Terrorista pede testemunho de Clint Eastwood em julgamento na França
A defesa do terrorista marroquino Ayoub el Khazzani, que tentou cometer um atentado armado, disparando a bordo de um trem europeu em agosto de 2015, tentou convocar o veterano cineasta Clint Eastwood como testemunho de seu julgamento, que começou na segunda-feira (16/11) em Paris. A advogada de Khazzani pediu à corte que Eastwood fosse intimado a comparecer como testemunha, alegando que ele poderia “lançar alguma luz” sobre a autenticidade das cenas de seu filme “15h17: Trem para Paris”, que retrata o atentado. O filme de Eastwood se baseia em um livro escrito por três militares americanos que estavam a passeio no trem e impediram o atentado. Os próprios heróis da vida real interpretaram a si mesmos no longa, que, por conta disso, teria bastante veracidade. Só que em seu depoimento, Khazzani disse que tinha decidido desistir do ataque no último segundo, mas que acabou sendo tarde demais para evitar o confronto com os militares, segundo uma fonte judicial ouvida pela agência Reuters. O filme de Eastwood não mostra esta suposta mudança de opinião, e a advogada de defesa teme que isso possa influenciar o júri durante o julgamento. Ela queria questionar Eastwood sobre quais instruções deu sobre a cena ao dirigi-la. O pedido para intimar o cineasta americano acabou rejeitado pela procuradoria francesa, com a alegação de que ele não testemunhou o incidente e que não faria sentido convocar um homem de 90 anos a viajar dos EUA até Paris para dizer exatamente isto durante uma pandemia. Veja o trailer do filme abaixo.
Clint Eastwood negocia estrelar e dirigir faroeste moderno aos 90 anos
Clint Eastwood não quer nem saber de se aposentar. Aos 90 anos, ele está negociando seu retorno à frente e atrás das telas, para estrelar e dirigir o longa “Cry Macho” para a Warner Bros. De acordo com a publicação, o diretor já está procurando as locações para começar o trabalho, ainda que o filme não tenha recebido uma encomenda formal de produção. “Cry Macho” é baseado no livro homônimo de 1975, escrito por N. Richard Nash, que tem clima de faroeste moderno e gira em torno de um ex-astro de rodeio e criador de cavalos que aceita o pedido de um antigo patrão para trazer o filho do homem para casa, afastando-o de sua mãe alcoólatra. Atravessando a zona rural do México em seu caminho de volta para o Texas, a dupla enfrenta uma jornada inesperadamente desafiadora, durante a qual o cavaleiro cansado do mundo tenta encontrar seu próprio senso de redenção ensinando ao menino o que significa ser um bom homem. O último filme em que Clint Eastwood atuou foi “A Mula”, de 2018, depois de um hiato de seis anos. Ele também dirigiu “A Mula”, como fará em “Cry Macho”.
Martin Scorsese, James Cameron e Clint Eastwood alertam que pandemia pode matar o cinema
Mais de 70 diretores e produtores de Hollywood, entre eles os cineastas vencedores do Oscar James Cameron, Clint Eastwood e Martin Scorsese, uniram forças com proprietários de cinemas em um alerta e apelo por ajuda financeira do governo dos EUA, dizendo temer pelo futuro da indústria. Em uma carta aos líderes do Senado e da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, eles disseram que o fechamento das salas causado pelo coronavírus teve um efeito devastador e que, sem recursos, “os cinemas podem não sobreviver ao impacto da pandemia”. Além das assinaturas individuais, o documento é endossado pelo Sindicato dos Diretores, a Associação Nacional dos Proprietários de Cinema e a Associação do Cinema dos EUA. Devido à pandemia os cinemas paralisaram suas projeções em meados de março nos EUA. Embora grandes redes, incluindo AMC Entertainment e Cineworld, já tenham reaberto algumas salas com capacidade reduzida, os principais maiores do país, em Los Angeles e Nova York, continuam com a política de salas fechadas. Para piorar, os esforços para levar o público de volta ao cinema fracassaram. A iniciativa da Warner de lançar “Tenet” resultou em uma bilheteria muito abaixo do esperado nos EUA e, diante do receio de perder fortunas, os estúdios de Hollywood atrasaram o lançamento de filmes prontos, como “Viúva Negra” e “Top Gun: Maverick”, para 2021. A este quadro, somam-se ainda a decisão da Disney de lançar “Mulan” em streaming e um acordo histórico, firmado entre o estúdio Universal e os cinemas da rede AMC, para diminuir drasticamente a janela de exibição entre os lançamentos cinematográficos e sua disponibilização em streaming. Diante de todos esses desdobramentos, o cenário vislumbrado para o futuro dos cinemas parece realmente ser apocalíptico.
