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    Globoplay adquire documentário sobre prisão de Caetano Veloso pela ditadura

    31 de agosto de 2020 /

    A Globoplay comprou os direitos de transmissão do documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968, durante a ditadura militar. O longa chega à plataforma de streaming no dia 7 de setembro, mesmo dia de sua première mundial na 77ª edição do Festival de Veneza. Dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”), “Narciso em férias” será exibido fora de competição no festival italiano. O documentário traz o depoimento de Caetano Veloso sobre sua experiência na cadeia, que incluiu passar uma semana trancado numa solitária. Ele e Gilberto Gil foram retirados de suas casas em São Paulo por agentes à paisana, duas semanas após o decreto do AI-5. À época, o regime militar proibiu que jornais divulgassem a prisão dos artistas. No total, Caetano ficou 54 dias encarcerado. Durante o período, ele compôs a canção “Irene”, inspirado pela lembrança da risada de sua irmã mais nova, e ao sair da prisão foi exilado em Londres. Em entrevista à revista americana Variety, Caetano destacou a importância de lembrar esse período histórico para se contrapor à versão dos fatos propagada pelo atual governo negacionista. “O Brasil tem um governo que diz que a ditadura militar foi uma coisa boa. E eles estão tentando lançar uma luz positiva. É hora de falar sobre esse período da maneira que faço no filme”, afirmou.

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    Advogados vão recorrer de decisão que livrou Regina Duarte de processo

    22 de julho de 2020 /

    Não acabou. A autora de ação contra Regina Duarte por apologia a crimes de tortura vai recorrer da decisão judicial que livrou a atriz do processo. A jornalista e advogada Lygia Jobim, filha de José Jobim, diplomata morto pelo regime militar, cobrava uma retratação pública e R$ 70 mil de danos morais da atriz e ex-secretária de Cultura em processo motivado pela polêmica entrevista de Regina Duarte à CNN Brasil, em maio passado. Lygia Jobim alega que Regina relativizou os atos dos militares. Na ocasião, a então Secretária de Cultura disse que “sempre houve tortura” e que discutir os casos de violência nos governos militares seria “olhar para trás”. Em sua decisão, a juíza Maria Amélia Almeida Senos de Carvalho, da 23ª Vara Federal do Rio de Janeiro, afirmou que Lygia só poderia ter apresentado a ação contra o órgão que a atriz representava. Ou seja, ela não poderia responder como pessoa física. Já o governo federal continua como réu. “Já conversei com meus advogados. Vamos recorrer da decisão, tendo em vista que Regina Duarte é uma pessoa pública, formadora de opinião e emitiu declarações de apologia a crimes de tortura na condição de secretária de Cultura, ou seja, como representante do Estado brasileiro, o mesmo Estado que assassinou o meu pai e tantas outras pessoas que representavam alguma ameaça ao regime militar. Exclui-la do processo é exclui-la da responsabilidade que a cabe”, disse a autora da ação, por meio de comunicado. “Nosso escritório vai recorrer da decisão, porque é impossível desassociar a senhora Regina Duarte da ação, tendo em vista que ela protagonizou as declarações de apologia a crimes de tortura. Não houve por parte dela qualquer tipo de pedido de desculpas ou manifestação de arrependimento. Nenhum tipo de empatia pela dor das famílias que perderam seus entes queridos, vítimas de violência de violações cometidas por militares durante a ditadura. Fazer apologia a crimes de tortura praticados na ditadura estão previstos no Código Penal (Lei nº 2.848/1940), Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei nº 1.079/1950) e na Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/1983)”, sustentaram Carlos Nicodemos e Gustavo Proença, advogados do escritório Nicodemos & Nederstigt Advogados Associados, que defende Lygia Jobim. Como filha de vítima da repressão no Brasil, Lygia Jobim se sentiu ofendida e indignada com as declarações de Regina Duarte. A autora do processo é filha de José Jobim, embaixador aposentado, de 69 anos, cujo corpo foi encontrado em 24 de março de 1979, pendurado numa árvore, com uma corda de náilon no pescoço, no Itanhangá, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, numa simulação de enforcamento similar à do falecido jornalista Vladimir Herzog. Segundo relatos de testemunhas, o corpo apresentava sinais de tortura. Na época, o então delegado do caso, Rui Dourado, alegou que o diplomata havia se “suicidado”. Na verdade, José Jobim foi assassinado após ser sequestrado, quando iria denunciar corrupção no regime militar. Ele foi considerado oficialmente uma das vítimas da ditadura pela Comissão Nacional da Verdade.

