Barbara Rush, estrela da década de 1950, morre aos 97 anos
Atriz começou na ficção científica e se tornou famosa por estrelar melodramas de grandes diretores de Hollywood
Lisa Montell, estrela dos anos 1950, morre aos 89 anos
A atriz Lisa Montell, uma estrela dos anos 1950 e 1960 que apareceu em filmes como “20 Milhões de Léguas a Marte” ao lado de Rod Taylor e “Dez Mil Alcovas” com Dean Martin, faleceu no domingo passado (7/5) num hospital de Van Nuys, na Califórnia, devido a problemas cardíacos. Ela tinha 89 anos. Nascida em Varsóvia, na Polônia, Irena Ludmilla Vladimiovna Augustinovich e sua família fugiram para os EUA antes da invasão nazista de seu país em 1939. Ela estudou teatro na Fiorello H. LaGuardia High School of Music & Art, na High School of Performing Arts e na University of Miami, mas depois se mudou para Lima, Peru, quando seu pai conseguiu um emprego em uma empresa de mineração local. Ela foi descoberta por Hollywood no Peru. Indicada por um olheiro que a viu numa peça, Montell estreou num set de filmagem em “A Filha do Deus Sol”, uma fantasia rodada no Peru em 1953. Mas, por ironia, o filme só foi lançado em 1962, quando ela abandonou a carreira. A experiência, porém, a inspirou a se mudar para Los Angeles depois que seu pai morreu. Considerada uma beleza exótica, ela interpretou personagens de várias etnias ao longo de sua carreira, aproveitando-se também de ser multilíngue. Assim que chegou em Hollywood, apareceu logo em cinco filmes lançados em 1955 – “Selvas Indomáveis”, “Um Salto no Inferno”, “Papai Pernilongo”, “Balas na Noite” e “A Sereia dos Mares do Sul” – e interpretou uma bailarina no filme “Gaby” (1956), estrelado por Leslie Caron. No filme de ficção científica “20 Milhões de Léguas a Marte” (1956), ela conseguiu seu primeiro papel de destaque como uma mulher do século 26, centenas de anos após uma devastadora guerra atômica, que se apaixona por um astronauta acidental que viaja no tempo (Rod Taylor). Em seguida emplacou a comédia musical “Dez Mil Alcovas” (1957) – o primeiro filme de Dean Martin após o fim de sua dupla com Jerry Lewis – , como irmã de Anna Maria Alberghetti, Eva Bartok e Lisa Gaye em Roma. Em “Paraíso em Fúria” (1957) e “She Gods of Shark Reef” (1958), dirigidos consecutivamente no Havaí por Roger Corman, ela interpretou havaianas. Viveu indígenas em dois westerns, “O Festim da Morte” (1957) e “Zorro e a Cidade de Ouro Perdida” (1958) – um dos melhores filmes da franquia do Cavaleiro Solitário (na época chamado de Zorro no Brasil). E foi mexicana num terceiro western, “The Firebrand” (1962). Montell também apareceu em vários westerns da TV, incluindo “Gene Autry”, “Broken Arrow”, “Wells Fargo”, “Colt .45”, “Paladino do Oeste”, “Sugarfoot”, “Cheyenne”, “Bat Masterson” e “Maverick”, além de episódios dos dramas criminais “Surfside 6”, “Mike Hammer” e “77 Sunset Strip”. Ela deixou de atuar em meados da década de 1960, passando a trabalhar nos bastidores de um programa de TV com Tom Bradley, que em 1963 foi eleito o primeiro vereador negro de Los Angeles. Bradley também se tornou o primeiro prefeito negro de Los Angeles em 1973, e levou Montell para trabalhar em seu governo – que durou, com reeleições, até 1993.
