O Paciente: Trailer emocionante recria a tragédia da morte de Tancredo Neves, que parou o Brasil em 1985
A Paris e a Globo Filmes divulgaram fotos, o pôster e o primeiro trailer de “O Paciente – O Caso Tancredo Neves”. O título horrível, mais adequado a um documentário televisivo, tese de graduação acadêmica ou pesquisa literária, esconde uma prévia emocionante, com doses equilibradas de tensão, dramaticidade e perspectiva histórica. O mais impressionante na prévia é enxergar o grande intérprete Othon Bastos (“O Último Cine Drive-In”) e ver Tancredo Neves. E ele não é o único ator a conseguir este efeito no vídeo. Emilio Dantas (“Motorad”) também some em cena para dar lugar a Antonio Britto, o secretário de imprensa e assessor de Tancredo, que informava diariamente a condição do paciente. Mas o grande papel é mesmo do veterano do cinema brasileiro, que já era destaque desde o clássico “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), e retorna em grande estilo após muitas novelas, num trabalho digno da grandeza de sua filmografia. No filme, Othon Bastos vive o primeiro presidente civil do Brasil após a ditadura, responsável direto pela redemocratização do país, que uniu de Lula a Fernando Henrique Cardoso no mesmo palanque, mas morreu em abril de 1985, antes de assumir o cargo, deixando o país na mão de seu vice, José Sarney – o primeiro de uma longa tradição de vices transformados em presidentes do Brasil nos últimos anos. Acometido de uma doença súbita, Tancredo definhou até morrer após sua eleição. Muitas teorias de conspiração e acusações de erros médicos alimentaram os bastidores de sua morte, que foi tratada como tragédia nacional e parou o Brasil, gerando comoção entre todos os brasileiros. Simbólico, Tancredo representou, com sua eleição, o fim de um dos períodos mais sinistros da nação, mas com sua morte assinalou também o desencanto, o fim da esperança de que tudo pudesse mudar, alçando à presidência um político aliado dos antigos ditadores e que viria a perpetuar no poder o mesmo grupo, denominado de “centrão”, que resiste até a ser lavado à jato. O elenco que recria este capítulo triste da História do Brasil também inclui Esther Goes (novela “Bela, a Feia”), que, como Dona Rizoleta, a viúva de Tancredo, é responsável por dar a dimensão dramática da prévia, além de Paulo Betti (“Chatô: O Rei do Brasil”), Otavio Muller (“O Gorila”), Leonardo Medeiros (“Polícia Federal: A Lei é para Todos”) e Luciana Braga (novela “Vidas em Jogo”). O roteiro foi escrito por Gustavo Lipsztein (“Polícia Federal: A Lei É para Todos”), baseando-se no livro homônimo do pesquisador e historiador Luis Mir, que teve acesso a documentos do Hospital de Base de Brasília e do Instituto do Coração, em São Paulo, onde Tancredo Neves morreu, e que concluiu que um erro de diagnóstico de apendicite aguda levou a equipe médica a realizar, desnecessariamente, uma cirurgia de emergência que impediu o presidente eleito de tomar posse e, basicamente, agravou sua saúde até o óbito, por falência múltipla de órgãos. A direção é do veterano cineasta Sérgio Rezende (de “Guerra de Canudos”, “Zuzu Angel” e “Salve Geral”) e a estreia está marcada para o dia 13 de dezembro.