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    Processo contra Regina Duarte por apologia a crimes da ditadura é arquivado

    22 de julho de 2020 /

    Não deu em nada o processo movido por Lygia Jobim contra Regina Duarte, por apologia a crimes de tortura e mortes praticados na ditadura. A juíza federal Maria Carvalho determinou o arquivamento da ação em que a filha de José Jobim, diplomata morto pelo regime militar, cobrava R$ 70 mil de danos morais da atriz e ex-secretária de Cultura Regina Duarte. O processo foi motivado pela polêmica entrevista de Regina Duarte à CNN Brasil, em maio passado. Lygia Jobim alega que Regina relativizou os atos dos militares. Na ocasião, a então Secretária de Cultura disse que “sempre houve tortura” e que discutir os casos de violência nos governos militares seria “olhar para trás”. Em sua decisão, a juíza da 23ª Vara Federal do Rio de Janeiro afirma que Lygia só poderia ter apresentado a ação contra o órgão que a atriz representava.

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    Regina Duarte é processada por apologia aos crimes da ditadura militar

    21 de junho de 2020 /

    A ex-secretária da Cultura, Regina Duarte, virou ré em uma ação na Justiça Federal do Rio. Segundo a denúncia, apurada pelo colunista Anselmo Gois, do jornal O Globo, Duarte é tipificada no crime de apologia a crimes de tortura e mortes praticados na ditadura. O colunista destaca que a denúncia foi feita por Lygia Jobim, filha do falecido embaixador José Jobim, assassinado por “suicídio” em março de 1979, após ser sequestrado quando iria denunciar a corrupção no regime militar. Ele foi considerado uma das vítimas da ditadura pela Comissão Nacional da Verdade. Ela alega que Regina, durante sua polêmica entrevista à CNN Brasil, que foi ao ar em 7 de maio, relativizou os atos dos militares. Entre seus pedidos, Lygia cobra indenização de R$ 70 mil.

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    Guerra Cultural: Veto de Bolsonaro à Lei do Audiovisual é publicado no Diário Oficial

    30 de dezembro de 2019 /

    O veto integral da prorrogação do Recine (Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica) e incentivos fiscais da Lei do Audiovisual foi publicado nesta segunda-feira (30/12) no Diário Oficial da União. O projeto de lei foi aprovado na primeira metade de dezembro pelo Congresso Nacional e vetado na sexta (27/12) por Bolsonaro. O autor do projeto, o deputado Marcelo Calero (Cidadania-RJ), ex-ministro da Cultura, considerou a decisão um reflexo do “obscurantismo” do governo em relação à Cultura brasileira. “É inacreditável o obscurantismo do governo e a falta de visão da importância de uma indústria que gera mais de 300 mil empregos e responde por meio ponto percentual do PIB”, criticou o deputado em declaração para a imprensa, prometendo trabalhar para derrubar o veto no Congresso. “Todos os países desenvolvidos têm programas de incentivo, como forma de estímulo a um setor de relevância econômica e cultural. Trabalharemos pela derrubada desse absurdo veto”, disse ele. O veto de Bolsonaro prejudica principalmente cidades que poderiam receber salas de cinema. O parque exibidor nacional tem grande potencial, mas enorme déficit. Enquanto o mercado chinês estourou com incentivos, que multiplicaram as telas do país, Bolsonaro optou pelo inverso do “milagre chinês”, cortando a já pequena ajuda federal que incentivava a abertura de cinemas no Brasil. Criado em 2012, o Recine visa justamente a expansão e a modernização do parque cinematográfico. Graças ao Recine, o número de salas de exibição do país deu um salto quantificativo, chegando ao maior nível da série histórica, com 3.356 telas em 2018, superando o recorde anterior, de 3.276 salas em 1975, quando o Estado tinha maior presença no mercado, via a extinta Embrafilme. Deste total de 2018, 93 salas foram construídas com apoio no mecanismo. O mais importante é que 60 foram construídas em cidades do interior – da Bahia, de Pernambuco, de São Paulo, do Paraná, e do Rio de Janeiro – , muitas das quais não tinham acesso à programação de cinema até então. Isto porque o mecanismo, que oferece incentivos fiscais para abertura de novas salas, visa democratizar o circuito audiovisual, ainda muito restrito às grandes capitais brasileiras. As regiões Norte e Nordeste, além de cidades do interior com poucos ou nenhum cinema, recebem estímulos especiais para investimentos. Só em 2019, o programa destinou aproximadamente R$ 27 milhões em isenção fiscal para compra de bens, máquinas e equipamentos para a construção de novas salas. Dos R$ 11 milhões aprovados para a modernização de salas já existentes, a maior parte foi destinada à aquisição de equipamentos para acessibilidade a portadores de necessidades especiais. Ou seja, o Recine também é (era?) um programa de cidadania. Já os benefícios fiscais previstos na Lei do Audiovisual permitem que pessoas físicas e empresas possam deduzir do imposto de renda valores que financiem projetos de produções de filmes e séries. É “apoio indireto” porque permite que contribuintes tenham abatimento de imposto, ao direcionar recursos a projetos aprovados na Ancine. Para empresas, a dedução prevista é de até 4%, enquanto pessoas físicas podem abater até 6%. Além disso, o patrocinador pode associar sua imagem ao produto resultante do projeto fomentado. A Lei do Audiovisual difere dos mecanismos de “fomento direto”, nos quais a Ancine apoia projetos por meio de editais e seleções públicas, financiando a produção com as verbas do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). Ao vetar a continuidade desses incentivos, Bolsonaro busca concentrar deliberadamente toda a verba do audiovisual no FSA, que é resultante de uma taxa (Condecine) cobrada diretamente do próprio setor – não é “dinheiro público”, na medida que não sai do orçamento federal para Educação, Saúde e oba-oba eleitoreiro, e sim de empresas de filmes, séries e telefonia – e funciona como uma espécie de imposto regulador do mercado. Bolsonaro já avisou que vai proibir que determinados filmes recebam verba do FSA, transformando esse mecanismo num instrumento de controle analógico à censura. Entre os alvos prioritários citados pelo presidente estariam filmes que contem “mentiras” sobre a ditadura, produções com temática LGBTQIA+, que foram atacadas em várias oportunidades, e provavelmente as produções da Globo, que o presidente considera sua inimiga pessoal. Para realizar esse controle, que ele já chamou de “filtros”, Bolsonaro colocou algumas peças importantes em lugares estratégicos, contando com a participação de um diretor da rede Record, braço televisivo da Igreja Universal, no comitê que administra o caixa do FSA, e de um pastor nomeado como diretor da Ancine, justamente na outra ponta da liberação da verba. Vale lembrar que, ao tomar conhecimento desse projeto em agosto passado, o então secretário da Cultura, Henrique Pires, demitiu-se e acusou o governo de planejar impor censura à expressão artística no Brasil por meio da implantação de “filtros” para a liberação de verbas e incentivos fiscais. Caso o Congresso derrube o novo veto, tornará mais difícil para Bolsonaro concentrar todo incentivo do audiovisual numa única “torneira”, que ele poderia fechar a seu bel prazer, deixando escorrer verba apenas para filmes evangélicos e de “educação moral e cívica”.