Joan Staley (1940 – 2019)
A atriz Joan Staley, que estrelou a série clássica “77 Sunset Strip” e namorou Elvis Presley no cinema, morreu no domingo passado (24/11), aos 79 anos. Nascida Joan McConchie, ela foi uma violinista talentosa na infância, o que lhe rendeu seu primeiro papel no cinema, uma figuração como violinista prodígio em “A Valsa do Imperador” (1948), aos oito anos de idade. A pequena participação chamou atenção dos produtores de TV, que a convidaram a aparecer em vários programas de variedades. Mas, ao fazer 18 anos, decidiu trocar de carreira, abandonando a música pela atuação – além de posar para a revista Playboy como “Miss Novembro”. Em 1958, ela fez sua primeira de quatro participações na série “Perry Mason”, seguida por pequenos papéis em várias séries de TV da época, como “Laramie”, “Os Intocáveis”, “Bonanza”, “O Homem de Virgínia”, e ainda menores em alguns filmes famosos, entre eles três produções estreladas por Dean Martin – o musical “Essa Loira Vale um Milhão” (1960), a versão original de “Onze Homens e um Segredo” (1960), também com Frank Sinatra, e a comédia “A Dama da Madrugada” (1961). Ela ainda foi uma das moradoras da irmandade universitária que contratou Jerry Lewis como zelador em “O Terror das Mulheres” (1961) e figurou nos clássicos absolutos “Bonequinha de Luxo” (1961), com Audrey Heburn, e “Círculo do Medo” (1962), com Robert Mitchum. Mas os papéis só começaram a se tornar relevantes após ela entrar em “77 Sunset Strip”, em 1963, como nova secretária da agência dos detetives televisivos. Curiosamente, ela já tinha figurado na série, antes de ser integrada na 6ª e última temporada. Foi nessa época que Elvis cruzou sua vida. Assim que a série acabou, Joan participou de dois filmes do roqueiro, “Com Caipira Não se Brinca” e “Carrossel de Emoções”, ambos lançados em 1964. E acabou se destacando no segundo, como a namorada negligenciada do cantor, que chega a lhe dar um tapa na cara. Depois disso, estrelou seus primeiros filmes como protagonista feminina: a comédia “O Fantasma e o Covarde” (1966), ao lado do humorista Don Knotts, e o western “Matar ou Cair” (1966), com o mocinho Audie Murphy. Infelizmente, uma queda de cavalo nas filmagens do derradeiro lhe deixou com uma lesão nas costas, que encurtou sua carreira. Joan Staley não fez mais filmes, mas estrelou os 32 capítulos da série de comédia “Broadside”, spin-off de “A Marinha de McHale” centrada em uma unidade de marinheiras – como a sargento Roberta Love – , e teve papéis de destaque em episódios duplos das séries “Batman” e “Missão: Impossível”, antes de sumir das telas no final dos anos 1960, por ocasião de seu segundo casamento – com um executivo da gravadora MCA-Universal. Após longo hiato, voltou a ser vista num episódio de “Dallas”, seu último papel em 1982.
Richard Erdman (1925 – 2019)
O ator Richard Erdman, conhecido pelas novas gerações por interpretar o aluno mais velho de “Community”, morreu no sábado (16/3) aos 93 anos. Nenhum detalhe foi informado sobre seu falecimento. Com mais de 70 anos de carreira, Erdman participou de dezenas de filmes e séries, incluindo a versão original de “Além da Imaginação” (The Twilight Zone), na qual estrelou um dos episódios mais famosos da produção da década de 1960, como McNulty, um homem que ganha um relógio capaz de congelar o tempo. Erdman estreou no cinema aos 19 anos. Ele impressionou tanto o lendário diretor Michael Curtiz (de “Casablanca”) em testes para “Janie Tem Dois Namorados” (1944), como um dos namorados da Janie do título (Joyce Reynolds), que acabou assinando um contrato com a Warner, especializando-se em interpretar soldados, marinheiros, ajudantes e amigos engraçados. O início de sua carreira foi marcada por pequenos papéis em grandes clássicos, como “Um Punhado de Bravos” (1945), de Raoul Walsh, “Regeneração” (1946), de Jean Negulesco, e “Tormento de uma Glória” (1949), de Jacques Tourneur, até se destacar em “Espíritos Indômitos” (1950), de Fred Zinneman, na pele de Leo, um dos pacientes em uma ala paraplégica de veteranos de guerra que ajuda um furioso recém-chegado (ninguém menos que Marlon Brando em sua estréia no cinema) a se ajustar a uma nova vida na sociedade. Numa entrevista de 2010, Erdman lembrou com orgulho que o crítico do New York Times, Bosley Crowther, escreveu sobre o filme que “o sr. Brando é impressionante, mas ele tem algumas coisas para aprender com um ator de Hollywood chamado Richard