“Pânico” é a principal estreia de cinema da semana
Com lançamento em 840 salas, “Pânico” é a principal estreia desta quinta (13/1) nos cinemas. Também é a melhor opção entre as três novidades da programação. Tão brutal quanto divertido, leva o aspecto metalinguístico da franquia dos anos 1990 a novos limites, revitalizando novamente clichês favoritos dos fãs de terror, como a velha ameaça do psicopata mascarado de faca em punho. As outras estreias da semana são “Benedetta”, que causou furor no Festival de Cannes por cenas de blasfêmia explícita, e “Juntos e Enrolados”, cujas filmagens também renderam polêmica. Saiba mais e veja os trailers abaixo. PÂNICO O quinto filme da saga de terror que renovou o gênero slasher nos anos 1990 é o primeiro sem a assinatura do diretor Wes Craven, falecido em 2015. Os responsáveis por substitui-lo são a dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, que dirigiram o bom terrir “Casamento Sangrento” (Ready or Not). E seu trabalho foi aprovado com louvor. Com 80% de críticas positivas no Rotten Tomatoes, o novo “Pânico” está sendo considerado o melhor da franquia deste o primeiro, de 1996. A trama volta a reunir os três sobreviventes interpretados por Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette, quando um novo assassino mascarado começa a matar adolescentes em sua cidadezinha. No clima metalinguístico e autorreferencial que marca as tramas de “Pânico”, o trio logo percebe que as vítimas atuais tem relação com os personagens do primeiro filme. E qualquer um deles pode ser o assassino ou o próximo a morrer. Os novatos do elenco incluem Jenna Ortega (“Jane the Virgin”), Melissa Barrera (“Vida”), Jack Quaid (“The Boys”), Dylan Minnette (“13 Reasons Why”), Kyle Gallner (“Sniper Americano”), Mikey Madison (“Better Things”), Mason Gooding (“Fora de Série”) e Jasmin Savoy Brown (“Yellowjackets”). BENEDETTA A nova provocação de Paul Verhoeven (“Instinto Selvagem”) é das mais polêmicas de sua trajetória, ao trazer cenas de sexo lésbico e blasfêmias variadas em um convento do século 15. O roteiro de David Birke, que volta a trabalhar com o cineasta após a parceria em “Elle” (2016), é supostamente inspirado na história real de Benedetta Carlini, uma noviça que desde muito cedo parece fazer milagres. Seu impacto na vida da comunidade de Toscana é imediato e chama atenção do Vaticano. Mas logo sua pureza é confrontada pela chegada de uma jovem tentadora ao convento, que decide seduzi-la. Segunda produção consecutiva em francês do famoso diretor holandês, “Benedetta” é estrelada por Virginie Efira (“Elle”), Daphné Patakia (“Versailles”), Charlotte Rampling (“45 Anos”), Lambert Wilson (“Homens e Deuses”) e Olivier Rabourdin (“Busca Implacável”). JUNTOS E ENROLADOS A nova aposta nacional no humor popular traz Cacau Protásio e Rafael Portugal como noivos que, após assinarem os papéis, resolvem se divorciar em plena festa de casamento. A produção acabou ganhando notoriedade há dois anos devido a ataques racistas contra Protásio, durante filmagens num quartel de bombeiros. A comediante interpreta uma bombeira na história. A direção é de Eduardo Vaisman (“Valentins”) e Rodrigo Van Der Put (“Detetive Madeinusa”).
“Sing 2” é a principal estreia de cinema da semana
Os cinemas recebem cinco lançamentos nesta quinta (6/12), com destaque para a animação musical “Sing 2”, com distribuição no maior número de salas. A segunda estreia mais ampla é um filme de ação: “King’s Man: A Origem”, prólogo ultraconservador da franquia “Kingsman”. Os demais lançamentos são um derivado da série anime “My Hero Academy” e dois títulos de circuito limitado – o novo Woody Allen e uma produção japonesa premiada. Confira abaixo os trailers e mais detalhes de cada estreia. SING 2 A continuação de “Sing: Quem Canta Seus Males Espanta” (2016), animação-karaokê em que bichos buscam o estrelato cantando sucessos da música pop, volta a reunir os integrantes do concurso de calouros do primeiro filme. Desta vez, eles convencem um magnata do entretenimento a bancar seu grande show, mentindo que um cantor lendário será a atração principal. Só que o tal ídolo do rock se encontra recluso. Além da volta dos dubladores originais, incluindo Matthew McConaughey, Reese Witherspoon, Scarlett Johansson, Taron Egerton, Tori Kelly e Nick Kroll, “Sing 2” traz ninguém menos que Bono Vox, do U2, como o cantor icônico que os protagonistas tentam convencer a retomar a carreira. Envolvida na produção – e com várias músicas na trilha – , a banda U2 compôs a música-tema do desenho. Para não ficar atrás, a versão dublada em português também incluiu alguns cantores brasileiros, com destaque para Sandy, Lexa, Wanessa Camargo, Paulo Ricardo, Any Gabrielly e até a dupla de pai e filho Fábio Jr e Fiuk. Uma boa alternativa, já que a maioria das cópias chegam dubladas. KING’S MAN – A ORIGEM Concebido como prólogo da franquia “Kingsman”, este filme também pode ter virado o epílogo das adaptações dos quadrinhos de Mark Millar após fracassar nas bilheterias e com a crítica dos EUA (43% de aprovação no Rotten Tomatoes). Passada na época da 1ª Guerra Mundial, a trama conta a origem da agência de espionagem britânica escondida nos fundos de uma alfaiataria de Londres, mas sem a diversão dos primeiros filmes e com um subtexto assumidamente pró-conservadorismo, enaltecendo a suposta superioridade da elite britânica em plena era da brutalidade colonialista. Novamente dirigido por Matthew Vaughn, responsável pelos dois “Kingsman” anteriores, o filme reúne um elenco grandioso, encabeçado por Ralph Fiennes (o M da franquia “James Bond”), Harris Dickinson (“Mentes Sombrias”), Gemma Arterton (“Mistério no Mediterrâneo”), Djimon Honsou (“Capitão Marvel”) e Rhys Ifans (“O Espetacular Homem-Aranha”), que vive o vilão/alívio cômico Rasputin. O FESTIVAL DO AMOR O último filme de Woody Allen foi realizado em meio à campanha de difamação movida por seus filhos, Dylan e Ronan Farrow, que retomaram antigas acusações por um suposto abuso cometido contra Dylan quando ela tinha sete anos, em 1992. Inocentado na época, mas condenado 30 nos depois na opinião pública, Allen perdeu parceiros de negócios e viu atores que venceram o Oscar com sua ajuda virarem-lhe as costas. Por conta disso, “O Festival do Amor” é o mais independente de seus filmes, sem produtora americana ou grandes astros. Rodado no verão de 2019 em San Sebastián, na Espanha, a trama gira em torno de um casal americano que participa do Festival de cinema local. O elenco é basicamente europeu, formado pelos espanhóis Elena Anaya (“A