Documentário sobre Henfil vence o Festival Cine PE 2018
O documentário “Henfil”, sobre o cartunista, jornalista e escritor mineiro que marcou os anos 1970 com a criação do Fradim, venceu duplamente o festival Cine PE 2018, escolhido pelo júri oficial e pelo público como o Melhor Filme em longa-metragem da programação do evento, encerrado na noite de terça (5/6). O filme também rendeu troféus de direção e roteiro, ambos de Angela Zoé (“Meu Nome é Jacque”), que resgatou a intimidade de Henfil, morto em 1988, ao ser contaminado com HIV numa transfusão de sangue. A cineasta teve acesso à filmagens em Super 8 do acervo pessoal do célebre cartunista e resgatou seus desenhos críticos ao regime militar, nas charges publicadas no semanário “O Pasquim” em plena ditadura. Mas foi “Os Príncipes”, de Luiz Rosemberg Filho (“Guerra do Paraguay”), que conquistou o maior número de prêmios, recebendo seis Calungas de Prata, o troféu do Cine PE, incluindo os de Melhor Atriz, Ator e Ator Coadjuvante, respectivamente para Patrícia Niedermeier, Igor Cotrim e Tonico Pereira. O falso documentário “Vidas Cinzas”, de Leonardo Martinelli, ganhou o prêmio de melhor curta nacional no Cine PE. Já a mostra competitiva de curtas Pernambucanos premiou “Uma Balada para Rocky Lane”, dirigido por Djalma Galindo. O documentário “Marias”, de Yasmin Dias, e as animações “Insone”, de Débora Pinto e Breno Guerreiro, e “Plantae”, de Guilherme Gehr, receberam Menção Honrosa do júri do festival. Confira abaixo a lista completa de premiados. Vencedores do festival Cine PE 2018 MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS Melhor Filme – “Henfil” Melhor Direção – Angela Zoé (“Henfil”) Melhor Roteiro – Angela Zoé e Gabriela Javier (“Henfil”) Melhor Fotografia – Alisson Prodlik (“Os Príncipes”) Melhor Montagem – João Rodrigues e Indira Rodrigues (“Henfil”) Melhor edição de som – Marcito Vianna (“Os Príncipes”) Melhor Trilha Sonora – Gustavo Jobim (“Os Príncipes”) Melhor Direção de Arte – Letycia Rossi (“Dias Vazios”) Melhor Ator Coadjuvante – Tonico Pereira (“Os Príncipes”) Melhor Atriz Coadjuvante – Carla Ribas (“Dias Vazios”) Melhor Ator – Igor Cotrim (“Os Príncipes”) e Arthur Ávila (“Dias Vazios”) Melhor Atriz – Patrícia Niedermeier (“Os Príncipes”) MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS Melhor Filme – “Vidas Cinzas” Melhor Direção – Klaus Hastenreiter (“Não Falo com Estranhos”) Melhor Roteiro – Rubens Passaro (“Universo Preto Paralelo”) Melhor Fotografia – Ivanildo Machado (“Sob o Delírio de Agosto) Melhor Montagem – Pedro de Aquino (“Vidas Cinzas”) Melhor Edição de Som – Rafael Vieira (“Abismo”) Melhor Trilha Sonora – Alexsandra Stréliski e Ludovico Einaudi (“Plantae”) Melhor Direção de Arte – Rachel Oleksy (“Teodora Quer Dançar”) Melhor Ator – Jurandir de Oliveira (“Abismo”) Melhor Atriz – Mariana Badan (“Teodora quer Dançar”) Menções Honrosas – “Marias”, “Plantae” e “Insone” MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS Melhor Filme – “Uma Balada para Rocky Lane” Melhor Direção – Diego Melo (“Seja Feliz”) Melhor Roteiro – Fabio Ock (“Seja Feliz”) Melhor Fotografia – Henrique Spencer (“Frequências”) Melhor Montagem – Marcos Buccini (“O Consertador de Coisa Miúdas”) Melhor Edição de Som – Adalberto Oliveira (“Frequências”) Melhor Trilha Sonora – Neilton Carvalho (“O Consertador de Coisas Miúdas”) Melhor Direção de Arte – Lia Letícia (“Frequências”) Melhor Ator – Heraldo Carvalho (“Edney”) Melhor Atriz – Roberta Mharciana (“Cara de Rato”) PRÊMIO DA CRÍTICA Melhor Longa-Metragem – “Christabel” Melhor Curta Nacional – “Abismo” Melhor Curta Pernambuco – “Seja Feliz” PRÊMIO CANAL BRASIL Melhor Curta: “Universo Preto Paralelo” (SP)
Choi Eun-hee (1926 – 2018)
A atriz Choi Eun-hee ícone do cinema sul-coreano dos anos 1950 e 1960, faleceu na segunda-feira (16/4), em Seul, aos 91 anos, após uma longa doença. Ela fez sucesso numa época em que o cinema do país não tinha tanta repercussão no Ocidente quanto hoje. Mas formou, ao lado do marido, o diretor Shin Sang-ok, o principal casal da indústria cinematográfica do país asiático durante duas décadas. A parceria dos dois rendeu mais de 100 filmes, como “A Flower in Hell” (1958), “A Happy Day of Jinsa Maeng” (1961), “Rice” (1962), “Red Scarf” (1963) e “Phantom Queen” (1967), nenhum deles lançado no Brasil. Em 1978, após descobrir que o marido mantinha uma amante, a atriz Oh Su-mi, com quem teve dois filhos, ela se divorciou de Shin. Mas a história do casal não terminou aí, e acabou se tornando mundialmente conhecida por razões alheias