Os Sete Samurais lidera lista dos 100 Melhores Filmes em Língua Estrangeira em enquete da BBC
A rede pública britânica BBC divulgou uma lista com os 100 Melhores Filmes de Todos os Tempos em Língua Estrangeira – isto é, que não são falados em inglês. A seleção é resultado de uma enquete entre 209 críticos de 43 países, e abre com o clássico japonês “Os Sete Samurais” (1954), de Akira Kurosawa. “‘Os Sete Samurais’ não apenas é uma nova forma de filme de ação, mas também criou um subgênero no cinema: os filmes que falam sobre um grupo de heróis inesperados numa missão impossível que lutam para salvar suas almas”, escreveu a crítica brasileira Ana Maria Bahaiana. Kurosawa é um dos cineastas mais reverenciados, com quatro títulos na lista, dois deles no Top 10 – “Roshomon” (1950) aparece em 4º lugar. Mas não é o diretor com mais filmes selecionados. A honra cabe ao mestre espanhol do surrealismo Luis Buñuel, com nada menos que cinco clássicos. Ao todo, o Top 100 reúne filmes dirigidos por 67 diretores diferentes, de 24 países, feitos em 19 idiomas. Mas a língua francesa claramente predomina, com 27 títulos na lista, seguida de 12 filmes em mandarim e 11 em italiano e japonês. Em espanhol há sete. Em português, há um único filme, o brasileiro “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles, representante solitário do cinema nacional. Mas vale apontar que “Aguirre, a Cólera dos Deuses” (1972), do alemão Werner Herzog, foi filmado no Brasil e conta em seu elenco com atores do país. Também chama atenção o fato de que apenas quatro dos filmes foram dirigidos por mulheres, obras das cineastas Chantal Akerman, Agnès Varda, Kátia Lund e Claire Denis. A lista completa pode ser conferida abaixo, que abrange, de forma cronológica, da obra-prima “O Encouraçado Potemkin” (1925), do grande mestre do cinema soviético Sergei M. Eisenstein, ao recente “Amor” (2012), do austríaco-alemão Michael Haneke. 100. Cinzas e Diamantes (Polônia, 1958) – Andrzej Wajda 99. Paisagem na Neblina (Grecia, 1988) – Theo Angelopoulos 98. No calor do Sol (China, 1994) – Jiang Wen 97. Sabor de Cereja (Irã, 1997) – Abbas Kiarostami 96. Shoah (França, 1985) – Claude Lanzmann 95. Nuvens Flutuantes (Japão, 1955) – Mikio Naruse 94. Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (Irã, 1987) – Abbas Kiarostami 93. Lanternas Vermelhas (China, 1991) – Zhang Yimou 92. Cenas de um Casamento (Suécia, 1973) – Ingmar Bergman 91. Rififi (França, 1955) – Jules Dassin 90. Hiroshima Meu Amor (França, 1959) – Alain Resnais 89. Morangos Silvestres (Suécia, 1957) – Ingmar Bergman 88. Crisântemos Tardios (Japão, 1939) – Kenji Mizoguchi 87. As Noites de Cabíria (Itália, 1957) – Federico Fellini 86. A Pista (França, 1962) – Chris Marker 85. Umberto D (Itália, 1952) – Vittorio de Sica 84. O Discreto Charme da Burguesia (França, 1972) – Luis Buñuel 83. A Estrada (Itália, 1954) – Federico Fellini 82. O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (França, 2001) – Jean-Pierre Jeunet 81. Céline e Julie Vão de Barco (França, 1974) – Jacques Rivette 80. Os Esquecidos (México, 1950) – Luis Buñuel 79. Ran (Japão, 1985) – Akira Kurosawa 78. O Tigre e o Dragão (China – Taiwán, 2000) – Ang Lee 77. O Conformista (Itália, 1970) – Bernardo Bertolucci 76. E Sua Mãe Também (México, 2001) – Alfonso Cuarón 75. A Bela da Tarde (França, 1967) – Luis Buñuel 74. O Demônio das Onze Horas (França, 1965) – Jean-Luc Godard 73. Um Homem com uma Câmera (União Soviética, 1929) – Dziga Vertov 72. Viver (Japão, 1952) – Akira Kurosawa 71. Felizes Juntos (China, 1997) – Wong Kar-wai 70. O Eclipse (Italia, 1962) – Michelangelo Antonioni 69. Amor (França, Áustria, 2012) – Michael Haneke 68. Contos da Lua Vaga (Japão, 1953) – Kenji Mizoguchi 67. O Anjo Exterminador (México, 1962) – Luis Buñuel 66. O Medo Consome a Alma (Alemanha, 1973) – Rainer Werner Fassbinder 65. A Palavra (Dinamarca, 1955) – Carl Theodor Dreyer 64. A Liberdade É Azul (França, 1993) – Krzysztof Kie?lowski 63. Primavera Numa Pequena Cidade (China, 1948) – Fei Mu 62. A Viagem da Hiena (Senegal, 1973) – Djibril Diop Mambéty 61. Intendente Sansho (Japão, 1954) – Kenji Mizoguchi 60. O Desprezo (França, 1963) – Jean-Luc Godard 59. Vá e Veja (União Soviética, 1985) – Elem Klimov 58. Desejos Proibidos (França, 1953) – Max Ophüls 57. Solaris (União Soviética, 1972) – Andrei Tarkovsky 56. Amores Expressos (China, 1994) – Wong Kar-wai 55. Jules e Jim – Uma Mulher para Dois (França, 1962) – François Truffaut 54. Comer Beber Viver (Taiwan, 1994) – Ang Lee 53. A Grande Testemunha (França, 1966) – Robert Bresson 52. Pai e Filha (Japão, 1949) – Yasujirô Ozu 51. Os Guarda-Chuvas do Amor (França, 1964) – Jacques Demy 50. O Atalante (França, 1934) – Jean Vigo 49. Stalker (União Soviética, 1979) – Andrei Tarkovsky 48. Viridiana (Espanha, México, 1961) – Luis Buñuel 47. 