Estreias: Fracasso épico do ano encontra o terror mais bem-sucedido nos cinemas brasileiros
Quatro novos cineastas brasileiros fazem suas estreias no cinema nesta quinta (18/5). Mas são os filmes americanos “Rei Arthur – A Lenda da Espada”, “Corra!” e “Antes que Eu Vá” que ganham lançamentos amplos no circuito. Destes, vale a pena ver “Corra!”. Dos outros, corra! O ator inglês Charlie Hunnam esteve no Brasil para promover seu “Rei Arthur” e deu um show de simpatia. Mas o filme é fraco, com muitos efeitos para compensar equívocos da premissa, que tenta fazer com Rei Arthur o que o diretor Guy Ritchie tinha feito anteriormente com “Sherlock Holmes” (2009). Assim, o futuro rei é apresentado como um rufião. Pior, um gângster medieval, que, após tirar a espada Excalibur da pedra, precisa provar a si mesmo o seu valor, antes de confrontar o rei usurpador para reivindicar seu trono. A avaliação do Rotten Tomatoes foi impiedosa: míseros 27% de aprovação. E o público norte-americano ecoou o desencanto nas bilheterias, ignorando a produção, orçada em US$ 175 milhões. É o maior fracasso de 2017. “Corra!” representa o oposto completo, um dos maiores sucessos do ano, com 99% de críticas positivas. Feito com orçamento de filme brasileiro, US$ 4,5 milhões, rendeu US$ 174 milhões e estabeleceu o recorde de maior arrecadação do gênero terror na América do Norte. O segredo foi misturar racismo numa história sinistra, que começa de forma romântica, num fim de semana em que a namorada de brancos ricos leva seu namorado negro para conhecer sua família numa casa de campo. Foi a estreia do comediante Jordan Peele como diretor e a repercussão já lhe rendeu inúmeros convites para novos trabalhos. “Antes que Eu Vá” é mais uma versão da trama de looping temporal de “Feitiço do Tempo” (1993), desta vez voltada para adolescentes. A ideia é exatamente a mesma, ainda que o roteiro, inspirado num best-seller infanto-juvenil, opte pela ausência de sutileza para explorar o moralismo inerente da situação: o dia se repete até a protagonista tomar decisões melhores, deixar de ser uma jovem cruel e progredir como pessoa antes de sua morte, que reinicia o looping. Com cara de filme de streaming, acabou passando em branco nos cinemas americanos, onde arrecadou míseros US$ 12 milhões – apesar de contar com 66% de aprovação da crítica. Outra história batida, moralista e melodramática, “Um Homem de Família” traz Gerard Butler (“Invasão a Londres”) como um capitalista que só percebe como negligencia sua família após o filho ser diagnosticado com uma doença fatal. Daí, óbvio, suas prioridades mudam da água para o vinho – uma descrição clichê para homenagear a produção, avaliada com inexoráveis 0% no Rotten Tomatoes. A programação inclui outro bom terror em circuito limitado. Trata-se de “O Rastro”, que também é a principal estreia nacional da semana. A produção investiu em acabamento caprichado e marketing, mas não conseguiu convencer os exibidores a abrir maior espaço nos cinemas lotados com blockbusters americanos. A trama combina assombração e o verdadeiro horror que é a saúde pública nacional. Envolve o fechamento de um hospital no Rio e acompanha o médico responsável por coordenar a transferência dos pacientes durante a noite. Quando uma paciente jovem desaparece, ele tenta localizá-la e acaba gradualmente engolido pelo prédio em condições precárias. Estreia de João Caetano Feyer (assistente de “Filme de Amor”) na direção de um longa-metragem, destaca em seu elenco Rafael Cardoso (novela “Sol Nascente”), Leandra Leal (“O Lobo Atrás da Porta”) e Alice Wegmann (“Tamo Junto”). “Entrelinhas” também marca a estreia de uma nova cineasta brasileira, Emilia Ferreira. O detalhe é que a mineira mora em Nova York, filmou em inglês a adaptação de um livro americano, com produtores americanos e atores americanos. Típico drama “cabeça”, acompanha o processo criativo de uma escritora que tenta materializar sua primeira peça de teatro, dividindo sua atenção entre o palco, a ficção e os relacionamentos de seu cotidiano. Ganha uma reduzidíssima estreia nacional, enquanto permanece inédito e sem previsão de lançamento nos Estados Unidos. A terceira cineasta estreante, Mônica Simões, chega às telas com o documentário “Um Casamento”, em que projeta uma história íntima: o casamento de seus pais, evocado com ajuda de um filme caseiro da ocasião, fotos e o depoimento de sua mãe. É bem melhor do que soa – e vale considerar que Naomi Kawase também começou registrando seu cotidiano familiar. Menor lançamento de todos, “Estamos Vivos”, de Filipe Codeço, assume o amadorismo em sua concepção, paradoxalmente ousada do ponto de vista formal. A trama gira em torno de um reencontro entre irmãos separados há muitos anos, registrado pela câmera de uma criança autista de oito anos, que gosta de ser o centro das atenções. O recurso da “câmera subjetiva”, geralmente usada em filmes de terror, acaba servindo perfeitamente ao drama, feito com baixíssimo orçamento e num único plano sequência. Claro que é preciso comprar a ideia de que um menino é capaz de manter enquadramento, conhecer profundidade de campo, fazer travelings, panorâmicas e perder pouco foco por 80 minutos de filmagem ininterrupta. Mas o verdadeiro cineasta atrás da câmera convence, apesar do roteiro culminar nas inevitáveis discussões histéricas que contrastam a opção estética com uma espécie de teatro filmado. Completa a programação o inevitável filme francês da semana, “Más Notícias para o Sr. Mars”, uma comédia absurda, em que uma espiral de eventos conspira para enlouquecer seu protagonista. A direção é de Dominik Moll (“O Monge”) e o Sr. Mars é vivido por François Damiens (“Os Cowboys”). Clique nos títulos destacados para assistir a todos os trailers das estreias da semana.