à sua vontade. Dois anos depois, Choi foi sequestrada depois durante uma viagem a Hong Kong e levada para a Coreia do Norte, por ordem de Kim Jong-il (pai do atual líder norte-coreano, Kim Jong-un). Desesperado com o sumiço da ex-mulher, Shin seguiu o rastro de Choi até Hong Kong, onde também foi sequestrado e levado para a Coreia do Norte. Apaixonado pela sétima arte, Kim comunicou seu plano de transformá-los no pilar do cinema de propaganda norte-coreano. E para reforçar os planos, obrigou-os a se casarem novamente. Eles viveram oito anos no país, sem a menor liberdade, e chegaram a realizar sete filmes para o ditador antes de fugirem. Sua fuga aconteceu de forma cinematográfica. Após convencerem Kim de que suas realizações no cinema norte-coreano precisavam ser reconhecidas no mundo inteiro, conseguiram incluir um filme na seleção do Festival de Berlim, para onde viajaram em 1986. Lá, conseguiram despistar seus guardas e escaparam para a Áustria, sendo perseguidos até chegar em Viena e entrar na embaixada dos Estados Unidos, onde seu pesadelo acabou, ao conseguirem asilo. Após conquistar a liberdade, o casal permaneceu junto por vontade própria. Ambos viveram os anos 1990 nos Estados Unidos, antes de retornar para a Coreia do Sul, onde Shin faleceu em 2006. No mesmo ano, Choi recebeu um prêmio pela carreira da Academia Sul-Coreana de Cinema, mas sua saúde imediatamente começou a se deteriorar, de acordo com familiares e repórteres que a entrevistaram na casa de repouso onde vivia, nos arredores de Seul. Ela fazia um tratamento de rotina quando faleceu, revelou seu filho mais velho, Shin Jeong-gyun.
Imagens do Estado Novo 1937-1945 é aula de História sobre a ditadura de Getúlio Vargas
Reavaliar o período da ditadura getulista do Estado Novo, partindo de imagens, do período compreendido entre 1937 e 1945, é um desafio que Eduardo Escorel encarou com sucesso, em seu documentário, concluído em 2016. “Imagens do Estado Novo 1937-1945” recolheu uma infinidade de material, entre eles, filmes, tanto oficiais quanto particulares, que registram esse período histórico conturbado do Brasil, quase todo ocorrendo em meio à 2ª Guerra Mundial. O problema é que os filmes disponíveis são os do cinejornais (brasileiros e estrangeiros), documentários oficiais, registros de eventos, festas e outras solenidades que, evidentemente, faziam propaganda, escondendo todas as mazelas, excluindo todas as notícias negativas. E, na época, o tom era muito laudatório e havia forte censura do chamado DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, de inspiração nazifascista. Os vídeos pessoais ou familiares permitem observar comportamentos, roupas, ruas, transportes, a cara e o jeito das cidades, especialmente do Rio, capital do país, e das pessoas comuns. E, por outro lado, como se comportavam as multidões que acompanhavam e aplaudiam Getúlio Vargas pelas ruas, nos grandes eventos. Tudo isso, por si só, já tem uma importância história admirável e é apresentado em longos 227 minutos. Inclui, também, trechos de filmes, como “O Grande Ditador”, de Chaplin, filmagens relativas à guerra mundial e a suas negociações, além de filmes sobre os pracinhas brasileiros. Percebe-se a vastidão da aula de história que isso comporta. Eduardo Escorel escreveu a narrativa dessa história, que é ilustrada pelas imagens, mas vai além dela, faz a crítica histórica e política, revelando o outro lado das imagens e o que não está nelas. Muitas vezes, o texto se descola das imagens, não tem ilustração possível ou está tratando do macro, enquanto a imagem mostra o micro. Ou o oficial e o oficioso, o que não aparece, nem pode aparecer. O documentário faz esse trabalho ao longo de todo o tempo, não há entrevistas, comentários, análises feitas por historiadores, políticos ou especialistas. Há uma narração constante, articulada, que toma posição, mas dentro dos limites do bom jornalismo, que dá preponderância total aos fatos. Inclui, ainda, registros em diário, que o próprio Getúlio Vargas fez durante grande parte desse período. O ditador que ficou também conhecido como o “pai dos pobres” realizou um governo ambíguo, de clara inspiração fascista, nacionalista, mas gerando aqui o chamado trabalhismo, que criou e ampliou direitos, como os da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), que duraram todo esse tempo, até serem alvejados pela reforma trabalhista do governo atual, de Michel Temer, o mais impopular da história do país. Getúlio Vargas, ao contrário, era extremamente popular, seus discursos alcançavam