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (Romênia, 2007) – Cristian Mungiu 46. O Boulevard do Crime (França, 1945) – Marcel Carné 45. A Aventura (Itália, 1960) – Michelangelo Antonioni 44. Cléo das 5 às 7 (França, 1962) – Agnès Varda 43. Bom Trabalho (França, 1999) – Claire Denis 42. Cidade de Deus (Brasil, 2002) – Fernando Meirelles e Kátia Lund 41. Tempo de Viver (China, 1994) – Zhang Yimou 40. Andrei Rublev (União Soviética, 1966) – Andrei Tarkovsky 39. Close-Up (Irã, 1990) – Abbas Kiarostami 38. Um Dia Quente de Verão (Taiwan, 1991) – Edward Yang 37. A Viagem de Chihiro (Japão, 2001) – Hayao Miyazaki 36. A Grande Ilusão (França, 1937) – Jean Renoir 35. O Leopardo (Itália, 1963) – Luchino Visconti 34. As Asas do Desejo (Alemanha, 1987) – Wim Wenders 33. Playtime – Tempo de Diversão (França, 1967) – Jacques Tati 32. Tudo Sobre Minha Mãe (Espanha, 1999) – Pedro Almodóvar 31. A Vida dos Outros (Alemanha, 2006) – Florian Henckel von Donnersmarck 30. O Sétimo Selo (Suécia, 1957) – Ingmar Bergman 29. Oldboy (Coreia do Sul, 2003) – Park Chan-wook 28. Fanny e Alexander (Suécia, 1982) – Ingmar Bergman 27. O Espírito da Colmeia (Espanha, 1973) – Víctor Erice 26. Cinema Paradiso (Itália, 1988) – Giuseppe Tornatore 25. As Coisas Simples da Vida (Taiwan, Japão, 2000) – Edward Yang 24. O Encouraçado Potemkin (União Soviética, 1925) – Sergei M. Eisenstein 23. A Paixão de Joana d’Arc (França, 1928) – Carl Theodor Dreyer 22. O Labirinto do Fauno (Espanha, México, Estados Unidos, 2006) – Guillermo del Toro 21. A Separação (Irã, 2011) – Asghar Farhadi 20. O Espelho (União Soviética, 1974) – Andrei Tarkovsky 19. A Batalha de Argel (Itália, Argélia, 1966) – Gillo Pontecorvo 18. A Cidade do Desencanto (Taiwan, 1989) – Hou Hsiao-hsien 17. Aguirre, a Cólera dos Deuses (Alemanha, 1972) – Werner Herzog 16. Metrópolis (Alemanha, 1927) – Fritz Lang 15. A Canção da Estrada (Índia, 1955) – Satyajit Ray 14. Jeanne Dielman (Bélgica, 1975) – Chantal Akerman 13. M – O Vampiro de Düsseldorf (Alemanha, 1931) – Fritz Lang 12. Adeus, Minha Concubina (China, 1993) – Chen Kaige 11. Acossado (França, 1960) – Jean-Luc Godard 10. A Doce Vida (Itália, 1960) – Federico Fellini 9. Amor À Flor da Pele (China, 2000) – Wong Kar-wai 8. Os Incompreendidos (França, 1959) – François Truffaut 7. Oito e Meio (Itália, 1963) – Federico Fellini 6. Persona (Suécia, 1966) – Ingmar Bergman 5. A Regra do Jogo (França, 1939) – Jean Renoir 4. Rashomon (Japão, 1950) – Akira Kurosawa 3. Era Uma Vez em Tóquio (Japão, 1953) – Yasujirô Ozu 2. Ladrões de Bicicletas (Itália, 1948) – Vittorio de Sica 1. Os Sete Samurais (Japão, 1954) – Akira Kurosawa
Diretor de It: A Coisa vai filmar versão americana do mangá Ataque dos Titãs
O diretor Andy Muschietti definiu seu próximo projeto. Ele vai continuar na Warner após terminar a produção de “It: A Coisa – Parte 2” para dirigir a adaptação americana do mangá e anime “Ataque dos Titãs” (Attack on Titan). Fenômeno de vendas no Japão, o mangá de Hajime Isayama já teve mais de 76 milhões de exemplares comercializados desde seu lançamento em 2009. A trama se passa num futuro pós-apocalíptico, que retrata a humanidade enclausurado em territórios cercados por imensos muros. As construções servem para proteger as pessoas dos Titãs, criaturas imensas e perigosas, que surgiram para destruir a civilização. Decidido a enfrentar os gigantes, o protagonista Eren Yeager, sua irmã adotiva Mikasa Ackerman e seu amigo de infância Armin Arlert se unem para vingar a morte de entes queridos e tentar reconquistar a Terra. A história já foi adaptada num anime cultuadíssimo de 2013, dirigido por Tetsurō Araki (da série anime “Death Note”), e também ganhou versão “live action” nos cinemas japoneses, lançada em duas partes em 2015. Mas a ideia de realizar uma versão americana é daqueles projetos que parecem feitos para reforçar a teimosia de Hollywood. Além de investir milhões em adaptações de games que nunca fazem sucesso, os estúdios americanos agora insistem em filmar mangás, mesmo diante do prejuízo de “Ghost in the Shell” e das críticas negativas que acompanham esse tipo de projeto, com acusações de apropriação cultural e embranquecimento de elenco – veja-se também a versão de “Death Note” da Netflix. E vem aí “Alita: Anjo de Combate”, com estreia prevista para fevereiro. A produção da americanização de “Ataque dos Titãs” está a cargo de David Heyman (das franquias “Harry Potter” e “Animais Fantástico”) e ainda não há previsão de estreia.