Produtor de Criminal Minds desenvolve série baseada em Por Um Punhado de Dólares
O clássico spaghetti western que ajudou a lançar a carreira cinematográfica de Clint Eastwood pode virar série. O projeto está sendo desenvolvido pelo produtor Mark Gordon (de “Criminal Minds”), que adquiriu os direitos do filme “Por Um Punhado de Dólares” (1964) e também do épico samurai “Yojimbo” (1961), de Akira Kurosawa, no qual o western de Sergio Leone foi baseado. De acordo com o site Deadline, o roteirista Bryan Cogman, autor de alguns dos melhores episódios de “Game of Thrones”, está em negociações para ser o showrunner da série. Tanto “Yojimbo” quanto “Por Um Punhado de Dólares” contam a história de um “homem sem nome”, que chega a uma cidade crivada de violência e usa de sagacidade e habilidade para enganar as gangues rivais da cidade e fazê-las se destruírem. A série pretende aproveitar essa premissa para criar uma versão original e contemporânea da história. Vale lembrar que, além das famosas versões samurai e western, a trama do “estranho sem nome” também já foi adaptada como uma história mafiosa de gângsteres no filme de Walter Hill “O Último Matador” (1996), estrelado por Bruce Willis.
Reni Santoni (1939 – 2020)
O ator Reni Santoni, que trabalhou em “Dirty Harry” e na série “Seinfeld”, morreu no sábado (1/8) em Los Angeles, aos 81 anos, com vários problemas de saúde que incluíam câncer. O nova-iorquino Santoni era mais conhecido como autor de peças de vanguarda, do circuito off-Broadway, quando interpretou um viciado em “O Homem do Prego” (1964), de Sidney Lumet, em seu primeiro papel de destaque no cinema. Ele virou protagonista logo em seguida, em “Onde Começa o Sucesso” (1966), de Carl Reiner. Baseado num livro de Reiner já levado ao teatro, o filme trazia Santoni como um jovem aspirante a ator, que era escolhido para um trabalho mesmo sem ter experiência. O desempenho foi elogiado pelo célebre e exigente crítico Rober Ebert, mas o filme em geral foi considerado muito fraco, impedindo maior projeção para Santoni, que voltou a viver coadjuvantes em seus trabalhos seguintes, como “A Batalha de Anzio” (1968) e “A Revolta dos Sete Homens” (1969). Um de seus papéis de coadjuvante mais lembrados foi Chico, o parceiro novato do detetive “Dirty” Harry Callahan (Clint Eastwood) no policial clássico “Perseguidor Implacável” (Dirty Harry, 1971). Na trama, ele era emparelhado com o policial durão após o parceiro anterior de Callahan ser baleado, e era sempre ridicularizado por ser um “garoto da faculdade” – tinha nada menos que um diploma em sociologia. Anos mais tarde, Santoni virou parceiro até de Sylvester Stallone em “Stallone: Cobra” (1986). Atuou também como carcereiro do delinquente Sean Penn em “Juventude em Fúria” (1983). E fez muitas comédias, voltando a se juntar ao diretor Carl Reiner em dois filmes: “Cliente Morto Não Paga” (1982), estrelado por Steve Martin, e “Aluga-se para o Verão” (1985), com John Candy. Ele ainda contracenou com Candy no sucesso “Chuva de Milhões” (1985), de Walter Hill, com Robert Downey Jr. em “O Rei da Paquera” (1987), e com Michael J. Fox em “Nova York – Uma Cidade em Delírio” (1988), entre outras produções. Paralelamente, fez muitas participações em séries, incluindo “Havaí 5-0”, “As Panteras”, “Miami Vice” e “CHiPs”, além de ter integrado o elenco fixo de “Manimal” e interpretado papéis recorrentes em “Owen Marshall: Counselor at Law”, “Chumbo Grosso” (Hill Street Blues), “Midnight Caller”, “Nova Iorque Contra o Crime” (NYPD Blue), “O Desafio” (The Practice) e principalmente “Seinfeld”. Ele apareceu quatro vezes em “Seinfeld” como Poppie, gerente um restaurante italiano que enojava Jerry por não lavar as mãos após ir ao banheiro e mexer na massa. Fora das telas, Santoni teve um longo relacionamento romântico com a atriz Betty Thomas. Os dois se conheceram nos bastidores de “Chumbo Grosso”. Quando Thomas virou diretora, ele acabou aparecendo em pequenos papéis nos cinco primeiros filmes dela – “O Paraíso te Espera” (1992), “A Família Sol, Lá, Si, Dó” (1995), “O Rei da Baixaria” (1997), “Dr. Dolittle” (1998) e “28 Dias” (2000). Seus últimos trabalhos foram nas séries “CSI”, “Grey’s Anatomy”, “Raising the Bar” e “Franklin & Bash”.