Pele que Habito”) e Sergi López (“O Labirinto do Fauno”), o francês Louis Garrel (“O Oficial e o Espião”), o austríaco Christoph Waltz (“007 Contra Spectre”) e dois atores americanos nos papéis principais, Gina Gershon (“Riverdale”) e Wallace Shawn (“Young Sheldon”). RODA DO DESTINO Premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim do ano passado, o filme de Ryûsuke Hamaguchi (“Asako I & II”) acompanha três casais em histórias paralelas de romance. As situações incluem um inesperado triângulo amoroso, uma armadilha de sedução que dá errado e um encontro resultante de um mal-entendido, que conduzem a escolhas e arrependimentos. Hamaguchi terminou o ano em alta devido a outro drama lançado em 2021, “Drive My Car”, considerado favorito para o Oscar de Melhor Filme Internacional. MY HERO ACADEMIA – MISSÃO MUNDIAL DE HERÓIS Terceiro longa derivado da série animada japonesa, o filme acompanha a ameaça de uma organização sinistra, que planeja eliminar todos os humanos com superpoderes, forçando os heróis em treinamento a trabalhar como equipe. O detalhe é que eles têm apenas duas horas para salvar o mundo. Atualmente em sua 5ª temporada, a série original é disponibilizada na plataforma Crunchyroll.
Estreia de “Turma da Mônica: Lições” é maior lançamento nacional da pandemia
Em meio à disputa por espaço entre “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” e “Matrix Resurrection”, os cinemas recebem a maior estreia brasileira de 2021. “Turma da Mônica: Lições” chega em 920 salas nesta quinta (30/12), praticamente o mesmo circuito do novo “Matrix”, num lançamento bem mais amplo que o filme anterior da franquia. TURMA DA MÔNICA: LIÇÕES Várias vezes adiada devido a pandemia, a adaptação dos quadrinhos de Mauricio de Sousa fecha o ano com um registro positivo para o cinema nacional. Trata-se de cinema infantil de altíssima qualidade, bem melhor que o primeiro longa, e ainda abre as portas para um “universo Mauricio de Sousa” nas telas. Drama de formação, a história explora o amadurecimento da turma, mostrando as consequências de tentarem fugir às reponsabilidades escolares. Pegos, são forçados pelos pais a se separarem. Enquanto Mônica (Giulia Benite) troca de colégio, Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) passam a ter atividades extracurriculares durante as folgas, o que lhes permite conhecer outras pessoas – isto é, outros personagens dos quadrinhos de Mauricio – e crescer individualmente. Assim como em “Turma da Mônica - Laços”, a continuação é baseada numa graphic novel dos irmãos Lu e Vitor Cafaggi e a direção é novamente assinada por Daniel Rezende. LARA Além do filme da Mônica, os cinemas recebem um drama alemão premiado em circuito limitado. “Lara” conta a história de uma pianista frustrada que dedicou sua vida a transformar o filho num grande músico, mas ao mesmo tempo tornou o rapaz ressentido pela falta de empatia com suas dificuldades. Em seu aniversário de 60 anos, ela faz planos para ver o primeiro concerto de piano do filho. Mas não foi convidada e não é bem-vinda à apresentação. O drama de Jan-Ole Gerster (“Oh Boy”) venceu 12 prêmios internacionais, inclusive o troféu de Melhor Atriz para Corinna Harfouch (“Aqui e Agora”), intérprete da mãe do título, no Festival de Karlovy Vary.
“Matrix Resurrections” chega aos cinemas nesta quarta
As estreias começam mais cedo na época do Natal, com o lançamento de “Matrix Resurrections” nesta quarta (22/12), simultaneamente com os EUA. Ressurreição é normalmente tema da Páscoa, mas este não é o principal problema com a data escolhida pela Warner. A produção vai encontrar um circuito saturado de cópias de “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, que chegou em 96% dos cinemas brasileiros na semana passada. Praticamente sem espaço, a programação ainda recebe mais três títulos na quinta (23/12): um “terrir” e duas fantasias alemãs com distribuição bem limitada – uma delas, em busca de vaga no Oscar 2022. Confira abaixo mais detalhes de cada filme. MATRIX RESURRECTIONS Continuação que é mais nostálgica que inovadora, ao mesmo tempo em que critica a própria nostalgia, “Matrix Ressurrections” é definitivamente melhor que as duas sequências do filme original, justificando a retomada da franquia pela cineasta Lana Wachowski com cenas de muita emoção. Cheio de flashbacks e personagens antigos – alguns com rostos novos – , a sci-fi vai fundo na metalinguagem, com citações à Warner, continuações e até a um game chamado Matrix, mas seu coração carregado de efeitos visuais bate mesmo é pela história de amor dos protagonistas. Em tempo, a produção ainda comprova, como foi visto em “Punho de Ferro”, que Jessica Henwick é uma coadjuvante perigosa, capaz de roubar cenas de qualquer protagonista – até de Keanu Reeves. A ÚLTIMA NOITE O filme de Natal mais sombrio deste fim de ano acompanha um casal e seu filho, que se preparam para acolher seus amigos e familiares numa ceia perfeita, onde todos pretendem se confraternizar como se não houvesse amanhã. Porque não haverá. Enquanto na casa decorada o clima assume uma comicidade dramática, do lado de fora é literalmente uma sci-fi apocalíptica. Estreia na direção de Camille Griffin (assistente de câmera de “Star Wars: A Ameaça Fantasma”), traz Keira Knightley (“Colette”) e Matthew Goode (“A Descoberta das Bruxas”) nos papéis principais. UNDINE A programação se completa com dois filmes alemães, que por coincidência tem temas fantasiosos e premiaram suas protagonistas com os troféus de Melhor Atriz em duas edições consecutivas do Festival de Berlim, no ano passado e neste ano. “Undine”, do premiado Christian Petzold (“Em Trânsito”), consagrou o desempenho de Paula Beer (parceira de “Em Trânsito”) também com um troféu da Academia Europeia de Cinema. Ela interpreta a sereia urbana do título, que precisa lidar com o fim de um relacionamento, numa abordagem cheia de referências aquáticas e que não perde de vista a inspiração nas fábulas encantadas. O HOMEM IDEAL Estrelado por Maren Eggert (“Eu Estava em Casa, Mas…”), o longa de Maria Schrader (“Nada Ortodoxa”) acompanha uma cientista que, para obter fundos de pesquisa, aceita participar de uma experiência e viver durante três semanas com um robô humanoide (Dan Stevens, de “Legion”) programado para fazê-la feliz. Instigante, é o lançamento da semana com maior aprovação no Rotten Tomatoes: 96% de críticas positivas. Além disso, entrou na lista dos 15 títulos pré-selecionados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para disputar vaga no Oscar de Melhor Filme Internacional.
