Zumbis sul-coreanos atacam mais cinemas nas estreias da semana
Com blockbusters ocupando a maior parte dos cinemas brasileiros, o último fim de semana do ano recebeu apenas três lançamentos. A estreia mais ampla pertence ao terror sul-coreano “Invasão Zumbi”, que apesar do título genérico é um dos melhores terrores do ano. Misturando muita ação, cenas de filme de desastre e zumbis, aproxima-se mais de “Guerra Mundial Z” que dos clássicos de mortos-vivos lentos de George Romero. Boa parte da produção se passa num trem e em estações ao longo da linha férrea, acompanhando os passageiros em fuga no começo de um surto zumbi. Sucesso de crítica, tem 95% de aprovação no site Rotten Tomatoes, além de ter sido consagrado pelo público como o maior blockbuster da Coréia do Sul em 2016. Alerta: a maioria das cópias distribuídas no país são dubladas em português! Outro filme bastante elogiado, “Animais Noturnos” foi premiado no Festival de Veneza (Grande Prêmio do Juri), recebeu três indicações ao Globo de Ouro e está cotado ao Oscar. Segundo longa dirigido pelo estilista Tom Ford, traz Amy Adams e Jake Gyllenhaal numa trama que combina diferentes períodos e até a leitura do manuscrito de um livro inédito, enquanto a personagem de Adams reflete sobre seu relacionamento com o ex, vivido por Gyllenhaal. O último lançamento é voltado para o “circuito de arte”. O polonês “Estados Unidos pelo Amor”, de Tomasz Wasilewski, foi premiado no Festival de Berlim (Melhor Roteiro) e gira em torno de quatro mulheres que lutam para ser felizes em 1990, logo após a queda do Muro de Berlim, tendo como pano de fundo as incertezas políticas e econômicas do fim da era soviética. Clique nos títulos dos filmes para ver os trailers de cada lançamento.
Bilheteria inflada de Minha Mãe É uma Peça 2 revela que distribuidoras contabilizam mais de mil salas invisíveis no país
Os números impossíveis das estreias dos cinemas do fim de semana no Brasil chegaram. E enquanto a Paris Filmes celebra o fato de Paulo Gustavo ter mais Força que Darth Vader no Brasil, os recordes festejados revelam que as distribuidoras contabilizam mais de 1,5 mil salas invisíveis no país – ou seja, 50% mais salas que o circuito efetivamente mapeado pela Ancine. Segundo relatórios divulgados pelo site Filme B (veja a tabela completa abaixo), “Minha Mãe É uma Peça 2 – O Filme” registrou a segunda melhor estreia nacional do ano com R$ 8,7 milhões, ficando atrás apenas de “Os Dez Mandamentos – O Filme”. O longa foi visto por cerca de 715 mil pessoas nos últimos quatro dias e estreou em mais de mil salas, o que deveria equivaler a um terço do parque exibidor nacional e também o consagraria como o maior lançamento entre as comédias nacionais de todos os tempos. O detalhe é que a animação “Sing – Quem Canta Seus Males Espanta” também foi lançado em circuito similar. E, para isso, era de se imaginar que “Rogue One – Uma História Star Wars” precisasse sair de cartaz na maioria das salas em que se encontrava, uma semana após registrar uma das maiores estreias do ano no país. Mas não foi o que aconteceu. “Rogue One – Uma História Star Wars” apareceu em 2º lugar, com uma arrecadação de R$ 3,7 milhões, ainda em mais de mil salas, seguido por “Sing – Quem Canta Seus Males Espanta”, que fez R$ 2,6 milhões em 980 salas. Basta vislumbrar o desempenho destes três filmes para perceber que, se os números de seus circuitos estão corretos, não deveria haver mais nenhum outro filme em cartaz no país. Em cinema algum. Há um ano, a Ancine publicou um balanço do parque exibidor nacional, revelando que o Brasil encerrou 2015 com um pouco mais de 3 mil salas em funcionamento. O país não atingia esta marca desde 1977 e, no ano passado, cresceu em ritmo recorde com um acréscimo de 304 novas telas. Entretanto, a se acreditar nos números divulgados pelo mercado neste fim de semana, em 2016 o Brasil ganhou, por baixo, mais de 1,5 mil salas. Afinal, ainda segundo dados do Filme B, os filmes em cartaz do 4º ao 10º lugares também estão sim, por incrível que pareça, em salas de cinema. Na verdade, os dados fornecidos garantem que eles ocupam mais de 1,2 mil salas! E estes são os blockbusters. Há ainda o circuito alternativo… Não houve, porém, um milagre chinês na expansão do parque cinematográfico nacional. O mais recente relatório da Ancine, relativo ao terceiro trimestre de 2016, informa que o circuito realmente cresceu. De 3003 para… 3098 salas! A página que contém estes números pode ser conferida abaixo. O relatório ainda revela que, no último trimestre, o mercado de exibição brasileiro teve até crescimento 27% menor que no mesmo período em 2015. A íntegra do texto pode ser lida neste link. Vale observar que diversas salas alternam alguns filmes ao longo da semana e até do dia, tornando plausível que haja mais cópias exibidas do que salas disponíveis, especialmente no interior, onde a falta de telas exige maior flexibilidade. Mesmo assim, seria improvável considerar que essa prática de exceção fosse capaz de fazer o circuito inflar 50%. Ou seria capaz? O que é mais razoável? Questionar se a Ancine subestima o mercado, se as distribuidoras superestimam seus números, se o levantamento do Filme B é totalmente equivocado ou se metade dos cinemas do país exibem mais de dois filmes por semana? Um terço três filmes? Um quarto quatro filmes? Pois a resposta oficial oferecida para o mistério é que, sim, até mais da metade dos cinemas brasileiros exibem mais de um filme ao mesmo tempo. Saiba mais sobre esta explicação e suas consequências na continuação deste artigo – aqui.
Minha Mãe É uma Peça 2 e Sing disputam cinemas com distribuição em mais de mil salas – cada!