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    Guerra Cultural: Bolsonaro veta incentivos ao audiovisual brasileiro

    28 de dezembro de 2019 /

    O presidente Jair Bolsonaro vetou, na sexta-feira (27/12), o projeto de lei que prorrogaria até 2024 benefícios fiscais voltados ao audiovisual por meio do Recine (Regime Especial de Tributação para Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica) e a renovação da Lei do Audiovisual. A lei destinava incentivos fiscais à modernização e expansão de salas de cinema pelo país e também à produção cinematográfica e televisiva brasileira. De acordo com a Presidência, o veto ocorreu por uma questão técnica: faltou ao projeto esclarecer a fonte de custeio e os impactos orçamentários dos incentivos. O secretário do Audiovisual André Sturm afirma que o veto não tem relação com a guerra cultural levada adiante por Bolsonaro contra o audiovisual visual brasileiro, que se reflete em vários outros bloqueios que ele já realizou no setor, como a proibição de apoios estatais a festivais de cinema, suspensão de edital de produção de séries, eliminação de programas voltados à exportação de filmes e o congelamento total das verbas do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), que não foram liberadas durante todo o ano de 2019. Para ele, o veto foi “técnico”. “Garanto que não tem nada nisso”, disse Sturm para a imprensa. “Quando o Congresso aprova um benefício fiscal, ele tem que apontar de onde vem o dinheiro para custeá-lo, porque é uma receita a menos. Infelizmente, isso não foi feito, então o que acontece agora é que o projeto tem que voltar para o Congresso”, explicou. O projeto de lei foi aprovado pela Câmara dos Deputados no começo de dezembro e votado no último dia 12 pelo Senado, que também deu sinal verde para a prorrogação dos benefícios. O veto de Bolsonaro será agora analisado pelo Congresso, que pode derrubá-lo. Curiosamente, o veto acontece dois dias após Bolsonaro declarar que não poderia ficar vetando tudo que vem do Congresso. “Na elaboração de leis quem dá a última palavra sempre é o Congresso, ‘derrubando’ possíveis vetos. Não posso sempre dizer não ao Parlamento, pois estaria fechando as portas para qualquer entendimento”, falou o presidente na quarta-feira (25/12), como justificativa para aprovar vários pontos polêmicos do pacote anticrime, contrariando o ministro da Justiça Sergio Moro e, inclusive, criando despesa obrigatória (não discricionária) com a invenção do “juiz de garantias”. Na quinta (26/12), Bolsonaro também adiantou que pretende acabar com a Lei de Cota, que protege o cinema nacional da distribuição predadora dos blockbusters americanos, e que vai proibir que determinados filmes recebam verba do FSA, dinheiro que vem do próprio mercado audiovisual. Entre os alvos citados estariam filmes que contem “mentiras” sobre a ditadura. Mas também devem entrar na lista de censura federal as produções com temática LGBTQIA+, que foram atacadas em oportunidades anteriores por Bolsonaro, e as produções da Globo, que o presidente considera sua inimiga pessoal. Para realizar esse controle, que ele já chamou de “filtros”, Bolsonaro colocou algumas peças importantes em lugares estratégicos, contando com a participação de um diretor da rede Record, braço televisivo da Igreja Universal, no comitê que administra o caixa do FSA, e de um pastor nomeado como diretor da Ancine, justamente na outra ponta da liberação da verba. Vale lembrar que, ao tomar conhecimento desse projeto em agosto passado, o então secretário da Cultura, Henrique Pires, demitiu-se e acusou o governo de planejar impor censura à expressão artística no Brasil por meio da implantação de “filtros” para a liberação de verbas e incentivos fiscais. Caso o Congresso derrube o novo veto, tornará mais difícil para Bolsonaro exercer seu desejo imperial de censurar veladamente o audiovisual do país, prejudicar a Globo e trocar a atual produção premiada brasileira por filmes evangélicos e de “educação moral e cívica”.

