Veneza: Filme filipino vence festival marcado por destaques hollywoodianos
O drama filipino “The Woman Who Left”, do cinemaratonista Lav Diaz, foi o vencedor do Leão de Ouro da 73ª edição do Festival de Veneza, marcado por forte presença hollywoodiana e candidatos potenciais ao Oscar 2017. Como sempre na carreira de Lav Diaz, seu novo filme é para poucos, apenas para os mais resistentes, dispostos a encarar o desafio de suas 3h46 de projeção. Isto não impede Diaz de ser um dos mais cineastas asiáticos mais premiados da atualidade, embora também seja o menos visto de todos, devido à dificuldade de encaixar seus literalmente longa-metragens na programação convencional dos cinemas. “The Woman Who Left” rendeu o primeiro Leão de Ouro da carreira do diretor, mas já é seu terceiro filme premiado em Veneza. Anteriormente, ele tinha se destacado na mostra paralela Horizontes, com um Prêmio do Juri pela maratona “Death in the Land of Encantos” (2007), de apenas 9 horas de duração, e o troféu de Melhor Filme por “Melancholia” (2008), filme menorzinho, com 7h30 de metragem. Baseado num conto do escritor russo Leon Tolstoi, “The Woman Who Left” se passa em 1997, quando Hong Kong foi devolvida à China pelos britânicos, e conta a história de Horacia (Charo Santos-Concio), mulher que busca vingar os 30 anos que passou injustamente na prisão. Mas ao se ver livre, Horacia se surpreende ao encontrar uma sociedade com divisões profundas entre pobres e ricos. Em contraste ao único filme asiático premiado, o festival distribuiu a maior quantidade de troféus para o cinema de Hollywood, reconhecendo a boa qualidade da safra. O Grande Prêmio do Júri (espécie de 2º lugar) foi para “Nocturnal Animals”, de Tom Ford, o Prêmio Especial do Júri (3º lugar) para “The Bad Batch”, de Ana Lily Amirpour, e a Copa Volpi de Melhor Atriz para Emma Stone, por “La La Land”. Esperava-se que o filme de Tom Ford e o musical de Damien Chazelle, bastante elogiados, disputassem o prêmio principal. Para completar, outro filme americano, “Jackie”, dirigido pelo chileno Pablo Larraín, rendeu o troféu de Melhor Roteiro para Noah Oppenheim. O cinema latino ficou com a Copa Volpi de Melhor Ator, conquistada pelo argentino Oscar Martinez (por “El Ciudadano Ilustre”), e um dos prêmios de Melhor Direção, que foi dividido entre dois cineastas, o mexicano Amat Escalante (por “La Región Salvaje”) e o russo Andrei Konchalovsky (por “Paradise”). Além de Konchalovsky, houve apenas outro prêmio para desempenho europeu, o de Revelação para a atriz alemã Paula Beer, estrela de “Frantz”, do diretor francês François Ozon. O júri do festival de Veneza foi presidido pelo diretor britânico Sam Mendes, responsável pelos dois últimos filmes da franquia “007”. Confira abaixo a lista completa dos premiados. Vencedores do Festival de Veneza 2016 Melhor Filme “The Woman Who Left”, de Lav Diaz Grande Prêmio do Júri “Nocturnal Animals”, de Tom Ford Prêmio Especial do Júri “The Bad Batch”, de Ana Lily Amirpour Melhor Direção Amat Escalante, por “La Región Salvaje”, e Andrei Konchalovsky, por “Paradise” Melhor Ator Oscar Martinez, por “El Ciudadano Ilustre” Melhor Atriz Emma Stone, por “La La Land” Melhor Roteiro Noah Oppenheim, por “Jackie” Prêmio Marcello Mastroianni de Ator/Atriz Revelação Paula Beer, por “Frantz”, de François Ozon.