O parque exibidor nacional anuncia um milagre natalino para esta semana. De uma hora para outra, as telas vão se multiplicar e teremos lançamentos dignos de recordes. Mas para isso é preciso acreditar em Papai Noel. Acreditar que o circuito vai tirar de cartaz “Rogue One: Uma História Star Wars” em seu segundo fim de semana, após registrar uma das maiores estreias do ano, levando 906 mil pessoas aos cinemas. Lançado em mais de 1,2 mil cinemas na quinta passada (15/12), a saga espacial abriria mão de centenas de salas a partir desta quinta, num caso extraordinário de adormecer da Força. De acordo com as distribuidoras, “Minha Mãe É uma Peça 2 – O Filme” terá a maior estreia já vista de uma comédia brasileira – e a segunda maior estreia nacional de todos os tempos, atrás apenas de “Os Dez Mandamentos”. O tamanho disso é 1.160 salas, cerca de 3 vezes a distribuição do primeiro filme da dona Hermínia, lançado em 413 mil telas para virar o longa nacional mais visto em 2013 (4,6 milhões de espectadores). Mais impressionante é que um segundo filme também vai chegar em mais de mil salas ao mesmo tempo. A animação “Sing – Quem Canta seus Males Espanta” transformará sua competição de bichos cantores numa disputa pela bilheteria, com um lançamento em 984 salas, das quais mais da metade (553) são 3D. Sabe quantas salas de cinema existem no Brasil? Segundo o levantamento mais recente da Ancine, são 3126. Com as estreias arrasa-quarteirão de “Minha Mãe É uma Peça 2” e “Sing” sobram mil. E tem mais estreias na semana. A principal atração do circuito limitado é “Capitão Fantástico”, uma comédia indie que tem sido cotada a prêmios na temporada de fim de ano nos EUA, especialmente para o ator Viggo Mortensen, que concorre ao Globo de Ouro e ao SAG Awards (o prêmio do Sindicato dos Atores). Na trama, ele vive um professor que decide criar os seis filhos à margem da sociedade. O filme também rendeu um prêmio de direção a Matt Ross no Festival de Cannes e abre em 42 salas. O italiano “Belos Sonhos”, mais recente filme de Marco Bellocchio, que abriu a Mostra Internacional de São Paulo deste ano, estreia em 26 salas. E Isabelle Huppert volta aos cinemas em 16 salas, após causar frisson com “Elle”, como uma professora que vive um tumultuado processo de divórcio no francês “O Que Está por Vir”. Assim como “Elle”, o longa também é bastante premiado. Além de troféus de interpretação para a atriz, a diretora Mia Hansen-Løve recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim de 2016. Outro filme francês, “A Última Lição”, não faz a menor diferença em nove salas. Em compensação, o terror sul-coreano “O Lamento” não merecia meras quatro salas no Rio e São Paulo. Novo filme de Na Hong-jin, responsável pelo excelente suspense de serial killer “O Caçador” (2008), “O Lamento” acompanha a investigação de um policial que se depara com chacinas e superstição. Recebeu nota de obra-prima no site Rotten Tomatoes: 98% de aprovação da crítica americana. Cabe tudo isso em cartaz, sem afetar o desempenho formidável de “Rogue One”? E os outros filmes do Top 5 atual, incluindo “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, “Sully”, “O Vendedor de Sonhos” e “Anjos da Noite: Guerras de Sangue”? Não se pode esquecer que há pelo menos outras 30 produções cinematográficas em cartaz. Por conta disso, o resultado das bilheterias deste fim de semana será dos mais interessantes de se acompanhar, já que parece tão embrulhado quanto um presente de Natal. Só vai dar para se descobrir o tamanho da surpresa na próxima segunda-feira (26/12). Clique nos títulos destacados para assistir aos trailers de cada estreia.
Rogue One, prólogo da saga Star Wars, chega a mais de 1,2 mil cinemas no Brasil
“Rogue One: Uma História Star Wars” é disparada a maior estreia da semana. Mais que isso, com lançamento em mais de 1,2 mil telas, é também uma das dez maiores estreias de todos os tempos no país – o recorde pertence a “Star Wars: O Despertar da Força”, distribuído em 1.504 salas há exatamente um ano – metade de todos os cinemas do Brasil. Bastante aguardado, o filme é um prólogo do clássico “Guerra nas Estrelas”, apresentando um grupo de rebeldes nunca visto antes na franquia, mas também o saudoso vilão Darth Vader. A trama gira em torno de uma missão para roubar os planos de construção da Estrela da Morte, a arma de destruição do Império que é derrotada no filme de 1977. Apesar de muitos relatos de problemas nos bastidores, o ritmo é empolgante e faz o longa escalar a lista dos melhores títulos da saga. Com 85% de aprovação no Rotten Tomatoes, também estreia neste fim de semana nos EUA – lá, em mais de 4 mil telas, isto é, em mais cinemas que todo o parque exibidor nacional. Adiado para não chegar aos cinemas tão próximo da tragédia da Chapecoense, “Sully – O Herói do Rio Hudson” também supera expectativas. Em cartaz em 261 salas, a produção conta a história real do piloto de avião que impediu um acidente de graves proporções ao realizar um pouso de emergência no Rio Hudson, em Nova York, salvando a vida de todos os passageiros. Mas mesmo considerado um herói pela mídia, ele precisou lidar com o escrutínio e acusações, durante a investigação de seus atos. Lembra “O Voo” (2012), mas consegue superar comparações, muito por conta da dobradinha formada pelo ator Tom Hanks e o diretor Clint Eastwood, dois veteranos que não enferrujam, apenas se aprimoram. Sucesso de bilheteria e crítica nos EUA (86% de aprovação), tem aparecido até em algumas listas importantes de Melhores Filmes do ano. Com ainda mais destaque na temporada de premiações, “Neruda” é a obra sul-americana mais celebrada do ano. Candidato do Chile ao Oscar, o novo filme de Pablo Larraín é uma delícia, que usa tom farsesco para contar fatos reais: a caçada policial ao poeta Pablo Neruda, “o comunista mais importante do mundo”, no final dos anos 1940. Sofisticado por um lado, no uso da metalinguagem, o longa também usa elementos de comédia maluca, evocando até a franquia “Pantera Cor-de-Rosa” na forma atrapalhada com que o inspetor vivido por Gael Garcia Bernal tenta prender aquele que é muito mais esperto que ele. Estreia em 34 telas. Sem muito espaço no circuito devido à guerra de blockbusters, a comédia brasileira “Magal e os Formigas” também tem seu jeito surreal de lidar com a realidade. O filme é praticamente uma homenagem ao cantor Sidney Magal, girando em torno de um fã mau-humorado que, em meio à crise financeira, resolve entrar num concurso para imitá-lo. No processo, acaba redescobrindo o bom humor. E tudo isso com uma ajuda do próprio Magal, que aparece apenas para ele, dando-lhe conselhos de vida. Há quem lembre de “Quero Ser John Malkovich” (1999), mas o tom abordado está mais para “A Procura de Eric” (2009), com direito à parábola moral de fábula encantada. Não que esteja neste nível ou seja tão engraçado quanto parece. As piadas fraquinhas renderam apenas 16 salas. O circuito limitado ainda recebe duas produções de perfil de festival. O romeno “Sieranevada” chegou a ser exibido em Cannes, e gira em torno do encontro de uma grande família num jantar para celebrar seu patriarca recém falecido. O diretor Cristi Puiu (“Aurora”) dá ao evento um tom de tragicomédia – em 13 salas. Bem mais ambicioso, o nepalês “Nas Estradas do Nepal” foi exibido em Veneza e usa a jornada de dois meninos, de castas e crenças diferentes, para retratar uma região belíssima, que ganha contornos horríficos por viver tantos anos mergulhada em guerra. Apesar do tema universal, o diretor estreante Min Bahadur Bham optou por uma filmagem de câmera parada, que não deixa o filme ser confundido com uma versão infantil de Hollywood sobre a barbárie. Por isso, a distribuição é confinada a apenas quatro salas do Rio e uma de Porto Alegre. Clique nos títulos de cada lançamento para ver seus trailers.