Alien: Covenant é o maior lançamento da semana nos cinemas
Estreia de cinema mais ampla desta quinta (11/5), “Alien: Covenant” chega ao Brasil uma semana antes de seu lançamento nos Estados Unidos, numa continuação da história de “Prometheus” (2012) e num retorno ao clima de terror espacial do primeiro “Alien” (1979). O diretor é o mesmo nos três filmes, o veterano Ridley Scott, que, se não leva a franquia a novas direções nem entrega a história que se espera, também não desaponta com sustos, sangue e tensão. Com 75% de aprovação (provisória) no Rotten Tomatoes, desembarca em cerca de 800 salas. Terceira parceria entre o diretor Peter Berg e o ator Mark Wahlberg (após “O Grande Herói” e “Horizonte Profundo: Desastre no Golfo”), “O Dia do Atentado” combina thriller e drama na reconstituição do atentado à bomba da Maratona de Boston de 2013 e da caçada aos terroristas que cometeram o crime. Bem feito, inclusive em seus clichês, o filme tem 80% de aprovação no Rotten Tomatoes, mas não obteve o sucesso esperado nos Estados Unidos, onde rendeu apenas US$ 31,8 milhões em cinco meses, contra um orçamento de US$ 45 milhões. Pode-se culpar a ausência de surpresas e o final conhecido. Como curiosidade, destaca-se a participação de Melissa Benoist, a intérprete da Supergirl loiraça da TV, como uma muçulmana radical. Igualmente baseado em fatos reais e com ainda mais clichês, “A Promessa” conta uma história bem menos conhecida. Na verdade, sua intensão é justamente chamar atenção para um fato histórico que a Turquia se esforçou em esconder do mundo: o genocídio dos armênios. A trama se passa durante os últimos dias do Império Otomano e da 1ª Guerra Mundial, quando o governo decidiu exterminar a raça armênia, originando um verdadeiro holocausto. E este contexto torna ainda mais difícil aceitar a trama como um romance épico, com Christian Bale (“A Grande Aposta”) na pele de um repórter americano apaixonado por uma bela armênia, que Oscar Isaac (“Star Wars: O Despertar da Força”) também tenta salvar. A crítica americana considerou um desperdício (48% de aprovação) e o público preferiu ignorar (só US$ 8 milhões de arrecadação). Maior preciosidade do circuito limitado nesta semana, “O Cidadão Ilustre” é prato cheio para fãs de comédias de humor negro. A produção argentina gira em torno de um escritor famoso, vencedor do Nobel, que volta a sua cidade natal para receber uma homenagem. Mas a satisfação do reconhecimento logo é substituída por velhos rancores e a recepção calorosa se transforma num pesadelo. Vencedor do troféu Goya (o Oscar espanhol) de Melhor Produção Iberoamericana do ano e o prêmio de Melhor Ator para o protagonista (Oscar Martínez) no Festival de Veneza, “O Cidadão Ilustre” tem ainda uma avaliação impressionante de 100% de aprovação no Rotten Tomatoes. Para quem prefere suspense, “Uma Dama de Óculos Escuros com uma Arma no Carro”, é um remake francês do clássico homônimo de 1970, último filme do mestre do cinema noir Anatole Litvak (“Uma Vida por um Fio”), baseado no romance de Sébastien Japrisot (“Verão Assassino”). Mais conhecido como diretor de animações, Joann Sfar (“O Gato do Rabino”, “O Profeta”) não consegue superar o original, mas chega perto (80% de aprovação) ao caprichar na fotografia, acompanhando a viagem misteriosa da mulher do título, desta vez vivida pela jovem Freya Mavor (revelada na série teen britânica “Skins”). A programação se completa com dois documentários nacionais, que abordam o Brasil do século passado. “Crônica da Demolição” revela as consequências da ordem e do progresso da ditadura militar na arquitetura e na história do Rio de Janeiro, enquanto “Taego Ãwa” aponta as mazelas que se perpetuam há décadas entre a comunidade indígena, a partir do resgate de imagens dos anos 1970 da tribo Ãwa e o reencontro com os sobreviventes da época, ainda esperando a demarcação de suas terras. Clique nos títulos dos filmes para ver todos os trailers das estreias da semana.
Guardiões da Galáxia Vol. 2 lidera bilheterias brasileiras pela segunda semana
“Guardiões da Galáxia Vol. 2” foi o filme mais assistido no Brasil pelo segundo fim de semana consecutivo. A nova produção de super-heróis da Marvel levou 672 mil pessoas aos cinemas brasileiros entre a última quinta-feira (4/5) e o domingo (7/5), arrecadando R$ 12 milhões. Já são 2,6 milhões de ingressos vendidos no país, totalizando R$ 45,3 milhões. A arrecadação nacional acompanha o sucesso mundial do filme, que soma US$ 427 milhões em todos os mercados, apesar de ter estreado nos EUA e na China apenas na sexta (5/5) – obviamente, em 1º lugar. “Velozes e Furiosos 8” também segue na 2ª colocação, visto por 425 mil espectadores e faturando R$ 7,2 milhões no último fim de semana. Apesar da queda, o oitavo capítulo da franquia de carros movidos a Vin Diesel é uma das maiores bilheteria de 2017, com 7,3 milhões de ingressos vendidos e R$ 118 milhões faturados. Até o 3º lugar permanece igual, mantendo a fantasia religiosa “A Cabana” entre os longas mais vistos da semana, com R$ 5,5 milhões. Malhado pela crítica por seu conteúdo apelativo e exibido sem maiores consequências nos EUA, o filme virou um fenômeno no Brasil, visto por quase 4 milhões de pessoas, com uma bilheteria acumulada de R$ 53 milhões. As estreias da semana ficaram entre o 5º e o 8º lugares, com o terror “A Autópsia” melhor colocado, seguido pelo besteirol nacional “Ninguém Entra, Ninguém Sai”. Filme com maior distribuição do fim de semana (400 salas), a comédia brasileira levou 78 mil pessoas aos cinemas e rendeu R$ 1,6 milhão.