Ethan Hawke e Juliette Binoche vão estrelar primeiro filme de Koreeda rodado fora do Japão
O cineasta Hirokazu Koreeda, que venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2018 por seu novo filme “Shoplifters”, vai filmar seu primeiro longa fora do Japão em quase 30 anos de carreira. Intitulado “La Vérité” (a verdade), o drama será estrelado por três damas do cinema francês, Juliette Binoche (“Ghost in the Shell”), Catherine Deneuve (“O Reencontro”) e Ludivine Sagnier (série “The Young Pope”), além do americano Ethan Hawke (“Boyhood”). A produção será rodada na França, entre outubro e novembro, e será majoritariamente falada em francês, com distribuição internacional da produtora parisiense Wild Bunch. Binoche e Hawke terão os papéis principais, como um casal que retorna para a França, vindos de uma viagem aos Estados Unidos, assim que a mãe da personagem de Binoche (Deneuve), uma atriz bastante conhecida, publica uma autobiografia polêmica. Ao se reunirem, várias verdades vêm à tona. O roteiro é baseado numa peça que Koreeda escreveu, mas nunca encenou.
Shinobu Hashimoto (1918 – 2018)
Morreu o roteirista japonês Shinobu Hashimoto, que trabalhou em mais de 70 projetos durante sua carreira e foi o grande parceiro de Akira Kirosawa. Ele faleceu na quinta (19/7) de pneumonia, aos 100 anos de idade, em sua casa em Tóquio. De forma inusitada, a carreira de Hashimoto começou quando sua vida quase acabou. Ele se alistou no exército japonês em 1938, mas nem sequer conseguiu lutar na 2ª Guerra Mundial, pois pegou tuberculose e passou quatro anos em um hospital de veteranos. Foi durante a internação que leu uma revista sobre cinema que incluía um roteiro de exemplo. Ele decidiu escrever uma história e enviou para Mansaku Itami, então considerado o melhor roteirista do Japão – e pai do cineasta Juzo Itami. Itami ficou impressionado, enviando ao jovem soldado uma crítica detalhada do trabalho. O veterano logo se tornou um mentor para o roteirista iniciante, mas foi um relacionamento de curta duração, porque Itami morreu em 1946. Mas Hashimoto prometeu seguir seu conselho final e se especializar em adaptações literárias, em vez de roteiros originais. Com isso em mente, ele escreveu uma adaptação de um conto de Ryunosuke Akutagawa e enviou para Akira Kurosawa, que já tinha uma carreira estabelecida de diretor, mas ainda não era lendário. O cineasta gostou e marcou um encontro para ver se era possível estender a história, já que o roteiro era relativamente curto. E sugeriu complementá-lo com uma segunda história de Akutagawa, “Rashomon”. O roteiro resultante passou a ser considerado um dos maiores de todos os tempos, levando “Rashomon”, o filme, a conquistar o primeiro prêmio internacional da história do cinema japonês, o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1951. Assim começou uma parceria imbatível, que transformou Kurosawa no cineasta mais referenciado do cinema japonês. Entre os muitos clássicos realizados pela parceria, incluem-se os famosos “Os Sete Samurais” (1954), que inspirou o western “Sete Homens e um Destino” (1960), “Trono Manchado de Sangue” (1957), fantástica versão samurai de “Macbeth”, e “A Fortaleza Escondida” (1958), um grande influência de George Lucas na concepção de “Guerra nas Estrelas” (1977). A dupla também desenvolveu dramas sobre tragédias contemporâneas de grande impacto, como “Viver” (1952), sobre um homem diagnosticado com câncer terminal que busca sentido na vida, “Anatomia do Medo” (1955), que explorou o trauma e a fobia despertada pela possibilidade de um novo ataque nuclear, e “Homem Mau Dorme Bem” (1960), sobre uma vingança motivada por diferenças de classe social. A adaptação de seu roteiro em “Sete Homens e um Destino” (1960) ainda chamou atenção de Hollywood, rendendo contrato para seu único trabalho em inglês, o clássico “Inferno no Pacífico” (1968), em que Toshiro Mifune e Lee Marvin transformavam a 2ª Guerra em combate particular, após naufragarem numa ilha deserta. O sucesso deste filme encaminhou vários pedidos de novos roteiros de guerra, o que rendeu um segundo ciclo temático em sua carreira, quase tão proeminente quanto sua profusão de filmes de samurai. Além de roteirista, Hashimoto também dirigiu três filmes durante sua longa trajetória, que se estendeu nos cinemas até 1986, embora seu nome ainda continue a aparecer em novos lançamentos – o mais recente é de 2016 – , graças a diversos remakes de obras de sua filmografia.
O Terceiro Assassinat leva os dramas familiares de Hirokazu Koreeda ao tribunal