Estreias: Masha e o Urso ocupa os cinemas em semana marcada por opções populares
Os cinemas recebem 10 estreias nesta quinta (8/12), entre elas três ficções brasileiras, e a maioria destinada aos shoppings. A mais ampla, por mais estranho que possa soar, é um programa de TV. A série animada russa “Masha e o Urso” chega a 470 salas em parceria com a rede SBT e com participações especiais de Maisa Silva e Silvia Abravanel. As duas gravaram introduções inéditas para os episódios da série, que mostram as confusões de uma menina e de seu melhor amigo urso, sempre pronto a protegê-la. A segundo maior estreia é “Fallen”, projeto de franquia juvenil que, tudo indica, terá só o capítulo inicial. Romance sobrenatural ao estilo de “Crepúsculo”, acompanha uma adolescente que, ao chegar numa nova escola, apaixona-se por um jovem misterioso e descobre que alguns de seus novos colegas são anjos – literalmente. Os livros de Lauren Kate são best-sellers com fãs completamente apaixonados. Entretanto, a distribuidora responsável pelo lançamento nos EUA abriu falência e a produção caiu no limbo. Para piorar, o subgênero a que pertence passou a dar prejuízo nas bilheterias, o que deixou o longa um ano parado, antes de começar a ser exibido em lugares como Filipinas, Singapura e Botswana. Para se ter noção, o Brasil responde por seu maior lançamento mundial. E são “só” 410 salas. O lançamento nacional mais amplo também é baseado num best-seller com muitos fãs. Trata-se de “O Vendedor de Sonhos”, do guru da auto-ajuda Augusto Cury, sobre, claro, um guru falastrão que adora recitar frases feitas. Curiosamente, a premissa não é muito diferente do clássico americano “A Felicidade Não se Compra” (1946). O personagem de Dan Stulbach tem o suicídio impedido por um andarilho que vai ensiná-lo a valorizar a vida. No filme de Frank Capra, era um anjo. Há, porém, uma reviravolta na trama que acaba por afastar de vez quaisquer aspectos fantasiosos. A direção é de Jayme Monjardim, especialista em melodramas novelescos bem fotografados. Os outros dois títulos brasileiros são comédias. “Tamo Junto” segue a linha do besteirol de título genérico, em que todo mundo é meio bobo, e marca a estreia do roteirista da série “Vai que Cola” (Leandro Soares) como protagonista. Na trama, ao se separar de Fernanda Souza (ex-“Malhação” e uma das atrizes da TV Globo do elenco), ele vai experimentar a vida de solteiro, mas não por muito tempo, porque a bela Sophie Charlotte (novela “Babilônia”) cruza seu caminho com cara de final feliz, mesmo que ela esteja de casamento marcado. Fabio Porchat (“Vai que Dá Certo”) também está no elenco, assim como o próprio diretor Matheus Souza (“Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida”). Único filme nacional que saiu do último Festival de Gramado sem ganhar prêmio algum, chega a 331 salas. Também com elenco da Globo, “O Amor no Divã” chega em 43 salas. Terceira comédia nacional recente com “Divã” no título, a produção parece piloto de série, girando em torno de uma psicóloga (Zezé Polessa) especializada em terapias de casal, que trata de um casal em crise e até de seu marido, que costumava ser galã romântico e agora lida com a impotência (o tempo passa, Daniel Dantas). O casal do “episódio” é formado por Paulo Vilhena (ex-adolescente a caminho da calvice) e Fernanda Paes Leme (que por coincidência fez “Divã a 2”). O filme tem direção do ator Alexandre Reinecke (novela “As Pupilas do Senhor Reitor”), que passou pelo teatro antes de fazer esta estreia no cinema. Há ainda um besteirol americano, “A Última Ressaca do Ano”, com Jennifer Aniston (“Família do Bagulho”), Jason Bateman (“Quero Matar Meu Chefe”), Kate McKinnon (“Caça-Fantasmas”), T.J. Miller (“Deadpool”), Olivia Munn (“X-Men: Apocalipse”) e grande elenco. Na história, um grupo de funcionários de uma empresa decide organizar uma grande festa de fim de ano contra a vontade da chefe e acaba descobrindo que o evento pode salvar seus empregos. Típico de besteirol, tudo dá errado, antes de tudo dar certo. Em 288 salas. O circuito limitado ainda traz um último lançamento de apelo popular: “Para Sempre”, drama cristão baseado na real batalha de um homem contra a leucemia, que tem suas características de telefilme ressaltadas pela exibição em cópias dubladas. Por fim, os três filmes de menor distribuição são para poucos, em mais de um sentido. Principal sugestão da Pipoca Moderna para esta semana, “Como Você É” venceu o Prêmio do Júri do último Festival de Sundance. Passado no início de 1990, o filme apresenta a relação entre três adolescentes, traçando o começo da amizade dos jovens até um desfecho trágico, por meio de uma reconstrução de relatos díspares desencadeados por uma investigação policial. “Como Você É” marca a estreia de Miles Joris-Peyrafitte como diretor de longas e é uma ampliação de seu curta “As a Friend” (2014), igualmente premiado. Os títulos originais dos dois trabalhos são frases da música “Come As You Are”, do Nirvana. O elenco reúne os jovens Charlie Heaton (o Jonathan Byers da série “Stranger Things”), Owen Campbell (o Jared Connors da série “The Americans”) e Amandla Stenberg (a Rue de “Jogos Vorazes”), além da sumida Mary Stuart Masterson, estrela de clássicos como “Alguém Muito Especial” (1986), “Tomates Verdes Fritos” (1991) e “Benny & Joon” (1992). Infelizmente, só chega em 12 salas. O outro drama indie da programação é “Michelle e Obama”. O romance sobre o início do namoro dos futuros presidente e primeira dama dos EUA é melhor do que a premissa sugere, tendo, inclusive, concorrido a prêmios. Abre em 29 telas. O circuito se completa com o relançamento de “Blow-Up”, de Michelangelo Antonioni, clássico mod que inclui show dos Yardbirds, Jane Birkin fazendo sua transição de modelo para atriz num ménage à trois, Vanessa Redgrave matadora, homenagem a Hitchcock, trilha de Herbie Hancock, fotografia de moda e mímicos! Vencedor do Festival de Cannes em 1967, chega em 17 telas em versão restaurada. Clique nos títulos dos filmes para ver o trailer de cada estreia.