Semana sem blockbusters infla besteirol nacional e oferece melhores opções alternativas
A primeira semana de maio é a última do ano sem lançamento de blockbuster americano. Por isso, as estreias mais amplas são um besteirol nacional, “Ninguém Entra Ninguém Sai”, e uma animação derivativa da China, “Rock Dog – No Faro do Sucesso”. Com maior distribuição, a comédia brasileira leva a 400 salas a premissa de “Vendo ou Alugo” (2013), trocando a casa à beira do morro carioca por um motel – ainda que supostamente seja baseada numa crônica de Luis Fernando Veríssimo. Já a animação, apesar de ser chinesa, tem direção do americano Ash Brannon (“Toy Story 2”) e elementos de “Kung Fu Panda” (2008) e “Sing” (2016), mas nenhuma das virtudes do roteiro ou da técnica de suas inspirações. Ironicamente, tanto a animação quanto a comédia de motel são infantis. Por sinal, “Ninguém Entra Ninguém Sai” deve ser a comédia de motel mais pudica já feita na história do cinema mundial. Quem busca uma sessão mais adulta pode se surpreender com o terror “A Autópsia”, premiado em vários festivais, inclusive no prestigioso Sitges e na mostra Midnight Madness do Festival de Toronto. A trama gira em torno da autópsia de uma mulher desconhecida, realizada por pai e filho legistas, durante a noite num necrotério. Ela foi encontrada no porão de uma casa onde aconteceu um massacre e quanto mais os dois descobrem sobre a causa de sua morte, mais o necrotério se torna sombrio como um local mal-assombrado, com direito a tempestade e eventos sobrenaturais. Apesar de falada em inglês, a direção é do norueguês André Øvredal, do cultuado “O Caçador de Troll” (2010). O resto da programação é restrita ao circuito limitado, mas as opções alternativas são um verdadeiro festival de cinema, com títulos que podem ser considerados obrigatórios para os cinéfilos que gostam de preencher listas de melhores do ano. A melhor sugestão americana vai para o drama “Melhores Amigos”, que só entrou em cartaz em 12 salas. Para se ter ideia, o longa tem 98% de aprovação no Rotten Tomatoes, foi premiado em festivais, apareceu entre os filmes favoritos da crítica americana em 2016, figurou em troféus indies e muitos questionaram sua ausência no Oscar, especialmente na categoria de Melhor Roteiro, onde se destaca um brasileiro, Mauricio Zacharias. Ele é parceiro do diretor Ira Sachs neste e em outros dramas premiados, como “O Amor é Estranho” (2014) e “Deixe a Luz Acesa” (2012), além de ter escrito no Brasil o excelente “O Céu de Suely” (2006). Em “Melhores Amigos”, Zacharias e Sachs contam a história de dois adolescentes cuja amizade precisa enfrentar disputas financeiras entre suas famílias, num retrato sensível sobre como as dificuldades econômicas deixam marcas. Melhor que este, só “Clash”, uma alternativa que parece arriscada, já que se trata de uma produção egípcia distribuída também em apenas 12 salas, mas não lhe faltam a tensão e a ousadia que o cinema americano há muito perdeu. Com impressionantes 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, é um suspense dramático passado durante a Primavera Árabe no Egito. Claustrofóbico, acompanha um grupo confundido com integrantes da Irmandade Islâmica, trancafiado pela polícia num caminhão de oito metros com fanáticos reais. Neste espaço exíguo, o que menos importa é provar sua identidade, já que o conflito acontece a seu redor, nas ruas e ao lado, entre os prisioneiros. A direção é de Mohamed Diab, que antes fez o igualmente impactante “Cairo 678” (2010), sobre mulheres em busca de justiça contra o assédio sexual na sociedade muçulmana. Com todos os elementos que rendem filmes cults, abriu a mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes do ano passado, e foi premiado em diversos festivais. Outro drama indie bem cotado, “Norman – Confie em Mim” traz uma performance arrebatadora do veterano Richard Gere (“O Exótico Hotel Marigold 2”), obcecado em seu objetivo de conhecer pessoas importantes e conectá-las visando aumentar seu networking, até que, por acaso, finalmente tem a sorte de criar laços com o futuro Primeiro Ministro de Israel. O filme, que tem 89% de aprovação no Rotten Tomatoes, marca a estreia em Hollywood de Joseph Cedar, aclamado por seu filme anterior, “Nota de Rodapé” (2011). Apesar de ter feito carreira em Israel, ele nasceu em Nova York. “A Filha” é uma adaptação australiana e contemporânea de “O Pato Selvagem”, peça do final do século 19 do norueguês Henrik Ibsen. A conhecida fábula moral mostra que a mentira pode ter mais valor que a verdade, diante de uma revelação com capacidade de destruir uma família e conduzir ao suicídio. O diretor e roteirista estreante Simon Stone ganhou vários prêmios em seu país pela obra, que tem 76% de aprovação no Rotten Tomatoes. “Sobre Viagens e Amores” marca a volta de Gabriele Muccino ao cinema italiano, mas sem sair dos EUA. Especialista em dramas lacrimosos, ele caiu nas graças de Hollywood com “À Procura da Felicidade” (2006), estrelado por Will Smith e seu filho Jaden, mas seus filmes seguintes foram fraquinhos, fraquinhos. Desta vez, conta a história de um casal de estudantes italianos que viajam para San Francisco, nos EUA, onde vão passar uma temporada na casa de um casal gay. O problema é que a menina é católica e homofóbica e não sabia deste detalhe da hospedagem. “A Mulher que se Foi” é um longa típico do filipino Lav Dias, com as características que marcam sua filmografia peculiar. Ou seja, trata-se de um drama filmado em preto e branco, com takes demorados, longuíssima duração (em torno de 4 horas) e consagrado em festivais de prestígio. A história contemplativa acompanha uma mulher que, após passar 30 anos presa, resolve se vingar do antigo amante. Venceu simplesmente o Leão de Ouro do Festival de Veneza do ano passado. Dois filmes brasileiros que também marcaram grandes