John Saxon (1935 – 2020)
O ator John Saxon, que enfrentou Bruce Lee em “Operação Dragão” e Freddy Krueger em três filmes de “A Hora do Pesadelo”, morreu neste sábado (25/7), de pneumonia aos 83 anos. Ítalo-americano do Brooklyn, o ator interpretou personagens de várias etnias durante sua longa carreira, iniciada em 1954 com figurações nos clássicos “Demônio de Mulher” e “Nasce uma Estrela”, ambos dirigidos por George Cukor. Mas seu nome verdadeiro não era John, muito menos Saxon. Ele nasceu Carmine Orrico em 5 de agosto de 1936. Filho mais velho de um imigrante italiano, teve seu destino decidido num dia em que decidiu faltar à aula e ir ao cinema. Na saída da sessão, foi parado por um agente de modelos que lhe deixou um cartão e convite para testes. E começou a fazer fotonovelas. Aos 17 anos, já tinha agente – o mesmo que lançou as carreiras de Rock Hudson e Tab Hunter – e pseudônimo. Decidido a fazer cinema, estudou atuação e voou para Hollywood, onde participou de um workshop da Universal e foi contratado para aparecer nos filmes do estúdio. Depois das primeiras figurações, conseguiu seu primeiro papel de coadjuvante no drama de delinquentes “Running Wild” (1955), com Mamie Van Doren – a Marilyn Monroe dos filmes B. A estreia como protagonista aconteceu logo em seguida, em “Curvas e Requebros” (1956), em que tinha uma banda de rock com Sal Mineo (“Juventude Transviada”). Ele também foi roqueiro em “Estação do Amor” (1957) e namorou Sandra Dee no drama “Corações em Suplício” (1958), enquanto estrelava comédias de diretores famosos, como “Tudo Pelo Teu Amor” (1958), de Blake Edwards, e “Brotinho Indócil” (1958), de Vincente Minnelli. Os papéis de adolescente chegaram ao fim no começo dos anos 1960, mas Saxon se reinventou. Ele integrou o elenco dos westerns “O Passado Não Perdoa” (1960), de John Huston, “Os Destruidores” (1960), com Jeff Chandler, e “Quadrilha do Inferno” (1961), com Audie Murphy, e protagonizou o drama de guerra “Obsessão de Matar” (1962), como um dos psicopatas mais realistas de Hollywood, até o fim de seu contrato com a Universal o levar a filmar na Itália. Entre títulos de spaghetti western e guerra, Saxon acabou descobrindo o terror no cinema italiano, ao estrelar “Olhos Diabólicos” (1963), do mestre Mario Bava, primeiro filme de um gênero em que acabou se especializando. A lista de terrores de sua filmografia inclui vários títulos cultuados, como “Queen of Blood” (1966), produção de Roger Corman sobre uma vampira espacial que inspirou o primeiro “Alien” (1979), e “Noite do Terror” (1974), que já ganhou dois remakes – o mais recente no ano passado. Mas houve uma fase, ao voltar da Europa, que ele viu sua carreira restrita a trabalhos televisivos. Saxon apareceu em vários episódios de séries clássicas, como “Cimarron”, “Bonanza”, “Winchester 73”, “O Rei dos Ladrões”, “Os Audaciosos”, “Têmpera de Aço”, “O Homem de Virgínia”, “Gunsmoke”, “Arquivo Confidencial”, “Galeria do Terror”, “Kung Fu” e chegou até a viver Marco Polo em “Túnel do Tempo”. Felizmente, Saxon conseguiu encaixar papéis de cinema entre os capítulos da semana. E alguns dos filmes que estrelou a seguir acabaram entrando para a história do cinema. Ele começou sua volta por cima ao aparecer como bandido mexicano caçado por Clint Eastwood no western “Joe Kidd” (1972), de John Sturges. E, principalmente, ao enfrentar e se aliar a Bruce Lee no cultuadíssimo “Operação Dragão” (1973), um dos mais influentes filmes de artes marciais de todos os tempos. O sucesso internacional de “Operação Dragão” lhe rendeu um segundo ciclo italiano, desta vez praticamente restrito ao gênero policial, trabalhando com os especialistas Alberto De Martino e Humberto Lenzi. Mas o retorno aos EUA não foi diferente da primeira vez. Saxon retornou ao universo das séries, mas por estar mais conhecido, foi escalado como o vilão do crossover de 1976 entre “O Homem de Seis Milhões de Dólares” e a “Mulher Biônica”, lutou contra Linda Carter em um episódio duplo de “Mulher-Maravilha” – como nazista! -, viveu um poderoso magnata do Oriente Médio que namorou Alexis Colby (Joan Collins) num arco de “Dinastia” e ainda apareceu em 32 episódios como pai de Lorenzo Lamas em “Falcon Crest”. Saxon fez mais uma tentativa de retornar a Hollywood com “O Cavaleiro Elétrico” (1979), estrelado por Robert Redford, e na “Guerra nas Estrelas” barata de Roger Corman, chamada “Mercenários das Galáxias” (1980). Mas acabou retornando mesmo foi ao cinema italiano, desta vez ao mondo bizarro de “Canibais do Apocalipse” (1980), de Antonio Margheriti, e ao célebre giallo “Tenebre” (1982), de Dario Argento. Esta fase de terror culminou em sua escalação na obra-prima do gênero “A Hora do Pesadelo” (1984), de Wes Craven, em que viveu o pai policial da protagonista Nancy Thompson (Heather Lagenkamp). Saxon voltou em mais duas continuações: na única sequência escrita por Craven, “A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos” (1987), e na versão metalinguística da saga, “O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger” (1994), em que viveu a si mesmo, o ator John Saxon, que interpretava o Tenente Thompson. Este também foi o terceiro e último filme de Craven na franquia. O renascimento como astro de terror o inspirou até a virar diretor. Ele comandou um único filme na carreira, “Corredor da Morte” (1988), similar às produções baratas que estrelou na Itália. Foi um fracasso tão grande que nunca mais se arriscou. Após uma fase de muitos filmes ruins lançados direto em vídeo, Saxon reapareceu como vilão de blockbuster em “Um Tira da Pesada III” (1994) e como policial num terror cultuado, “Um Drink no Inferno” (1996), dirigido por Robert Rodriguez e escrito e estrelado por Quentin Tarantino. Ele também coestrelou “Genghis Khan: The Story of a Lifetime” (2010), último trabalho do mestre britânico Ken Anakin, codirigido por Antonio Margheriti. E continuava ativo, com dois projetos em desenvolvimento no momento de sua morte. John Saxon foi casado três vezes, com a roteirista Mary Ann Murphy, a comissária de bordo que virou atriz Elizabeth Saxon e, desde 2008, com cosmetóloga Gloria Martel. Os sobreviventes incluem dois filhos, um neto e um bisneto batizado com seu nome.