Notabilizado por histórias de temáticas familiares e humanas, o cineasta japonês Hirokazu Koreeda tornou-se figura recorrente em festivais internacionais nos últimos anos. Seu cinema é constantemente comparado ao do grande mestre Yasujiro Ozu, o que pode parecer um exagero a princípio, mas a consistência que Koreeda vem alcançando nessa fase digamos, madura da carreira, faz com que as comparações não sejam levianas. Tal momento culminou neste ano com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, pelo ainda inédito “Shoplifters”. Em “O Terceiro Assassinato” o cineasta arrisca-se num outro gênero, o suspense. Embora a trama tenha os elementos mais característicos do estilo, Koreeda encontra maneiras de colocar a sua assinatura – afinal, como de hábito, o diretor também é o roteirista do filme – fazendo com que a investigação criminal caminhe para uma abordagem humanística, deixando de lado possíveis situações mais urgentes e tensas para privilegiar o desenvolvimento mais cadenciado dos personagens, explorando suas relações familiares, além de questões mais metafísicas sobre justiça, assassinato, morte. O resultado é um filme que é difícil falar mal, embora não empolgue para elogios. Depois de cumprir pena por um duplo assassinato, Misumi (Kôji Yakusho) encontra-se novamente preso, réu confesso de um latrocínio envolvendo o seu patrão. Shigemori (Masaharu Fukuyama) é o advogado contratado para evitar a pena de morte ao réu, e logo se vê confuso com as constantes mudanças nas conversas com seu cliente, que toda hora conta uma história diferente em relação ao crime. Conforme a investigação dos advogados avança, a trama vai se revelando mais intrincada do que aparentava, e o simples caso de latrocínio passa a esconder mais elementos por trás. Como já foi dito, o filme nem pretende se vender como thriller, portanto a investigação em si não é o foco, mas sim a reflexão acerca das versões sobre o crime, as possíveis motivações, além dos acontecimentos inesperados que percorrem a trama. A investigação é morna, mas caminha sempre para frente, a passos curtos. O fato da investigação ser conduzida por advogados e não policiais, como assistimos comumente, tem influência determinante no clima da produção. Koreeda é hábil ao mostrar que, em termos legais, é mais importante seguir num caminho que vai indicar melhores chances de reverter a sentença do que necessariamente descobrir toda a “verdade” do caso. Quando investe nessa lógica argumentativa mais seca e direta, o filme ganha matizes interessantes, contrastando com seu tom filosófico. A decupagem é segura e econômica, e alcança momentos de destaque nas cenas que se refletem no vidro na sala de interrogatório, em que o jogo de compreensão entre advogado e réu torna-se mais elevado, funcionando como um ponto de virada para a trama. Tais cenas também são destaque por conta da atuação elusiva e magnética de Kôji Yakusho. Muito diferente do clichê de um homem que cometeu um terceiro homicídio – atormentado ou atormentador – , Misumi é uma figura educada e gentil, que parece que chegou naquela condição por força das circunstâncias da vida. Sua construção é bastante precisa e paciente, principalmente na maneira como desenvolve suas diferentes versões e motivações, convencendo como homem desatento que às vezes não fala coisa com coisa por ter um parafuso a menos, mas que também demonstra ter capacidade para ser o oposto disso, alguém que sempre possui uma visão ampla da situação e joga de acordo com isso. Ao mesmo tempo, as digressões de Koreeda sobre os temas abordados são pertinentes mas não rompem nada. Competem com a trama detetivesca, fazendo com que o filme alcance um meio termo que pode parecer satisfatório devido a perícia da direção, mas que no fundo é um atestado de que o filme não possui impacto. A trilha sonora excessivamente convencional, com o piano emotivo já ouvido tantas vezes, também não contribui. É uma “tradição” do cinema de Koreeda uma espécie de desprezo a um desenvolvimento narrativo convencional, embarcando em jornadas sem conflitos aparentes. Só que quando o diretor coloca tal proposta num gênero como o suspense, isso acaba criando demandas que o filme nem parece interessado em cumprir. Não que a experiência tenha sido mal sucedida, mas apenas não parece ter havido o ajuste necessário para que houvesse aqui o mesmo nível de envolvimento que há nas histórias mais pessoais que o diretor escolhe contar, e que parecem abarcar melhor sua proposta. De todo modo, Koreeda segue sendo um dos cineastas mais interessantes de se acompanhar na atualidade, mesmo quando se aventura em caminhos inesperados. Por mais que o resultado não empolgue, ainda é possível enxergar ali cinema de gente grande.