mostras internacionais completam a programação. “Beduíno”, do eterno marginal Júlio Bressane, tem uma das piores distribuições da semana. Traz Fernando Eiras e Alessandra Negrini encenando fantasias num apartamento, numa metáfora sobre a vida e a arte, de proposta similar ao experimentalismo de Jacques Rivette (1928-2016) nos anos 1960. Foi selecionado para os festivais de Locarno e Roterdã. Por fim, com exibição num único horário de uma única sala do Grupo Estação, no Rio, o provocante “Éden” finalmente faz sua estreia. O longa que consagrou Leandra Leal como Melhor Atriz nos festivais do Rio de 2012 e Gramado de 2013, e também passou no Festival de Roterdã, demorou cinco anos para chegar aos cinemas. E chega assim, escondidinho, no momento em que seu diretor, Bruno Safadi, vem recebendo elogios por sua trabalho numa novela, “Novo Mundo”. “Éden” foi rodado com baixíssimo orçamento e em tempo exíguo, mas chama atenção pela proposta ousada. Tão ousada que seu drama psicológico, que critica a exploração e o fanatismo evangélico, foi evitado pelas distribuidoras de cinema. Felizmente, o longa também está ganhando distribuição por streaming, pelo Telecine Play. Clique nos títulos dos lançamentos para ver os trailers de todas as estreias da semana.
Guardiões da Galáxia Vol. 2 estreia em 1º lugar no Brasil
“Guardiões da Galáxia Vol. 2”, novo filme da Marvel, deixou “Velozes e Furiosos 8” para trás em sua estreia no Brasil. Confirmando informações do mercado internacional, a produção levou mais de 1,2 milhão de pessoas aos cinemas do país, arrecadando R$ 21,7 milhões. Ainda inédito nos Estados Unidos e na China, “Guardiões da Galáxia Vol. 2” já arrecadou US$ 106 milhões mundialmente. Com o sucesso do filme de super-heróis, o oitavo “Velozes e Furiosos” caiu para a 2ª colocação, com 684 mil espectadores e faturamento de R$ 11,4 milhões. O pódio se completa com a fantasia religiosa “A Cabana”, visto por 396 mil espectadores. Os dados se referem ao fim de semana estendido, que vai da última quinta-feira (27/4) ao feriado desta segunda (1/5).
Guardiões da Galáxia Vol. 2 estreia em mais de mil salas de cinema
“Guardiões da Galáxia Vol. 2” é o blockbuster da semana, com lançamento em 1.118 salas de cinema. Quando a franquia era praticamente desconhecida, vendeu quase 3 milhões de ingressos no Brasil. Agora, a expectativa é por um caminhão maior de dinheiro. Por isso, há mais efeitos, mais personagens, mais uma galáxia a ser salva. E também mais humor. O novo filme da Marvel é o mais divertido do ano até aqui, uma adaptação de quadrinhos que cumpre seu objetivo de entreter. A crítica norte-americana aprovou com 87% de satisfação no Rotten Tomatoes, mas a percentagem deve mudar até a estreia, que só vai acontecer nos Estados Unidos na próxima semana. Com “Velozes e Furiosos 8” ocupando mais da metade dos cinemas que sobraram, todos os demais lançamentos da semana são limitados. E até o circuito de arte encontra dificuldades para agendar as projeções, que somam seis estreias. Cinebiografia da escritora Emily Dickinson (1830-1886), a produção britânica de época “Além das Palavras” tem 91% de aprovação no Rotten Tomatoes e prêmios em festivais internacionais. Dirigida pelo veterano Terence Davis (“Amor Profundo”), apresenta o cotidiano opressor da poeta, que se rebelava contra a cultura machista e só foi publicada após sua morte. Outro drama de época, o francês “Além da ilusão” reúne Natalie Portman (“Jackie”) e Lily-Rose Depp (a filha de 17 anos de Johnny Depp) como irmãs. A trama acompanha as duas se mudando para Paris na véspera da 2ª Guerra Mundial, onde pretendem explorar seus dons para contatar os espíritos em shows de performance sobrenatural e acabam chamando atenção de um produtor de cinema, que resolve transformá-las numa sensação da indústria do entretenimento. O problema é o ciúmes que o relacionamento desperta e a época perigosa em que a trama acontece. Terceiro filme da jovem diretora Rebecca Zlotowski (“Grand Central”), com roteiro escrito em parceria com Robin Campillo (“Entre os Muros da Escola”), foi indicado ao César de Melhor Desenho de Produção por sua bela cenografia. O documentário francês “O Grande Dia” completa a programação internacional, mostrando quatro crianças, de diferentes lugares do mundo, que precisam vencer obstáculos importantes no começo de suas vidas. As estreias ainda incluem três produções nacionais. Com maior alcance, o drama “Elon Não Acredita na Morte” chega a 34 salas. Na trama, Rômulo Braga, vencedor do troféu de Melhor Ator no Festival de Brasília, entra em desespero quando sua mulher desaparece e embarca numa jornada pelo lado mais sinistro da cidade em busca de seu paradeiro. Primeiro longa de ficção de Ricardo Alves Jr. (documentário “Permanências”), teve projeção nos festivais de Cartagena, na Colômbia, e Roterdã, na Holanda. Mistura de ficção e falso documentário, “Vermelho Russo” recria a viagem de duas atrizes brasileiras para Moscou, onde vão estudar teatro e acabam se envolvendo num triângulo amoroso, precisando superar suas diferenças para sobreviver num país diferente. A direção é de Charly Braun, que já havia feito outro ótimo filme de turistas, “Além da Estrada” (2011). Ele também assina a história junto com Martha Nowill, uma das atrizes-personagens, premiada como Melhor Roteiro no último Festival do Rio. Por fim, “Mais do que Eu Possa Me Reconhecer” chega em distribuição invisível – em cartaz numa sala, em apenas um horário, no Rio. A obra de Allan Ribeiro (“Esse Amor Que Nos Consome”) filma o artista plástico Darel Valença Lins, enquanto ele grava o próprio filme com uma câmera de vídeo. O caráter experimental rendeu prêmios em festivais de pouca repercussão popular, como os de Tiradentes, Triunfo e Vitória. Clique nos títulos em destaque para ver os trailers de todas as estreias da semana.