Clint Eastwood processa remédio por uso fraudulento de seu nome
O ator e cineasta Clint Eastwood está processando fabricantes e comerciantes do remédio canabidiol (CDB) nos EUA por fazerem fraude usando seu nome. Ele entrou com duas ações no tribunal de Los Angeles contra várias empresas por tentarem relacioná-lo à droga de diferentes maneiras. O primeiro processo tem como alvo empresas envolvidas com a publicação e divulgação de artigos com entrevistas falsas, ilustradas por fotos de Eastwood, alegando que o astro de 90 anos é usuário e entusiasta da droga. Os textos também atribuíam ao diretor encontros para promover e vender produtos. A ação indica ainda que as três empresas — Sera Labs Inc, Greendios e For Our Vets LLC — enviaram e-mails de spam com o assunto “Clint Eastwood expõe um segredo impactante hoje”, que faziam referência a uma suposta entrevista à rede NBC, que nunca ocorreu. “A verdade é que o senhor Eastwood não tem nenhuma relação com nenhum produto de CBD e nunca deu tal entrevista”, assinala o processo por difamação, que busca “responsabilizar as pessoas e entidades que se beneficiaram ilegalmente do seu nome e semelhança”. O segundo processo visa 10 empresas e indivíduos de vários estados americanos, acusados de usarem tags embutidas nos códigos de páginas do remédio para que buscas com o nome do ator apontassem para os sites dos demandados. “Colocaram, no sentido figurado, um cartaz com a marca do senhor Eastwood na frente de sua loja eletrônica, para atrair clientes, e fizeram o consumidor acreditar que o senhor Eastwood estava associado ou apoiava essas empresas”, destaca o texto da ação. Eastwood, que reclama milhões de dólares em perdas e danos, também pediu que o tribunal determine que as empresas renunciem a toda a receita derivada do esquema. O CBD é um composto não-psicoativo da cannabis e também é derivado da planta de cânhamo. Legalizado nos EUA em 2018, é usado para tratar condições como dor, insônia e ansiedade. Não é a primeira vez que celebridades de Hollywood processam empresas que exploram endossos falsos. Sandra Bullock e Ellen DeGeneres também apresentaram queixas similares na justiça americana no ano passado.
Ennio Morricone (1928 – 2020)
O grande compositor Ennio Morricone, criador de trilhas sonoras inesquecíveis, morreu nesta segunda-feira (6/7) em Roma aos 91 anos, por complicações de uma queda sofrida na semana passada. Ele teve uma carreira de quase 70 anos como instrumentista e 60 anos como compositor de obras para o cinema, TV e rádio. Suas músicas acompanharam mais de 500 filmes, venderam cerca de 70 milhões de discos e criaram a identidade sonora de gêneros inteiros, como o spaghetti western, também conhecido como “bangue-bangue à italiana”, o giallo ultraviolento, os filmes americanos de máfia e reverberaram por toda a indústria cinematográfica italiana. “O Maestro”, como era conhecido, nasceu em 10 de novembro de 1928 em uma área residencial de Roma. Seu pai, Mario, tocava trompete, e este foi o primeiro instrumento que o jovem aprendeu a tocar. Graças a essa convivência, ele começou a compor músicas aos 6 anos. Quando tinha cerca de 8 anos, Morricone conheceu seu grande parceiro, o cineasta Sergio Leone, no ensino fundamental. Os dois voltaram a se encontrar duas décadas mais tarde para fazer História. O jovem Morricone começou a carreira compondo músicas para dramas de rádio, ao mesmo tempo em que tocava numa orquestra especializada em trilhas para filmes. “A maioria era muito ruim e eu acreditava que poderia fazer melhor”, disse ele numa entrevista de 2001. Ele trabalhou com Mario Lanza, Paul Anka, Charles Aznavour, Chet Baker e outros como arranjador de estúdio na gravadora RCA e com o diretor Luciano Salce em várias peças. Quando Salce precisou de uma trilha para seu filme “O Fascista” (1961), lembrou do jovem e deu início à carreira de compositor de cinema de Morricone. Depois de alguns filmes, Morricone reencontrou Leone, iniciando a lendária colaboração. O primeiro trabalho da dupla, “Por um Punhado de Dólares” (1964), marcou época e estabeleceu um novo patamar no gênero apelidado de spaghetti western – além de ter lançado a carreira de Clint Eastwood como cowboy de cinema. Os dois assinaram com pseudônimos americanos, e muita gente realmente