Erdman”. Richard Erdman voltou a ganhar elogios como coadjuvante de Dick Powell e Rhonda Fleming, interpretando um ex-fuzileiro naval alcoólatra no clássico noir “Golpe do Destino” (1951), a estréia na direção de Robert Parrish, editor de filmes premiado com o Oscar. Fez ainda outro noir famoso, “Gardênia Azul” (1953), dirigido pelo mestre Fritz Lang, e algumas comédias, entre elas “O Biruta e o Folgado” (1951), com Dean Martin e Jerry Lewis, antes de viver um de seus papéis mais famosos, como o Sargento “Hoffy” Hoffman no icônico filme de prisioneiros de guerra “O Inferno Nº 17” (1953), obra-prima de Billy Wilder. Ele contou, numa entrevista de 2012, que “Wilder deu uma olhada em mim e disse: ‘Não ria. Nem uma pequena risada, porque você é a cola que mantém esse filme funcionando. Todo mundo é engraçado, menos você'”. Ao final dos anos 1950, Erdman passou a se dedicar mais à TV, chegando a estrelar as séries “Where’s Raymond?” e “The Tab Hunter Show”, de onde partiu para uma infindável leva de participações especiais – em “Perry Mason”, “Jeannie É um Gênio”, “A Família Buscapé”, “James West”, “O Agente da UNCLE” e até “Guerra, Sombra e Água Fresca”, a série inspirada em “O Inferno Nº 17”, entre inúmeras outras atrações. Voltou a se destacar no filme de guerra “Tora! Tora! Tora!” (1970), mas o resto de sua carreira foi basicamente na TV, onde trabalhou durante todos os anos seguintes, tanto como ator quanto dublador de séries animadas. Nos últimos anos, Erdman tinha reencontrado a popularidade graças às participações em “Community”, onde deu vida a Leonard, o aluno mais veterano da universidade Greendale, que era sempre repreendido pelo grupo de estudos de Jeff (Joel McHale) e cia. Ele apareceu em 53 episódios da série, exibida entre 2009 e 2015. Seu papel final foi como ele mesmo, numa participação de 2017 em “Dr. Ken”, série estrelada por Ken Jeong, seu colega de “Community”.
Dorothy Malone (1925 – 2018)
A atriz americana Dorothy Malone, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme “Palavras ao Vento” (1956), morreu na manhã de sexta-feira (19/1) aos 92 anos, por causas naturais. Malone iniciou a sua carreira artística nos anos 1940, estrelando dezenas de westerns e filmes noir, venceu o Oscar quase duas décadas depois e atingiu o pico de sua fama nos anos 1960, graças a seu trabalho na série “Caldeira do Diabo” (Peyton Place), exibida entre 1964 e 1969. Dorothy Eloise Maloney nasceu em Chicago em 30 de janeiro de 1925 e teve seu encontro com o destino enquanto estudava na faculdade para virar enfermeira. Sua beleza chamou atenção de um olheiro de Hollywood, que a levou a assinar um contrato com o estúdio RKO Radio Pictures aos 18 anos de idade. Ela figurou em inúmeras produções dos anos 1940, mas foi só quando se acertou com a Warner e encurtou o nome para Malone que sua carreira desabrochou. Howard Hawks ficou impressionado quando ela apareceu entre os figurantes do estúdio. Em 1946, a escalou em “A Beira do Abismo” (The Big Sleep), um dos maiores clássicos do cinema noir. Era um pequena participação, em que ela aparecia diante de Humphrey Bogart para fechar uma livraria e dizer uma única frase. Mais tarde, o diretor revelou que incluiu a sequência no filme “só porque a menina era muito bonita”. Em pouco tempo, seus diálogos aumentaram, num crescimento que envolveu filmes de verdadeiros gênios de Hollywood, como “Canção Inesquecível” (1946), de Michael Curtiz, “Ninho de Abutres” (1948), de Delmer Davis, e “Golpe de Misericórdia” (1949), de Raoul Walsh. Até que, a partir de 1949, seu nome passou a aparecer nos cartazes de cinema. Seu contrato de exclusividade acabou na virada da década, e ela seguiu carreira em westerns baratos, virando uma das “mocinhas” mais vistas nos filmes de cowboy da década de 1950 – ao lado de astros do gênero, como Joel McCrea, Randolph Scott, Jeff Chandler, Fred MacMurray, Richard Egan, Richard Widmark, Henry Fonda e… o futuro presidente Ronald Reagan. Ela chegou até a ilustrar um pôster dispensando “mocinhos”, de chapéu, calças e dois revólveres nas mãos – “Guerrilheiros do Sertão” (1951). Mas não abandonou o cinema noir, coadjuvando em “A Morte Espera no 322” (1954), de Richard Quine, “Dinheiro Maldito” (1954), de Don Siegel, e “Velozes e Furiosos” (1955), um dos primeiros filmes de carros de fuga, dirigido e estrelado por John Ireland. Todos cultuadíssimos. Também fez dois filmes com Jerry Lewis e Dean Martin, outro com Frank