Velozes e Furiosos 8 lidera bilheterias com público de 5 milhões de pessoas no Brasil
Assim como nos EUA, “Velozes e Furiosos 8” não teve dificuldades para se manter no topo das bilheterias de cinema no Brasil. Em seu segundo fim de semana de exibição, o longa protagonizado por Vin Diesel e Dwayne Johnson vendeu 1,6 milhão de ingressos e rendeu R$ 27,8 milhões. Os números são impressionantes, porque, em apenas 11 dias, o longa ultrapassou a marca de 5 milhões de ingressos vendidos e faturou R$ 82,7 milhões nas bilheterias brasileiras. A diferença entre a venda de ingressos do oitavo filme da franquia de carros e os demais lançamentos é simplesmente brutal. Segundo o levantamento da consultoria Comscore, “Velozes e Furiosos 8” responde sozinho por metade da bilheteria do Top 10 do último fim de semana. Os dez filmes de maior sucesso renderam juntos R$ 54,5 milhões e venderam 3,2 milhões de ingressos. Ou seja, “Velozes e Furiosos 8” rendeu praticamente o mesmo que a soma total dos outros filmes. Antes da estreia do longa, o top 10 brasileiro vinha se mantendo no patamar de cerca de R$ 40 milhões de renda e 2,5 milhões de ingressos. Na semana em que “Velozes e Furiosos 8” chegou aos cinemas, os números subiram para R$ 62,6 milhões e 3,7 milhões de ingressos. Isto porque o filme teve a maior estreia do ano no país. Apesar da diferença abissal, o blockbuster da Universal não foi o único filme a repetir seu desempenho da semana passada. O resto do Top 3 também se manteve inalterado, com a fantasia religiosa “A Cabana” na 2ª colocação, com R$ 9,5 milhões e 582,3 mil ingressos, e a animação “O Poderoso Chefinho” em 3º lugar, com R$ 5,5 milhões e 356,3 mil ingressos. Já as estreias da semana não empolgaram. “Vida”, “Gostosas, Lindas e Sexies” e “Paixão Obsessiva” levaram, respectivamente, 660 mil, 494 mil e 386 mil espectadores aos cinemas. Mas este “fracasso” era esperado. O maior lançamento da quinta-feira (20/4), a sci-fi “Vida”, abriu em apenas 220 salas. Em comparação, “Velozes e Furiosos 8” foi lançado, uma semana antes, em cerca de 1,4 mil salas, o que é quase metade de todos os cinemas disponíveis no país (são pouco mais de 3 mil, ao todo). Nesta quinta, outro blockbuster vai enfrentar a correria de Diesel e Johnson nos cinemas: “Guardiões da Galáxia Vol. 2”.
Estreias: Nem feriado de Tiradentes faz Joaquim ter o lançamento que merece
Os cinemas demonstram pouco sinal de “Vida” neste feriadão. Com “Velozes e Furiosos 8” ocupando boa parte das telas do país, o maior lançamento desta quinta (20/4), a sci-fi “Vida”, tem que se contentar com 220 salas. Jake Gyllenhaal (“Animais Noturnos”) e Ryan Reynolds (“Deadpool”) são astronautas presos numa trama influenciada por “Alien” (1979), que até agradou a crítica americana (68% de aprovação), mas deu grande prejuízo (custou US$ 58 milhões e só fez US$ 28 milhões nos EUA). Segundo maior lançamento, o suspense “Paixão Obsessiva” leva a 130 salas um trash com cara de telenovela, que foi escondido da imprensa. O filme também estreia nesta semana nos EUA, com Katherine Heigl (série “State of Affairs”) determinada a tornar um inferno a vida de Rosario Dawson (série “Punho de Ferro”), nova mulher de seu ex-marido. Quase com o mesmo circuito, o besteirol nacional “Gostosas, Lindas e Sexies” deve gerar discussões… sobre gramática. A comédia gira em torno das aventuras de quatro gordinhas – Carolinie Figueiredo (novela “Malhação”), Cacau Protasio (“Vai que Cola”), Mariana Xavier (“Minha Mãe é uma Peça 2: O Filme”) e Lyv Ziese (novela “Boogie Oogie”). Enquanto isso, “Joaquim”, drama sobre Tiradentes, lançado no feriado de Tiradentes, fica restrito a 33 salas. Dirigido por Marcelo Gomes (“Cinema, Aspirinas e Urubus”), o filme apresenta um olhar bastante diferenciado sobre o personagem histórico brasileiro e foi selecionado para a mostra competitiva do Festival de Berlim, onde conseguiu repercussão internacional com críticas bastante positivas. O que aparentemente não faz a menor diferença para os exibidores de cinema no Brasil. Outros títulos excelentes também chegam no circuito limitado, após se destacaram em festivais europeus. O americano “Paterson”, de Jim Jarmusch (“Amantes Eternos”), foi um dos dramas mais elogiados de Cannes no ano passado e chegou a figurar em diversas listas de melhores de 2016 nos EUA. Muitos consideram que Adam Driver, no papel do motorista de ônibus que escreve poemas nas horas vagas, deveria ter sido indicado ao Oscar. Chega em 28 salas espraiadas por 13 cidades. Exibido no Festival de Berlim de 2016, o australiano “O Sonho de Greta” é uma comédia juvenil sensível, que mostra o delírio de uma garota no dia de seu aniversário de 15 anos. A projeção chama atenção para o formato inusitado em que foi filmado – numa proporção de imagem de 4:3. Venceu vários prêmios na Austrália. Também voltado ao público jovem, o francês “O Novato” conquistou troféus em festivais menores, como o IndieLisboa e o My French Film Festival. A produção gira em torno do mais novo e menos popular aluno da escola, que resolve dar uma festa para conquistar os colegas. Estreia em seis salas. A programação se encerra com o menor lançamento da semana: o documentário brasileiro “O Profeta das Águas”, sobre Aparecido Galdino Jacintho, mentor de um grupo religioso de camponeses que foi preso como subversivo nos anos 1970. O filme será exibido em apenas uma sala do Cine Araújo Campo Limpo, em São Paulo. Clique nos títulos de cada filme para assistir a todos os trailers das estreias.