Entrevista: Diretor e roteirista contam como aconteceu O Roubo da Taça
Recém-chegada do Festival de Gramado, onde “O Roubo da Taça” venceu quatro troféus Kikito (Melhor Ator para Paulo Tiefenthaler, Roteiro, Direção de Arte e Fotografia), a equipe do filme falou com a imprensa nesta semana em São Paulo. E, em clima de bate-papo descontraído, com Mr. Catra (que faz uma participação especial no longa) arrancando risadas dos jornalistas, os co-roteiristas Caíto Ortiz, que também é diretor do filme, e Lusa Silvestre explicaram como surgiu a ideia de filmar o roubo do orgulho de uma nação. Baseado no caso real do roubo da taça Jules Rimet, conquistada pela seleção de futebol tricampeã do mundo em 1970, que aconteceu em 1983 no Rio de Janeiro, a divertida comédia entrou em cartaz neste fim de semana nos cinemas do país. Confira abaixo um resumo com os principais depoimentos da entrevista coletiva. Sobre a concepção do roteiro Lusa Silvestre: um dia, o Caíto foi à minha casa para ver “Estômago” antes mesmo de o filme estar pronto. A partir desse encontro, começamos a falar sobre o roubo da taça Jules Rimet e o Caíto veio com uma matéria online. Existiam duas fontes de pesquisa sobre o caso: o da época, que era muito sobre o caso policial, e o de 20 anos depois, sendo matérias um pouco mais sóbrias, avaliando tudo o que aconteceu. O filme se baseia em ambas, contendo o que foi descoberto no calor daquele momento e o nosso ponto de vista de hoje. Caíto Ortiz: todas as pessoas envolvidas no crime estão mortas, houve meio que uma maldição pairando sobre o caso. Foi um processo interessante, pois ficamos durante todos esses anos escrevendo. A gente tentava por uma saída. Não dava certo e voltávamos para o início. Durante tudo isso, percebemos que era essencial a presença de uma figura feminina importante, um pilar. Lusa Silvestre: quando começamos a fazer o roteiro, estávamos muito apegados à realidade. A sequência de fatos é muito maluca. Para você ter uma ideia, todos os envolvidos foram presos, a polícia pegou o dinheiro deles e os soltaram! Somente anos depois eles realmente foram capturados e mantidos na prisão por outros policiais. Consideramos que tudo isso era demais para o roteiro. Foi assim que pensamos na Dolores, que foi a personagem que nos ajudou a levar a história para frente. Sobre o convite para interpretar Dolores Taís Araújo: entrei no projeto há três anos. Começamos a fazer as leituras. Achei o roteiro sensacional e eu faço tão pouco cinema… Ficávamos no processo de marcar para iniciar as filmagens, mas o roteiro ainda estava mudando, recebendo novos tratamentos para aprimorar. Quando recebi um novo roteiro, disse: “Hum, a personagem piorou!”. Foi também uma época que queria muito ter um filho, mas aguardava para fazer o filme. Mas aí vieram novos tratamentos e eu engravidei. Nisso, o roteiro mudou por mais uma última vez. Liguei para o Caíto Ortiz e disse que estava grávida, mas que queria muito fazer esse filme. Disse para ele esperar pelo amor de Deus. Eles me esperaram e começamos a gravar quando a minha filha estava entre três e quatro meses. Toda a caracterização da minha personagem foi inspirada na Adele Fátima. Sobre fazer comédia e o estado do gênero Caíto Ortiz: penso que essa coisa de gênero é uma discussão menor. “Ah, comédia é isso. Drama é aquilo.” Isso é uma bobagem. O que acho uma pena, e que também é algo que vejo os brasileiros fazendo nos últimos anos, é deixar de pensar um pouco mais a cinematografia ao fazer uma comédia. Dá para ser muito mais inteligente, melhor. Não é por ser uma comédia que deve ser mal feita. É um gênero muito difícil de fazer. É preciso ter timing. Lusa Silvestre: a comédia é um gênero muito nobre. Aristóteles escreveu livros sobre o teatro grego de sua época. Em um, ele tratou sobre a tragédia e, em outro, sobre a comédia. Se você ver o símbolo do teatro, é a carinha feliz e a carinha triste. A comédia é tão nobre quanto o sci-fi, o drama, o horror. Quando uma pessoa critica um filme por ser uma comédia, penso que ela precisa rever os seus conceitos, pois elas estão criticando Aristóteles.
Natalie Portman confirma gravidez do segundo filho
A atriz Natalie Portman confirmou o boato: ela está esperando seu segundo filho. A confirmação foi feita em Veneza, logo após a atriz participar da première de “Planetarium”, seu segundo filme em exibição no tradicional festival italiano. O outro foi o elogiadíssimo “Jackie”. Aos 35 anos, ela espera seu segundo filho de seu casamento com o dançarino e coreógrafo Benjamin Millepied. Os dois se conheceram durante as filmagens de “Cisne Negro” (2010) e se casaram dois anos depois. Eles já são pais de Aleph, atualmente com cinco anos de idade.