Círculo de Fogo vai virar série animada com produção de Guillermo del Toro
A Netflix se prepara para soltar monstros gigantes em streaming, com um trio de produções animadas baseadas em franquias famosas do popular subgênero dos kaiju. São duas novas versões de personagens icônicos e uma adaptação de um saga recente do cinema. A série “Pacific Rim” vai transformar em desenhos o universo dos dois filmes de “Círculo de Fogo”. Ainda não está confirmado, mas o projeto pode marcar o retorno de Guillermo del Toro à franquia. O cineasta, que dirigiu o primeiro filme de 2013, seria um dos produtores da nova atração, que mostrará os Jaegers, robôs gigantes, enfrentando uma invasão dos Kaiju, os grandes monstros que surgem do mar. Del Toro já tem uma relação com a Netflix como produtor da série animada “Caçadores de Trolls” (Trollhunters). Entre as releituras de clássicos, o herói dos anos 1960 “Ultraman” voltará em nova identidade, um homem que possui o espírito e o DNA do lendário personagem, que se transforma quando usa o uniforme ultra metálico para enfrentar o mal – isto é, kaijus. Para completar, a plataforma vai lançar mundialmente o novo longa animado do mais famoso kaiju do cinema. “Godzilla: City on the Edge of Battle” é o segundo longa da franquia e continua a história de “Godzilla: Planet of Monsters”, passado no futuro distante, quando a Terra foi devastada pelo rei dos monstros. A animação foi lançada em maio nos cinemas do Japão e já chega em 18 de julho na Netflix.
Bleach: Adaptação com atores do mangá cultuado ganha pôsteres e fotos oficiais
A Warner do Japão divulgou sete pôster e nove fotos oficiais do filme live-action de “Bleach”, que destacam os personagens da trama. As imagens trazem Sôta Fukushi (da adaptação do mangá “As the Gods Will”) como Ichigo Kurosaki, Hana Sugisaki (“Blade of the Immortal”) como Rukia Kuchiki, Taichi Saotome (“High & Low: The Movie”) como Renji Abarai, Ryō Yoshizawa (“Gintana”) como Uryu Ishida e o músico Miyavi (“Invencível”) como Byakuya Kuchiki, todos, menos o protagonista, integrantes da Sociedade das Almas. Um dos mangás mais bem-sucedidos e cultuados deste século no Japão, “Bleach” acompanha Ichigo Kurosaki, um estudante de 15 anos que desde criança se sentia amaldiçoado por poder ver fantasmas. Graças a essa capacidade, ele descobre a existência de uma ceifadora de almas chamada Rukia Kuchiki, que integra uma complexa sociedade de shinigamis (guardiões de almas). Numa luta para defender a Terra de um ataque de criaturas das trevas, a ceifadora acaba ferida e precisa deixar o garoto como responsável pelas almas humanas, o que o leva a descobrir um mundo sobrenatural que sequer imaginava existir. O mangá, escrito e desenhado por Tite Kubo, foi publicado no Japão entre 2001 e 2017, e se tornou bastante ambicioso com o passar do tempo, expandindo seu universo para outros planos de existência e incluindo centenas de personagens, entre eles mais de uma dezena de ceifadores da Sociedade das Almas – os mocinhos da trama. Os quadrinhos também inspiraram uma série animada bastante popular, exibida entre 2004 e 2012, com 16 temporadas. O filme tem direção de Shinsuke Sato, um especialista em versões live action de mangás, que já dirigiu “Death Note: Iluminando um Novo Mundo” (2016), “I Am a Hero” (2015) e “Gantz” (2010). A estreia acontece em 20 de julho no Japão e não há previsão de lançamento no Brasil.