Estreia de Velozes e Furiosos 8 ocupa quase metade dos cinemas do Brasil
A expectativa para o lançamento de “Velozes e Furiosos 8” é tão elevada que poucos se arriscaram a competir com sua estreia nesta quinta-feira (13/4). O filme chega ao circuito nacional em cerca de 1,4 mil salas, o que é quase metade de todos os cinemas disponíveis no país (são pouco mais de 3 mil, ao todo). Com esse domínio completo do mercado, só um desastre muito grande será capaz de impedir sua estreia em 1º lugar no ranking do fim de semana, finalmente tirando “A Bela e a Fera” do topo das bilheterias, após cinco semanas. Apesar do longo reinado, o filme da Disney é mesmo sua maior competição. Como não há outra estreia ampla na semana, os carrões de Vin Diesel e Dwayne Johnson vão disputar o público da Páscoa principalmente com os filmes infantis em cartaz, que ainda incluem “O Poderoso Chefinho” e “Os Smurfs e a Vila Perdida”. Sem a comoção em torno da morte do astro Paul Walker, que serviu de combustível para o filme anterior, o oitavo “Velozes e Furiosos” optou por repetir uma trama de “Velozes e Furiosos 6”, quando Letty (Michelle Rodriguez) se voltou contra a turma. Desta vez, é Dom (Vin Diesel) quem vira o judas, a tempo de pegar o feriadão da Semana Santa. Produções europeias dominam o circuito limitado, que nesta semana é mesmo “de arte”. O lançamento com maior distribuição é também o melhor: o drama britânico “Una”, com Rooney Mara e Ben Mendelsohn. Baseado em um peça de teatro, vem despertando polêmicas e elogios com sua história, sobre o acerto de contas entre uma vítima e um pedófilo. Chega em 25 salas. Isabelle Huppert, que se tornou ubíqua após ser indicada ao Oscar 2016, chega às telas brasileiras em mais um filme. Ou melhor, um telefilme lançado em DVD na França. Versão contemporânea de “As Falsas Confidências”, de Marivaux (1688–1763), junta a atriz com outro intérprete popular, Louis Garrel, e foi filmado em tempo escasso com o elenco que encenava a peça nos palcos do Théatre de l’Odeon, de Paris, em janeiro do ano passado. “Variações de Casanova” é outra mistura de cinema e teatro, desta vez com ópera. A produção europeia traz John Malkovitch como o célebre sedutor em duas histórias relacionadas com montagens de óperas de Mozart. Produzido há três anos, passou em festivais, mas não estreou nos EUA. “Apesar da Noite” também é “antigo” e “difícil”. A produção de 2015 segue o padrão experimental do francês Philippe Grandrieux, com três horas de duração. O cineasta já ganhou uma retrospectiva na Mostra Indie em 2009 e desta vez mergulha no sexo, supostamente em busca de amor. Apesar do tema, a filmagem é um desafio à paciência do público, por conta de seu desapego completo às convenções cinematográficas. É o caso raro em que a diminuta distribuição já é ampla o suficiente. Subestimado com um lançamento em apenas oito salas, “Stefan Sweig – Adeus Europa” poderia ter maior apelo no Brasil. A cinebiografia do escritor austríaco, autor do clássico “Carta de uma Desconhecida”, foca sua fuga da Alemanha nazista, que culmina na chegada ao Rio, onde se apaixona pelo país, mas não a ponto de achar que poderia viver num mundo onde existisse alguém como Hitler. Para completar o circuito limitado, há dois filmes nacionais que, após se destacarem no circuito dos festivais, estreiam em pouquíssimas salas. O documentário “Martírio”, de Vincent Carelli, foi um dos longas mais aplaudidos do Festival de Brasília 2016, quando venceu o Prêmio do Público e o Prêmio Especial do Júri. A obra registra as disputas centenárias por terra dos índios guarani e kaiowá, e chega dentro da programação da Sessão Vitrine Petrobras (preços reduzidos e pouca sessões). “A Família Dionti” fez parte da programação de 2015 do Festival de Brasília e também conquistou o Prêmio do Público. A obra do estreante Alan Minas é um conto interiorano sobre o amadurecimento de um garoto, temperado com elementos fantásticos, e fará sua estreia em Minas Gerais, antes de expandir para nove telas no resto do país. Clique nos títulos destacados de cada filme para ver todos os trailers das estreias da semana.