Sinatra e causou grande impacto no drama “Qual Será Nosso Amanhã” (1955), seu reencontro com o diretor Raoul Walsh, no papel da esposa solitária de um jovem fuzileiro (Tad Hunter) que embarca para a 2ª Guerra Mundial. Ela completou sua transformação no melodrama “Palavras ao Vento” (1956), do mestre Douglas Sirk. A morena deslumbrante virou uma loira fatal. E roubou a cena da protagonista – ninguém menos que Lauren Bacall. Como um Iago (com “I” maiúsculo”) de saias, ela semeava ciúmes e destruição em cena, colocando dois amigos (Rock Hudson e Robert Stark) em conflito por causa da personagem de Bacall, sem que nenhum tivesse feito nada de errado, além de amar a mesma mulher. Em meio a tantas estrelas, Malone venceu o único Oscar do filme, como Melhor Atriz Coadjuvante. A atriz voltou a se reunir com Hudson, Stack e o diretor Douglas Sirk em “Almas Maculadas” (1957), interpretou a mulher do lendário ator Lon Chaney na cinebiografia “O Homem das Mil Faces” (1957), até ver seu nome aparecer antes de todos os demais pela primeira vez, em “O Gosto Amargo da Glória” (1958). O filme era outra cinebiografia de atores célebres, em que Malone interpretou Diana Barrymore, tia de Drew Barrymore e filha do famoso John Barrymore (vivido no drama por Errol Flynn), numa espiral de autodestruição. No auge da carreira cinematográfica, ela fez seu derradeiro e melhor western, “O Último Por-do-Sol” (1961), uma superprodução estrelada por Rock Hudson e Kirk Douglas, escrita por Dalton Trumbo e dirigida por Robert Aldrich em glorioso “Eastman Color”, antes de inesperadamente virar a “coroa” de um filme de surfe, o cultuado “A Praia dos Amores” (1963), que lançou a “Turma da Praia” de Frankie Avalon e Annette Funicello. As novas gerações acabariam adorando Dorothy por outro papel, como a mãe solteira e superprotetora Constance MacKenzie na série “A Caldeira do Diabo”. A produção fez História como o primeiro novelão do horário nobre da TV americana. Além da narrativa melodramática, tinha a novidade de continuar no próximo capítulo, algo inédito na programação noturna da época, e de abordar sexo fora do casamento, outra ousadia. A personagem de Dorothy já tinha sido interpretado por Lana Turner no cinema, num filme de 1957 que rendeu o Oscar para a atriz. A versão televisiva trouxe uma indicação ao Globo de Ouro para Malone, que interpretava a mãe da futura esposa de Woody Allen, Mia Farrow. A atriz sofreu uma embolia pulmonar enquanto trabalhava na série em 1965 e precisou passar por sete horas de cirurgia durante a produção, sendo substituída temporariamente por outra atriz no programa. Mas também teve que lutar por sua vida na ficção, quando os roteiristas resolveram “matá-la” em 1968, após reclamações de descaso com sua personagem. Dorothy foi à justiça contra a 20th Century Fox e recebeu uma fortuna – mais de US$ 1 milhão na época – e sua Constance sobreviveu, mas saiu da série. Sem problemas, pois “A Caldeira do Diabo” acabou no ano seguinte sem ela. Apesar do clima inamistoso com que saiu da produção, a atriz voltou ao papel de Constance MacKenzie mais duas vezes, em telefilmes que reuniram o elenco original da série, exibidos em 1977 e 1985. Ela ainda contracenou com Alain Delon no giallo “Crepúsculo dos Insaciáveis” (1969), mas o resto de sua carreira foi preenchido por pequenas participações em filmes e séries. Seu último trabalho aconteceu em 1992, no papel de uma amiga de Sharon Stone no suspense “Instinto Selvagem”. O sucesso profissional não se refletiu em sua vida pessoal. Seus casamentos duraram pouco. O primeiro foi com o ator francês Jacques Bergerac, ex-marido de Ginger Rogers, em 1959, com quem teve duas filhas. O matrimônio terminou num divórcio amargo, em que Malone acusou Bergerac de se casar com atrizes famosas para promover sua própria carreira. Em 1969, ela se uniu ao empresário Robert Tomarkin, mas o casamento foi anulado em questão de semanas, com acusações ainda piores: ele seria um golpista tentando extorqui-la – anos depois, Tomarkin foi preso por roubo. O último casamento foi com um executivo do ramo de motéis, Charles Huston Bell, em 1971. Igualmente curto, terminou após três anos. Dorothy Malone costumava dizer que sua vida tinha mais drama que a ficção de “A Caldeira do Diabo”. Cinéfilos também poderiam afirmar que ela foi uma atriz com muito mais classe que a maioria dos filmes que estrelou. Mas quando se portava mal, fazia um bem danado para o cinema.