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    Bolsonaro diz que Brasil não faz filme bom há muito tempo e vai proibir “mentiras” contra a ditadura

    27 de dezembro de 2019 /

    O presidente Jair Bolsonaro não poderia terminar o ano sem lançar um novo ataque verbal à indústria audiovisual brasileira, um de seus alvos favoritos em 2019 e uma das áreas em que o país têm maior reconhecimento internacional. Durante uma live realizada nesta quinta-feira (26/12), em vez de condenações ao ataque terrorista contra o grupo Porta dos Fundos, o presidente do Brasil preferiu questionar a qualidade da atual produção audiovisual brasileira e confirmou que vai acabar com a Cota de Tela para os filmes nacionais. A Cota de Tela evita que filmes estrangeiros façam ocupações predatórias nos cinemas e é uma das razões do sucesso dos mercados cinematográficos asiático e europeu. Nesta semana, Bolsonaro assinou o decreto que determina a cota anual de filmes nacionais que devem ser exibidos em 2020, após se omitir em 2019. Na live, ele falou que foi “a primeira e última vez”, confirmando planos de extinguir esse mecanismo importante do mercado. Para defender seu ponto de vista, Bolsonaro afirmou que a indústria cinematográfica brasileira não faz filmes que interessem à população, apenas “às minorias”, e ameaçou fazer “filmes diferentes dos que vinham sendo feitos”. “Obviamente que, fazendo bons filmes, não vamos precisar de cota mais. Há quanto tempo a gente não faz um bom filme, não é?”, perguntou, retoricamente, sugerindo que o cinema brasileiro não tem qualidade. “Não vou entrar nesse detalhe aqui”, encurtou. Ao cometer sua generalização, Bolsonaro inclui sem querer no pacote de filmes sem qualidade as cinebiografias de seu amigo, o bispo Edir Macedo, lançadas em duas partes no ano passado e neste ano. Será que seu canal de estimação, a TV Record, de propriedade de Macedo, ousará contestar declaração tão convicta? A verdade é que, apesar de Bolsonaro, que subestima e trata como inimiga a produção cultural, a qualidade do cinema brasileiro vive uma de suas fases de maior reconhecimento mundial. Em setembro passado, a mais tradicional revista de cinema do mundo, a francesa Cahiers du Cinema, dedicou uma edição especial aos filmes do país. Com capa para “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, a publicação fez um dossiê de 20 páginas sobre o cinema brasileiro atual. Chamando a atual geração de cineastas de a melhor do Brasil desde os movimentos do Cinema Novo e os ditos “marginais”, a revista lamentou que eles precisassem enfrentar o governo, em vez de receber apoio para levar sua arte ao resto do mundo. O cinema brasileiro é presença constante nos principais festivais do planeta e neste ano foi premiado duplamente no mais importante de todos, Cannes. “Bacurau” recebeu o Prêmio do Júri da Mostra Competitiva, e “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, venceu a mostra paralela Um Certo Olhar. Recentemente, “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu, tornou-se a primeira animação brasileira indicada ao Oscar. Regina Casé e Camila Márdila foram premiadas no Festival de Sundance, nos EUA, pelo desempenho dramático em “Que Horas Ela Volta”, de Anna Muylaert. Crítica publicada no jornal inglês The Guardian considerou “Arábia”, de João Dumans e Affonso Uchoa, vencedor do Festival de Brasília, como o “filme da década”. São muitas conquistas e realizações para ficar enumerando apenas para contestar quem deveria ser o maior porta-voz da cultura nacional. Bolsonaro jamais vai aceitar que o mundo o contrarie. Para ele, o cinema brasileiro é ruim e pronto. É ruim porque, segundo ele, não é educativo. “Vamos fazer filmes da história do Brasil, da nossa cultura e arte, que interessa a população como um todo e não as minorias”, o presidente descreveu. Pior que o Bolsonaro “crítico de cinema”, só o Bolsonaro “educador”, saudoso da época da Educação Moral e Cívica. Em sua live, ele vestiu a carapuça, prometendo reescrever a História do Brasil com a ajuda do cinema. Ele afirmou que não permitirá à indústria nacional fazer filmes que abordem a “questão da ideologia” e defendeu uma releitura do período da ditadura militar. Na avaliação dele, as produções sobre o assunto contam “mentiras” sobre o passado. “Os filmes que estamos fazendo a partir de agora não vai ter mais a questão de ideologia, aquelas mentiras todas de histórias passadas, falando do período de 1964 a 1985. É sempre fazendo a cabeça da população como se esse pessoal da esquerda foi o mais puro, ético e moral do mundo. E o resto como se fosse o resto”, afirmou, em seu português peculiar. E ainda provocou, com bordão: “Perderam!” Demonstrando sua mais completa desinformação sobre o tema, Bolsonaro acabou jogando uma casca de banana para escorrer por conta própria em suas generalizações. “Eu