acreditou que se tratava de uma produção de Hollywood, tamanha a qualidade. Ao todo, Morricone e Leone trabalharam juntos em sete filmes, dos quais o maestro considerava “Era uma Vez no Oeste” (1968) a obra-prima da dupla. O segredo da combinação é que Leone pedia para Morricone compor as músicas antes dele filmar, usando-a como elemento narrativo, muitas vezes dispensando diálogos. Nesta fase, ele também inaugurou duradouras parcerias com Bernardo Bertolucci e Pier Paolo Pasolini. Do primeiro, compôs a trilha de “Antes da Revolução” (1964), mas só retomou as colaborações na década seguinte. Já com o segundo, foi fundo na cumplicidade do período mais controvertido do diretor, embalando clássicos que desafiaram a censura, como “Teorema” (1968), “Orgia” (1968), “Decameron” (1971), “Os Contos de Canterbury” (1972) e “As Mil e Uma Noites” (1974). Serviu até de consultor musical para o mais ultrajante de todos, “Salò, ou os 120 Dias de Sodoma” (1975), proibidíssimo e talvez relacionado ao assassinato nunca resolvido do diretor naquele ano. Fez também muitas comédias picantes e uma profusão de obras sobre crimes e gângsteres de especialistas como Alberto Martino e Giuliano Montaldo. A verdade é que, no começo da carreira, Morricone chegava a compor até 10 trilhas por ano, entre elas composições de clássicos como “De Punhos Cerrados” (1965), de Marco Bellochio, e “A Batalha de Argel” (1966), de Gillo Pontecorvo. E o sucesso dos westerns de Leone – como “Por uns Dólares a Mais” (1965) e “Três Homens em Conflito” (1966), igualmente estrelados por Clint Eastwood – , aumentou muito mais a procura por seus talentos. Sua música não só ressoava em dezenas de filmes, como os demais compositores tentavam soar como ele, especialmente os que musicavam westerns italianos. Morricone ainda deixou sua marca num novo gênero, ao assinar a trilha de “O Pássaro das Plumas de Cristal” (1970), de Dario Argento, considerado o primeiro giallo, uma forma de suspense estilizada e sanguinária, que geralmente envolvia um serial killer e mortes brutais. Confundindo-se com a tendência, fez trilhas para outros giallos famosos, como “O Gato de Nove Caudas” e “Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza”, ambos de Argento, além de “O Ventre Negro da Tarântula” e “Uma Lagartixa num Corpo de Mulher”, só para citar trabalhos feitos num período curto. As trilhas destes quatro filmes foram criadas em 1971, simultaneamente a uma dezena de outras, entre elas partituras de pelo menos três clássicos, “Decameron”, de Pier Paolo Pasolini, “Sacco e Vanzetti”, de Giuliano Montaldo, e “A Classe Operária Vai para o Paraíso”, de Elio Petri, sem esquecer uma nova colaboração com Leone, “Quando Explode a Vingança”. Para dar ideia, ele chegou a recusar o convite para trabalhar em “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, porque não daria conta. Requisitadíssimo, Morricone assinou as trilhas da franquia “Trinity”, que popularizou a comédia western italiana e virou fenômeno de bilheteria mundial, e começou a receber pedidos de produções francesas – teve uma forte parceria com o cineasta Henri Verneuil em thrillers de Jean-Paul Belmondo – e alemãs. Quando Clint Eastwood retornou aos EUA, convocou o maestro a fazer sua estreia em Hollywood, assinando a música de seu western “Os Abutres Têm Fome” (1970), dirigido por Don Siegel. Mas foi preciso um terror para que se estabelecesse de vez na indústria americana. Morricone tinha recém-composto a trilha do épico “1900” (1976), de Bernardo Bertolucci, quando foi convidado a trabalhar em “O Exorcista II: O Herege” (1977), contratado ironicamente devido a uma de suas obras menores, “O Anticristo” (1974). A continuação do clássico de terror decepcionou em vários sentidos, mas o compositor começou a engatar trabalhos americanos, como “Orca: A Baleia Assassina” (1977) e o filme que o colocou pela primeira vez na disputa do Oscar, “Cinzas do Paraíso” (1978). A obra-prima de Terrence Malick era um drama contemplativo, repleto de cenas da natureza, que valorizou ao máximo seu acompanhamento musical. E deu reconhecimento mundial ao trabalho do artista. Apesar da valorização, ele não diminuiu o ritmo. Apenas acentuou sua internacionalização. Musicou o sucesso francês “A Gaiola das Loucas” (1978), o polêmico “Tentação Proibida” (1978), de Alberto Lattuada, e voltou a trabalhar com Bertolucci em “La Luna” (1979) e “A Tragédia de um Homem Ridículo” (1981), ao mesmo tempo em que compôs suspenses/terrores baratos americanos em série. Dois terrores desse período tornaram-se cultuadíssimos, “O Enigma de Outro Mundo” (1982), em que trabalhou com o diretor – e colega compositor – John Carpenter, e “Cão Branco” (1982), uma porrada de Samuel Fuller com temática antirracista. Foi só após um reencontro com Sergio Leone, desta vez em Hollywood, que Morricone deixou os filmes baratos americanos por produções de grandes estúdios. Os dois velhos amigos colaboraram pela última vez em “Era uma Vez na América” (1984), antes da morte de Leone, que aconteceria em seguida. Ambos foram indicados ao Globo de Ouro e o compositor venceu o BAFTA (o Oscar britânico). A repercussão de “Era uma Vez na América” levou o maestro a trabalhar em “A Missão” (1986), de Roland Joffé, que como o anterior era estrelado por Robert De Niro. O filme, passado no Rio Grande do Sul, rendeu-lhe a segunda indicação ao Oscar. Em seguida veio seu filme americano mais conhecido, novamente com De Niro no elenco. “Os Intocáveis” (1987), de Brian De Palma, foi sua terceira indicação ao Oscar – e, de quebra, lhe deu um Grammy (o Oscar da indústria musical). O compositor recebeu sua quarta indicação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por outro filme de gângster, “Bugsy” (1991), de Barry Levinson. Mas nunca se mudou para os Estados Unidos, o que lhe permitiu continuar trabalhando no cinema europeu – em obras como “Busca Frenética” (1988), de Roman Polanski, o premiadíssimo “Cinema Paradiso” (1988), de Giuseppe Tornatore, “Ata-me” (1989), de Pedro Almodóvar, e “Hamlet” (1990), de Franco Zeffirelli. Eventualmente, voltou a bisar parcerias com De Palma, Joffé e até fez alguns blockbusters de Hollywood, como “Na Linha de Fogo” (1993), em que reencontrou Clint Eastwood, “Lobo” (1994), de Mike Nichols, e “Assédio Sexual” (1994), novamente de Levison. Mas sua última indicação ao Oscar foi uma produção italiana, outra colaboração com Tornatore: “Malena” (2000). Na verdade, Morricone musicou todos os filmes de Tornatore desde “Cinema Paradiso”. Foram 10 longas e alguns curtas, até 2016. Seu ritmo só diminuiu mesmo a partir de 2010, quando, em vez de 10 trabalhos anuais, passou a assinar 4 trilhas por ano. Apesar de convidado, ele nunca trilhou um filme dirigido por Eastwood, decisão da qual mais se arrependia, mas recebeu das mãos do velho amigo o seu primeiro Oscar. Foi um troféu honorário pelas realizações de sua carreira, em 2007. Morriconi ainda veio a receber outro prêmio da Academia, desta vez pelo trabalho num filme: a trilha de “Os Oito Odiáveis”, western dirigido por Quentin Tarantino em 2015. Esta criação sonora também lhe rendeu o Globo de Ouro e o BAFTA. E ele fez sem ver o longa, no estúdio particular de sua casa. Grande fã de sua obra, Tarantino já tinha usado algumas de suas composições como música incidental em “Kill Bill”, “Django Livre” e “Bastardos Inglórios”. E deu completa liberdade para Morricone, que, em troca, disse que trabalhar com o diretor em “Os Oito Odiáveis” tinha sido “perfeito… porque ele não me deu pistas, orientações”, permitindo que criasse sua arte sem interferência alguma. “A colaboração foi baseada em confiança”. O maestro ainda ganhou muitos outros prêmios, entre eles 10 troféus David di Donatello (o Oscar italiano) ao longo da carreira – o mais recente por “O Melhor Lance” (2013), de Tornatore. Foi uma carreira realmente longa, que seu velho parceiro Tornatore transformou em filme, “Ennio: The Maestro” (2020), um documentário sobre sua vida e obra, finalizado pouco antes de sua morte, que deve ser lançado ainda neste ano. Mas a última palavra sobre sua vida foi dele mesmo. Morricone escreveu seu próprio obituário, que seu advogado leu para a imprensa após o anúncio de sua morte. “Eu, Ennio Morricone, estou morto”, começa o texto, em que o maestro agradeceu a seus amigos e familiares, e dedicou “o mais doloroso adeus” a sua esposa Maria Travia, com quem se casou em 1956, dizendo “para ela renovo o amor extraordinário que nos unia e que lamento abandonar”. Relembre abaixo alguns dos maiores sucessos do grande mestre.