Animação dos Smurfs é o principal lançamento da semana
A animação infantil “Os Smurfs e a Vila Perdida” e a fantasia “adulta” “A Cabana” são os lançamentos mais amplos da semana. O primeiro longa animado baseado nos personagens do quadrinista belga Peyo chega a 840 salas, destacando a Smurfette e a descoberta de um segredo da franquia que o marketing da Sony já contou. A crítica americana torceu o nariz – são apenas 34% de aprovação no Rotten Tomatoes, mas a cotação ainda pode sofrer alteração, tendo em que vista que a estreia nos EUA acontece na sexta (7/4). “A Cabana” é outra história em tom de fábula, mas com cunho dramático e religioso. A distribuidora chegou a trazer a atriz Octavia Spencer para a pré-estreia no Brasil, numa tentativa de contornar a rejeição ao longa nos EUA. Ridicularizado com 20% de aprovação no Rotten Tomatoes, o encontro de um homem comum com o divino – o pai, o filho e o espírito santo que no cristianismo formam Deus, além da realmente divina Alice Braga – é baseado num best-seller evangélico e tenta explicar porque Deus não faz nada para impedir a dor e o sofrimento no mundo. Acabou rendendo mais de US$ 50 milhões nos EUA e desembarca aqui em um número expressivo de salas: 671. Os shoppings ainda receberão mais um filme rejeitado pela crítica. Em 110 salas, “Despedida em Grande Estilo” acompanha um trio de aposentados (Morgan Freeman, Alan Arkin e Michael Caine) que decide assaltar o banco que lhes trapaceou com suas pensões. A trama é remake de um filme homônimo de 1979, mas a história também foi vista em várias outras produções. Tão batida que só agradou a 30% no Rotten Tomatoes. O quarto filme americano da semana explode em circuito limitado. Maior bomba da lista, “Cães Selvagens” saiu direto em DVD nos EUA, servindo como exemplo do triste fim das carreiras do ator Nicolas Cage, vencedor do Oscar por “Despedida em Las Vegas” (1995), e do diretor Paul Schrader, que escreveu “Taxi Driver” (1976). Lotado de documentários, o circuito limitado tem como principal destaque um drama brasileiro. “Por Trás do Céu” venceu o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo e cinco prêmios no festival Cine-PE do ano passado. Terceiro longa de Caio Sóh, traz Emílio Orciollo Neto e Nathalia Dill num sertão com ares de deserto pós-apocalíptico, onde viajantes os levam a sonhar com foguetes espaciais, capazes de levá-los até o litoral. Alegórico e fabuloso, projeta seu sonho em apenas 20 salas. A última ficção é o melodrama “Dolores”, passado na Argentina rural dos anos 1940, onde a personagem do título desembarca para virar cabeças e tomar as rédeas, fugindo da guerra na Europa. Coprodução de Argentina e Brasil, inclui atores nacionais em seu enredo convencional. Quatro documentários completam a programação: “Pitanga”, em que a atriz Camila Pitanga presta tributo à carreira de seu pai, o grande ator Antonio Pitanga, “Todas as Manhãs do Mundo”, em que o brasileiro Lawrence Wahba filma amanheceres ao redor do mundo, “Gaga – O Amor pela Dança”, sobre o bailarino israelense Ohad Naharin, e “Argentina”, um tributo à música e à dança do país, dirigido pelo mestre espanhol Carlos Saura.
Estreias: Scarlett Johansson leva ação e o melhor entretenimento da semana aos cinemas
“A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” traz para cerca de 800 cinemas do Brasil o mundo futurista dos mangás e animes japoneses, em versão com atores feita em Hollywood. O visual é de cair o queixo. Mas a americanização não passa apenas pela escalação de Scarlett Johansson, por sinal perfeita no papel. A história de Masamune Shirow foi simplificada para o público “menos esperto” do Ocidente. Extirpada de suas questões existenciais, a sci-fi cyberpunk assume mais cara de blockbuster americano, com uma cena de ação atrás da outra, em ritmo frenético. Os quadrinhos e a animação originais eram influenciadas por “Blade Runner” (1982) e, por sua vez, influenciaram “Matrix” (1999), entre muitas outras obras. Por isso, mesmo que o roteiro se esforce em transformar Scarlett em “RoboCop”, ainda sobra DNA suficiente – e impressionantes efeitos visuais – para garantir um filme de entretenimento passável (49% de aprovação no Rotten Tomatoes). Com ainda mais visibilidade, em torno de 900 salas, a animação “O Poderoso Chefinho” dividiu as opiniões da crítica norte-americana. Há quem a considere o primeiro grande equívoco da DreamWorks Animation e quem celebre seu ritmo alucinado, ao melhor estilo do Looney Tunes. No meio do caminho entre o primeiro trailer e a exibição do filme, a história original, adaptada do livro infantil de Marla Frazee, foi abandonada por uma trama de correrias. Talvez nem a Pixar ousasse adaptar a franquia, que mostra como os bebês se tornam pequenos tiranos, mandando na vida dos pais. Mas se o objetivo era transformar isso num desenho de bebê agente secreto, talvez fosse melhor não gastar dinheiro com os direitos autorais. O público alvo, que são as crianças, só precisa mesmo é de piadas de bumbum, que o longa entrega em número recorde. Já sobre “O Espaço entre Nós” há um consenso. O filme conseguiu implodir com 17% e faturar apenas US$ 7 milhões, antes de ser tirado de cartaz nos EUA. Mistureba de gêneros, sua trama faz uma improvável combinação de “Perdido em Marte” (2015) com “A Culpa É das Estrelas” (2014), explorando a