não quero citar aqui o nome de filmes [da última vez que citou, errou tudo] que eu peguei fazendo na Embrafilme no corrente ano. Eu tenho vergonha, vergonha de falar, então não vou falar o nome dos filmes… Mexe com religião, mexe com evangélico, com católico, mexe com criança, mexe com afro-descendente, mexe com pessoa deficiente e tudo com a questão de sexo no meio”. Apesar do tom escandaloso de falsa denúncia, títulos como “Os Bons Tempos Voltaram – Vamos Gozar Outra Vez”, “Senta no Meu que Eu Entro na Tua” e “Escola Penal de Meninas Violentadas” são dos tempos áureos da ditadura militar. Época, por sinal, da Embrafilme citada por Bolsonaro, que não fez nada no “corrente ano”, porque foi extinta por Fernando Collor de Mello… em 1990! A conclusão que se chega é que Bolsonaro não conhece absolutamente nada sobre o cinema brasileiro. Mas sempre é possível que o presidente do golden shower tenha deixado o ato falho escapar por saudosismo das ponochanchadas que se fazia durante a ditadura. Como já virou tradição, ele insiste que sua proibição seletiva de financiamento a determinados filmes não é censura. É irônico como tenta censurar até o uso da palavra censura. Para Bolsonaro, não é censura vetar aporte financeiro à realização de projetos que não rezem por sua cartilha. “Nós não estamos censurando nada. Quem quiser fazer filme, que faça. Mas com dinheiro próprio, não com dinheiro público”. Há, contudo, um – vamos chamar de – equívoco na definição da verba disponível para o financiamento audiovisual como “dinheiro público”. Afinal, trata-se de dinheiro da própria indústria do audiovisual. Não são pessoas físicas, mas empresas de cinema, TV e telefonia que alimentam o FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) por meio de uma taxa chamada Condecine, de onde sai o financiamento para novas produções. Na prática, funciona assim: filmes bem-sucedidas contribuem, por meio da taxa, para fomentar o mercado, fazendo com que as grandes bilheterias gerem investimento em conteúdo nacional, em vez de simplesmente remeterem todo o lucro para os EUA. Em suma, os recursos destinados ao setor se originam nele próprio, e não fatiam as verbas realmente públicas, destinadas para saúde, educação e campanhas milionárias dos políticos nacionais. Uma prática similar transformou a China numa potência cinematográfica mundial – ao sobretaxar os filmes americanos e cobrar em cada ingresso uma contribuição para a produção de novas obras chinesas. O que Bolsonaro defende é que o dinheiro arrecadado junto do mercado, via Condecine, não seja mais usado de forma democrática e isenta, por meio de critérios que muitas vezes vêm do próprio mercado. Criando dificuldades subjetivas, abrem-se oportunidades para a realização de desvios e favorecimentos. Por isso, é estratégico chamar o FSA de “dinheiro público” – isto é, do presidente, na visão autoritária da coisa pública. Afinal, se realmente quisesse impedir que o “dinheiro público” fosse gasto à toa com filmes, Bolsonaro poderia trocar a retórica pela extinção do Condecine. Simples assim. Em vez de partir para um corte – vamos chamar de – liberal extremo, o presidente sem partido prefere utilizar a verba disponível no FSA para realizar uma intervenção ideológica – outro nome para direcionamento sem critérios objetivos. Neste sentido, não deixa de ser uma grande coincidência esse tipo de inciativa se encaixar sob medida para privilegiar produções religiosas, como as da Record, empresa alinhada ideologicamente com Bolsonaro. Vamos chamar também de grande coincidência o fato de o governo, inclusive, já ter até incluído um representante da emissora no comitê que controla o caixa do FSA – o diretor da rede Record Hiran Silveira. Seguindo esse raciocínio, quem duvida que projetos da Globo, empresa rival da Record e que sofre ataques constantes de Bolsonaro, encontrem dificuldades – digamos – temáticas para ter acesso ao FSA, apesar de ser uma das empresas que mais contribui com pagamentos via taxa para o setor? Não se pode esquecer o contexto. O presidente já indicou que pretende dificultar até a renovação da concessão federal para a Globo continuar funcionando. A atual concessão vence em 2022 e “o processo tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho pra vocês, nem pra ninguém”, disse Bolsonaro em tom ameaçador, em vídeo gravado como reação à inclusão de seu nome numa reportagem do canal sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco. Ao final, a questão pode mesmo passar longe de uma visão peculiar do que seria cinema de qualidade. Como costuma dizer o próprio Bolsonaro, “não estou afirmando”, mas parece – parece! – muita fumaça para disfarçar um projeto autoritário de revanche e, em última instância, avanço sobre as verbas milionárias do audiovisual brasileiro – R$ 703 milhões em 2019, ainda não liberados.