Gérard Depardieu volta ao Brasil após três décadas para o lançamento de O Vale do Amor
A distribuidora Imovision anunciou que vai trazer o ator francês Gérard Depardieu ao Brasil para o lançamento de seu mais novo filme, o drama “O Vale do Amor”, de Guillaume Nicloux (“A Religiosa”). O ator vai participar de evento de pré-estreia do filme no recém-inaugurado Reserva Niterói, no próximo dia 18 de setembro, um domingo. O longa estreia nos cinemas na semana seguinte, no dia 29. Dépardieu não vem ao Brasil há quase 30 anos. A mesmo Imovision havia tentado trazê-lo em 2014, para o lançamento de “Bem-vindo a Nova York”, de Abel Ferrara. Na época, o diretor e a atriz Jacqueline Bisset viajaram a São Paulo e ao Festival de Paulínia para promover o filme. Com mais de 200 filmes no currículo, Depardieu é uma das maiores estrelas do cinema francês, mas ultimamente tem chamado muito atenção pelas confusões de sua vida pessoal. Após crises de alcoolismo, ele se tornou abstêmio e uma das exigências de sua visita é não ter álcool por perto – nem no hotel, muito menos durante a pré-estreia. Em maio deste ano, Depardieu contou ao jornal britânico The Telegraph que parou de beber depois se habituar a consumir 14 garrafas de vinho por dia. Ele também exigiu conceder apenas duas entrevistas enquanto estiver por aqui e não ir para São Paulo. O filme “O Vale do Amor” é de 2015 e foi exibido em competição no Festival de Cannes do ano passado. Ele marca o terceiro encontro nas telas entre o ator e a atriz Isabelle Huppert após 35 anos da última parceria – a primeira foi em “Corações Loucos” (1974), de Bertrand Blier, e a segunda foi em “Loulou” (1980), de Maurice Pialat. Por coincidência, no novo longa eles vivem um casal separado há muitos anos, que se reencontra no Vale da Morte, na Califórnia. Eles vão até lá para cumprir o último desejo do filho, que se suicidou seis meses antes. Ambos foram indicados ao César (o Oscar francês) por seus papéis.
Veneza: Natalie Portman brilha em Jackie, cinebiografia de Jacqueline Kennedy
Natalie Portman pisou no tapete vermelho do Festival de Veneza como quem sobe a escaria do Dolby Theatre, em Los Angeles, onde acontece a premiação do Oscar. Após a projeção de “Jackie”, cinebiografia da ex-Primeira-Dama Jacqueline Kennedy, a crítica internacional já crava seu nome entre as indicadas ao troféu americano. Desde que venceu seu Oscar por “Cisne Negro” (2010), ela não aparecia de forma tão clara como candidata natural a um bis da Academia. Estreia na língua inglesa do cineasta chileno Pablo Larraín, “Jackie” se passa nos dias que se seguiram ao assassinato do presidente John Kennedy, em 1963, e traz Natalie como a jovem viúva, devastada pelo luto, mas tendo que administrar suas imagens pública e privada. “Acho que este é o papel mais perigoso que já fiz, porque eu sabia como ela era, falava e andava. E eu jamais havia interpretado alguém assim”, admitiu a atriz de 35 anos, durante a entrevista coletiva do festival. Ela baseou sua composição em vasto material de arquivo, mas principalmente no especial da rede CBS “A Tour of the White House with Mrs. John F. Kennedy”, exibido em 1961, no qual a então Primeira-Dama promoveu uma excursão pela Casa Branca recém-decorada por ela, e uma entrevista dada à revista “Life” uma semana após o assassinato do Presidente Kennedy. A trama, por sinal, parte desta entrevista e usa flashbacks para mostrar como esta mulher, extremamente culta, mas subestimada por sua beleza, se engrandece para defender a imagem do marido. A reconstituição dos principais momentos após o atentado é excruciante. O filme reproduz o percurso até ao hospital, a relação com o cunhado Robert Kennedy, o cuidado com os dois filhos, as decisões relacionadas com o protocolo de Estado e até o papel de Jackie na sucessão presidencial. Na tela, Portman encarna os mínimos detalhes daquela mulher, que parecia tremer quando a câmera da CBS a encontrou pela primeira vez na Casa Branca, e que virou uma rocha fria, no momento mais trágico de sua vida. Não apenas nos gestos, mas também no sotaque e, por incrível que pareça, até na voz da Primeira-Dama, Natalie Portman se transfigura e, pouco a pouco, vira Jacqueline Kennedy diante dos olhos incrédulos dos espectadores. “Eu nunca me senti como uma boa imitadora. Mas tentei criar uma personagem de modo que fizesse as pessoas acreditarem que eu era Jackie”, ela explicou. Pablo Larraín, no entanto, minimizou o impressionante trabalho da atriz, considerando que ela é famosa demais para simplesmente sumir na personagem, que, por sua vez, também é vastamente conhecida. “Quando alguém tão conhecido quanto Natalie interpreta alguém tão famoso quanto Jackie, o problema é o tempo que leva para o público a aceitar como Jackie. É claro que precisamos de maquiagem, penteado e figurino, temos que criar