tendência do romance de doença adolescente com um viés de ficção científica, a cargo do diretor responsável por “Hanna Montana – O Filme” (2009)! O melhor da semana, apesar de também ser americano, foi relegado a apenas 12 salas. Saudado pela crítica com 88% de aprovação, o drama indie “Mulheres do Século 20” foi indicado ao Oscar 2017 de Melhor Roteiro e traz uma interpretação consagradora de Annette Bening. Ela vive uma mãe feminista, que resolve alistar a ajuda de duas outras mulheres mais novas para educar seu filho adolescente: uma fotógrafa punk vivida por Greta Gerwig e uma garota de 16 anos, interpretada por Elle Fanning. Como a história se passa em 1979, tem ainda uma das melhores trilhas de rock dos últimos tempos. Entre as três produções europeias lançadas nos cinemas “de arte”, “Os Belos Dias de Aranjuez” foi a única exibida em competição num festival top. Ainda assim, só o que conquistou em Veneza foram críticas negativas, ao levar a extremos a pretensão de Wim Wenders de filmar dramas em 3D. Desta vez, a condição, expressa na trama, é que houvesse apenas diálogos. Uma história contada num jardim, por uma mulher a um homem, e anotada por um escritor. Tudo falado em francês e eventualmente acompanhado ao piano por Nick Cave. Wenders não é o único cineasta alemão veterano a estrear obra nova nesta semana. “O Mundo Fora do Lugar” volta a juntar a diretora Margarethe von Trotta e a atriz Barbara Sukowa após “Hannah Arendt” (2012), numa história sobre segredos e aparências. O menos convencional da lista europeia é “O Ornitólogo”, do cultuado português João Pedro Rodrigues, que combina elementos sobrenaturais e homoerotismo. A trama parte de clichês de filme de terror, mostrando um homem perdido num rio que pode ser assombrado, mas ganha um significado, digamos, alegórico, ao assumir paralelos com a história de Santo Antônio de Pádua, via tabus sadomasoquistas. Premiado em festivais menos tradicionais, confirma o talento de Rodrigues como um dos melhores representantes do cinema queer atual. Quatro filmes brasileiros disputam as salas que sobram. Dois são documentários e, cada um a seu modo, tratam de prisão: “Central – O Filme” foca o Presídio Central de Porto Alegre, superlotado e imundo, enquanto “Galeria F” relembra a fuga de um preso político da ditadura militar, que, num caso raro da história brasileira, fora condenado à morte pela justiça. A diretora Emilia Silveira já tinha abordado o período em seu documentário “Setenta” (2013). Os dois dramas nacionais que completam a programação têm registros distintos. Em preto e branco e ao som de heavy metal, “Eu Te Levo” marca a estreia na direção do roteirista Marcelo Müller (“Infância Clandestina”), que cai na armadilha da representação do tédio, de forma tediosa. Já “A Glória e a Graça” tropeça em outra armadilha. O título diz respeito a duas irmãs de mundo opostos – uma em crise, após ser diagnosticada com um melodrama terminal, e a outra bem resolvida, que resolveu se assumir como travesti. O detalhe é que, ao buscar – em tese – empoderar minorias sexuais, Flávio R. Tambellini (“Malu de Bicicleta”) optou por prática oposta ao escalar uma atriz conhecida, Carolina Ferraz, como travesti. Ironicamente, ela está muito bem e é o melhor elemento de todo o filme. Clique nos títulos destacados dos lançamentos acima para assistir aos trailers de todas as estreias da semana.
Estreias de Power Rangers e Fragmentado dominam o circuito
Os heróis de “Power Rangers” e o vilão de “Fragmentado” vão se enfrentar nas telas de cinema, numa disputa por público a partir desta quinta (23/3). A adaptação da franquia televisiva dos anos 1990 foi considerada superficial e medíocre (49% de aprovação) pela crítica americana, enquanto o terror original de M. Night Shyamalan, que retoma o universo do cult “Corpo Fechado” (2000), foi recebida com elogios rasgados (76% de aprovação) e a segunda maior bilheteria do gênero em todos os tempos. Nenhum dos dois, porém, chegará em mais de mil cinemas. “Power Rangers” tem lançamento em 801 salas e “Fragmentado” em 618. Afinal, o circuito já está superlotado com “A Bela e a Fera”, “Logan” e “Kong: A Ilha da Caveira”, que ocupam os três primeiros lugares no ranking das bilheterias nacionais. A briga de blockbusters hollywoodianos faz com que um dos lançamentos mais esperados do ano seja despejado em ridículas 30 salas. Até capitais ficarão de fora do circuito de “T2 Trainspotting”, continuação do filme cultuadíssimo de 1996, que volta a reunir o elenco, o diretor e o roteirista do original. O menosprezo só evidencia a falta de cultura cinematográfica dos distribuidores de cinema do país. Dois dramas brasileiros tentam respirar nas salas que sobram. “Travessia” traz Chico Díaz e Caio Castro como pai e filho que vivem uma relação conflituosa, e “Todas as Cores da Noite” é um suspense psicológico, centrado na interpretação claustrofóbica de Sabrina Greve, cercada por mortos e memórias de fantasmas. Este filme só chega em quatro estados – Pernambuco, Goiás, Acre, Sergipe e Paraná. Completa o circuito a comédia francesa “Imprevistos de uma Noite em Paris”, a luta para salvar um teatro parisiense, lançada em cinco capitais: São Paulo, Rio, Recife, Porto Alegre e Curitiba. Clique nos títulos destacados de cada filme para ver os trailers de todas as estreias da semana.