Homem-Aranha ocupa quase todos cinemas do Brasil
Estreia mais esperada do ano, “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” domina o circuito cinematográfico nesta quinta (16/12). Segundo o Filme B, o lançamento ocupará nada menos que 2,8 mil salas, número nunca visto antes na História do Brasil. Para se ter noção, este era o total de salas que existia em todo o território brasileiro em 2014. Ou seja, 100% do circuito de sete anos atrás. Como a Ancine ainda não apresentou um panorama de como o parque exibidor foi afetado pela covid – várias salas, inclusive do circuito Itaú Cinema, foram fechadas – , não é possível dimensionar com clareza o que essa distribuição em massa representa em termos de mercado. A estimativa é que gire em torno de 96% da ocupação total, confirmando o abandono do acordo de cavaleiros de 2015, quando “Jogos Vorazes: A Esperança” foi acusado de monopolizar o circuito, com 1,7 mil salas. Para comparar com outro blockbuster equivalente, o mais recente filme da Marvel, “Eternos”, foi lançado em 1,8 mil salas. A Sony ultrapassou os limites. E será interessante acompanhar a reação da Warner quando tentar lançar “Matrix Resurrections” na próxima quarta (22/12). Homem-Aranha: Sem Volta para Casa Com o monopólio dos cinemas e embalado por elogios rasgados da crítica internacional, “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” vai bater todos os recordes de bilheteria da pandemia no país. Não é profecia, é consequência. Com uma história que abre o multiverso e infinitas possibilidades, a produção também exacerba o significado de “fan service”, representando o ápice do modelo cinematográfico da Marvel. Há muitas participações especiais – todas que os fãs pediram – e citações envolvendo 20 anos de cronologia do herói, desde o primeiríssimo “Homem-Aranha” de 2002. E só não é um grande easter egg com trechos esporádicos de trama porque os roteiristas (Chris McKenna e Erik Sommers) se superaram ao dar sentido ao excesso, tornando o “fan service” indispensável para a narrativa. Há cenas de muita ação, comédia de rir à toa e tragédia para abrir o berreiro no escuro. Não é à toa que está sendo considerado o melhor filme do Homem-Aranha já feito – há quem diga que seja o melhor filme do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel). De quebra, ainda oferece uma conclusão, ou ao menos um ponto para reiniciar a franquia. Nós Duas Apesar da amplitude da teia do Aranha, o circuito limitado conseguiu espremer três lançamentos premiados de diretores estreantes num punhado de salas de arte, como contraprogramação. Dois destes filmes têm temática LGBTQIAP+. O drama francês “Nós Duas”, do estreante Filippo Meneghetti, venceu o César (o Oscar francês) de Melhor Filme de Estreia. Na trama, as veteranas Barbara Sukowa (“Hannah Arendt”) e Martine Chevallier (“Não Conte a Ninguém”) são duas namoradas da Terceira Idade, que escondem o namoro da família e precisam lidar com a interferência da filha de uma delas quando um problema de saúde separa o casal. Sem Ressentimentos O alemão “Sem Ressentimentos” venceu o Teddy (troféu de Melhor Filme LGBTQIAP+) do Festival de Berlim. Sua história gira em torno de um jovem alemão de descendência iraniana que é condenado a prestar serviço comunitário num campo de refugiados e desenvolve um relacionamento com um rapaz muçulmano do local. Expectativas culturais e de vida são colocadas à prova, conforme o perigo de extradição para um país intolerante se aproxima. Azor Completa a lista “Azor”, um suspense dramático passado na época da ditadura militar argentina, que acompanha um banqueiro recém-chegado da Europa para ocupar o lugar do sócio, após este desaparecer misteriosamente sem deixar vestígios. A recriação do clima sombrio do período, em que desaparecimentos não deviam ser questionados, rendeu o prêmio de talento emergente para o diretor suíço Andreas Fontana no Festival de Zurique. Além destes, “Casulo”, lançado na semana passada, também amplia seu pequeno circuito.