uma ilusão, tanto os realizadores quanto os atores. Acredito que o cinema está mais ligado aos antigos mágicos ilusionistas do que qualquer outra coisa”, ele avaliou. O diretor, que vem se destacando em premiações internacionais com seus filmes, chegando a vencer o Urso de Prata no Festival de Berlim por “O Clube” (2015), foi trazido para o projeto pelo cineasta americano Darren Aronofsky, um dos produtores o longa, que também indicou Portman para o papel principal, após dirigi-la em “Cisne Negro”. Larraín conta uma história totalmente americana, mas adota a estrutura pouco convencional que já tinha usado em “No”, uma produção sobre outra história real, 100% chilena – o plebiscito que encerrou a ditadura Pinochet – , mesclando ficção com cenas de documentários e imagens de arquivo. E a combinação funciona, graças ao roteiro muito bem estruturado de Noah Oppenheim (“Maze Runner”), à fotografia deslumbrante do francês Stéphane Fontaine (“Ferrugem e Osso”), e ao figurino e a cenografia que recriam a época de forma extremamente fiel. “Por que não poderia fazer um filme sobre ela?”, questionou o diretor, referindo-se à sua nacionalidade. “Não sou americano, mas sou contador de histórias e esta é uma boa história. Eu me lembro de que li os relatórios da Comissão Warren em que ela narra como viu a morte de Kennedy, estando ao lado dele. Então percebi que ninguém ainda tinha contado esta história tão conhecida do ponto de vista dela”. Embora Natalie Portman se destaque, o elenco coadjuvante também é muito bom, especialmente John Hurt (“Expresso do Amanhã”) como seu padre confessor, Peter Sarsgaard (“Aliança do Crime”), como Robert Kennedy, e o dinamarquês Casper Phillipson (“Garoto-Formiga”), numa igualmente impressionante participação como John Kennedy. Após a exibição em Veneza, “Jackie” segue para o Festival de Toronto, mas ainda não tem previsão de estreia comercial definida.
Festival de Documentários In-Edit deixa São Paulo mais roqueira
A 8ª edição do Festival de Documentários In-Edit Brasil traz a São Paulo 57 filmes de temática musical, numa programação quase toda gratuita. Com abertura nesta quarta (7/9), com a exibição de “Eat That Question – Frank Zappa in His Own Words”, de Thorsten Schütte, sobre o roqueiro Frank Zappa, a mostra tomará 11 salas da cidade e terá 18 estreias nacionais. O In-Edit também contará com filmes sobre os Beatles, Leonard Cohen, Tangerine Dream, Adam Ant, Cream, heavy metal. Mas a programação não tem só o rock. Há um pouco de tudo, como o documentário brasileiro “Waiting for B”, sobre fãs da cantora Beyoncé no país, e “Funk Brasil: 5 Visões do Batidão”, que fazem parte da seleção de curtas do festival, além de “Rogério Duarte, o Tropikaoslista”, sobre o maestro paulista da Tropicália, “Cool Cats”, que acompanha os jazzistas Ben Webster e Dexter Gordon nos anos 1960 e 70, “Esto Es lo que Hay”, que revela o hip-hop cubano, e “Fonko”, sobre os estilos da música pop africana, entre diversas outras opções. O evento deste ano ainda homenageará o documentarista Tony Palmer, com a exibição de oito de seus filmes, que cobrem desde a carreira da cantora erudita Maria Callas até o rock psicodélico dos anos 1960, e contará com feira de vinil, seminários, debates e shows, como das bandas Pin-Ups, cuja trajetória é coberta no documentário “Time Will Burn”, Invasores de Cérebros, presente em “Ariel – Sempre Pelas Ruas”, e do músico Chico Saraiva, tema de “Violão-Canção: Uma Alma Brasileira”. Para mais informações sobre o evento, visite o site oficial.
Veneza: Exibição para o público do novo filme de Mel Gibson é aplaudida de pé por 10 minutos
Após arrancar elogios da crítica, “Até o Último Homem” (Hacksaw Ridge), volta de Mel Gibson à direção após hiato de dez anos, recebeu uma das maiores aprovações que poderia ter. A exibição do filme ao público, durante sua première mundial no Festival de Veneza, foi aplaudida de pé, durante dez minutos, com direito a gritos de viva e assobios. Os aplausos continuaram mesmo após o final da projeção dos créditos e das luzes se acenderem. O longa-metragem foi o mais aplaudido dentre as atrações internacionais do festival deste ano, ainda que sua exibição tenha ocorrido fora de competição. Ele conta a história verídica de Desmond Doss, vivido na tela por Andrew Garfield (“O Espetacular Homem-Aranha”), um jovem adventista que se alista como médico durante a 2ª Guerra Mundial, mas, por causa da religião, recusa-se a pegar em armas. O filme emocionou o público e poderia ser considerado favorito ao Oscar, não fosse o diretor Mel Gibson. Por seu passado recente de confusões, em que passou a encarnar a imagem de um misógino racista, Gibson dificilmente bisará o reconhecimento que seu talento já mereceu, quando a Academia lhe premiou com os Oscars de Melhor Filme e Direção por “Coração Valente” (1995).