o povo e incomodavam segmentos da elite. Depois de flertar com os regimes nazista e fascista, de Hitler e Mussolini, a opção pelos Estados Unidos colocou o Brasil no lado certo do conflito mundial e trouxe vantagens pragmáticas. As circunstâncias que envolveram as negociações da guerra foram benéficas para a industrialização do país. Só que democracia e liberdade não combinavam com o regime do Estado Novo, que não resistiu à própria vitória na guerra. Enfim, contradições monumentais e circunstanciais, semelhantes àquelas que o documentário “Imagens do Estado Novo 1937-1945” teve de lidar para extrair dos filmes oficiais a sua sombra, em busca de uma narrativa crítica, capaz de informar e produzir reflexão. A longa duração do filme recomenda sua fruição em duas ou mais partes, para melhor aproveitamento do trabalho que é apresentado, denso e fortemente informativo. É possível assisti-lo integralmente, ou em duas partes, no cinema e há a promessa de exibição na TV, em canais como o Curta! e TV Cultura. Esse filme foi lançado no festival “É Tudo Verdade”, de 2016. A nova edição desse festival internacional de documentários, a 23ª., de 2018, está atualmente em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Soldados do Araguaia é obrigatório para saudosistas da ditadura militar
A historiografia brasileira tem muitos esqueletos no armário. Aspectos importantes são deixados de lado, relegados ao esquecimento, como se nunca tivessem existido. O diretor Belisário Franca já havia mexido numa ferida antiga, no documentário “Menino 23”, acompanhando a investigação do historiador Sidney Aguiar, que descobriu tijolos confeccionados com suásticas nazistas, numa fazenda no interior de São Paulo. E acabou revelando a escravização de crianças nos anos 1920 e 1930, promovida por empresários de pensamento eugenista. O vínculo entre elites brasileiras e crenças nazistas se revela por inteiro, no depoimento de uma vítima sobrevivente: menino 23, já que eles tinham que abdicar de seus próprios nomes. Belo documentário. Agora, o cineasta volta à carga com “Soldados do Araguaia”, remexendo na proscrita guerrilha do Araguaia, que aconteceu entre 1967 e 1975, na selva amazônica. Foi um movimento de resistência armada à ditadura militar no campo, visando a atingir comunidades ribeirinhas e rurais na organização da resistência. Acabou sendo dizimada por forças do exército, que recrutavam soldados da própria região, que se apresentavam para o serviço militar e eram treinados para enfrentar a guerra, desconhecendo por completo suas reais motivações. O tal treinamento, revela-se no filme, era de uma crueldade incrível para aqueles recrutas, que sofriam verdadeira tortura física e psicológica, para aprenderem a endurecer com os “subversivos” comunistas, que seriam capturados e barbaramente torturados, mortos, jogados ao mar de helicópteros e todo tipo de excessos. Não havia lei nem nenhum tipo de garantia constitucional ou dos direitos humanos. Tudo podia, na ditadura militar que vigorou por 21 anos no Brasil, especialmente contra a resistência armada, no campo ou na cidade. A partir de um trabalho de apoio aos ex-soldados do Araguaia, que vivem traumas permanentes, relacionam-se com fantasmas e culpas por toda a vida, o documentário “Soldados do Araguaia” resolve ouvi-los, contar suas agruras, suas impressões, suas memórias, os medos que persistem, a opressão que ficou dentro deles, como agentes e vítimas de uma violência inaudita. O que se ouve e se vê é estarrecedor. Quem ainda hoje pensa em restaurar dias como aqueles só pode ser um louco desumano ou um completo desinformado sobre aquele período. Daí a importância de um filme como esse, para que não desejemos repetir atrocidades como aquelas. Quando se quer apagar da história os eventos que não interessa recordar, que comprometem pessoas e instituições de poder, o que nos resta é um limbo perigoso, que pode nos levar a reviver barbaridades, desumanidades, que não se justificam em nome de nenhuma ideia política, seja à direita, seja à esquerda. Combater a opressão ao ser humano se sobrepõe a todas as ideologias ou sistemas de poder. Para que isso seja possível, encarar a verdade dos fatos é essencial. O documentário é um meio, um dos caminhos de concretizar isso e alcançar o público. O problema é a distribuição e exibição dos filmes, que acaba relegando-os a poucos e raros espaços, por pouquíssimo tempo. Os serviços de TV paga, streaming e a disponibilização na Internet podem ajudar. Pode ser incômodo, mas é importante saber dessas coisas.