“Clifford” e “Resident Evil” são as maiores estreias de cinema
Os cinemas recebem 11 estreias nesta quinta (2/12), mas apenas duas chegam no circuito mais amplo do Brasil: o filme infantil “Clifford – O Gigante Cão Vermelho” e o terror baseado em videogame “Resident Evil – Bem-Vindo a Raccoon City”, que estreiam em cerca de 500 telas cada. Eles não são as melhores opções da semana. Mas os filmes com apelo de Oscar receberam distribuição limitada, com disponibilidade no circuito de arte de São Paulo, Rio e poucas cidades mais. Pelo menos, um deles já poderá ser visto em duas semanas em todo o pais – na Netflix. Confira abaixo todas as estreias e seus respectivos trailers. Clifford – O Gigante Cão Vermelho Sucesso entre as crianças nos EUA, o filme conta a origem do cachorro vermelho gigante criado em 1963 pelo autor de livros infantis Norman Bridwell (1928–2014) e diverte com os problemas causados por seu tamanho descomunal. Apesar do entusiasmo do público (nota A no CinemaScore), que já garantiu a encomenda de uma continuação, a crítica achou medíocre (52% no Rotten Tomatoes), lembrando que os roteiristas são os mesmos dos dois filmes live-action dos “Smurfs” e a direção é do responsável por “Alvin e os Esquilos: Na Estrada”. Resident Evil – Bem-Vindo a Raccoon City A tentativa de relançar “Resident Evil” nos cinemas com um enredo mais fiel aos games valoriza, ironicamente, os filmes estrelados por Milla Jovovich. Destruído pela crítica (28% no Rotten Tomatoes) e com bilheteria pífia, o reboot é game over na primeira fase. King Richard – Criando Campeãs Will Smith nunca buscou com tanta vontade uma indicação ao Oscar como neste filme, que conta a história real de perseverança do pai que possibilitou o sucesso das irmãs Venus e Serena Williams, primeiras tenistas negras campeãs mundiais. O drama edificante conta como Richard Williams lutou contra todas as expectativas raciais para apostar no talento das filhas, realizando o que diziam ser impossível. Dirigido por Reinaldo Marcus Green (“Monstros e Homens”), atingiu 91% no Rotten Tomatoes com muitos elogios para o desempenho do astro. A Mão de Deus Produção da Netflix que chega aos cinemas em lançamento limitado, a nova obra do italiano Paolo Sorrentino, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional por “A Grande Beleza”, levou o Leão de Prata do Festival de Veneza deste ano. Passada em Nápoles, na Itália, a trama inspira-se na juventude do diretor, quando Diego Maradona eletrizou a cidade como jogador do Napoli e se tornou campeão mundial pela seleção argentina. Foi durante a Copa do Mundo de 1986 que o craque marcou o gol que batiza o longa, usando a “mão de deus” (dele próprio, Maradona) para vencer a Inglaterra. Ao mesmo tempo, Maradona também salvou a vida de Sorrentino, sem nunca saber. O filme conta como isto aconteceu. Falling – Ainda Há Tempo O primeiro longa dirigido por Viggo Mortensen, indicado ao Oscar de Melhor Ator por “Green Book”, traz o astro como um homem gay casado que recebe o pai conservador em sua residência para ajudá-lo a lidar com os sintomas de Alzheimer. Visões de mundo colidem e discussões sérias são travadas, que percutem em muito drama e renderam o troféu Sebastiane, prêmio LGBTQIAP+ do Festival de San Sebastián. Selvagem Em clima de projeto estudantil, o longa de Diego da Costa registra uma ocupação de escola e traz muitos discursos engajados, além das participações da sumida Lucélia Santos e do rapper Rincón Sapiencia. Foi premiado em festivais fora do circuito mais tradicional do país, inclusive no Guarnicê, um dos mais antigos festivais brasileiros, realizado em São Luís, Maranhão. Vigaristas em Hollywood A comédia sobre golpistas veteranos que tentam um último golpe segue à risca a obrigação de incluir Morgan Freeman em seu elenco. Este é o terceiro filme similar estrelado pelo ator, que começou a mania das comédias de “ação” com velhinhos ao virar espião aposentado em “RED: Aposentados e Perigosos” em 2010. Outro detalhe também constante nesse tipo de trama é a péssima repercussão junto à crítica (33%, neste caso). A história gira em torno de produtores de cinema endividados que armam um esquema de seguros com um astro de cinema envelhecido. Robert De Niro e Tommy Lee Jones completam o elenco central. Que Mal Eu Fiz a Deus? 2 Sequência inferior da mediana comédia francesa de 2014, tem o tipo de humor popular que faz sucesso no Brasil, especialmente na TV. Na trama, quatro genros anunciam que vão mudar de país e os sogros imaginam como impedir. Nheengatu – O Filme A programação se completa com a estreia de três documentários, dos quais se destacam os dois trabalhos que focam o Brasil profundo. Premiado no Festival de Coimbra, “Nheengatu – O Filme” acompanha uma jornada do diretor português José Barahona pelo Rio Negro em busca de uma linguagem perdida, que os portugueses impuseram aos nativos brasileiros durante a colonização. Encontra índios aculturados e ponderando a extinção diante do avanço do garimpo ilegal em suas terras. Wild – Rede Selvagem Em clima de “A Máfia dos Tigres” brasileiro, a obra de Dener Giovanini segue um jornalista investigativo em contato com um dos maiores traficantes de animais silvestres do Brasil, revelando os bastidores dramáticos dessa atividade ilegal, que movimenta bilhões de dólares todos os anos e que coloca em risco de extinção diversas espécies. Mostra-me o Pai Por fim, “Mostra-me o Pai” é uma produção evangélica americana com agenda específica sobre o significado da família e paternidade.
Cinemas recebem animação da Disney, Lady Gaga e candidato brasileiro ao Oscar
Os cinemas renovam a programação com opções bem variadas nesta quinta-feira (25/11), com destaque para um desenho animado da Disney, a volta de Lady Gaga aos papéis dramáticos, uma comédia com Cacau Protásio e o candidato brasileiro a uma vaga no Oscar. Entre as estreias de circuito limitado, ainda há filmes premiados em festivais importantes, como Gramado e Veneza, além de uma produção da Netflix. Confira os detalhes abaixo. Encanto Com distribuição mais ampla, “Encanto” é a segunda incursão animada da Disney pelo universo latino, após “Viva – A Vida é uma Festa” (Coco), em 2017. Concebida pelo compositor Lin-Manuel Miranda, gira em torno dos Madrigal, uma família extraordinária que mora numa casa mágica nas montanhas da Colômbia. Cada integrante da família é abençoada com um dom único, desde superforça até o poder de curar. Exceto Mirabel. E quando a magia começa a entrar em colapso, é justamente ela, a única Madrigal sem poderes sobrenaturais, que se torna a última esperança de seus parentes excepcionais. Embora a perspectiva cultural latina ainda seja novidade para a Disney, o produto final é típico do estúdio: divertido, musical e lindamente animado. A produção também confirma a supervalorização de Lin-Manuel Miranda em Hollywood. “Encanto” é o quarto filme com suas digitais em 2021 – após “Em um Bairro em Nova York”, “Tick, Tick…Boom!” e