Festival de Cannes consagra filmes sobre crianças abandonadas
O novo drama do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2018. O longa, que será lançado no Brasil com o título “Assunto de Família”, foi um dos muitos filmes a tratar de crianças rejeitadas no festival, resultado de uma seleção “família”, e por isso mesmo menos impactante que o costume. Kore-eda havia vencido o Prêmio do Júri em 2013 com outro filme do gênero, “Pais e Filhos”, que questionava a noção de paternidade biológica por meio da troca de bebês. Agora vai além, ao apresentar uma trama de adoção de uma criança abandonada, que é adotada por uma família de trambiqueiros pobres. É humanista e comoveu o júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett. Mas não deixa de evocar o clássico “Oliver Twist”, de Charles Dickens. O título em inglês é “Shoplifters”, escolhido para destacar que o pai ensina seus filhos a roubar e realizar pequenos trambiques, como o vilão Fagin na obra do começo do século 19. Entretanto, nesta fábula do século 21, os maus exemplos buscam resultado oposto, projetando empatia e solidariedade. O clima maternal também prevaleceu em outras premiações. Como “Capharnaüm”, da libanesa Nadine Labaki, sobre um menino de 12 anos que processa os próprios pais por negligência, vencedor do Prêmio do Júri, considerado a “medalha de bronze” do festival. Em seu agradecimento, Nadine dedicou o prêmio às criancinhas. “Espero que ele ajude de alguma forma a sanar o drama das crianças desprotegidas”. Mais um drama sobre crianças abandonadas, “Ayka”, do kazaque Sergei Dvortsevoy, que gira em torno de uma imigrante ilegal em Moscou obrigada a abandonar o filho que acaba de nascer, rendeu o troféu de Melhor Atriz para a intérprete da mãe, Samal Yeslyamova. Um dos poucos filmes sem sofrimento de crianças reconhecido pela premiação foi “BlacKkKlansman”, de Spike Lee, que ficou com o Grande Prêmio do Júri, a “medalha de prata”. A obra conta como um policial negro conseguiu se infiltrar, com ajuda de um policial judeu, na organização racista Ku Klux Klan nos anos 1970, mas, além de resgatar a história real, traça paralelos com os Estados Unidos de Donald Trump, confundindo slogans da KKK com os bordões que elegeram o atual presidente americano. Cate Blanchett fez questão de salientar que, apesar da pauta de reivindicações urgente que o mundo real impôs ao festival, o júri se comprometeu a julgar os filmes por suas qualidades e não pelas causas que defendiam. Vai ver que foi por isso que Spike Lee não venceu a Palma de Ouro, o que teria colocado o festival em outro tom, menos próximo das novelas. Apesar desse discurso, porém, um prêmio dois-em-um sugeriu uma certa homenagem às causas políticas descortinadas pelo evento. O troféu de Melhor Roteiro foi compartilhado pela italiana Alice Rohrwacher, uma das três mulheres entre os 21 diretores na disputa pela Palma, pela parábola bíblica “Lazzaro Felice”, e o iraniano Jafar Panahi, um dos dois cineastas presos da seleção, por “3 Faces”. O troféu de Melhor Ator ficou com o italiano Marcello Fonte, como o dono de uma pet shop em “Dogman”, de Matteo Garrone, que se vê obrigado a tomar uma atitude contra um arruaceiro violento. Completando a premiação tradicional, o troféu de Melhor Direção foi concedido ao polonês Pawel Pawlikowski por “Cold War”, trabalho de enquadramentos rigorosos e elipses temporais, que conta uma história de amor entre dois músicos. Trata-se de mais uma obra-prima em preto-e-branco do diretor de “Ida”, vencedor do Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira em 2015. Por fim, sem saber o que fazer com Jean-Luc Godard, que já não faz mais cinema, mas lançou um “filme” no festival, o júri inventou um prêmio inédito, chamado de Palma de Ouro Especial, como forma de homenagear o velho iconoclasta, que embora não fosse um dos dois diretores presos, foi um dos três ausentes do evento, realizando sua entrevista coletiva por celular. Já o juri da Câmera de Ouro, presidido pela cineasta francesa Ursula Meier, concebeu o troféu de melhor filme de estreante a “Girl”, do belga Lukas Dhont. Exibido na seção Um Certo Olhar, conta a história de um adolescente trans que nasceu menino e sonha se tornar uma bailarina. A obra já tinha vencido o troféu Palma Queer, de melhor filme de temática LGBT do festival. Antes de conferir abaixo a lista dos vencedores da mostra competitiva, vale lembrar que, apesar de ausentes da mostra competitiva, representantes do cinema brasileiro brilharam nos eventos paralelos, conquistando quatro prêmios. Único filme 100% brasileiro, “O Órfão”, de Carolina Markowicz, exibido na mostra Quinzena dos Realizadores, ganhou a Palma Queer de melhor curta. E, vejam só, também