Jerry Lewis (1926 – 2017)
Morreu Jerry Lewis, “O Rei da Comédia”, como lhe intitulou um filme de Martin Scorsese. Ele faleceu no domingo (20/8) em sua casa em Las Vegas, aos 91 anos, de uma doença cardíaca. Ator, roteirista, produtor e diretor, Lewis foi considerado um gênio ainda nos anos 1960 pela crítica francesa, e, como se sabe, os americanos transformaram esse reconhecimento numa piada sobre o gosto dos franceses, relutando em reconhecer sua importância na história do cinema. Entretanto, Jerry Lewis foi importantíssimo. Não apenas por estrelar inúmeros clássicos da comédia, mas por suas inovações, tanto diante das câmeras, com um humor físico levado a limites nunca antes testados, como também atrás delas. Sua contribuição para a direção de cinema é inestimável. Foi ele quem introduziu o uso do monitor de filmagens no estúdio, no qual podia verificar instantaneamente cenas recém-rodadas. Até então, os diretores só viam o resultado de seus trabalhos durante o processo de montagem, na pós-produção. Mas Lewis improvisava o tempo inteiro e queria verificar se o take tinha funcionado na hora da filmagem. Todos os outros diretores o copiaram. Filho de músicos profissionais, Lewis nasceu Joseph Levitch em 16 de março de 1926, em Newark, Nova Jersey, e fez sua estreia aos cinco anos em um hotel de Nova York, cantando “Brother, Can You Spare a Dime?”. Ele abandonou os estudos no ensino médio para seguir sua paixão pelo palco, fazendo shows em que imitava cantores populares, nos mesmos lugares em que também trabalhava como garçom. Aos 20 anos, em julho de 1946, enquanto atuava no 500 Club em Atlantic City, um dos artistas com quem trabalhava desistiu abruptamente e ele precisou encontrar um novo parceiro para dividir o show. Acabou se juntando a Dean Martin, e as apresentações da dupla se tornaram uma sensação. Os salários, que eram de US$ 250 por semana, dispararam para US$ 5 mil e eles foram parar na Broadway, com espetáculos tão disputados que causavam congestionamento na Times Square, em Nova York. O contraste de personalidades entre o introvertido Lewis e o sedutor Martin chamou atenção do produtor de cinema Hal Wallis, que os contratou para o casting da Paramount. Em seu primeiro filme, “Amiga da Onça” (1949), eles apareceram apenas como coadjuvantes, mas roubaram as cenas. E após a continuação, “Minha Amiga Maluca” (1950), não houve mais como conter o protagonismo da dupla. A partir de “O Palhaço do Batalhão” (1950), Martin e Lewis emendaram uma produção atrás da outra, estrelando nada menos que 14 filmes em seis anos, até o final da parceria em “Ou Vai ou Racha” (1956). O cantor começou a achar ruim o fato de ser menos reconhecido que o parceiro e desfez a dupla. Eles só voltaram a se encontrar 20 anos depois, num evento beneficente, quando Frank Sinatra surpreendeu o anfitrião Lewis trazendo o ex-amigo ao Teleton de 1976. Lewis era mesmo o astro da dupla, pois imediatamente renegociou com a Paramount, recebendo US$ 10 milhões para fazer mais 14 filmes durante um período de sete anos – negócio jamais visto em Hollywood. E esse período marcou o auge de sua criatividade. Sem ter que dividir os holofotes ou incluir uma pausa obrigatória para as músicas de Martin, Lewis deu vazão à sua influência do cinema mudo, tornando sua persona cinematográfica ainda mais maníaca, com contorcionismos e caretas que marcaram época. Seu primeiro filme como protagonista solo foi “O Delinquente Delicado” (1957), e a lista inicial inclui “Bancando a Ama-Seca” (1958), em que ele aceita cuidar de trigêmeos de uma antiga paixão. O sucesso desse filme ampliou seu público infantil. A grande guinada de sua carreira, porém, aconteceu quase por acaso. Em 1960, a Paramount não tinha filme para lançar no Natal e Jerry Lewis propôs rodar uma produção em um mês, desde que também assinasse o roteiro e dirigisse. O estúdio topou e o resultado foi um de seus maiores sucessos, “O Mensageiro Trapalhão”, um filme falado sobre um personagem mudo, grande influência no futuro Mr. Bean. A partir daí, Lewis virou um autor. Além de estrelar, também passou a escrever, dirigir e produzir seus filmes. E sua criatividade fluiu como nunca, rendendo “O Mocinho Encrenqueiro” (1961), com cenas de metalinguagem