outra animação, “Vivo: Um Amigo Show”. Já a direção está a cargo de Byron Howard e Jared Bush, co-diretores de “Zootopia”, em parceria com Charise Castro Smith – que faz sua estreia na função após uma carreira como roteirista de séries (de “Devious Maids” à “Maldição da Residência Hill”). Casa Gucci O veterano cineasta Ridley Scott (“Gladiador”) estreia no gênero “true crime”, mas o resultado parece mais um melodrama de novela sobre o mundo dos ricos e famosos. “Casa Gucci” também oferece paralelos aos filmes de máfia, com luta fraticida pelo poder, traições, informantes policiais, assassinos profissionais e atores americanos forçando sotaque italiano. Apesar disso, é um filme sobre uma grife do mercado de luxo. A produção é centrada no maior escândalo dos bastidores da grife Gucci, envolvendo Maurizio Gucci, vivido por Adam Driver (“Star Wars: A Ascensão Skywalker”), e sua esposa Patrizia Reggiani, personagem de Lady Gaga. Eles foram casados por 12 anos, entre 1973 e 1985, e tiveram duas filhas. Até o herdeiro milionário trocá-la por uma mulher mais nova – disse que ia viajar a negócios e nunca mais voltou. Como vingança, Patrizia encomendou o assassinato do ex-marido a um matador profissional. O papel de Reggiani marca o primeiro projeto de Lady Gaga no cinema desde “Nasce Uma Estrela” (2018), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz – além da conquista do troféu de Melhor Canção Original por “Shallow”. E, de forma impressionante, ela ofusca os colegas, que incluem Jeremy Irons (“Watchmen”), Al Pacino (“O Irlandês”), Salma Hayek (“Dupla Explosiva 2: E a Primeira-Dama do Crime”) e um irreconhecível Jared Leto (“Esquadrão Suicida”) careca. Sua performance marca de tal forma a produção que ameaça trazer o camp (o estilo cafona americano) de volta à moda. Deserto Particular Premiado no Festival de Veneza, “Deserto Particular” foi escolhido para tentar uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2022. O novo drama de Aly Muritiba (“Ferrugem”) lida com aquilo que o diretor chama de “os afetos masculinos no Brasil contemporâneo” e traz Antonio Saboia (“Bacurau”) como protagonista, no papel de um policial curitibano que se relaciona virtualmente com uma moradora do sertão da Bahia. Profissional exemplar, ele comete um erro e é afastado de sua função, colocando sua carreira e honra em risco. Não vendo mais sentido em continuar vivendo em Curitiba, ele parte em busca da namorada virtual, que desaparece misteriosamente, sendo surpreendido ao encontrar o personagem de Pedro Fasanaro (“Onde Nascem os Fortes”). Bastante aplaudido ao ser exibido em Veneza, o longa venceu o prêmio do público ao ser exibido na mostra paralela Venice Days e o recente Festival Mix Brasil em São Paulo. A Sogra Perfeita A nova comédia da diretora Cris D’Amato (“SOS Mulheres ao Mar”) oferece protagonismo a Cacau Protásio, mais até que em “Amarração do Amor”, lançado no começo do ano, e não lhe falta carisma para brilhar fora da turma do “Vai que Cola”. Com humor simples, mas eficaz, Protásio vive Neide, dona de um salão de beleza de periferia, que desenvolve um plano para tirar o filho adulto folgado (Luis Navarro) de sua casa. Como uma mistura de cupido e pigmalião, ela consegue transformar uma nova e ingênua funcionária (Polliana Aleixo), recém-chegada do interior, na mulher da vida do rapaz, até que um mal-entendido muda sua disposição. O ponto alto é ver a atriz viver uma mulher empoderada e dona de si, após ser estereotipada como doméstica em outras produções. Pena a participação “especial” de Rodrigo Sant’anna como um gay muito estereotipado ir na contramão desse tom progressista. O Novelo Vencedor do Prêmio do Público e de Melhor Ator (Nando Cunha) no Festival de Gramado deste ano, o primeiro longa de Cláudia Pinheiro acompanha cinco irmãos que mal lembram do pai e perderam a mãe cedo, transformando o mais velho num pai substituto. Já adultos, recebem a notícia de que um homem em coma numa UTI pode ser seu pai desaparecido. Reunidos na sala de espera do Hospital, eles mergulham em seus conflitos e memórias, enquanto passam o tempo fazendo tricô aprendido na infância. E esta é a única tradição que os une, já que se revelam completamente diferentes. Adaptação da peça homônima de Nanna De Castro, “O Novelo” usa linguagem cinematográfica para revelar a história de cada um, transformando cada fio de trajetória em reflexões sobre o papel do homem no mundo contemporâneo. Imperdoável Neste lançamento da Netflix que chega primeiro aos cinemas, a estrela americana Sandra Bullock (“Gravidade”) vive um melodrama “imperdoável”, segundo as críticas impiedosas da imprensa norte-americana, que lhe deram apenas 39% de aprovação no Rotten Tomatoes. A história é remake de uma minissérie britânica (“Unforgiven”) de 2019, e a necessidade de refilmá-la leva a questionar se a distância de dois anos foi uma enormidade para o público esquecê-la. Num papel que lembra o de Sônia Braga na novela “Dancing Days”, Sandra Bullock sai da prisão, após cumprir pena de 20 anos por homicídio, mas tem dificuldades em se reintegrar a uma sociedade que se recusa a perdoar seu passado. Julgada por quase todos à sua volta, a protagonista se senta sozinha e desamparada, e sua única esperança de redenção é reencontrar a irmã mais nova, de quem foi forçada a se separar ao ser trancafiada na prisão. Só que o casal que tem a guarda da menina, vivido por Vincent D’Onofrio (“Demolidor”) e Viola Davis (“O Esquadrão Suicida”), não está disposto a deixar a criminosa entrar em suas vidas. Madre Drama espanhol premiado de 2019, “Madre” acompanha o trauma causado pelo desaparecimento do filho da protagonista. Ele tinha seis anos de idade, quando, em uma ligação, disse que estava perdido em uma praia na França e não conseguia encontrar o seu pai. Dez anos depois, Elena mora nesta mesma praia, onde gerencia um restaurante e está finalmente se recuperando da tragédia, quando conhece um adolescente francês que a lembra muito o filho. Os dois embarcam em uma estranha relação, em meio a muita desconfiança. Intérprete da mãe do título, Marta Nieto conquistou o troféu de Melhor Atriz da mostra Horizontes no Festival de Veneza. Meu Querido Supermercado Cravos A programação se completa com dois documentários brasileiros, que compartilham um detalhe em comum. Tali Yankelevich, que assina a direção de “Meu Querido Supermercado”, sobre o cotidiano de funcionários de um supermercado, editou e roteirizou “Cravos”, que conta a história de três artistas da família Cravo. Realizado em 2019, “Meu Querido Supermercado” foi o primeiro longa dirigido por Yankelevich e acabou premiado nos EUA, no Indie Memphis Film Festival. “Cravos” foi produzido um ano antes, com direção de Marco Del Fiol, e centra sua narrativa no fotógrafo Christian Cravo em viagem pela África, enquanto vive o luto pela morte do pai, Cravo Neto, ícone da fotografia brasileira, e desavenças com o avô, Cravo Junior, mestre da escultura modernista.