São Paulo vive dias de terror com a ressurreição do Cinefantasy, festival de cinema fantástico
O Cinefantasy – Festival Internacional de Cinema Fantástico voltou do além. Sua última edição tinha ocorrido há cinco anos. Mas, como Jason Voorhees, ele não morreu. Desta terça (6/9) até o dia 11, o evento volta à vida no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, exibindo diversos filmes, eventos, concursos, palestras e debates. A programação conta com uma mostra competitiva de longas e curtas-metragens, que exibirá 98 títulos. O cinema brasileiro está representado por 4 longas e 32 curtas, que concorrerão ao troféu Corpo-Seco Dourado entregue pelo festival. Entre eles, está o inédito em circuito comercial “Clarisse – Ou Alguma Coisa sobre Nós Dois” (foto acima), de Petrus Cariry, que rendeu o troféu de Melhor Atriz à Sabrina Greve no Cine Ceará. O país melhor representado, porém, é a Espanha, presente com 28 filmes. Entre os destaques internacionais da Mostra Competitiva está o longa finlandês “Bunny the Killer Thing”, de Joonas Makkonen, inédito no Brasil e premiado no Rojo Sangre de Buenos Aires, e o italiano “Fantasticherie di un Passagiatore Solitario”, primeiro filme do diretor Paolo Gaudio, vencedor do Prêmio Mario Bava de Melhor Filme de Estreante no Fantasfestival de Roma. O festival terá também uma sessão especial dedicada ao diretor brasileiro Victor-Hugo Borges, criador da série “Historietas Assombradas (Para Crianças Malcriadas)” exibida no Cartoon Network. A sessão terá exibição de dois curtas-metragens do diretor, “O Menino que Plantava Invernos” (2008) e “Historietas Assombradas (Para Crianças Malcriadas)” (2013), que deu origem à série televisiva. Além da exibição dos filmes, a programação tem eventos para fãs de Harry Potter e Pokémon, além de um concurso de Cosplay e até uma festa temática dos anos 1980, em homenagem à série “Stranger Things”. Confira mais informações no site oficial do Cinefantasy.
Tom Hanks surpreende ao usar entrevista de seu novo filme para elogiar La La Land
O ator Tom Hanks fugiu totalmente do roteiro da entrevista coletiva de “Sully – O Herói do Rio Hudson”, seu novo filme, dirigido por Clint Eastwood. Durante a première do drama no Festival de Telluride, nos EUA, ele aproveitou para falar de outro filme da programação do evento: “La La Land”. E não poupou elogios. “Quem viu ‘La La Land’, ontem?”, ele perguntou aos jornalistas presentes para entrevistá-lo. “Quando você assiste algo novo, que nunca imaginou, você pensa ‘meu Deus, obrigado por isso’. Porque acho que um filme como ‘La La Land’ é algo cada vez mais raro hoje em dia. Acho que também será um teste para o público americano, porque não é uma obra que possui elementos desejados por nenhum dos grandes estúdios. O que os executivos de Hollywood desejam é previsibilidade, acertar o que o público quer. Por isso, temos cada vez mais do mesmo, um monte de remakes. ‘La La Land’ não é uma sequência, ninguém sabe quem são os personagens. É um musical, mas ninguém conhece suas músicas. Também não é um filme que cai em algum tipo de tendência em voga. Agora, se o público não quiser abraçar algo maravilhoso como este filme, então estamos ferrados”, disse o astro. Hanks completou com um comentário irônico, brincando que a Warner deve ter ficado muito feliz por ele ter usado o tempo da sua entrevista para elogiar uma produção de outro estúdio. Dirigido por Damien Chazelle (“Whiplash – Em Busca da Perfeição”), “La La Land” foi aplaudido de pé na abertura do Festival de Veneza. Sua trama gira em torno do romance de um pianista de jazz (Ryan Gosling) com uma jovem aspirante a atriz (Emma Stone). Os dois se apaixonam, porém, à medida que vão ficando famosos, o romance entra em crise. A estreia no Brasil está marcada o dia 12 de janeiro. Veja o trailer aqui. Já “Sully” é baseado numa história real e traz Tom Hanks de cabelos brancos, no papel do Capitão Chesley “Sully” Sullenberger, que foi considerado um herói, ao conseguir pousar um avião com problemas, lotado de passageiros, no Rio Hudson, em Nova York, sem deixar feridos. O filme também foi bastante elogiado pela crítica americana e estreia em 1 de dezembro no Brasil. Veja o trailer aqui.