que o mostravam aprontando num grande estúdio de cinema, e “O Terror das Mulheres” (1961), filmado num único cenário compartimentado para simular, feito sitcom, um prédio de dormitório universitário feminino em que ele trabalhava como zelador. A obra-prima veio em 1963. “O Professor Aloprado” foi disparado o seu filme mais autoral. Atualização da trama gótica de “O Médico e o Monstro”, trazia o comediante como um professor universitário nerd e introvertido, que inventava uma poção para se transformar num cantor sedutor, capaz de encantar as mulheres. Era uma referência escancarada à antiga parceria com Dean Martin. Ao fazer sucesso se revezando em dois papéis, ele decidiu ousar ainda mais e se multiplicar em seus filmes seguintes. Interpretou nada menos que sete personagens, uma família inteira, em “Uma Família Fulera” (1965), e outros cinco em “3 em um Sofá” (1966), no qual contracenou com Janet Leigh (“Psicose”). Lewis ficou tão popular que virou história em quadrinhos e até apareceu na série “Batman” como ele mesmo, numa pequena participação em 1966. Mas os gostos mudaram radicalmente em pouco tempo. A politização cada vez maior da juventude, público alvo das comédias do ator, resultando em queda nas bilheterias de seus filmes seguintes. Houve quem dissesse que a implosão foi culpa dele próprio. Seu ego estaria fora de controle. Para complicar, em 1965 ele se machucou numa filmagem e passou a tomar analgésicos. Acabou se viciando em Percodan. Ele tentou apelar para o que estava em voga. Foi ao espaço (“Um Biruta em Órbita”, de 1966) e até buscou o visual mod de Londres (“Um Golpe das Arábias”, 1968), mas nada colou. Sem conseguir emplacar mais sucessos, em 1972 Lewis escreveu, dirigiu e estrelou o filme mais controverso de sua carreira – e da história do cinema. “The Day the Clown Cried” (“O dia em que o palhaço chorou”, em tradução literal) trazia o ator como um palhaço alemão que, durante a 2ª Guerra Mundial, tem como tarefa divertir as crianças judias a caminho da câmara de gás. Ao ver o resultado, Lewis proibiu seu lançamento. Apenas uma cópia sobreviveu à destruição e, em 2015, foi adquirida pela Biblioteca do Congresso Americano para preservação. A experiência de “The Day the Clown Cried” o deixou em depressão profunda e ele só foi voltar a filmar em 1980, num hiato de uma década em sua carreira. Mas “Um Trapalhão Mandando Brasa” não foi o revival que ele esperava. A frustração com a carreira ajuda a explicar sua incursão dramática, dois anos depois, em “O Rei da Comédia” (1982). No filme de Martin Scorsese, Lewis vive um astro de talk show noturno que é sequestrado por um comediante aspirante, vivido por Robert De Niro. Lewis convenceu Scorsese a modificar o roteiro, incluindo várias referências de sua própria biografia na trama, como reações maldosas de fãs frustrados. Ele também encheu o filme de improvisos, desenvolvendo um humor amargo e autodepreciativo que acabou por influenciar uma nova geração de humoristas – como Garry Shandling, Steve Coogan, Ricky Gervais, Larry David e Jerry Seinfeld. O sucesso e o impacto de “O Rei da Comédia” foram inesperados para Lewis, que finalmente se viu na situação em que sempre se achou merecedor: saudado pela crítica norte-americana. Animado pela repercussão positiva, foi novamente escrever, dirigir e estrelar múltiplos papéis em nova retomada da carreira. Mas as bilheterias de “Cracking Up – As Loucuras de Jerry Lewis” (1983) deixaram claro que o sucesso de “O Rei da Comédia” aconteceu por uma renovação de sua persona. Ao tentar voltar a ser o velho Jerry Lewis, descobriu-se ultrapassado. Não era mais o que o público queria. O ator ainda pareceu como coadjuvante de luxo em alguns filmes e séries, entre eles “Cookie” (1989), “Mr. Saturday Night – A Arte de Fazer Rir” (1992), “Arizona Dream: Um Sonho Americano” (1993) e principalmente “Rir É Viver” (1995), no qual realizou uma de suas melhores interpretações, como um comediante veterano de Las Vegas que acaba roubando a cena do filho que quer seguir seus passos. A saúde do ator deteriorou muito nos anos 1990, o que o levou a se afastar das telas. Por isso, foi uma grande surpresa quando ele realizou um retorno dramático, como protagonista do filme “Max