Filmes de “Bob Cuspe” e “Pixinguinha” chegam aos cinemas
Filmes brasileiros são a salvação da programação de cinema desta quinta (11/11). Mas terão pouco espaço para receber a atenção que merecem. Não bastasse o monopólio de blockbusters, o circuito deve priorizar o musical “Querido Evan Hansen”, destruído pela crítica nos EUA (30% no Rotten Tomatoes), e o filme de ação “A Profissional” (61%), produção genérica ao estilo da Netflix. Principal título, “Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente” é uma adaptação dos quadrinhos de Angeli que foi premiada nos festivais internacionais de animação de Ottawa, no Canadá, e de Annecy, na França (o “Cannes da animação”). Primeiro longa-metragem de Cesar Cabral, foi filmado com bonecos ao longo de cinco anos, utilizando a técnica de stop motion (na qual objetos são fotografados quadro a quadro para passar a ilusão de movimento). O próprio Angeli aparece na trama, mas em versão animada, disposto a dar a Bob Cuspe o mesmo fim da Rê Bordosa. Mas o punk não aceita a extinção (afinal, “punk’s not dead!”) e parte para um acerto de contas. Milhem Cortaz (“O Lobo Atrás da Porta”) dá voz ao famoso punk da periferia dos quadrinhos. “Pixinguinha – Um Homem Carinhoso” chega aos cinemas uma semana depois de “Marighella”, embora tenha sido filmado um ano antes. Este paradoxo deixa duas cinebiografias estreladas por Seu Jorge em cartaz simultaneamente. Desta vez, além de atuar, ele toca os instrumentos de verdade, o que aumenta a credibilidade da representação do maestro. Mas a ambição de condensar 75 anos de vida em 100 minutos ofusca a tentativa de explorar o importante aspecto musical da história. Chama atenção a cinebiografia de um dos artistas mais importantes da música brasileira não ter entrado em nenhum festival importante. Mas a opção pela abordagem episódica, que simplifica personalidade, época e trajetória do compositor de “Carinhoso”, “Lamentos” e “Benguelê”, torna “Pixinguinha” quase uma versão compacta de minissérie. Ela é assinada pela roteirista Manuela Dias e dirigida pela dupla Denise Saraceni e Allan Fiterman, conhecidos pela realização de novelas e séries da Globo. A seleção nacional também inclui o drama “Curral”, que foi premiado no festival espanhol de Huelva. O primeiro longa de ficção de Marcelo Brennand compartilha a temática de seu documentário “Porta a Porta” (2010), abordando as campanhas políticas do Nordeste. Na trama, um político que se apresenta como renovação repete os mesmos métodos que denuncia como ultrapassados. O elenco traz Thomas Aquino (“Bacurau”), José Dumont (“Onde Nascem os Fortes”) e Rodrigo García (“Onde Está Meu Coração”). Sem maiores destaques, as outras opções da semana podem ser conferidas abaixo, na lista das estreias, com seus respectivos trailers. Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente | Brasil | Animação Pixinguinha – Um Homem Carinhoso | Brasil | Drama Curral | Brasil | Drama Querido Evan Hansen | EUA | Musical A Profissional | EUA | Ação O Ninho | Itália | Terror Charuto de Mel | França | Drama Deus Não Está Morto – O Próximo Capítulo | EUA | Religião Lutar, Lutar, Lutar | Brasil | Documentário
“Eternos” e “Marighella” são as principais estreias de cinema
O novo filme de super-heróis da Marvel e a cinebiografia de um terrorista/herói da resistência nacional são os maiores lançamentos desta quinta (4/11) nos cinemas. Mas a diferença de alcance entre os dois é gritante. “Eternos” tem a maior estreia do ano, entrando em cartaz em 1,7 mil telas. Já “Marighella” chega em 279 cinemas. Também há uma distância brutal entre a avaliação de ambos pela crítica, mas em sentido oposto. Apesar de dirigido pela vencedora do Oscar Chloé Zhao (por “Nomadland”) e estrelado por vários astros famosos, incluindo Angelina Jolie, “Eternos” teve a pior nota de uma produção do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel) no Rotten Tomatoes, tornando-se também o primeiro filme do Marvel Studios considerado medíocre, com apenas 53% de avaliações positivas nos EUA. O consenso é que se trata da produção mais genérica da Marvel, plasticamente bonita, mas tão séria que se torna sem graça. “Marighella”, por sua vez, tem 88% de aprovação no mesmo Rotten Tomatoes. Em seu primeiro longa como diretor, Wagner Moura foi coberto de elogios pela crítica internacional, chegando a ser comparado aos grandes cineastas do cinema engajado internacional dos anos 1960 e 1970. A comparação é quase associativa, diante da recriação da guerrilha urbana do Brasil no período citado. Mas assim como todo cinema engajado, a trama comete idiossincrasias ao romantizar o personagem-título, encarnado por Seu Jorge como um herói do povo em luta pela liberdade. Na verdade, o enfrentamento de Carlos Marighella e seus contemporâneos torna-se “democrático” somente por viés anacrônico, em contraste com a repressão vigente na época, mas ninguém razoavelmente informado confundiria ação comunista com luta pela democracia. O fato é que filmes refletem mais seus tempos que os períodos que retratam. E o incômodo causado por “Marighella” entre bolsonaristas, com ou sem cargo político, ajuda a iluminar o quanto esse governo se identifica com a ditadura, a ponto de defender com dentes arreganhados os capítulos mais sinistros da História brasileira. A reação extremada só aumenta a importância de “Marighella”, não por suposta fidelidade histórica, mas por sua liberdade artística ser capaz de traduzir o Brasil atual, que, por meio de suas “autoridades”, ainda mata impunemente “bandidos” pretos como Carlos Marighella no meio da rua. O resto da programação chama atenção por uma característica inusitada, ao trazer três produções da Netflix previstas para chegar ao streaming na semana que vem. A maior aposta é a comédia de ação “Alerta Vermelho”, com exibição até em multiplexes, graças ao apelo comercial de seus astros, Dwayne Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot. Mas