Anjos da Noite 5 domina semana pouco recomendável para o cinema
Quem ainda não viu os blockbusters em cartaz, que aproveite. Há pouco o que recomendar entre os lançamentos da semana. Quatro anos depois do último longa, “Anjos da Noite: Guerras de Sangue” volta a trazer a atriz Kate Beckinsale como a vampira Selene contra um clã de lobisomens sanguinários e a facção de vampiros que a atraiu. A mistura de terror, ação e fantasia é a maior estreia desta quinta (1/12), chegando a cerca de 600 salas do circuito, boa parte delas em 3D. O mais curioso é que o lançamento acontece um mês antes da estreia nos EUA. Mas já passou na Austrália, onde foi trucidado pela crítica como o pior exemplar da franquia. Com metade desta distribuição, o besteirol brasileiro “O Último Virgem” tenta ser uma comédia sexual adolescente americana, de um jovem que quer perder a virgindade, ao estilo de “Porky’s” e “American Pie”. As piadas são as esperadas, envolvendo prostitutas, torcida dos amigos, amiguinhas atiradas e até a professora gostosa, aqui vivida por Fiorella Mattheis (“Vai que Cola”). Um retrocesso completo, de volta ao humor das pornochanchadas, mas sem o que fazia a alegria do público daquela época: cenas de nudez. Ajude a última videolocadora do seu bairro e veja um dos originais, em vez de alimentar a nova tendência do cinema nacional de produzir subprodutos reciclados de Hollywood. Aproveitando o começo das férias escolares, duas animações visam o público infantil. A produção franco-belga “As Aventuras de Robinson Crusoé” abre em cerca de 300 salas, a maior parte em 3D, e é tão fraca e sem graça quanto os outros lançamentos da mesma equipe, responsável pela franquia sub-Nemo/sub-Dory “As Aventuras de Sammy” (2010). A outra animação é brasileira e indie. “Galinha Pintadinha Mini na Telona” é o primeiro filme dos populares personagens criados no YouTube há dez anos, que viraram uma franquia de DVDs bem-sucedidos. Trata-se de uma “versão estendida” dos desenhos, com exibição em 82 salas. Outro filme brasileiro estreia em circuito intermediário. “O Filho Eterno” é um melodrama sobre um casal (Marcos Veras e Débora Falabella) que tem um filho com Síndrome de Down. Inspirado em best-seller nacional, consegue evitar a pieguice do tema com uma narrativa dura, a partir da frustração com o nascimento, a rejeição do pai, as dificuldades na criação do menino e o desgaste do casamento, mas inevitavelmente, como é praxe, chega num final feliz, com a aceitação e o amor pelo filho. Para se comover em 59 salas pelo país. Completam a programação cinco lançamentos europeus, cuja distribuição piora conforme melhoram suas qualidades. O grego “Mundos Opostos”, por exemplo, leva a 49 salas três histórias de amor batidas, tendo como pano de fundo a crise econômica europeia. Já o espanhol “Ninguém Deseja a Noite” mostra Juliette Binoche como Josephine Peary, que em 1908 partiu para a Groenlândia em busca de seu marido, o explorador Robert Peary, desaparecido ao tentar atingir o Pólo Norte. O filme chega em 22 salas quase dois anos após abrir o Festival de Berlim de 2015 e ser massacrado pela crítica internacional. Exibido na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes deste ano, o francês “A Economia do Amor” é uma das raras opções acima da média na programação, por sua abordagem pouco convencional do divórcio, destacando o impacto econômico de uma separação. Curiosamente, trata-se do segundo divórcio cinematográfico recente da atriz Bérénice Bejo, que estrelou “O Passado”, de Asghar Farhadi, em 2013. No novo longa, ela tenta se separar, certa de que o amor acabou após 15 anos de casamento, mas o marido não sai de casa e, além do estresse de discutir detalhes da separação, eles ainda precisam lidar com o tempo que cada um deve passar com as filhas pequenas. Apenas em 13 salas. O penúltimo filme de Marco Bellocchio, o italiano “Sangue do Meu Sangue”, exibido com destaque na última Mostra de São Paulo, leva a 11 salas duas tramas passadas num antigo monastério, separadas por quatro séculos e um histórico de tortura e corrupção. Melhor filme da semana, a obra instiga por mostrar até que ponto chega a estupidez humana em duas partes bem distintas: o horror medieval e a comédia de humor negro contemporânea. Há quem prefira vampiros com revólveres, como os de “Anjos da Noite”, mas “Sangue do Meu Sangue” é capaz de muito mais terror – e com direito a seu próprio vampiro! Por fim, o drama irlandês “Viva” não teve circuito divulgado. A produção tem como maior curiosidade o fato de mostrar como é a vida para os homossexuais em Cuba, por girar em torno de uma trupe de drag queens de Havana. Paralelamente, há o contraste com o machismo de uma geração mais velha, que se autoproclamava revolucionária. Clique nos títulos dos filmes para ver os trailers de cada lançamento.
Continuação de Jack Reacher, A Chegada e Elis disputam os cinemas nesta semana
Com o circuito lotado de blockbusters, nenhum lançamento desta quinta (24/11) conseguiu encontrar muitas salas. Com isso, acabou acontecendo uma distribuição mais harmônica entre as principais estreias da semana. Na prática, isto significa maior variedade de opções nos grandes shoppings das cidades brasileiras. A distribuição mais ampla ficou com “Jack Reacher – Sem Retorno”, em que Tom Cruise volta viver o ex-militar invocado que bate em coadjuvantes pouco expressivos, em 370 salas. Lançado há um mês nos EUA, o filme levou porrada da crítica, com apenas 32% de aprovação, e teve um faturamento decepcionante de US$ 56,9 milhões. Para evitar prejuízo, a produção precisa fazer sucesso internacional. E apesar da falta de salas, chega no Brasil em mais telas que o primeiro longa da franquia, que abriu com 217 cinemas em 2012. A segunda maior estreia é a sci-fi “A Chegada”, que teve desempenho bem melhor nos EUA. Uma das ficções científicas mais bem-avaliadas do ano, foi aplaudida em pé no Festival de Cannes e obteve 93% de aprovação da crítica americana. A produção aposta na inteligência do público, que precisa desvendar um enigma intergaláctico junto com a protagonista. Na trama, Amy Adams (“Batman vs Superman”) vive uma linguista convocada pelo governo americano para determinar as intenções de uma nave alienígena que pousou nos EUA, enquanto outras naves descem em outros países. Sua chegada acontece em 268 salas pelo país. A cinebiografia “Elis”, que desfila os greatest hits da vida de uma das maiores cantoras da MPB, chega com praticamente o mesmo alcance, em 244 salas. O filme de Hugo Prata é para fãs, com muitas músicas, poucas polêmicas e estrutura convencional, prontinho para virar minissérie da Globo como outras produções do gênero. Só não é um desperdício completo pelo desempenho de Andreia Horta, que supera expectativas na “encarnação” da cantora gaúcha e foi merecidamente premiada como Melhor Atriz no Festival de Gramado. O terror “O Quarto dos Esquecidos” leva os clichês de uma casa velha, isolada, mal-assombrada e recém-habitada por uma nova família a 175 salas. O público já deveria saber onde esse resumo vai parar antes de entrar na fila do cinema, mas aqui vai uma dica: 0% de aprovação pela crítica americana. Mesmo com Kate Beckinsale no papel principal e um diretor que costumava assinar blockbusters, D.J. Caruso (“Paranoia” e “Controle Absoluto”), responsável pelo vindouro “xXx: Reativado”, o filme implodiu com uma bilheteria total de US$ 2,4 milhões – valor mundial! Com alcance mediano, “Rainha de Katwe” chega a 31 salas. Cheio de boas intenções e frases de auto-ajuda, o filme mostra uma menina africana pobre que, desafiando todas as improbabilidades, torna-se uma campeã de xadrez – esporte que é mais popular que o futebol, segundo o longa. Trata-se de uma fábula encantada da Disney. Ou melhor, a versão infantil de uma história real, em que a miséria surge lindamente fotogênica. O elenco destaca Lupita Nyong’o (“12 Anos de Escravidão”) como a mãe da jovem e David Oyelowo (“Selma”) como seu treinador. A crítica americana degustou, com 92% de aprovação, mas o público não engoliu, com apenas US$ 8,7 milhões de rendimentos. Principal destaque do circuito limitado, o primeiro filme estrelado por astros franceses do canadense Xavier Dolan chega em apenas seis salas no Rio e em São Paulo. E o elenco de “É Apenas o Fim do Mundo” é um luxo: Gaspard Ulliel (“Saint Laurent”) tem o papel principal, como um jovem que decide reencontrar a família, formada por Léa Seydoux (“007 Contra Spectre”), Marion Cotillard (“Macbeth”), Vincent Cassel (“Em Transe”) e Nathalie Baye (“Uma Doce Mentira”), após muitos anos, para comunicar que irá morrer. Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, o filme foi escolhido como representante do Canadá na busca por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Há ainda o argentino “O Ardor”, misto de drama indigenista, faroeste caboclo e aventura exótica, em que um xamã vivido por Gael Garcia Bernal (“Neruda”) tenta salvar uma herdeira, interpretada por Alice Braga (série “The Queen of South”), sequestrada por matadores de aluguel numa região de fronteira e floresta. O circuito não foi revelado. Em exibição em três salas, o documentário “De Palma” leva aos cinéfilos de São Paulo, Rio e Fortaleza um mergulho na obra do diretor Brian De Palma (dos clássicos “Scarface”, “Dublê de Corpo”, “Carrie, a Estranha”, “Os Intocáveis”, “Missão Impossível”, etc), realizado por dois outros cineastas e fãs assumidos, Noah Baumbach (“Mistress America”) e Jake Paltrow (“Os Mais Jovens”), e com 96% de aprovação da crítica americana. Completam o circuito dois longas brasileiros do mesmo diretor, lançados com exclusividade no Caixa Belas Artes, em São Paulo:“Hector” e “Toro”, ambos com direção de Edu Felistoque. Clique nos títulos dos filmes para assistir aos trailers de cada lançamento.