trata de criança rejeitada. “Skip Day”, documentário codirigido pelo americano Patrick Bresnan e a brasileira Ivete Lucas, venceu o prêmio de Melhor Curta da Quinzena dos Realizadores. “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, longa sobre índios brasileiros, codirigido pelo português João Salaviza e a brasileira Renée Nader Messora, venceu o Prêmio Especial do Júri da mostra Um Certo Olhar. Por fim, “Diamantino”, coprodução de Brasil, Portugal e França, dirigida pelos portugueses Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, conquistou o Grande Prêmio da Semana da Crítica de Cannes. E, para constar, sua história surreal sobre um craque de futebol, envolve planos de adoção de crianças abandonadas em meio à crise de refugiados. Vinde a Cannes as criancinhas. Premiados na competição oficial do Festival de Cannes 2018 Palma de Ouro: “Assunto de Família” (Shoplifters), de Hirokazu Kore-eda Palma de Ouro Especial: Jean-Luc Godard, por “Le Livre d’Image” Grand Prix: “BlackKklansman”, de Spike Lee Prêmio Especial do Júri: “Capharnaüm”, de Nadine Labaki Melhor Direção: Pawel Pawlikowski, por “Cold War” Melhor Atriz: Samal Yesyamova, por “Ayka” Melhor Ator: Marcello Fonte, por “Dogman” Melhor Roteiro: Alice Rohrwacher, por “Lazzaro Felice”, e Nader Saeivar e Jafar Panahi, por “3 Faces” Câmera de Ouro (filme de estreia): “Girl”, de Lukas Dhont Olho de Ouro (documentário): “Samouni Road”, de Stefano Savona
Deadpool 2 vira maior lançamento “para adultos” de todos os tempos no Brasil
A classificação etária para maiores de 18 anos não mudou a programação da Fox para “Deadpool 2”, que chega aos cinemas nesta quinta (17/5) em aproximadamente 1,4 mil salas. Trata-se da maior distribuição de um filme para adultos de todos os tempos no Brasil. Contribui para a elevada expectativa de comparecimento o fato de os filmes de super-heróis arrasarem quarteirões no país mesmo quando são ruins – o Brasil foi um dos países em que “Liga da Justiça” fez mais sucesso – , além de ser uma continuação com personagem conhecido e o investimento em marketing criativo ter sido esmagador – até Rubens Barrichello se envolveu na divulgação. A cereja no topo é o fato de “Deadpool 2” ser uma fantástica explosão metalinguística de violência e humor negro, que tende a deixar o público na dúvida se acredita no que está vendo ou se cobre os olhos para não ver. A história? O que que menos importa é a história. Quem viu o primeiro, já sabe o que esperar. E tem o detalhe: o filme está com 85% de aprovação no site Rotten Tomatoes, então é oficialmente melhor que o primeiro, que teve 83% de críticas positivas. A contraprogramação nos shoppings é um desenho animado para crianças, infantilóide a ponto de dispensar trabalho aos neurônios. Produção alemã, “A Abelhinha Maya: O Filme” é um derivado de uma série televisiva do Studio 100 Animation (o mesmo que produziu as novas séries de “Heidi” e “Vicky, o Viking”) exibida no canal pago Disney Junior. No circuito limitado, o destaque é o documentário “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, que venceu vários prêmios internacionais. Ao cobrir o Impeachment de Dilma, o filme escancara a bizarrice que reina no Congresso nacional, um show de horrores que os eleitores precisam parar de prestigiar. Dito isso, sua narrativa tenta diferenciar os que vestem vermelho, embora, na vida real, tanto estes quanto aqueles se igualam em outros processos, que não são políticos, mas criminais. Completam a programação limitada quatro dramas. Dentre eles, o brasileiro “Querida Mamãe” e o japonês “Entre-Laços” têm em comum o tema da aceitação e da tolerância em relação à sexualidade de pessoas que compõem as famílias abordadas. Vale avisar que o japonês é muito melhor resolvido, tanto que venceu o Teddy Award (melhor filme de temática LGBT) do Festival de Berlim. Confira abaixo todos os filmes, com sinopses e trailers, que estreiam nesta semana nos cinemas. Deadpool 2 | EUA | Super-Heróis Quando o super-soldado Cable (Josh Brolin) chega em uma missão para assassinar o jovem mutante Russel (Julian Dennison), o mercenário Deadpool (Ryan Reynolds) precisa aprender o que é ser herói de verdade para salvá-lo. Para isso, ele recruta seu velho amigo Colossus e forma o novo grupo X-Force, sempre com o apoio do fiel escudeiro Dopinder (Karan Soni). A Abelhinha Maya: O Filme | Alemanha | Animação Quando a entusiasmada Maya surpreende de maneira negativa a Imperatriz de Buzztropolis, ela é forçada a formar uma equipe para competir nos Jogos de Mel. Com a chance de salvar sua colmeia, Maya irá conhecer novos amigos, além de adversários extremamente habilidosos, e se aventurar além do jogo. O Processo | Brasil | Documentário A diretora Maria