Seu Jorge será o guerrilheiro Marighella no primeiro filme dirigido por Wagner Moura
O filme que marcará a estreia na direção do ator Wagner Moura (série “Narcos”) será estrelado por Seu Jorge (“E Aí… Comeu?”). O cantor e ator encarnará Carlos Marighella na produção, que acompanhará a trajetória do guerrilheiro baiano na luta armada contra a ditadura militar, entre 1964 e 1969, quando foi morto por policiais numa emboscada em São Paulo. O rapper Mano Brown chegou a ser cotado para o papel, mas a agenda de shows da banda Racionais MC’s acabou entrando em conflito com o cronograma das filmagens. Seria a estreia do rapper como ator, após compor a trilha de um documentário sobre Marighella, realizado em 2012 pela sobrinha do guerrilheiro, Isa Grinspum Ferraz. Wagner Moura já tinha trabalhado anteriormente com Seu Jorge, quando ambos contracenaram em “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro” (2010). O elenco do filme, intitulado “Marighella”, destaca ainda Adriana Esteves (“Mundo Cão”) e Bruno Gagliasso (“Isolados”), entre outros. A produção foi autorizada a captar R$ 10 milhões via leis de incentivo, apurou 60% do valor até o momento, mas já começa a ser rodada neste fim de semana, adaptando o livro “Marighella: O Guerrilheiro Que Incendiou O Mundo”, do jornalista Mário Magalhães. Em entrevista ao jornal O Globo, Moura citou Che Guevara, falou de golpe e disse que seu filme tomará partido da esquerda brasileira. “Meu filme não será imparcial, será um filme sobre quem está resistindo”, resumiu.
Jorge Furtado vai filmar a peça censurada Rasga Coração, de Vianinha
O diretor Jorge Furtado (“Real Beleza”) vai filmar o texto da peça “Rasga Coração”, de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha (criador de “A Grande Família”), centrada em política e no conflito de gerações. A peça foi proibida de ser encenada em 1974 e ficou cinco anos censurada pela ditadura militar. “Rasga Coração” foi o último texto teatral de Vianinha, integrante do Teatro de Arena de São Paulo, que logo após terminar o texto morreu de câncer pulmonar, aos 38 anos de idade. O texto chegou a circular clandestinamente em cópias mimeografadas, mas o grande público só foi conhecer seu conteúdo durante o processo de abertura democrática, com a primeira encenação no Rio de Janeiro em 1979, trazendo Raul Cortez no papel principal e Lucélia Santos, Ary Fontoura e Vera Holtz no elenco. A versão de cinema deve manter os temas, mas provavelmente atualizará a história para os dias atuais, uma vez que o recorte da história propicia a mudança – e a luta contra o Estado Novo pode confundir a cabeça de uma esquerda que “mudou de ideia” sobre Getúlio Vargas. Além disso, é impossível ignorar que Furtado gravou vídeos para o PT em defesa contra a perseguição “política” de Lula. Na trama, um militante político, depois de 40 anos de lutas, vê o filho acusá-lo de conservadorismo. Sem dinheiro para pagar as contas, sofrendo com as dores de uma artrite crônica e num crescente conflito com o filho, ele reflete sobre seu passado e se vê repetindo as mesmas atitudes de seu pai. Intercalando fragmentos de vários momentos da vida do protagonista, a história atravessa 40 anos da vida política brasileira. O roteiro é assinado pelo diretor ao lado de Ana Luiza Azevedo (criadora da série “Doce de Mãe”) e Vicente Moreno (“A Última Estrada da Praia”). O elenco destaca Marco Ricca (“Chatô: O Rei do Brasil”) e Chay Suede (“A Frente Fria que a Chuva Traz”) como o pai e o filho do conflito central, além de Luisa Arraes, Drica Moraes, George Sauma, João Pedro Zappa, Duda Meneghetti, Kiko Mascarenhas, Fabio Enriquez, Nelson Diniz, Anderson Vieira e Cinândrea Guterres. A Casa de Cinema de Porto Alegre é responsável pela produção do longa, que será filmado até o começo de dezembro na capital gaúcha, com previsão de lançamento para setembro de 2018.