Animais Fantásticos e Onde Habitam domina os cinemas em semana com muitas opções
A programação desta quinta-feira (17/11) registra nada menos que 13 estreias nos cinemas. Mas parece que há só uma, “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, que monopoliza as salas dos shopping centers. A Warner já tinha definido que a produção seria um sucesso antes do lançamento, planejando nada menos que cinco filmes na franquia, e para confirmar tratou de colocá-la no maior número possível de cinemas, de modo a garantir uma grande bilheteria. Nos EUA, chega em mais de 4 mil salas. O Brasil mal possui 3 mil salas em todo seu território. Com a estreia, é possível ver porque o estúdio estava tão confiante. “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é belíssimo, com efeitos visuais de encher os olhos, e possui uma trama mais sombria que as prévias permitiam ver. Trata-se de entretenimento de qualidade, capaz de agradar até aos críticos mais exigentes – 83% de aprovação no Rotten Tomatoes. Mas o que não faltam são boas alternativas. O circuito limitado até parece uma mostra de cinema nesta semana, com diversas produções do circuito dos festivais, algumas inclusive “adiantadas” na Mostra de São Paulo e no Festival do Rio. O principal destaque é “Elle”, volta do holandês Paul Verhoeven ao suspense sexual, 24 anos após o icônico “Instinto Selvagem” (1992). Exibido no Festival de Cannes, o filme chocou sensibilidades com cenas fortes do estupro de Isabelle Huppert, mas também superou expectativas com sua narrativa complexa. O fato de ser uma porrada não impediu a França de escolhê-lo como seu representante na busca por uma indicação no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Também exibido em Cannes, “Depois da Tempestade” é o novo melodrama do japonês Hirokazu Koreeda. Assim como o premiado “Pais e Filhos” (2013), o filme lida com problemas de relacionamento entre, bem, pais e filhos. Desta vez, porém, a família já surge separada pelo divórcio e a desilusão. O título alude ao evento capaz de permitir uma espécie de reconciliação, além de evidenciar uma metáfora. Outro lançamento japonês, “Creepy” marca a volta de Kiyoshi Kurosawa aos temas sombrios, especialmente ao clima de seu clássico de terror “A Cura” (1997). Mas, ainda que tenha rendido o prêmio de Melhor Direção no festival canadense Fantasia, a história muito lenta do vizinho estranho, que pode ou não ser um psicopata, tem poucas novidades (veja-se “Paranóia”). Mais intrigante, “As Confissões”, do italiano Roberto Andò, gira em torno da morte misteriosa do representante de uma potência econômica durante um encontro do G8 (os oito países mais ricos do mundo), e o monge que, horas antes, ouviu sua última confissão. Com excelente elenco internacional, liderado por Toni Servillo (“A Grande Beleza”), Daniel Auteuil (“Caché”), Connie Nielsen (“Ninfomaníaca”), Lambert Wilson (“Homens e Deuses”) e Togo Igawa (“47 Ronins”), foi premiado no Festival de Karlovy Vary. A produção internacional mais fraca da semana vem, claro, de Hollywood. O western “Um Estado de Liberdade” foi um dos maiores fracassos do ano nos EUA. Custou US$ 50 milhões e rendeu apenas US$ 20,8 milhões, apesar de estrelado por Matthew McConaughey (vencedor do Oscar por “Clube de Compra Dallas”). A história do fazendeiro branco bonzinho que luta para libertar escravos negros simplesmente não desceu bem com o público que, em 2016, também teve acesso a “O Nascimento de uma Nação”. Os demais lançamentos, nada menos que sete longa-metragens, são produções nacionais. Mais impressionante ainda é o fato de nenhum deles ser comédia. “BR 716” foi o grande vencedor do Festival de Gramado. Dirigido pelo veterano Domingos de Oliveira em preto e branco, o drama resgata memórias de juventude, na véspera do golpe militar de 1964. O título se refere ao endereço do prédio na rua Barata Ribeiro, em que Oliveira morava no Rio, enquanto sonhava em virar escritor ou cineasta, e de onde se despediu com uma grande festa, no dia em que o Brasil virou uma ditadura. O bom elenco inclui Caio Blat (“Califórnia”) como alter-ego do cineasta, Sophie Charlotte (“Reza a Lenda”), Pedro Cardoso (série “Grande Família”) e Maria Ribeiro (“Tropa de Elite”) “Sob Pressão” lembra mais o piloto de uma série. Por sinal, o diretor Andrucha Waddington tem feito muita TV, entre um e outro “O Penetras”. A trama de episódio de série médica acompanha o fim de um plantão num hospital público, em que chegam ao mesmo tempo e gravemente feridos um bandido, um policial e uma criança, e a equipe precisa decidir quem salvar primeiro, nas condições precárias da unidade hospitalar de periferia. O elenco destaca Julio Andrade (“Gonzaga: De Pai pra Filho”), premiado como Melhor Ator no Festival do Rio. Por coincidência, ele ainda estrela outro lançamento, “Maresia”, pelo qual também foi premiado em 2016, desta vez no Festival Cine Ceará. No longa de Marcos Guttmann (Melhor Diretor no Cine Ceará), Julio vive dois personagens, tanto um expert em pinturas quanto o alvo de sua obsessão, um pintor que morreu afogado há 50 anos. O surgimento de uma pintura desconhecida e um antigo amigo do morto fazem com que o especialista questione tudo o que sabia sobre o artista. Com o menor orçamento da semana (R$ 180 mil), “O Amor de Catarina” tem como chamariz a popularidade da humorista youtuber Kéfera Buchmann (“É Fada”), que estreia em tom dramático, entre muitas lágrimas e caretas infelizes. No filme metalinguístico de Gil Baroni (“Cantoras do Rádio – O Filme”), ela vive a estrela de uma novela, que sofre de amores diante do olhar de Rose (Greice Barros, mais conhecida do teatro), uma mulher que parece não fazer mais nada na vida além de ver TV e que, claro, está sendo traída pelo marido. A programação ainda inclui, em circuito limitadíssimo, três documentários: “Coragem”, sobre um músico brasileiro que sai da favela para o mundo erudito internacional, “Marias”, sobre a adoração à Santa Maria em diferentes culturas latinas, e “O Mestre e o Divino”, sobre um padre e um índio que se tornaram cineastas para registrar o cotidiano de uma aldeia xavante. Este último foi premiado como Melhor Documentário no Festival de Brasília em 2013. Clique nos títulos de cada filme para ver seus trailers.