Festival de Brasília 2016 exibirá 40 filmes
O 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro anunciou sua programação completa, prometendo sua maior edição dos últimos anos na capital federal. Só a competição terá 9 longas-metragens, três a mais que nas edições anteriores, além de 12 curtas. A estes filmes se somam outros 20 em mostras paralelas e sessões especiais, chegando a um total de 40 produções cinematográficas. Premiado no Festival de Cannes deste ano, o documentário “Cinema Novo”, de Eryk Rocha, foi selecionado para abrir o festival, no Cine Brasília, com exibição apenas para convidados. Já o encerramento vai acontecer com a projeção de “Baile Perfumado” (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, numa homenagem aos 20 anos da produção e a retomada do cinema pernambucano. “A gente quer dar de novo ao festival a potência que ele tinha, de trazer para Brasília o melhor do cinema brasileiro, não só na mostra oficial, mas nas mostras paralelas também”, disse o secretário de Cultura do Distrito Federal, Guilherme Reis, em comunicado, ecoando críticas feitas aqui mesmo na Pipoca Moderna. “Queremos que o festival de Brasília seja o festival dos festivais. Todo o cinema brasileiro potente tem que se reunir em Brasília. É o local de discussão política e estética do cinema. Este festival é o mais tradicional evento cultural de Brasília. É uma grande vitrine do estágio da produção tanto do ponto de vista da estética do cinema brasileiro quanto do seu papel político e da discussão política que se estabelece em Brasília”, afirmou o secretário. Todo os nove longas selecionados para a mostra competitiva são inéditos no circuito dos festivais brasileiros, mas dois já foram exibidos no exterior: a produção amazonense “Antes o Tempo Não Acabava”, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, que teve première no Festival de Berlim, e “A Cidade Onde Envelheço”, de Marilia Rocha, presente no Festival de Roterdã. A lista inclui ainda “Deserto”, dirigido pelo ator Guilherme Weber, “Elon Não Acredita na Morte”, de Ricardo Alves Jr., “Malícia”, de Jimi Figueiredo, “O Último Trago”, de Luiz Pretti, Pedro Diogenes e Ricardo Pretti, e “Rifle”, de Davi Pretto. Os documentários “Martírio”, de Vincent Carelli, com Ernesto de Carvalho e Tita, e “Vinte anos”, de Alice de Andrade, completam a seleção. Ao todo, 132 filmes foram inscritos para participar da 49ª edição do festival, e os selecionados representam diferentes abordagens e regiões do país. Há desde estreantes, como Guilherme Weber, até veteranos do circuito dos festivais, como os irmãos Pretti e Pedro Diogenes. Uma novidade desta edição é a criação da Medalha Paulo Emílio Salles Gomes, intelectual responsável pela criação do festival, que completaria 100 anos em 2016. O objetivo da medalha é homenagear uma personalidade do cinema brasileiro a cada ano. E a primeira será dada ao crítico de cinema de origem francesa Jean-Claude Bernadet. “Bernadet é um grande teórico, professor e roteirista e, hoje, um grande ator do cinema brasileiro. Ele tudo a ver com a história do festival de cinema”, disse Guilherme Reis. O Festival de Brasília deste ano acontecerá de 20 a 27 de setembro na capital federal. A programação do festival pode ser conferida no site oficial.
16 filmes brasileiros disputarão uma indicação no Oscar 2017
Dezesseis filmes brasileiros foram inscritos na comissão do Ministério da Cultura, que irá selecionar o representante do país na busca por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017. A lista das produções inscritas foi divulgada pela Secretaria do Audiovisual e conta, entre outros, com “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, e “Chatô – O Rei do Brasil”, de Guilherme Fontes. “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert, e “Para Minha Amada Morta”, de Aly Muritiba, não foram incluídos na seleção por decisão de seus diretores, como protesto contra uma suposta “imparcialidade questionável” da comissão, no dizer de Mascaro, que colocaria o resultado em cheque. Os três diretores seguiram deixa de Kleber Mendonça Filho, que denunciou em carta aberta a inclusão do crítico Marcos Petrucelli, de visão política diferente da sua, como uma conspiração do “governo ilegítimo” contra seu filme “Aquarius”. Petrucelli criticou a photo-op de “Aquarius” no Festival de Cannes, quando Filho e seu elenco ergueram cartazes, em francês e inglês, para denunciar que “o Brasil não é mais uma democracia” por ter sofrido um “golpe de estado”. Além dos três cineastas desistentes, a própria comissão sofreu baixas, com as saídas do cineasta Guilherme Fiúza Zenha, que alegou motivos pessoais, e da atriz Ingra Lyberatto, que revelou ter sofrido pressões extremas da classe. Os dois foram substituídos pelos cineastas Bruno Barreto e Carla Camurati. Além disso, a presença de