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    Assassinato de pianista da bossa nova será tema de animação internacional dos diretores de Chico & Rita

    5 de novembro de 2019 /

    A nova animação da dupla espanhola Fernando Trueba e Javier Mariscal, indicados ao Oscar de 2012 por “Chico & Rita”, vai contar uma história brasileira que mistura personagens reais, ditadura e bossa nova. Intitulada, em inglês, “They Shot The Piano Player”, a produção foi definida, em comunicado da produtora britânica Film Constellation, como “uma história comemorativa de origem” da bossa nova, que “captura um tempo fugaz repleto de liberdade criativa em um momento decisivo na história da América Latina nas décadas de 1960 e 1970, pouco antes de o continente ser tomado por regimes totalitários”. O personagem principal é um jornalista musical de Nova York, que investiga o desaparecimento do talentoso pianista brasileiro Tenório Jr. No dia 18 de março de 1976, quando acompanhava os artistas Toquinho e Vinícius de Moraes em show na Argentina, Tenório desapareceu misteriosamente em Buenos Aires, depois de deixar no hotel um bilhete dizendo que ia “comer um sanduíche e comprar um remédio. Volto logo.”. Nunca mais voltou. Segundo testemunhas, Tenório Jr. teria sido sequestrado pelo serviço secreto da Marinha da Argentina e torturado durante nove dias. Após ter ficado claro que o pianista não tinha envolvimento em atividades políticas, foi morto com um tiro na cabeça. O ator Jeff Goldblum (de “Jurassic Park” e “Independence Day”) foi escalado como dublador do jornalista que apura essa história. A animação também prestará homenagens a João Gilberto (1931-2019), Caetano Veloso, Gilberto Gil, Vinicius de Moraes (1913-1980) e Paulo Moura (1932-2010). “They Shot The Piano Player” ainda não tem previsão de estreia.

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    Marighella: Filme polêmico de Wagner Moura ganha teaser impactante

    20 de agosto de 2019 /

    A Paris Filmes divulgou o primeiro teaser de “Marighella”, dirigido por Wagner Moura. E é uma porrada. As cenas escolhidas, acompanhadas por narração do protagonista e elogios da crítica internacional – tem 83% de aprovação no Rotten Tomatoes – , apresentam o filme de forma impactante, entre tiros, explosões e mortes. O tom é de confronto e vingança. Não só na reconstituição dos embates da ditadura militar, mas também no timing do lançamento. A obra é uma cinebiografia do escritor e guerrilheiro Carlos Marighella, morto em 1969 pela ditadura militar. Considerado herói pela esquerda e terrorista pela direita – lider da ALN, o grupo mais sanguinário da época, à exceção do próprio Estado – , o personagem é polêmico. Na época da exibição do filme no Festival de Berlim, em fevereiro, o longa recebeu críticas do presidente Jair Bolsonaro e foi alvo de trolls da internet, que o atacaram em sites de cinema americanos, embora o filme ainda permaneça inédito em circuito comercial. Para aumentar a controvérsia, o cantor Seu Jorge (“Cidade de Deus”) foi escalado no papel-título, fato que deverá ganhar ainda mais repercussão graças à escolha da data de lançamento. O filme vai chegar aos cinemas no Brasil em 20 de novembro, quando se comemora o Dia da Consciência Negra. O político baiano era filho de um italiano branco e nasceu “mulato” claro, como ensinavam as antigas aulas de geografia da época da ditadura, ou “pardo”, como prefere a polícia e o IBGE. Entretanto, além de comunista, Marighella surge retinto na ficção. Seria, portanto, caso pensado para aumentar a polarização em torno do filme. A contestação deste e outros fatos deve render muitas discussões, mas uma verdade não é relativa: o teaser é muito bom.