Candidato brasileiro ao Oscar, Pequeno Segredo é a principal estreia da semana
Há uma diferença entre a estreia principal e a mais ampla nesta semana. Mas ela se resume a 34 salas. “Horizonte Profundo – Desastre no Golfo” exibe em 270 telas o segundo filme de uma “trilogia” de parcerias consecutivas entre o ator Mark Wahlberg e o diretor Peter Berg, que antes fizeram “O Grande Herói” e logo voltarão aos cinemas com “Dia do Atentado”. Os títulos deixam claro o tema das produções, todas baseadas em histórias reais. A atual gira em torno do heroísmo de trabalhadores de uma plataforma de petróleo durante um terrível acidente em alto mar. No fundo, é cinema de catástrofe ao estilo dos anos 1970, com os efeitos dos dias de hoje. O segundo lançamento mais amplo é o melodrama “Pequeno Segredo”, o candidato do Brasil a uma vaga no Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira. O filme de David Schürmann leva a 236 salas outra história real, vivida por sua própria família, que adotou uma menina soropositiva durante suas viagens de barco ao redor do mundo. Tem bela fotografia – do peruano Inti Briones, que já foi premiado no Festival de Veneza – e uma mensagem positiva, mas a expectativa de um “filme de Oscar” é sempre por mais conteúdo. A programação lista mais um filme brasileiro. “Através da Sombra” também tem produção caprichada, como se espera do veterano cineasta Walter Lima Jr., que ao longo da carreira se aventurou com coragem pelo cinema fantástico, por meio de filmes como “Ele, o Boto” (1987), “O Monge e a Filha do Carrasco” (1996) e “A Ostra e o Vento” (1997). Seu novo trabalho se passa numa mansão mal-assombrada, com direito a fantasmas e crianças sinistras. Adaptação de “A Volta do Parafuso”, clássico fantástico de Henry James, já filmado várias vezes, o longa também registra um dos últimos papéis da carreira de Domingos Montagner, falecido em setembro. O circuito dos shoppings ainda exibe mais dois filmes americanos. “Invasão de Privacidade” revisita em 167 salas o tipo de suspense de inimigo íntimo que se esgotou nos anos 1990. Na trama, Pierce Brosnan vive um milionário ameaçado por um estagiário de T.I. da sua empresa. “Snowden – Herói ou Traidor” também tem doses de suspense e informática, mas parte de uma história real. Exibido em 83 telas, o filme de Oliver Stone é uma cinebiografia do analista de sistemas Edward Snowden, que virou o homem mais procurado dos EUA depois de denunciar o esquema de espionagem global do governo americano. “Snowden” chegou a ser considerado “filme de Oscar”, mas a estreia acabou com essa ilusão. O mesmo pode ser dito de “O Nascimento de uma Nação”. Estrelado, dirigido, escrito e produzido por Nate Parker, o filme sobre uma rebelião de escravos no período anterior à Guerra Civil americana foi o grande vencedor do Festival de Sundance e colecionou elogios rasgados em sua première. Mas o clima de “já ganhou o Oscar” trouxe à tona um antigo escândalo sexual do cineasta, que jogou água no champanhe. Tanto que a Fox faz um lançamento discreto, em apenas 12 salas. Outra produção indie, “O Plano de Maggie” junta três queridinhos da crítica, Greta Gerwig, Ethan Hawke e Julianne Moore, numa comédia anti-romântica com reviravoltas subversivas. Menos ambicioso de todos os lançamentos americanos da semana, o longa escrito e dirigido por Rebecca Miller (“A Vida Íntima de Pippa Lee”) é justamente o mais divertido, ainda que totalmente descartável. Em 18 salas. Três lançamentos europeus completam a lista, com exibição em menos de cinco salas. Mais fraco da leva, “O Ignorante” é o indefectível filme francês da semana, em que um diretor e um elenco que já fizeram clássicos revelam-se velhinhos tediosos – quem tiver paciência pode comparar com “Once More” (1988), do mesmo Paul Vecchiali. Por outro lado, o franco-marroquino “Much Loved” mostra a consistência da diretora Nabil Ayouch (“As Ruas de Casablanca”), que há mais de 20 anos traz à tona as margens da sociedade marroquina. Seu olhar sem retoques sobre a vida de prostitutas do norte da África venceu o troféu Lumiere de Melhor Filme Estrangeiro Falado em Francês de 2016. Para finalizar, o drama dinamarquês “Quando o Dia Chegar”, de Jesper W. Nielsen (“Okay”), é a maior porrada desta página. Vencedor do prêmio do público do Festival de Hamburgo e recém-exibido na Mostra de São Paulo, passa-se num orfanato, durante os anos 1960, e mostra crianças submetidas a diversos abusos para ganharem disciplina, até se rebelarem. A trama remete diretamente ao clássico “Os Incompreendidos” (1959), mas é, como boa parte das estreias, baseada numa história real. Clique nos títulos dos lançamentos para assistir aos trailers de cada um.
Estreias: Doutor Estranho tem o maior lançamento, mas há outros destaques na programação
Maior estreia da semana, “Doutor Estranho” ocupa os shoppings com um novo super-herói da Marvel, numa história repleta de efeitos visuais e elenco acima da média do gênero, liderado por Benedict Cumberbatch. O filme conquistou a crítica internacional – 91% de aprovação no site Rotten Tomatoes – , mas o mais surpreendente é a forma como incorporou e traduziu a psicodelia dos desenhos originais de Steve Ditko na linguagem dos blockbusters modernos. O fato de a Marvel fazer um filme sobre uma criação da fase hippie da editora também diz muito sobre a confiança, a capacidade e o status de seu estúdio, numa lição de como criar franquias e expandir um universo cinematográfico com personagens considerados “estranhos”. Há dois outros filmes hollywoodianos na programação. “A Luz Entre Oceanos” é um melodrama rasgado, baseado num best-seller. O elenco também é ótimo, e pelo menos para o casal central foi um trabalho prazeroso – Michael Fassbender e Alicia Vikander começaram a namorar durante as filmagens. Eles interpretam um casal num farol isolado, que encontra um bebê num barco à deriva e, depois de cuidar da menina por vários anos, descobre a verdadeira mãe (Rachel Weisz), que acredita ter pedido a filha no mar. Segue-se então o embate entre Fassbender, moralmente compelido a contar a verdade, e Vikander, para quem a criança é sua filha de verdade. A trama é de partir o coração, mas também digna de telenovela. Com 59% de aprovação da crítica americana, naufragou nas bilheterias dos EUA, dando prejuízo com apenas US$ 12 milhões de arrecadação. “Indignação” rendeu ainda menos em circuito bastante restrito. Mas conquistou a crítica, com 81% de aprovação. Drama de época baseado no livro homônimo de Philip Roth (“Revelações”), marca a estreia na direção do roteirista e produtor James Schamus, grande parceiro do cineasta Ang Lee em filmes como “O Tigre e o Dragão” (2000), “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), “Desejo e Perigo” (2007) e “Aconteceu em Woodstock” (2009). O filme também destaca uma interpretação surpreendente de Logan Lerman, como um jovem judeu de Nova Jersey, que sofre preconceito e enfrenta um clima conservador de repressão sexual ao ingressar numa Universidade nos anos 1950. O lançamento antecede outra aguardada adaptação de Philip Roth neste ano – “Pastoral Americana”. O circuito limitado também contempla os fãs de cinema indie com o relançamento de “Estranhos no Paraíso” (1984), hoje cultuadíssimo como pioneiro da revolução estética trazida pelos filmes independentes americanos. Em preto e branco e inspirado na nouvelle vague, venceu a Câmera de Ouro no Festival de Cannes como Melhor Filme de Estreia de 1984, o Leopardo de Ouro do Festival de Locarno, o prêmio de Melhor Filme da Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA e o Prêmio Especial do Juri do