o verdadeiro destaque deste lote é o premiado “7 Prisioneiros”, que atingiu 94% no Rotten Tomatoes e conquistou um troféu paralelo no Festival de Veneza, o Sorriso Diverso, dedicado à obra social mais relevante do evento. A trama explora a situação de trabalho análogo à escravidão perpetuada no Brasil por meio da história do jovem Mateus (Christian Malheiros), recém-saído do interior em busca de uma oportunidade de trabalho em São Paulo, que se revela uma cilada. Rodrigo Santoro também está no elenco como o gerente explorador. Com oito títulos ao todo, o circuito ainda recebe o vencedor internacional do Festival de Sundance do ano passado, “Yalda – Uma Noite de Perdão”, que ainda rendeu ao cineasta iraniano Massoud Bakhshi o troféu de Melhor Roteiro no Festival de Sofia. A história totalmente surreal, mas absolutamente verdadeira, acompanha uma jovem condenada à morte por assassinar o marido, que ganha uma chance de comutar sua sentença, bastando para isso conseguir o perdão de sua enteada (bem mais velha que ela) num reality show televisivo! Veja abaixo os títulos e os trailers de todas as estreias. Eternos | EUA | Ação Marighella | Brasil | Drama 7 Prisioneiros | Brasil | Drama Amor sem Medida | Brasil | Comédia Alerta Vermelho | EUA | Comédia de Ação Yalda – Uma Noite de Perdão | França, Alemanha, Suíça, Líbano | Drama Lá Vamos Nós | Israel, Itália | Drama Amigo Arrigo | Brasil | Documentário
Terror e Família Addams são destaques de cinema no Halloween
O fim de semana do Halloween traz vários monstros aos cinemas, com tamanhos, orçamentos e climas diferentes entre si. Estreia mais ampla desta quinta (28/10), “A Família Addams 2 – Pé na Estrada” entra em cartaz em 700 salas. O subtítulo nacional indica o tema da continuação do desenho de 2019, ao acompanhar os famosos monstrinhos criados por Charles Addams numa viagem de férias por diversos pontos turísticos dos EUA, como as cataratas do Niágara, o Grand Canyon e uma praia de Miami. Preocupados por Vandinha estar se afastando da família ao chegar na adolescência, Gomez e Mortícia resolvem colocar todo mundo dentro de um trailer assombrado para uma excursão ao redor dos EUA. A crítica americana não embarcou junto, resultando em míseros 30% de aprovação no Rotten Tomatoes. Sem graça, foi considerado um horror involuntário. Em clima oposto, “Espíritos Obscuros” é um programa extremamente dark, dirigido por Scott Cooper (“Aliança do Crime”) e produzido pelo vencedor do Oscar Guillermo del Toro (“A Forma da Água”). A trama explora a tensão crescente da relação de um menino e uma criatura que vive em sua casa e que ele alimenta de animais mortos. Quando o monstro escapa, deixando um rastro de mortes sangrentas para a polícia investigar, a professora da criança (Keri Russell, de “The Americans”) começa fazer a conexão entre o menino e mitos da região. Bons efeitos e terror bastante atmosférico renderam 68% de aprovação. A programação tem outro terror de monstro folclórico da floresta, igualmente sangrento, mas com grande diferença orçamentária. “Curupira – O Demônio da Floresta” é um trashão brasileiro filmado a sério, tão a sério que chega a ser engraçado, porém rendeu até polêmica. Foi criticado por lideranças indígenas por demonizar uma figura de proteção importante da religião dos povos originários. A favor do diretor Erlanes Duarte, há um contexto de proteção ambiental. O circuito ainda recebe um dos piores filmes do ano, o thriller “A Mensageira”, que tem o vencedor do Oscar Gary Oldman no elenco e vergonhosos 5% de aprovação no Rotten Tomatoes, e mais cinco lançamentos limitados. A lista inclui o curioso suspense literário francês “Os Tradutores”, que é basicamente um whodunit (quem matou) de Agatha Christie sem cadáver, e “Lamaçal”, bom drama argentino sobre um monstro real e trauma insuperável, além da dramédia “Jupiter”, primeira obra de ficção do documentarista Marco Abujamra (“Todas as Melodias”). São, ao todo, nove estreias. Confira cada um dos dos títulos e seus respectivos trailers logo abaixo. A Família Addams 2 – Pé na Estrada | EUA | Animação Espíritos Obscuros | EUA | Terror Curupira – O Demônio da Floresta | Brasil | Terror A Mensageira | Reino Unido | Ação Os Tradutores | França, Bélgica | Suspense De Volta a Itália | Reino Unido | Comédia Jupiter | Brasil | Drama Lamaçal | Argentina | Drama Uma História de Família | EUA | Drama
Duna é a grande estreia da semana nos cinemas
Grande estreia desta quinta (21/10), “Duna” chega aos cinemas brasileiros após faturar US$ 129,3 milhões de bilheteria internacional – sem EUA e China, os maiores mercados mundiais. Apresentado como um grande épico sci-fi, estrelado por um elenco de outro mundo, o filme desembarca em meio a uma blitz inescapável de P&R (divulgação e publicidade) e distribuição massiva para ser o programa incontornável da semana. É mesmo uma produção para tela grande, com visual de tirar o fôlego. A cenografia, a profundidade de campo, a ambição, tudo é gigantesco, babilônico. Mas “Duna” também é uma história sem fim. O diretor Denis Villeneuve (“Blade Runner 2049”) adaptou apenas a primeira metade do livro de Frank Herbert e precisa atrair muito público para a Warner liberar o orçamento da continuação. Escrita originalmente por Frank Herbert em 1965 e levada pela primeira vez às telas em 1984 com direção de David Lynch (o criador de “Twin Peaks”), a trama de “Duna” acompanha uma família aristocrática que assume a supervisão da mineração da Especiaria, o elemento mais valorizado do universo, que só existe no mundo de Arrakis. Quem controla a Especiaria tem uma vantagem econômica significativa diante dos adversários, o que faz com que a família enfrente complôs e sofra um atentado. Mas o filho, Paul Atreides, escapa e procura se vingar, usando a ecologia bizarra de Arrakis como sua principal arma. Em particular, os vermes gigantes que habitam as grandes