Mano Brown pode estrelar cinebiografia de Marighella
O filme sobre a vida do político e guerrilheiro Carlos Marighella, que vai marcar a estreia na direção do ator Wagner Moura, pode também lançar o líder do Racionais MC’s, Mano Brown, como ator. Segundo a coluna Gente Boa, do jornal O Globo, o rapper seria nada menos que o protagonista do filme. Mano Brown foi o autor de parte da trilha sonora de um documentário sobre Marighella, realizado em 2012 pela sobrinha do guerrilheiro, Isa Grinspum Ferraz. A ligação não termina aí: o rapper também fez um clipe contando a história do guerrilheiro. O projeto será uma adaptação do livro “Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, de Mário Magalhães, e ainda vai contar com Adriana Esteves (“Mundo Cão”) no elenco. Ainda não há previsão para a estreia.
Últimos dias de Tancredo Neves vão virar filme
A história da jovem e corrompida democracia brasileira vai ganhar um novo capítulo cinematográfico. Desta vez, o projeto pretende mostrar como tudo começou, retratando os dramáticos últimos 30 dias da vida de Tancredo Neves, durante a transição da ditadura para a liberdade política. Com direção de Sérgio Rezende, que visitou a própria ditadura em “Lamarca” (1994) e “Zuzu Angel” (2006), além de outros períodos diferentes do Brasil em longas como “Guerra de Canudos” (1997) e “Salve Geral” (2009), o filme “O Paciente” lembrará como a saúde do primeiro presidente civil do país, após duas décadas de ditadura militar, quase colocou em risco o processo da redemocratização do Brasil. A trama será uma adaptação do livro “O Paciente: O Caso de Tancredo Neves”, de Luiz Mir, que descreveu o último mês de vida do político veterano e o nervosismo que acompanhou sua internação hospitalar em 1985. Tancredo Neves foi eleito, mas não sobreviveu para tomar posse, o que levou José Sarney, originalmente seu vice, a assumir a presidência. Segundo apurou a Folha de S. Paulo, a produção será um thriller que mostrará os duelos da equipe de médicos de Tancredo e a instabilidade política que os boletins de sua saúde suscitavam. Ainda não há elenco definido, mas as filmagens estão previstas para o segundo semestre.
Jason Momoa vai estrelar adaptação do game Just Cause
O ator Jason Momoa (o Aquaman da “Liga da Justiça”) vai protagonizar um filme baseado na franquia de games “Just Cause”. Segundo o site Deadline, o projeto tem roteiro de John Collee (“Happy Feet – O Pinguim”) e será dirigido por Brad Peyton (“Terremoto: A Falha de San Andreas”). Não há muitos detalhes sobre a história do filme, mas os games produzidos pela Avalanche Studios acompanham o personagem Rico Rodriguez (papel de Momoa), que trabalha para uma organização chamada Agência (uma pseudo-CIA). Ao todo, foram produzidos três games com o personagem. A trama do primeiro, lançado em 2006, é puro clichê da Guerra Fria, passando-se numa ilha fictícia do Caribe (uma pseudo-Cuba), onde Rodriguez lidera uma guerrilha para destituir o ditador Salvador Mendoza (um pseudo-Castro), que teria armas de destruição em massa (uma pseudo-crise dos mísseis cubanos). O primeiro “Os Mercenários” (2010) também tinha uma história parecida. Não há data prevista para o começo da produção.