Petrucelli foi garantida pelo Secretário do Audiovisual, Alfredo Bertini. Os demais integrantes do comitê julgador são Adriana Rattes, Luiz Alberto Rodrigues, George Torquato Firmeza, Bruno Barreto, Carla Camurati, Paulo de Tarso Basto Menelau, Silvia Maria Sachs Rabello e Sylvia Regina Bahiense Naves. Em nota, o ministro da Cultura, Marcelo Calero, disse confiar “plenamente na isenção e na capacidade da comissão avaliadora”. “Será um trabalho difícil, pois a safra de filmes brasileiros está excelente”, afirmou. Apesar da polêmica, a quantidade de filmes inscritos é alta. No ano passado, foram apenas nove títulos. E vale registrar que o responsável por polemizar todo o processo, Kleber Mendonça Filho, não retirou seu filme da competição, deixando seus três colegas solidários no vácuo. Veja a lista completa de filmes: “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho “Chatô – O Rei do Brasil”, de Guilherme Fontes “Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”, de Afonso Poyart “Nise – O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner “Campo Grande”, de Sandra Kogut “Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil”, de Belisário Franca “Pequeno Segredo”, de David Schürmann “O Roubo da Taça” de Caíto Ortiz “A Despedida”, de Marcelo Galvão “O Outro Lado do Paraíso”, de André Ristum “Uma Loucura de Mulher”, de Marcus Ligocki Júnior “Vidas Partidas”, de Marcos Schechtman “Tudo que Aprendemos Juntos”, de Sérgio Machado “O Começo da Vida”, de Estela Renner “A Bruta Flor do Querer”, de Andradina Azevedo e Dida Andrade “Até que a Casa Caia”, de Mauro Giuntini
Veneza: François Ozon visita o cinema europeu clássico com provocação à Hollywood
Rodado em preto e branco e passado nos anos 1930, “Frantz”, do diretor francês François Ozon (“Dentro da Casa”), evoca uma produção clássica europeia. E, de fato, a história já foi filmada antes, pelo mestre alemão Ernst Lubitsch em “Não Matarás”, de 1932. Mas “Frantz” também é uma provocação a Hollywood. Por isso, o diretor não gosta que o chamem de remake. Na entrevista coletiva do Festival de Veneza, Ozon garantiu que “Frantz” não é uma refilmagem, pois, ao decidir rodar a história original, baseada numa peça do francês Maurice Rostand, não conhecia a obra de Lubitsch. Além disso, ele promoveu mudanças significativas na estrutura narrativa, mudando o foco para a personagem feminina e a situação da Alemanha do pós-guerra. Ele também explicou que a escolha do preto e branco não se deu apenas como homenagem ao cinema da época em que se passa a trama. “Nossas memórias da guerra estão vinculadas a essas duas cores, preto e branco, os arquivos, filmes e filmagens… esse é um período de mágoa e perda então eu pensei que o preto e branco fossem as melhores cores para a história”, disse para a imprensa. “Cores são muito mais emotivas e fornecem uma ideia sobre o sentimento de alguém”, completou. E, curiosamente, algumas cenas coloridas pontuam a narrativa, para enfatizar quando os personagens finalmente voltam à vida. O cineasta lembrou ainda que há poucos filmes sobre a 1ª Guerra Mundial, porque o nazismo que levou à 2ª Guerra Mundial capturou a imaginação mundial de tal forma que tudo o que o precedeu parece pouco importante. Um dos poucos foi um clássico do próprio cinema francês, “A Grande Ilusão” (1937), de Jean Renoir. “Frantz” tem uma cena de batalha, mas não é exatamente um filme de guerra e sim sobre suas consequências. A começar por seu título, nome de um soldado alemão morto em batalha. O filme acompanha sua jovem viúva Anna, interpretada por Paula Beer (“O Vale Sombrio”), que, numa visita ao cemitério, conhece o tenente francês Adrien (Pierre Niney, de “Yves Saint Laurent”), quando este deixa flores no túmulo de Frantz. O filme se constrói em torno de sentimentos de culpa e da paixão latente entre Anna e Adrien, estabelecendo-se quase como um melodrama, mas com as marcas do cinema de Ozon, em sua obsessão por contar histórias, esconder segredos e visitar a dor. Além disso, Ozon continua a provocar o público com armadilhas narrativas, num jogo de aparências derivado do suspense, que leva a ponderar o que é realmente verdade e que rumos terá sua trama. Pela primeira vez filmando em alemão, o cineasta defendeu em Veneza a decisão de escalar atores que falassem os idiomas originais de seus personagens, em vez de usar intérpretes falando a mesma língua com diferentes sotaques, como é comum nos filmes americanos. E aí provocou. “Em Hollywood, há essa convenção de que todo mundo fala inglês, mas o público não quer mais isso, porque eles querem ver a verdade”, disse Ozon. “Foi muito importante usar as línguas nativas porque elas são parte da cultura de ambos os países”, continuou, acrescentando que isso fez com que Niney precisasse aprender alemão durante as filmagens, para se comunicar com Beer.