Rose” (2013), uma história sobre o fim da vida. Ele ainda encontrou vontade e força para participar de mais dois filmes, a comédia brasileira “Até que a Sorte nos Separe 2” (2013), na qual retomou seu personagem clássico de “O Mensageiro Trapalhão”, e o thriller “A Sacada” (2016), como o pai de Nicolas Cage, último papel de sua carreira. Mas a importância de Lewis não se restringiu apenas ao cinema. Ele também se notabilizou como apresentador de longa data do Teleton, campanha televisiva beneficente que preconizou eventos similares no mundo inteiro, como o “Criança Esperança” da Globo. Seu programa anual levantou fortunas, ao longo de décadas, para ajudar crianças vítimas de Distrofia Muscular. Ele liderou o Teleton mesmo enfrentou diversos problemas de saúde. Em 1983, passou por uma cirurgia no coração. Em 1992, precisou fazer uma operação após ser diagnosticado com câncer de próstata. Passou por tratamento contra dependência em medicamentos em 2003. E, em 2006, sofreu um ataque cardíaco. Além disso, tratava há anos de fibrose pulmonar, doença crônica nos pulmões. Apesar do corpo tentar desistir, sua mente não dava sinais de cansaço, como lembrou Robert DeNiro. Até o fim da vida, Lewis permaneceu ativo e inigualável. “Mesmo aos 91, ele não perdia o ritmo. Ou a piada”, lembrou o ator no Twitter, ao contar ter visto um show do comediante há poucas semanas. “Jerry Lewis foi um pioneiro da comédia e do cinema. E foi um amigo. Sua falta será sentida.” “Aquele cara não era brinquedo, não! Jerry Lewis era um gênio inegável, uma benção insondável, a comédia absoluta!”, elogiou Jim Carrey, que sempre foi comparado a Lewis em sua carreira. “Eu sou, porque ele era!”
Zsa Zsa Gabor (1917 – 2016)
Morreu a atriz Zsa Zsa Gabor, uma das primeiras estrelas a se tornar mais conhecida como celebridade do que por seus papéis. Ela faleceu no domingo (18/12) em sua casa em Los Angeles, aos 99 anos, de uma parada cardíaca, após quase uma década de luta contra diversas doenças. Gabor tinha piorado muito nos últimos dias e seu marido – o nono – convidou seus parentes para que comemorassem com ela seu centenário antecipadamente. A atriz sofreu um infarto e foi levada ao hospital onde os médicos não puderam fazer nada para salvar sua vida. Ela estava com um delicado estado de saúde desde que sofreu um acidente de trânsito em 2002, situação agravada por uma embolia e um derrame em 2005, além de uma fratura de quadril em 2011. A atriz, que ia completar 100 anos em fevereiro, nasceu em 1917 na Hungria e chegou a Hollywood seguindo os passos de sua irmã Eva. Ela começou a carreira com 35 anos, o que não era comum na indústria cinematográfica dos anos 1950. Mas depois de figurar em “O Amor Nasceu em Paris” (1952) conseguiu coadjuvar em mais dois musicais, “Moulin Rouge” (1952), de John Huston, no qual interpretou uma modelo do pintor Toulouse Lautrec, e “Lili” (1953), de Charles Walters. O sucesso destes filmes a levou ironicamente de volta à Europa, rendendo convites para estrelar filmes franceses num grande upgrade em sua carreira: como protagonista. Ela virou a cabeça de um bandido em “O Inimigo Público Nº 1” (1953) e de um toureador em “Luz e Sangue” (1954). Mas o nome nos cartazes franceses não saciaram seu desejo por fama e Zsa Zsa preferiu voltar a coadjuvar em Hollywood, aparecendo em “O Rei do Circo” (1954), ao lado de Jerry Lewis e Dean Martin, e “Destruí Minha Própria Vida”(1956), um drama noir em que disputou com Yvonne de Carlo (a futura Lili Monstro da série “Os Monstros”) quem era a mulher mais fatal. Por esta época, Zsa Zsa começou a aparecer em programas de variedade na TV, arrancando risos do público com seu sotaque, personalidade e carisma marcantes. Daí para fazer rir em sitcoms foi um pulo. Ela foi convidada a participar de um episódio de “The Red Skelton Show” para representar uma “estrela de cinema” e, um ano depois, contratada para interpretar, pela primeira vez, a si mesma num programa de ficção. Não só isso, o título do episódio da série de comédia “The Bob Cummings Show” tinha seu nome: “Vovô encontra Zsa Zsa Gabor”. A exposição fez bem para sua carreira, rendendo-lhe o papel de dona de um clube de strip-tease no clássico “A Marca da Maldade” (1958), de Orson Welles, mas