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  • Filme

    Deslembro é uma pequena obra-prima do cinema brasileiro

    24 de junho de 2019 /

    É possível notar, mesmo sem saber nada de “Deslembro”, que se trata de um filme muito pessoal de sua diretora, Flavia Castro. Ao perceber que o desaparecimento do pai durante a ditadura já havia sido abordado no documentário “Diário de uma Busca” (2010), fica claro que ela é movida pela necessidade de recontar essa história. O que impressiona é o quanto ela consegue ser bem-sucedida nisso, estreando no registro de ficção. A sensibilidade com que a cineasta conta a história da jovem adolescente que é trazida da França para o Brasil na virada dos anos 1970 para os 80, quando começou o processo de anistia política, é realizada com uma vivacidade impressionante. Nos primeiros minutos de “Deslembro” vemos uma família dialogando em francês. A menina Joana (Jeanne Boudier, ótima) não quer sair da França e ir para um país em que se torturam e matam pessoas. Mas a mãe (Sara Antunes) prefere que a filha e seus outros dois filhos (na verdade, um deles é filho do seu companheiro com outra mulher) venham com ela para o Rio de Janeiro. O impacto da chegada ao novo país começa a trazer memórias fortes de um momento traumático na vida da pequena Joana. Lembranças escondidas em um canto seguro de sua memória. Assim, essas lembranças – ou possíveis lembranças, já que não se sabe ao certo o que é verdade ou o que é construído como uma espécia de sonho – vão surgindo em flashbacks bem fragmentados. Às vezes, a diretora usa um recurso plasticamente muito bonito de mostrar uma imagem tão próxima que não permite distinguir o está sendo mostrado, como em um quadro de pintura abstrata com textura em alto relevo. A inclusão de canções é também um acerto do filme. Lou Reed, Caetano Veloso, The Doors, Nelson Gonçalves (em uma canção de Noel Rosa que também aparece no maravilhoso “Arábia”, de João Dumas e Affonso Uchôa, ainda que com um intérprete diferente), citações a David Bowie e Pink Floyd; além do amor pelos livros por parte de Joana e a recitação de um poema de Fernando Pessoa. Tudo isso faz com que a paixão pela vida, embora dolorosa pela falta trágica do pai, esteja o tempo todo presente. E há ainda o amor no seio familiar. A família mostrada no filme, tão fragmentada quanto as memórias da menina, é de encher o coração (o que são aquelas cenas no carro, meu Deus?). As questões de afetividade envolvendo a mãe, o padrasto chileno e os dois irmãos pequenos somam-se à avó da menina que mora no Rio, vivida com brilho por Eliane Giardini. A cena mais tocante do filme, aliás, surge sutil, num momento em que a avó e a menina estão sozinhas e a avó olha com lágrimas nos olhos para o rosto daquela garota que lembra o seu filho assassinado pela ditadura. Um exemplo de sensibilidade ímpar por parte da diretora e de seu belo elenco. O amor romântico também surge em “Deslembro” de maneira muito bonita. Há, inclusive, uma cena de sexo muito discreta e muito elegante entre a garota e o seu interesse amoroso, um rapaz que também é filho de exilados. E esse aspecto romântico e a quantidade generosa de canções pop faz com que o filme dialogue com o ótimo “Califórnia”, de Marina Person. No que se refere às questões políticas, há diálogo com o momento atual, embora o filme tenha sido finalizado antes das últimas eleições presidenciais. O que não deixa de torná-lo ainda mais forte e urgente nos dias de hoje. Aliás, o que não parece urgente nos dias de hoje, quando o assunto é direitos humanos? Restrito ao circuito alternativo, “Deslembro” infelizmente terá um público pequeno. Por isso, é importante que o boca a boca seja positivo e que atraia o público, para que mais pessoas tenham a honra de ver esta pequena obra-prima no cinema, em toda sua glória.

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    Marighella vai estrear no Brasil no Dia da Consciência Negra