Lennie Niehaus (1929 – 2020)
O saxofonista Lennie Niehaus, responsável pelas músicas de mais de uma dúzia de filmes de Clint Eastwood, morreu na quinta-feira (28/5) de causas naturais aos 90 anos. O músico começou a carreira em Hollywood como orquestrador da série “Guerra, Sombra e Água Fresca” (1965-66), antes de passar a trabalhar no cinema, onde orquestrou filmes clássicos, como “Johnny Vai à Guerra” (1971), de Dalton Trumbo, “O Jogador” (1974), de Karel Reisz, e “Garotos em Ponto de Bala (1976), de Michael Ritchie. Foi cedo nessa jornada que fechou suas primeiras parcerias: com o diretor Michael Winner – para quem orquestrou “Os que Chegam com a Noite” (1971), “Renegado Vingador” (1972), “Assassino a Preço Fixo” (1972) e “Scorpio” (1973) – , e o mestre Sam Peckinpah – “Sob o Domínio do Medo” (1971), “Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia” (1974) e “Elite de Assassinos” (1975). Com o nome já estabelecido no cinema, ele foi convidado a orquestrar “Josey Wales, o Fora da Lei” (1976), estrelado e dirigido por Eastwood, iniciando uma colaboração que mudaria sua vida. Niehaus conheceu Eastwood ainda nos anos 1950. O futuro ator e cineasta foi o seu instrutor de natação enquanto os dois serviram no Exército dos EUA. A paixão compartilhada por ambos pelo jazz selou a amizade. Eastwood passou a pedir que o músico fizesse a orquestração dos filmes que estrelava, como “Sem Medo da Morte” (1976), “Rota Suicida” (1977) e “Alcatraz: Fuga Impossível” (1979). Até que o promoveu a compositor dos longas que dirigia. A estreia de Niehaus como compositor aconteceu em “Um Agente na Corda Bamba” (1984) e teve continuidade nos filmes seguintes assinados por Eastwood, como “O Cavaleiro Solitário” (1985), “O Destemido Senhor da Guerra” (1986) e “Bird” (1988), biografia do saxofonista de jazz Charlie “Bird” Parker. Niehaus também compôs para o amigo as trilhas do faroeste “Os Imperdoáveis” (1992), do romance “As Pontes de Madison” (1995), do filme de ação “Poder Absoluto” (1997), do mistério “Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal” (1997) e do épico espacial “Cowboys do Espaço” (2000). Mas após o thriller policial “Dívida de Sangue” (2002) decidiu se afastar do trabalho pesado de composição. Mesmo assim, seguiu trabalhando com Eastwood como condutor e orquestrador de trilhas, até se aposentar definitivamente com “Gran Torino” (2008). Embora a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas nunca tenha reconhecido o trabalho de Niehaus com uma indicação ao Oscar, ele chegou a ser nomeado ao BAFTA (o Oscar britânico) pela trilha de “Bird”. Já a Academia da Televisão o premiou com um Emmy pelo trabalho no telefilme “Vida Boêmia” (1993), que trazia Jeff Goldblum e Forest Whitaker como músicos de jazz.
Anthony James (1942 – 2020)
O ator Anthony James, que viveu vilões memoráveis do cinema, incluindo em filmes vencedores do Oscar, morreu na terça passada (26/5) de câncer. Ele tinha 77 anos. James tinha feito apenas uma breve aparição numa série de TV quando o diretor Norman Jewison o escalou como o frio assassino de “No Calor da Noite” (1967), estrelado por Sidney Poitier e Rod Steiger. O longa venceu cinco Oscars, incluindo Melhor Filme. Apesar desse destaque inicial, sua carreira cinematográfica demorou a decolar. Mas isso não o impediu de ficar conhecido, graças a inúmeras participações em séries clássicas. Ele chegou a ter um papel recorrente em “Gunsmoke”, entre 1968 e 1969, mas também apareceu em “Bonanza”, “Havaí 5-0”, “Mod Squad”, “Têmpera da Aço” (Ironside), “Justiça em Dobro” (Starsky and Hutch), “As Panteras” (Charlie’s Angels), “Esquadrão Classe A” (The A Team), etc. E sem esquecer que estrelou um clipe da banda Poison, “Fallen Angel”, em 1988. Seus personagens geralmente causavam confusão, precisando ser despachados pelo mocinho das histórias. Até quando fazia filmes infantis e comédias, James interpretava vilões, como em “Perigo na Montanha Enfeitiçada” (1978) e “Corra que a Polícia vem Aí! 2 1/2” (1991). Seu principal rival no cinema acabou sendo Clint Eastwood, que o enfrentou – e dirigiu – duas vezes, nos faroestes clássicos “O Estranho sem Nome” (1973) e “Os Imperdoáveis” (1992). Este último também venceu o Oscar e marcou a despedida de James da profissão de ator. Ele trocou as telas de cinema e TV por telas de pintura. A partir dos anos 1990, James iniciou uma bem-sucedida carreira como artista plástico, tendo vendido mais de 100 obras para galerias em Boston, Nova York, São Francisco, Santa Fe, Novo México e Japão. Também escreveu livros sobre arte, poesia e até uma biografia, publicada em 2014.