dunas – e que são os verdadeiros responsáveis pela produção da Especiaria. Se em primeiro plano há uma grande aventura, em segundo subsiste uma crítica ao colonialismo e à cobiça, com paralelos nos dias de hoje à crise energética e às disputas viscerais pelo mercado entre as grandes corporações. O elenco reunido para materializar essa história é tão grandioso quanto a escala da produção, com destaque para Timothée Chalamet (“Me Chame Pelo Seu Nome”) como Paul Artreides, Jason Momoa (o “Aquaman”), Josh Brolin (o Thanos de “Vingadores: Guerra Infinita”), Oscar Isaac (“Star Wars: Os Últimos Jedi”), Rebecca Ferguson (“Missão Impossível: Efeito Fallout”), Zendaya (“Homem-Aranha: De Volta ao Lar”), Sharon Duncan-Brewster (“Rogue One: Uma História Star Wars”), Charlotte Rampling (indicada ao Oscar por “45 Anos”), Dave Bautista (“Guardiões da Galáxia”), Stellan Skarsgard (“Thor”) e Javier Bardem (“007: Operação Skyfall”). Concorrendo pela atenção do público, a Disney ainda lança a animação “Ron Bugado”. Originalmente uma produção do 20th Century Studios, o desenho tem um humor pastelão que funciona bem com as crianças, mas também uma mensagem digna das melhores produções da Pixar, com uma crítica ao consumismo desenfreado que é eficaz em sua simplicidade. “Ron Bugado” apresenta a mania do futuro: o B-Bot, um mini-robô conectado (que parece a evolução final da Alexa), introduzido como o novo melhor amigo de todas as crianças. Exceto de Barney, um garoto de 11 anos que ganha do pai uma versão do robô que não funciona direito. Todo atrapalhado, o robô bugado acaba criando tanta confusão que passa a ser perseguido pelos fabricantes para ser triturado. Só que, depois de muitas peripécias, o menino se afeiçoa e não aceita que seu melhor amigo seja descartado como lixo. Com o principal circuito alternativo em São Paulo ocupado pela Mostra, há apenas dois outros títulos com distribuição limitada: “Cabeça de Nêgo”, drama brasileiro engajado com pauta antirracista, e “Sanctorum”, fantasia mexicana sobre a violência extrema dos cartéis de tráfico num contexto de realismo mágico, em que a natureza decide ajustar contas com a humanidade. Venceu três prêmios em festivais internacionais. Confira abaixo os trailers das quatro estreias. Duna | EUA | Sci-Fi Ron Bugado | EUA | Animação Cabeça de Nêgo | Brasil | Drama Sanctorum | México, República Dominicana | Drama
Cinemas recebem “O Último Duelo”, “Fátima” e novo “Halloween”
As estreias de cinema desta quinta (14/10) trazem quatro lançamentos amplos: “O Último Duelo”, “Halloween Kills – O Terror Continua”, “Fátima – A História de um Milagre” e “Amarração do Amor”. A concorrência impede que algum se destaque, com distribuição dividida entre 300 e 200 telas cada – longe das mais de mil salas que têm impulsionado os mais recentes blockbusters no país. “O Último Duelo” permite ao diretor Ridley Scott (“Gladiador”) retomar sua paixão por épicos históricos. Baseado em eventos que teriam ocorrido na França do século 14, a trama gira em torno da denúncia de estupro de uma mulher casada. O escândalo leva o marido, recém-chegado das cruzadas, a requisitar o direito de duelar até a morte com o acusado, que nega ter abusado dela. O embate é extremamente violento e reflete toda a misoginia da época – que persiste ainda hoje. O ótimo elenco destaca Matt Damon (com quem Scott trabalhou em “Perdido em Marte”) e Adam Driver (“Star Wars: Os Últimos Jedi”) como os duelistas, Jodie Comer (“Killing Eve”) na pele da mulher ultrajada e, como coadjuvante de luxo, um loiro e irreconhecível Ben Affleck (“Liga da Justiça”), que também assina o roteiro com seu velho amigo Matt Damon. Os dois parceiros não concebiam um roteiro juntos desde que venceram o Oscar por “Gênio Indomável”, que eles igualmente estrelaram em 1997. Sequência do revival de 2018, “Halloween Kills” junta três gerações de mulheres da família de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) e outros sobreviventes antigos da franquia, iniciada em 1978, para enfrentar pela (pen)última uma vez o psicopata Michael Myers. Os fãs já sabem que este não é o fim da história, que será concluída no próximo filme – e nos próximos depois do último – , o que ajuda a explicar o desânimo da crítica internacional com a produção – teve apenas 54% de aprovação (medíocre) no Rotten Tomatoes, o que, diga-se de passagem, é o mesmo nível de “Fátima”. Produção religiosa sobre a conhecida história das três crianças que contaram ter visto Nossa Senhora nos arredores de sua aldeia portuguesa em 1917, o maior atrativo de “Fátima” é a participação especial de Sônia Braga (“Bacurau”) como versão mais velha de uma das crianças, Lúcia, que se tornou uma freira famosa. Mas há outra curiosidade nesse projeto: o fato de a direção ser assinada pelo italiano Marco Pontecorvo, diretor de fotografia de “Game of Thrones” e filho do famoso cineasta Gillo Pontecorvo (1919–2006), que chegou a ser taxado como comunista pela ditadura militar brasileira – graças a filmes célebres como “A Batalha de Argel” (1966), “Queimada” (1969) e “Ogro” (1979). Também com tema religioso, a programação espreme ainda uma comédia brasileira: “Amarração do Amor”, sobre os problemas de um casal de religiões diferentes, que tem as cenas roubadas pela coadjuvante Cacau Protásio. Os quatro longas mencionados chegam nas principais cidades do Brasil, mas a programação tem mais quatro lançamento em circuito limitado, que entram em cartaz em pouquíssimas telas. Todos os títulos podem ser conferidos abaixo, junto com seus trailers, na relação completa das estreias de cinema. O Último Duelo | EUA | Ação Halloween Kills – O Terror Continua | EUA | Terror Fátima – A História de um Milagre | EUA | Drama Amarração do Amor | Brasil | Comédia Taís e Taiane | Brasil | Drama Uma Janela para o Mar | Espanha, Grécia | Drama Sob as Escadas de Paris | França | Drama Seus Olhos Dizem | Japão | Drama











