais de 500 títulos entre longas e curtas metragens que fizeram da Petrobras a principal parceira da Retomada do Cinema Brasileiro, atuando em todos os elos da cadeia produtiva do setor audiovisual”, diz o texto, que ainda acrescenta: “Acreditamos em especial na importância do apoio aos festivais de cinema por promoverem o lançamento e circulação de novos filmes, estimularem a formação de plateia e constituírem espaços privilegiados de debate e reflexão sobre o audiovisual”. “Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil” e “O Quatrilho”, indicado ao Oscar, foram as primeiras produções cinematográficas que contaram com patrocínio da Petrobras. Com seu sucesso e repercussão internacional, os dois filmes de 1995 mudaram os rumos do cinema brasileiro, que foi quebrado por Collor, impichado por corrupção. Um dos slogans da Petrobras até o ano passado celebrava: “Para nós, Cultura é uma energia poderosa que movimenta a sociedade”. Entretanto, com Bolsonaro, a Petrobras passou a pensar ou pelo menos fazer o oposto, anunciando que não renovará o patrocínio de 13 eventos neste ano, o que inclui a Mostra de Cinema de São Paulo, o Festival do Rio, o Festival de Brasília e o Anima Mundi, entre outros projetos. Em fevereiro, Bolsonaro já tinha anunciado seu espanto com o investimento da Petrobras em Cultura, ao expor números não fundamentados no Twitter. “A soma dos patrocínios dos últimos anos passa de R$ 3 BILHÕES”, tuitou o presidente, aproveitando para afirmar que o Estado “tem maiores prioridades”. Vale lembrar que, com um único telefonema no começo de abril, em que mandou reverter aumento no preço do diesel, Bolsonaro deu prejuízo de R$ 32 BILHÕES (para usar a mesma grafia inflamada do presidente) para a Petrobras. O suficiente para décadas de investimento de Cultura, segundo cálculos dele mesmo. Bolsonaro também extinguiu o Ministério da Cultura e congelou a aprovação de novos projetos na Lei Rouanet desde que assumiu a Presidência em janeiro. Nenhum projeto foi aprovado para receber incentivo em quase cinco meses de governo. E não há prazo para o descongelamento, que só deve acontecer quando forem aprovadas mudanças na Lei. O presidente pretende estabelecer o teto de R$ 1 milhão por projeto, o que também acerta os festivais de cinema do Brasil. Paralelamente, o TCU paralisou a Ancine, proibindo-a de investir em novos projetos de cinema e séries nacionais. É uma tempestade perfeita, que tende a culminar na maior catástrofe sofrida pela indústria cultural do país, com resultados já vistos sob o governo Collor: estagnação da produção cultural, aumento no índice de desempregados, quebradeira de empresas, impacto no consumo e na economia (recessão) e queda na arrecadação dos impostos que o governo deixará de receber do setor. Caso o pior aconteça, a equipe que prepara os vídeos de lavagem cerebral de Bolsonaro precisará trabalhar dobrado. Uma dica é acrescentar as técnicas do filme “Sob o Domínio do Mal” (1962). Respeitando a aplicabilidade do dinheiro público, determinamos a revisão dos contratos vigentes e possibilidades futuras da Petrobras ligados ao setor que alguns dizem ser de cultura. A ordem é saber o que fazem com bilhões da população brasileira. https://t.co/qc56MPKV7e — Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 21, 2019
Red Hot Chili Peppers revive Embalos de Sábado à Noite em novo clipe
A banda Red Hot Chili Peppers divulgou o clipe de “Go Robot”, que faz diversas referências ao filme musical “Embalos de Sábado à Noite” (1977). No vídeo, o cantor Anthony Kiedis revive os passos de Tony Manero (o personagem de John Travolta) pelas ruas do Brooklyn e acaba numa discoteca de chão iluminado similar à do filme dos anos 1970. O detalhe é que, em vez do terno extravagante da época, Kiedis aparece de forma, digamos, menos formal. Basicamente, trajando um chapéu coco branco, luvas brancas e um protetor de pênis de plástico da mesma cor. Para completar, ele também está pintado totalmente de branco. Porque, claro, é assim que se parecem os robôs. Ou mímicos. Ou robôs mímicos. O resultado é um bizarro mash-up de “Embalos” com “Laranja Mecânica” (1971), visto que o visual do cantor é bastante similar ao de Alex, o delinquente juvenil vivido por Malcolm McDowell na famosa sci-fi. Sem falar na nudez daquele filme. Os demais integrantes da banda também estão presentes, disfarçados com perucas e bigodões, ao estilo do clipe de “Sabotage”, dos Beastie Boys. A direção é da islandesa Thoranna Sigurdardottir, que trabalhou na produção de alguns blockbusters rodados em seu país, como “Lara Croft: Tomb Raider” (2001) e “Noé” (2014), e que estreou como diretora no ano passado, com o curta “Zelos”, premiado em vários festivais internacionais. Já a música não é eletrônica como o título sugere nem tem o batidão dançante que a encenação pretende evocar. É apenas aquele funk de roqueiros que o Red Hot Chili Peppers faz desde o início de sua carreira, embora com menos pegada e sem refrão contagiante.