Andrea Tonacci (1944 – 2016)
Morreu o cineasta Andrea Tonacci, um dos principais nomes do cinema marginal brasileiro. Ele faleceu na sexta-feira, vítima de câncer no pâncreas. Tonacci nasceu em Roma, na Itália, em 1944, e se mudou com a família para São Paulo aos 10 anos. Fez sua estreia no cinema com o curta “Olho por Olho” (1966), feito na mesma época e com a mesma equipe de “Documentário”, de Rogério Sganzerla, e “O Pedestre”, de Otoniel Santos Pereira. Seu primeiro longa, “Bang-Bang” (1971), com Paulo Cesar Pereio numa máscara de macaco, se tornou um marco do cinema marginal brasileiro, como ficou conhecida a geração contracultural, que reagia ao intelectualismo exacerbado do Cinema Novo. A ditadura militar não distinguia entre os dois movimentos e tratava de dificultar a exibição por igual. Por isso, o filme teve carreira restrita a cineclubes no Brasil, mas acabou escolhido para a prestigiada Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Rodada em Belo Horizonte, a obra trazia Pereio mascarado e delirante, em fuga de sujeitos estranhos, e pode ser interpretada como alegoria à falta de saídas diante da ditadura. Ele também provocou a ditadura com o curta “Blábláblá” (1968), em que o ator Paulo Gracindo vivia um ditador demagógico. Mas não demorou a abandonar as alegorias para mostrar o que realmente acontecia no país, aproximando-se da linguagem documental e se especializando em temas da cultura indígena. Em curto período, ele dirigiu filmes como “Guaranis do Espírito Santo” (1979), “Os Araras” (1980) e “Conversas no Maranhão” (1977-83). Nos anos 1990, fez apenas um documentário sobre a “Biblioteca Nacional” (1997) para ressurgir com força na década seguinte com seu filme mais impactante, “Serras da Desordem” (2006), que resgata a história do massacre da tribo Awá-Guajá nos anos 1970 na Amazônia, a partir do ponto de vista de um sobrevivente. Combinação de documentário com ficção, o longa venceu os prêmios de Melhor Filme, Direção e Fotografia no Festival de Gramado. E recentemente entrou na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, elaborada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). O último filme de Tonacci foi “Já Visto Jamais Visto” (2014), no qual o cineasta revisita suas memórias com registros inéditos de imagens de família, viagens, projetos inacabados, etc. No começo do ano, ele completou o balaço com uma homenagem e retrospectiva no Festival de Tiradentes, em celebração aos seus 50 anos de carreira.
Neruda diverte, emociona e volta a destacar o talento do diretor chileno Pablo Larraín
O poeta Pablo Neruda (1904-1973), prêmio Nobel de Literatura, é uma das maiores referências culturais do Chile em todos os tempos. O poeta do amor também teve forte participação política, foi senador da República, vinculado ao Partido Comunista. E nessa condição chegou a apoiar a eleição de Gabriel González Videla (1898-1980). Mas Videla se tornaria, depois, um forte perseguidor dos comunistas. Em 1948, promoveu uma verdadeira caça, conhecida como “A Lei Maldita”, a versão chilena do macartismo nos Estados Unidos, na mesma época. A força da União Soviética, após a vitória na 2ª Guerra Mundial, incomodava muito e era preciso combatê-la. A Guerra Fria vigorava. Segundo um diálogo do filme “Neruda”, de Pablo Larraín, o presidente do Chile tem um chefe: é o presidente dos Estados Unidos. Logo, é natural que siga as ordens da matriz. Bem, o fato é que Pablo Neruda, na condição de senador, atacou o presidente González Videla e denunciou tudo o que estava acontecendo com centenas de presos e perseguidos. Claro que se tornou um deles, teve que se esconder e brincar de gato-e-rato com a polícia, que estava em seu encalço. A história dessa perseguição é o assunto do filme “Neruda”, protagonizado por Luís Gnecco, no papel do poeta, e pelo ator mexicano Gael García Bernal, no papel do policial Oscar Peluchoneau, filho de um grande agente que havia marcado história na polícia. Curiosamente, o personagem secundário do policial é quem narra a história, é do seu ponto de vista que vamos conhecendo o que se