Festival de Sundance. Clássico absoluto, na época parecia muito moderno. A programação internacional inclui ainda o alemão “13 Minutos”, segundo filme do cineasta Oliver Hirschbiegel (“A Queda! As Últimas Horas de Hitler”) a tratar do nazismo. Baseado em fatos reais, o longa mostra a iniciativa de um trabalhador comum alemão (Christian Friedel, de “A Fita Branca”), que cansado dos absurdos do nazismo decide traçar um plano para assassinar Hitler. Considerado traidor, o carpinteiro Georg Elser foi preso após tentar explodir o Führer, mas só executado quando a Alemanha considerava ter perdido a guerra, por ordem direta do ditador. Apenas em 2011, com a inauguração de uma estátua em sua homenagem em Berlim, ele passou a ser festejado como herói da Alemanha. A outra metade da programação (cinco filmes) é composta por filmes brasileiros – que, entretanto, não ocupam a metade (nem um décimo) das salas destinadas aos lançamentos internacionais. São duas ficções, das quais se destaca “Canção da Volta”, estreia do documentarista Gustavo Rosa de Moura nas narrativas dramáticas. No filme, ele dirige sua esposa, a também cineasta Marina Person – Moura foi um dos produtores de “Califórnia” (2015), dirigido por ela. Alçada pela primeira vez ao posto de protagonista, Marina vive uma mulher depressiva, que, após tentar o suicídio, desperta um sentimento de vigília constante no marido (João Miguel), logo transformado em paranoia e obsessão. Já “Intruso” parece um vídeo amador de terror espírita. Trata-se de um trabalho feito em 2009 por Paulo Fontenele, que chega aos cinemas só depois do diretor ter se “consagrado” no gênero besteirol, assinando “Se Puder… Dirija!” (2013), “Divã a 2” (2015) e “Apaixonados: O Filme” (2016). Pensando bem, estes também podem ser definidos como horrores. Completam a programação três documentários. O menos expressivo é “Cícero Dias, O Compadre de Picasso”, trabalho bastante didático sobre o pintor pernambucano modernista do título. Mas os outros dois tiveram até repercussão internacional. “Curumim” acompanha os últimos dias de Marcos “Curumim” Archer, brasileiro executado na Indonésia por tráfico de drogas. O longa é intenso, com imagens gravadas clandestinamente no corredor da morte pelo próprio Archer, graças ao contrabando de um celular para a prisão. Tudo feito sem nenhum apoio da embaixada do Brasil na Indonésia, que não ajudou o cineasta Marcos Prado (“Paraísos Artificiais”) nem a falar com Marcos. A première mundial aconteceu sob aplausos na mostra Panorama, do Festival de Berlim. Por fim, “Cinema Novo” é um olhar afetivo para o movimento cinematográfico do título, realizado pelo filho de seu maior expoente. Eryck Rocha tinha apenas três anos de idade quando seu pai, Glauber Rocha, morreu em 1981, e a obra permite um reencontro cinematográfico entre os dois. O documentário é um jorro contínuo de imagens, em que se destaca uma montagem vertiginosa, que intercala cenas de filmes, imagens e depoimentos da época. Não chega a contar uma história, mas forma um painel tangível da geração que levou o cinema brasileiro para as ruas, para as praças e descobriu a realidade do país – dos problemas urbanos à crise rural. A experiência é impressionista, mas também pode ser chamada de impressionante. Já em sua première, “Cinema Novo” venceu o prêmio Olho de Ouro (L’Oeil d’Or) como o Melhor Documentário do Festival de Cannes de 2016. O filme também foi escolhido para abrir o Festival de Brasília.
Animação Trolls é a maior estreia da semana nos cinemas
A animação “Trolls” é o maior lançamento da semana, com distribuição em 862 salas, das quais 550 em 3D. Fato raro, terá diversas cópias legendadas. Isto porque é um musical e tem diversos cantores famosos em seu elenco de vozes, como Justin Timberlake e Gwen Stefani. Na versão brasileira, as vozes são da cantora Jullie e do blogueiro Hugo Gloss. Quase psicodélico, o filme leva para os cinemas aqueles bonecos de cabelos arrepiados que viraram febre nos anos 1960 e tiveram um grande revival há 20 anos. Seu criador, o lenhador dinamarquês Thomas Dam, concebeu os bichos feios como presente para sua filhinha em 1959, batizando-os de Trolls. Na história, os Trolls vivem num estado de eterna felicidade, cantando, dançando e se abraçando o dia todo, exceto o personagem mau-humorado de Timberlake. Um dia, eles são descobertos pelos Bergens, que percebem que podem ser felizes por um instante se comerem um Troll. O resultado é um dos melhores desenhos do estúdio DreamWorks Animation, quase tão divertido quanto o primeiro “Shrek” (2001), também estrelado por um troll simpático. O lançamento nos EUA só acontece na semana que vem, mas a crítica americana já viu e amou, com 85% de aprovação na nota média do site Rotten Tomatoes. A opção dos shoppings para o público mais adulto é “A Garota no Trem”, suspense baseado em best-seller que chegou a ser comparado com “A Garota Exemplar”. Mas as duas garotas acabaram se revelando bem diferentes. O novo filme, estrelado por Emily Blunt (“O Caçador e a Rainha do Gelo”), vem tendo um desempenho modesto nas bilheterias e diante da crítica – apenas 44% de aprovação. A trama gira em torno de um assassinato que a protagonista pode ter testemunhado ou cometido. As reviravoltas, porém, não chegam a surpreender. Estreia em 318 salas. Quer ver um thriller realmente bom? Só se morar no Rio, cidade que vai receber, com exclusividade e somente em duas salas, o melhor lançamento da semana. O noir sul-coreano “Um Dia Difícil” é daqueles filmes especiais, capazes de, ao mesmo tempo, fazer o espectador pular da cadeira de tensão e rolar para baixo dela de tanto rir. A história insana acompanha um policial corrupto, que após tentar encobrir um acidente de carro que matou um homem, é perseguido pela suposta testemunha do crime. A partir daí, a ação não pára. Nem os absurdos. O diretor Kim Seong-hun tem o senso de humor dos irmãos Coen para retratar situações criminais. Apesar de novato, é um nome que o cinéfilo precisa anotar. Fãs de besteirol (a gente sabe que existem) podem conferir outro lançamento asiático com mais facilidade: a nova comédia de ação de Jackie Chan, de volta a seu papel de sempre, como um detetive de Hong Kong que se junta a um americano para derrubar um mafioso chinês. Mas não se trata de “A Hora do Rush 4”, porque o comediante americano desta vez é branco, Johnny Knoxville (“Jackass”), e o filme se chama “Fora do Rumo”. Em 140 salas. Em circuito limitado, o terror “Satânico” chama atenção por ser estrelado por Sarah Hyland (uma das meninas da série “Modern Family”) e contar com desaprovação unânime no Rotten Tomatoes (só críticas negativas num total de 0% de recomendação). Tenha medo de suas 25 salas. “Amnésia” marca a volta do veterano cineasta Barbet Schroeder à praia de Ibiza, onde ele filmou o psicodélico “More”, com trilha do Pink Floyd em 1969. A trilha, agora, é a música eletrônica dos anos 1990, e a trama é inspirada pela vida da mãe do diretor, uma alemã que, por causa do nazismo, mudou de país e pelo resto da vida se recusou a falar alemão ou consumir qualquer produto fabricado na Alemanha, até que um DJ de Berlim aluga um quarto em sua casa, visando estourar na famosa cena musical de Ibiza. Exibido no último Festival do Rio, entra em 18 salas de sete capitais, além de Campinas. Completam o circuito o belo e vazio drama brasileiro “Jonas”, com Jesuíta Barbosa, Chay Suede, o rapper Criolo e Laura Neiva mais linda que nunca em 13 salas, o romance gay holandês “Boys”, em uma sala no Rio e outra em Brasília, e o documentário “Epidemia de Cores”, apenas no Espaço Itaú Botafogo, no Rio.