    11 de junho de 2019 /

    O filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, finalmente marcou sua data de estreia no Brasil: 20 de novembro, quando se comemora o Dia da Consciência Negra. A data foi inicialmente revelada no Twitter pelo cineasta Kleber Mendonça Filho (“Aquarius”), que acompanhou uma sessão de “Marighella” no Festival de Sydney, na Austrália, e posteriormente confirmada pela distribuidora do longa, a Paris Filmes. Na Austrália, onde acompanha a exibição do longa e participa como jurado do festival, Moura chegou a dizer que a distribuidora não tinha coragem de marcar a estreia. “Eu estava preparado para que o filme dividisse a população e para as críticas, mas não esperava que a distribuidora não tivesse coragem de lançá-lo”, disse ao jornal australiano Daily Telegraph. A obra é uma cinebiografia do escritor e guerrilheiro Carlos Marighella, morto em 1969 pela ditadura militar. Considerado herói pela esquerda e terrorista pela direita – lider da ALN, o grupo mais sanguinário da época, à exceção do próprio Estado – , o personagem é polêmico. Na época da exibição do filme no Festival de Berlim, em fevereiro, o longa recebeu críticas do presidente Jair Bolsonaro e foi alvo de trolls da internet, que o atacaram em sites de cinema americanos, embora o filme ainda permaneça inédito em circuito comercial. Para aumentar a controvérsia, o cantor Seu Jorge foi escalado no papel-título, fato que deverá ganhar ainda mais repercussão graças à escolha da data de lançamento. Já havia discussões, antes da definição da estreia no Dia da Consciência Negra, sobre a escalação de um artista negro para interpretar Marighella. O político baiano era “mulato” claro, como ensinavam as antigas aulas de geografia da época da ditadura, ou “pardo”, como prefere a polícia e o IBGE, filho de um italiano branco. Mas, além de comunista, Marighella surge retinto na ficção. Seria, portanto, caso pensado para aumentar a polarização em torno do filme. Polarização que a data de estreia deve radicalizar ainda mais. Em artigo publicado em fevereiro pelo jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, o professor Paulo Cruz, que é negro, antecipou-se à questão. “A caracterização de Carlos Marighella como preto – aqui uso a definição do IBGE, que divide negros em pretos e pardos (ou mestiços) –, convidando o cantor Seu Jorge para o papel, foi um truque para tornar o elemento racial, de menor influência na vida e luta de Marighella, um diferencial – falso, diga-se. O problema é que, diante de uma figura notoriamente controversa, nem todos os negros podem querer ver sua cor associada a tal personagem”, ele escreveu. “Por que as entidades do movimento negro não emitiram nem sequer uma nota sobre o caso flagrante de falsificação e caracterização de um terrorista como preto – quando a reclamação é quase sempre essa, de que pretos só fazem papel de bandidos? Certamente porque concordam com sua ideologia e seus atos terroristas, chamando-os de ‘luta pela democracia e justiça social’ – informação desmentida, inclusive, por ex-guerrilheiros como os políticos Eduardo Jorge e Fernando Gabeira”, concluiu Cruz.

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    Pastor Cláudio resgata o passado assassino da ditadura militar

    17 de março de 2019 /

    Um homem que hoje prefere ser chamado de Pastor Cláudio, já que é bispo evangélico, é o foco do documentário brasileiro que leva o seu nome atual. Esse pastor é Cláudio Guerra, um ex-delegado, um dos nomes de destaque do aparelho repressor da ditadura militar, responsável por assassinar e incinerar opositores daquele regime, invariavelmente chamados de subversivos, comunistas ou terroristas. Portanto, um dos responsáveis pela violência de Estado, que nunca foi punida, já que coberta pela controversa lei de anistia que vigora até hoje. Por conta disso, e talvez para ficar em paz com sua consciência e suas obrigações religiosas, Cláudio se responsabiliza por tudo o que fez, não foge das perguntas, identifica atos, pessoas e locais. Ele estava estabelecido no aparelho repressor de Vitória, Espírito Santo. Mas, como explicou, os agentes trocavam de posições. Era comum um policial do Rio ir torturar ou matar um subversivo de Recife. Ou um de Salvador atuar em São Paulo. De modo que de Vitória ele circulou, agindo nacionalmente, por várias partes do país. A lógica era matar quem você não conhece ou tem apenas uns poucos dados, até sem saber o nome. Assim se eliminavam vínculos, medos, hesitações, e tudo acontecia com mais frieza e distanciamento psicológico. Por sinal, frieza absoluta é a tônica da entrevista-depoimento, conduzida no filme por Eduardo Passos, psicólogo e ativista de Direitos Humanos. É fato que o pastor Cláudio já havia respondido à Comissão da Verdade, escreveu um livro contando essas histórias (como expressa na filmagem) e já atendeu mais alguém antes, sobre o tema. O fato de não precisar temer consequências em função dessa anistia que cobre os torturadores e assassinos do regime permite que ele possa assumir a condição de religioso e, de Bíblia em punho, resgatar os fatos e arrepender-se do que fez. O que só fica bem claro em referência a algumas ações, como a carta-bomba dirigida à OAB e, principalmente, o atentado preparado para o Rio Centro, que seria imputado à esquerda. O mais comum é aquele tom de banalidade do mal, a que se referiu Hannah Arendt, e que expressa muito bem o sentido de tais ações. No caso de Cláudio Guerra, cumprindo ordens superiores, sim, mas sendo ele próprio um formulador e responsável por comandos de repressão, tortura e morte. Ele reconheceu diante das fotos projetadas de desaparecidos o que fez com cada um deles. Não se pense que tudo acabou com o fim do regime militar. A prática da tortura, por exemplo, só mudou de objeto e o ex-delegado, como os demais, continuou ativo em plena redemocratização. Porém, se desentendeu, por razões práticas, e acabou isolado, perdendo todas as benesses que teve ao longo de sua atuação como agente repressor. Aparentemente, mudou de vida de forma radical e isso permite o resgate, por meio do cinema, de fatos importantes e modos de atuação no período. Relevante, didático e oportuno, o trabalho da diretora Beth Formaggini, que se concentrou no essencial e não deu vazão às possíveis explicações sobre o presente do personagem. Seu passado tenebroso é o que conta. E o período terrível da opressão do qual ele foi um dos algozes.

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