principalmente transformando-a em chamariz de bilheterias de filmes de baixo orçamento. Ela virou a rainha dos filmes B, estrelando produções sensacionalistas como “A Prisioneira do Kremlin” (1957) e principalmente “Rebelião dos Planetas” (1958). Este filme ruim se tornou cultuadíssimo pela trama fetichista, que acompanhava o pouso da primeira espaçonave americana em Vênus, um planeta habitado apenas por mulheres belíssimas e governado por uma rainha despótica (Zsa Zsa). Ela voltou a viver Zsa Zsa Gabor em “Pepe” (1960), comédia estrelada por Cantinflas, e basicamente seguiu sendo um clichê de si mesma, aparecendo também como Zsa Zsa, a “rainha de Vênus”, em “Dois Errados no Espaço” (1962), e Zsa Zsa, a celebridade que sua diamantes, no filme de assalto “Valete de Ouros” (1967). Nos anos 1960, ainda participou de diversas séries de impacto popular, como “Mister Ed”, “A Ilha dos Birutas”, “Bonanza” e até “Batman”, na qual viveu a vilã Minerva. “Famosa por ser famosa”, como chegou a se definir, fazia de tudo para aparecer, investindo na excentricidade. Sua origem estrangeira ajudou a popularizar seu bordão: “querido” com um forte sotaque – porque, como ela dizia, “não lembrava do nome de ninguém”. Mas a personagem Zsa Zsa tinha frases inteiras prontas para o close-up. Sempre com colar de diamantes, ela fazia questão de avisar para quem elogiasse: “Querido, estes são só meus diamantes de trabalho”. Ou: “Nunca odiei um homem o suficiente como para devolver-lhe suas joias”. Suas frases espirituosas eram mais engraçadas e sua vida privada mais cheia de ação que seus filmes e isso a ajudou a permanecer na mídia. Não por acaso, seus romances também tiveram mais astros que suas produções, envolvendo de Frank Sinatra a Howard Hughes. Ela jamais escondeu sua preferência por ricos e famosos. Foram nove maridos ao todo, entre eles Conrad Hilton, dono dos hotéis Hilton, com quem teve sua única filha, Francesca. Hilton nunca acreditou que a menina fosse sua e a deixou fora de sua herança. Graças à voracidade sexual e a ostentação que os tabloides transformaram em lenda, a atriz acabou quebrando barreiras em Hollywood ao continuar vivendo personagens glamourosas com 60 anos de idade – como na comédia “O Que Toda Mulher Tem” (1978). Zsa Zsa transcendeu a idade e qualquer papel para se dedicar a viver Zsa Zsa Gabor em tempo integral a partir dos anos 1980. Interpretou variações dela mesma em séries tão diferentes quanto “O Barco do Amor”, “Knots Landing”, “Pee Wee’s Playhouse”, “Um Maluco no Pedaço” e “Cybill”, além de aparecer em filmes de sucesso como “A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos” (1987), “Corra Que a Polícia Vem Aí 2 1/2” (1991), “A Família Buscapé” (1993) e “A Volta da Família Sol Lá Si Dó” (1996), seu último trabalho, aos 79 anos. Sua vida pessoal continuou rendendo notícias por anos, principalmente por conta de seu último casamento em 1986, com Frederick von Anhalt, 30 anos mais novo, que se apresentava como príncipe alemão, mas que tinha uma ficha corrida de pelo menos 15 problemas judiciais. Ainda assim, ficaram juntos até a morte dela. A atriz manteve o mesmo temperamento e atitude inabalável até o fim. Mas os tempos mudaram enquanto ela permaneceu Zsa Zsa. E, infelizmente, isso acabou levando-a para a cadeia. Detida por dirigir embriagada em alta velocidade, ela esbofeteou o policial que teve a audácia de pará-la em 1989. Afinal, ela era uma estrela, como sua carteira de motorista vencida poderia facilmente comprovar. Ou o simples fato de estar dirigindo um Rolls-Royce – com um porta-bebidas cheio de whisky. Passou três dias presa e prestou 120 horas de trabalho comunitário. Mas adorou a atenção da mídia durante todo o período e pôde até estrelar um novo filme – um documentário sobre o incidente. Em 1992, publicou suas memórias, “Uma Vida Não É Suficiente”, com revelações sobre seus maridos e amantes. Sobre sua preferência por maridos bem-sucedidos, afirmou: “Eu quero um homem que seja bondoso e compreensivo. É demais pedir um milionário?”. Outra: “Um homem apaixonado está incompleto até que esteja casado. Então, está acabado”. No livro, ela também se definiu como uma ótima dona de casa. “Toda vez que me divorcio, eu fico com a casa”.