Estreias: O Contador e Ouija deixam a programação tensa nos cinemas
A Mostra de São Paulo deixou o clima tenso nos cinemas. Evidenciando a concentração do circuito alternativo no parque exibidor paulista, a quantidade de lançamentos diminuiu drasticamente nesta semana, com apenas seis estreias. Cinco são produções americanas e as que ocupam mais salas de shoppings provocam aflição. O suspense “O Contador” estreia no Brasil uma semana após abrir em 1º lugar nos EUA. A história de Bill Dubuque (“O Juiz”) chegou a figurar na Black List, a lista dos melhores roteiros não filmados de Hollywood, mas é o maior problema do longa, por partir da premissa que o autismo é capaz de transformar alguém numa perfeita máquina de matar, conduzido aos clichês dos thrillers de ação, quando parecia que engataria um suspense psicológico. Na trama, Ben Affleck (“Batman vs. Superman”) vive um contador aparentemente pacato, que tem como cliente algumas das mais perigosas organizações criminosas do mundo. Ciente que está sendo vigiado pela polícia federal (chefiada por J.K. Simmons, de “Whiplash”), ele decide desviar a atenção, aceitando um cliente legítimo: uma empresa de robótica de última geração. O problema é que uma assistente de contabilidade da companhia (Anna Kendrick, de “A Escolha Perfeita”) descobre uma discrepância envolvendo milhões de dólares. Isto leva o contador a mergulhar nos registros, mas, conforme se aproxima da verdade, a contagem de corpos começa a subir e a qualidade a cair. A crítica americana considerou apenas medíocre – 49% de aprovação na avaliação do site Rotten Tomatoes. Em estreia simultânea com os EUA, o terror “Ouija – Origem do Mal” sai-se melhor em sua iniciativa de provocar tensão, apesar do trailer já ter entregue a história completa. Passado nos anos 1960, este prólogo é superior e mais assustador que o longa que iniciou a franquia – o fraco “Ouija: O Jogo dos Espíritos” (2014). A trama acompanha uma mãe trapaceira (Elizabeth Reaser, da “Saga Crepúsculo”) que, com o auxílio de suas duas filhas, finge se comunicar com os espíritos para enganar clientes ricos. Até que decide comprar um jogo de tabuleiro Ouija para incrementar os negócios e um espírito real invade o corpo da filha menor. Escrito e dirigido por Mike Flanagan (“O Espelho”), que a cada filme comprova sua fama de mestre do terror moderno, a produção ainda resgata o sumido Henry Thomas, que há três décadas estrelou o clássico “E.T. – O Extraterrestre” (1982), como o padre que tenta ajudar as crianças. 88% de aprovação no Rotten Tomatoes. “A Nona Vida de Louis Drax” mistura um pouco de tudo, começando como drama médico para virar investigação policial e decidir encontrar uma solução de ficção científica para gerar suspense com elementos de terror sobrenatural. O resultado dessa mistureba é difícil de engolir – e o Rotten Tomatoes registrou a rejeição, com 40% de aprovação. Com direção de outro especialista em terror, o francês Alexandre Aja (“Piranhas”), a trama traz Jamie Dornan (“Cinquenta Tons de Cinza”) como um médico/cientista louco que usa uma invenção para tentar se comunicar com um menino em coma e descobrir se o acidente que o deixou no hospital foi criminal. Refletindo diversos lugares-comuns, já vistos em filmes como “A Cela” (2000) e “Aurora” (2012), o filme marca o primeiro roteiro assinado pelo ator Max Minghella, que trabalhou com Aja no terror “Amaldiçoado” (2013). O drama de época “O Mestre dos Gênios” tinha premissa promissora e, por isso, deixou a crítica frustrada, recebendo a mesma nota medíocre de “O Contador” no RT. Escrito por John Logan (“007 Contra Spectre”), narra a complicada relação de trabalho entre o escritor Thomas Wolfe (vivido por Jude Law, de “A Espiã que Sabia de Menos”) e seu primeiro editor, Max Perkins (Colin Firth, de “Kingsman – Serviço Secreto”), que lançou escritores icônicos como F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway. Perkins percebeu o talento bruto no autor que ninguém queria publicar, mas precisou contornar a difícil personalidade de Wolfe e sua falta de disciplina para realizar um trabalho insano de edição e transformá-lo num escritor referenciado. Tudo isso a um enorme custo pessoal. Mas também há quem sustente que ele sufocou o talento cru do escritor, a ponto de a versão recuperada, sem edições, do manuscrito original de “Look Homeward, Angel” (1929) ser considerada superior ao texto editado. O filme não responde a esta questão. Longe de oferecer complicações e sustos, a comédia “Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!!” oferece o melhor programa da semana. Ignore o título, que ao menos serve para referenciar “Jovens, Loucos e Rebeldes” (1993), que foi como se chamou o primeiro longa de Richard Linklater (“Boyhood”) lançado no Brasil. O novo trabalho é uma espécie de continuação espiritual daquele filme, que virou cult e lançou uma geração de novos astros de cinema – Ben Affleck, Matthew McConaughey, Milla Jovovich, etc. Mas enquanto aquele se passava nos anos 1970 e tinha como título original “Dazed and Confused”, música paranoica do Led Zeppelin, o novo se chama “Everybody Wants Some!!”, nome de uma canção festeira do Van Halen e acontece nos anos 1980. A trama gira em torno de um grupo de jovens amigos e segue o clima das comédias sexuais da época, “Porky’s” (1981), “O Clube dos Cafajestes” (1978) e “O Último Americano Virgem” (1982). Estão de volta os trotes, as drogas, a descoberta do sexo, a busca da identidade, a integração em grupo e outros elementos que marcam os melhores filmes do diretor, incluindo “Boyhood” (2014), além de uma recriação precisa de época e, quem sabe, até a revelação de uma geração de estrelas. A crítica americana riu junto, com 87% de aprovação. O último lançamento também é uma comédia. “Romance à Francesa” é exatamente o que se imagina de um filme com este título. Afinal, a comédia francesa atual virou clichê de si mesma, girando sempre em torno de infidelidades e relacionamentos a três. Anaïs Demoustier, que vive a Caprice do título original, inclusive já passou por situação similar numa comédia romântica melhor, “A Três Vamos Lá” (2015). A repetição entedia. E entristece, ao considerar que isso encontre tanto mercado no Brasil. Vale lembrar, ainda, que outra comédia lançada exclusivamente no Ceará na semana passada ganha o território nacional nesta quinta-feira: “O Shaolin do Sertão”, de Halder Gomes (“Cine Holliúdy”) – cuja crítica já pode ser lida aqui.