Veneza: Mel Gibson vai à guerra e vence desafetos com filme heroico
Após passar uma década sem dirigir um filme, em decorrência das confusões de sua vida pessoal, o veterano ator e diretor mostrou não ter perdido a forma. Nem sua fé. A mesma fé que o levou a filmar “Paixão de Cristo” (2004), mas também o faz se exaltar e, numa ocasião documentada, proferir ofensas antissemitas, empodera o protagonista de “Até o Último Homem”. Por este prisma, o longa é praticamente uma provocação. “Até o Último Homem” (Hacksaw Ridge) é baseado na história verídica de Desmond Doss, um jovem adventista que se alista durante a 2ª Guerra Mundial, mas que, por causa da religião, recusa-se a pegar em armas. Chamado de covarde pelos outros soldados, ele consegue permissão para lutar desarmado, trabalhando como médico do batalhão. Mas quando as forças americanas sofrem um emboscada e são massacradas durante o desembarque numa ilha, torna-se um herói improvável, salvando as vidas de dezenas de companheiros. Doss acabou se tornando o único soldado a ser condecorado por bravura sem ter dado um único tiro na guerra. “O que me chamou a atenção é que ele é um homem comum que faz coisas extraordinárias, em circunstâncias difíceis”, disse o diretor, durante a entrevista coletiva. “A luta dele é singular: vai para a guerra munido apenas de fé e de convicção. E somente com essas duas coisas foi capaz de fazer coisas magníficas”, resumiu, enquanto alisava sua barba longa e grisalha. Na verdade, quem faz coisas magníficas em “Até o Último Homem” é o próprio diretor. Mel Gibson foi à guerra armado até os dentes com seu talento. Com cenas de carnificina e muita ação, seu novo longa, exibido fora de competição no Festival de Veneza, lembra que ele foi e continua a ser um grande diretor. E até os críticos politicamente corretos tiveram que dar o braço a torcer, em reconhecimento à qualidade da obra. “Eu gosto de dirigir, de ver projetado na tela as coisas que eu imagino”, defendeu-se Gibson diante da imprensa, mas sem perder a dimensão da carreira destroçada que tenta reerguer. “Talvez seja megalomania, quem sabe?”, completou com ironia, autodepreciando-se. A obra fala por ele. “Até o Último Homem” é bipolar. Possui duas partes bem distintas. O começo é romântico e até cômico, centrado na vida de Desmond antes de se alistar. Até que, ao ver pessoas da sua idade voltarem sempre feridas da guerra, ele decide se alistar, e as cenas de combate, que compõem sua segunda parte, não são menos que espetaculares. Interpretado por Andrew Garfield, o personagem tem um pouco do Peter Parker do começo de “O Espetacular Homem-Aranha” (2012), um jovem boa praça e desajeito, mas de grande determinação moral, que sofre bullying dos soldados mais fortes. Gibson deve ter visto o filme da Marvel para escalá-lo, já que garante não fazer testes com atores. “Não faço leituras com atores. Acho que quando você conversa com uma pessoa, mesmo por Skype, você já tem uma ideia de quem ela é. Sabia que Andrew tinha interesse no filme, isso foi importante para escolhê-lo”, o diretor contou. Garfield, por sua vez, fez questão de marcar distância entre Desmond Doss e Peter Parker, mas principalmente do super-herói Homem-Aranha. “Obtenho muito mais inspiração nas pessoas comuns”, disse o ator. “Meu irmão é médico, cuida de três filhos, uma mulher, salva seus pacientes. Para mim, esses são os verdadeiros heróis: aqueles que não buscam o heroísmo”. No filme, porém, a apresentação de Desmond vai além do heroísmo. Ele é mostrado praticamente como um santo. Até o Homem-Aranha tinha falhas de caráter. Já Desmond é a perfeição encarnada, fazendo com o que, paradoxalmente, o filme de guerra tenha mensagem pacifista. “Não acho que existam guerras justas”, defendeu Gibson, que já encenou muitas batalhas em sua carreira, dentro e fora das telas. “Eu odeio guerras. Mas não posso deixar de amar os guerreiros, de prestar uma homenagem às pessoas que se sacrificam pelas outras. Precisamos compreendê-los quando voltam para casa. Espero que meu filme tenha ajudado nisso”, conclui.