passou. Inclusive, com direito a falas em off, que narram, explicam o que acontece na tela, na visão dele. Recurso que incomoda e é desnecessário. No entanto, é interessante o enfoque do filme, produz uma história de suspense ao estilo noir, que é capaz de interessar uma plateia menos politizada. A caçada é emocionante, tem lances curiosos, surpresas, e é uma produção ficcional com base na realidade histórica. O policial Oscar é uma criação do escritor, existe só em função de Neruda, só relacionado a ele, não dispõe de realidade própria. E é o centro da narrativa do filme, contando com um ator global que puxa plateias, como Gael García Bernal. Essa mesma história já havia sido filmada no Chile, em caráter ficcional, há dois anos. O filme “Neruda – Fugitivo” (2014), de Manuel Basoalto, que é parente de Neruda, é bem inferior ao trabalho atual de Larrain, que vai mais fundo, questiona e inova sua narrativa, sem medo de tirar o poeta do pedestal em que se encontra. Pablo Neruda cresceria de importância internacional depois desse episódio narrado nesses filmes, e só morreria em 1973, doze dias depois de instaurado o golpe militar que levou Augusto Pinochet ao poder e que produziu uma das ditaduras mais sanguinárias do continente. Oficialmente, Neruda morreu em decorrência de câncer de próstata, mas um calmante que lhe foi injetado teria produzido a parada cardíaca que o matou. Há quem não só questione como ainda esteja investigando a hipótese de assassinato, perfeitamente plausível naquele momento político. Mas essa já é uma história posterior, que não está no filme. Talvez no futuro, em um novo filme, novas revelações possam aparecer. O diretor Pablo Larraín já refletiu sobre a ditadura de Pinochet numa trilogia, com “Tony Manero” (2008), “Post Mortem” (2010) e mais explicitamente em “No” (2012), sobre o plebiscito que tirou o ditador do poder. Brilhou ainda mais com “O Clube” (2015), que trata com muita clareza da pedofilia dentro do clero da igreja católica. Mostra-se um cineasta que mergulha na história chilena, fazendo um cinema político importante e crítico, com posição, mas sem qualquer dose de panfletarismo, além de demonstrar uma técnica que não deve nada à Hollywood. Não por acaso, “Neruda” concorre ao Globo de Ouro 2017, ao mesmo tempo em que Larraín é reconhecido nas premiações americanas por outro filme que fez neste ano, sua estreia nos EUA: “Jackie”.
Indicado ao Globo de Ouro, Neruda ganha vídeo de bastidores legendado
A Imovision divulgou um vídeo legendado dos bastidores de “Neruda”, novo filme de Pablo Larraín (“O Clube”), indicado ao Globo de Ouro 2017 e escolhido pelo Chile para tentar o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O vídeo reúne a equipe do filme, incluindo o diretor e os astros Luis Gnecco (“A Dançarina e o Ladrão”), intérprete do papel-título, e Gael Garcia Bernal (“Zoom”), para comentar o tom fantasioso da produção. “Não é um documentário” ressalta Larraín. Passado no Chile no final dos anos 1940, o filme se concentra numa caçada policial ao poeta Pablo Neruda, “o comunista mais importante do mundo”, numa trama que mistura metalinguagem, suspense e comédia, inventando detalhes para divertir o público, enquanto o inspetor vivido por Bernal tenta prender o protagonista de forma atrapalhada. “Neruda” é o segundo filme de Larraín estrelado por Gael, após o premiado “No” (2012), mas o elenco também retoma outras parcerias, como Marcelo Alonso, Alfredo Castro e Antonia Zegers, todos vistos em “Tony Manero” (2008) e “O Clube” (2015). A época abordada vai dos anos 1946 a 1948, quando Neruda se juntou ao Partido Comunista do Chile, foi eleito senador, protestou contra a prisão de mineiros em greve, foi ameaçado de prisão, fugiu e começou a escrever “Canto Geral”, seu livro de poemas mais famoso, publicado no ano de 1950. O filme teve première na Quinzena dos Realizadores, seção paralela do Festival de Cannes, e desde então tem conquistado diversos prêmios, entre eles o Fênix. A estreia acontece na quinta (15/12) no Brasil, um dia antes do lançamento comercial nos EUA.