Richard Herd (1932 – 2020)
O ator Richard Herd, conhecido por seus papéis na série “Seinfeld” e em filmes clássicos como “Todos os Homens do Presidente” (1976) e “Síndrome da China” (1979), morreu nesta terça (26/5) aos 87 anos, por complicações de um câncer. Herd fez sua estreia no cinema em “Hercules em Nova York” (1970), que lançou a carreira de ator de Arnold Schwarzenegger. Mas só foi se destacar seis anos depois, como o agente da CIA James W. McCord Jr. em “Todos os Homens do Presidente” (1976). O papel que lhe deu proeminência quase não ficou com ele. Herd só foi escalado após a morte de Richard Long, primeira escolha do diretor Alan J. Pakula. A projeção de “Todos os Homens do Presidente”, vencedor de quatro Oscars, lhe rendeu convite para viver outro personagem de comportamento suspeito, o diretor de uma usina nuclear que tenta esconder um meltdown em “Síndrome da China”. Mas logo trocou os dramas de impacto social pelas comédias de sucesso, vivendo militares em “A Recruta Benjamin” (1980), estrelada por Goldie Hawn, e “O Sargento Trapalhão” (1996), com Steve Martin. Ele teve uma boa parceria com Steve Martin e também John Candy, participando ainda de “Antes Só do que Mal Acompanhado” (1987), ao lado da dupla, e de “Aluga-se para o Verão” (1985), protagonizado por Candy. Paralelamente, teve participações recorrentes em séries famosas, especializando-se em sci-fis televisivas. Viveu um alienígena invasor nos três capítulos da minissérie “V: A Batalha Final” (V: The Final Battle), um klingon em dois episódios de “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração” (Star Trek: The Next Generation), um almirante da Frota Estelar em cinco aparições em “Jornada nas Estrelas: Voyager” (Star Trek: Voyager) e o Almirante Noyce em duas temporadas de “Seaquest 2032” (Seaquest SDV). Ele também integrou o elenco fixo de “Carro Comando” (TJ Hooker), dando vida ao Capitão Sheridan, chefe de William Shatner entre 1982 a 1984. Seu trabalho mais lembrado, contudo, foi como ator convidado de “Seinfeld”, interpretando o Sr. Wilhelm, o supervisor de George Costanza (Jason Alexander) em seu emprego no time dos New York Yankees. Ele apareceu em 11 episódios, ao longo de três temporadas da sitcom, incluindo o capítulo final, exibido em 1998. Em entrevista de 2016, Herd disse que o personagem foi divertido de interpretar. “Ele era muito vulnerável e tinha um senso de humor curioso… Ele era meio delirante às vezes. Eu já tive muitos delírios na vida, então foi fácil para mim”, brincou. Ao longo da carreira, Herd filmou como vários diretores famosos, desde suas papéis iniciais até o final de sua filmografia. Entre os muitos parceiros, destacam-se Clint Eastwood, que o comandou em “Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal” (1997) e num de seus últimos desempenhos, “A Mula” (2018). Ele também trabalhou com Jordan Peele no fenômeno “Corra!” (2017).
O Caso Richard Jewell faz o que denuncia, com estereótipos e manipulação
Dirigido pelo veterano Clint Eastwood, “O Caso Richard Jewell” narra a história real do personagem-título, um segurança que salvou a vida de centenas de pessoas quando uma bomba explodiu em Atlanta, durante as Olimpíadas de 1996. Jewell (interpretado por Paul Walter Hauser) sempre sonhou em proteger o país e em ter o devido reconhecimento pelos seus serviços. Tudo se tornou realidade rapidamente. O simpático segurança se tornou herói nacional, foi parar nas capas de jornais e na TV. Editoras começaram a procurá-lo, interessadas em transformar a sua história em um livro. Mas o sonho durou pouco e logo se transformou em pesadelo. Em pouco tempo, aos olhos da mídia e do público, o heroísmo de Richard Jewell foi substituído pela vilania. Jewell se tornou suspeito da autoria do atentado e os mesmos jornais que antes bradejavam os seus atos passaram a condená-lo. As discussões acerca da manipulação da mídia e de fake news são pertinentes e atuais, mas a narrativa de Eastwood é anacrônica. O diretor investe em personagens caricatos, como a repórter sem escrúpulos (interpretada por Olivia Wilde), constantemente em busca da matéria de capa, e o agente durão do FBI (John Hamm), incapaz de assumir os seus erros. Nenhum desses têm o devido desenvolvimento porque, em outra época, isso não era necessário. O estereótipo, antes, era suficiente. Felizmente, a abordagem rasteira dos coadjuvantes é compensada pelo trio principal. Kathy Bates interpreta a mãe do protagonista com sensibilidade, delicadeza e emoção. E Sam Rockwell demonstra seu carisma característico no papel do advogado que aceita defender Jewell mesmo a contragosto. Mas o grande destaque é de Houser, capaz de tornar crível um sujeito que, nas mãos de um ator menos talentoso, seria apenas outro estereótipo. Afinal, Richard Jewell é um personagem complexo. Ele se equilibra entre o atencioso e o impertinente, o prestativo e o incômodo. Condicionado a aceitar e adorar a autoridade, ele não questiona as ações dos agentes federais, até quando eles abusam do poder. Em vez disso, ele se oferece para ajudá-los, sabendo que esta ajuda possa acabar condenando-o. Mais do que isso, Richard Jewell não é o típico herói. Acima do peso, solteiro e morando com a mãe, o protagonista carrega consigo as características “do perfil do terrorista solitário”, segundo aponta o agente do FBI. A falta de provas contra ele é irrelevante. Aos olhos das autoridades e da mídia ele “parece culpado”, e isso é suficiente. Há uma ironia em tudo isso, já que Eastwood usa estereótipos para denunciar o uso de estereótipos, e manipula a trama – inclusive com supostas fake news, que estão sendo contestadas na justiça, em relação ao papel da repórter – para atacar a manipulação de informação pela mídia. Para fazer defender a reputação de uma pessoa, destrói a de outra sem provas. Pegou especialmente mal uma cena do roteiro de Billy Ray (“Projeto Gemini”) que mostra o agente do FBI vazando informações à imprensa em troca de sexo. Para completar, logo a trama mostra a repórter tendo crises de consciência de uma hora para a outra. “O Caso Richard Jewell” expressa a visão política de Eastwood em relação à mídia, que é mesma de Donald Trump. Mas o foco permanece, como na maior parte de sua filmografia, no heroísmo individual. Não por acaso, ele já contou história muito parecida, ao explorar a linha tênue que separa a percepção de heroísmo e vilania, em “Sully: O Herói do Rio Hudson”.