Augusta Ramos passou meses no Planalto e no Congresso Nacional captando imagens sobre votações e discussões que culminaram no Impeachment da “presidenta” Dilma Rousseff, e mostra os bastidores políticos da crise política sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções nos acontecimentos. Querida Mamãe | Brasil | Drama Heloísa (Letícia Sabatella) é uma médica que sofre de infelicidade crônica, tendo problemas com o marido (Marat Descartes) e a própria mãe (Selma Egrei), a quem constantemente acusa de tê-la preterida pela irmã. Após se separar do marido, Heloísa conhece no hospital em que trabalha a pintora Leda, que sofreu um acidente de carro. Grata pelo atendimento prestado, Leda deseja pintar um quadro da médica. Inicialmente reticente, ela aceita a proposta e, ao visitar o ateliê, acaba se envolvendo com a pintora. Entretanto, por mais que o novo relacionamento deixe Heloísa bem mais feliz, ela precisa lidar com o preconceito tanto de sua mãe quanto da própria filha. Entre-Laços | Japão | Drama Aos 11 anos de idade, Tomo é abandonada pela mãe e terá que confiar na ajuda de seu tio, que a leva para morar com ele e sua namorada Rinko. Inicialmente com pensamentos confusos após descobrir que Rinko é uma mulher transexual, Tomo vai aos poucos descobrindo o verdadeiro sentido de família. A Natureza do Tempo | Argélia, França, Alemanha | Drama Argélia, tempos atuais. Entre as novas configurações da sociedade árabe contemporânea, a vida de três pessoas completamente distintas irão se interligar inesperadamente: a de um corretor de imóveis rico, de um médico neurologista ambicioso preso ao seu passado e a de uma bela jovem totalmente dividida entre a razão e a emoção. Paris 8 | França | Drama Etienne se muda para Paris para estudar cinema. Na faculdade, ele conhece dois jovens que compartilham objetivos similares aos seus, mas, ao longo do ano, nem tudo sai como o planejado.
Estreias de cinema apresentam remake fracassado e comédia bem-sucedida
A programação de cinema recebe 11 novos lançamentos nesta quinta (10/5), mas, ainda sob impacto de “Vingadores: Guerra Infinita”, nenhum tem perfil de blockbuster. Os mais amplos são “Desejo de Matar” e “A Noite do Jogo”. O primeiro é remake do clássico de vingança dos anos 1970, com Bruce Willis no papel que eternizou Charles Bronson. Fracassou nas bilheterias norte-americanas e tem apenas 17% de aprovação no site Rotten Tomatoes – podrão. O segundo é um dos besteiróis mais bem-avaliados dos Estados Unidos nos últimos anos, com 82% de aprovação e direção dos roteiristas do blockbuster “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” (2017). Ainda na dúvida sobre qual ver? Todos os demais preenchem o circuito alternativo, com direito a nada menos que quatro documentários. A lista destaca a nova comédia britânica do diretor Richard Loncraine (“Wimbledon: O Jogo do Amor”), o novo drama japonês de Naomi Kawase (“O Segredo das Águas”) e um velho drama francês filmado em preto e branco por Philippe Garrel – uma estreia de 2015, ou seja, anterior ao igualmente preto e branco “Amante por um Dia” (2017) do mesmo diretor, lançado há dois meses no Brasil. Confira abaixo todos os filmes, com sinopses oficiais e trailers, que estreiam nesta semana nos cinemas. Desejo de Matar | EUA | Ação Um homem gentil tem sua vida transformada quando sua família é abalada por um ato de violência que machuca a todos. Em busca de justiça, ele se transforma em uma máquina mortífera, para conseguir fazer justiça com as próprias mãos. A Noite do Jogo | EUA | Comédia Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) participam de um grupo de casais que organizam noites de jogos. O irmão de Max, Brooks (Kyle Chandler), chega decidido a organizar uma festa de assassinato e mistério e acaba sequestrado, levando todos a acreditarem que o sumiço faz parte da misteriosa brincadeira. Os seis amigos competitivos precisam então resolver o caso para vencer o jogo, cujo rumo vai se tornando cada vez mais inesperado. Acertando o Passo | Reino Unido | Comédia Casada há 40 anos, Lady Sandra Abbott (Imelda Staunton) descobre que seu marido tem tido um caso amoroso com sua melhor amiga. Ela decide começar a fazer aulas de dança comunitária junto da irmã e acaba descobrindo um novo sopro de diversão e romance em sua vida. À Sombra de Duas Mulheres | França, Suiça | Drama Pierre e Manon formam um casal de documentaristas que sobrevivem fazendo trabalhos temporários para poder dar suporte aos filmes que desejam realizar. Apesar de estar apaixonado por Manon, Pierre acaba conhecendo Elizabeth e, a partir daí, deseja manter o relacionamento com as duas mulheres. No entanto, as coisas não sairão como ele espera. Esplendor | Japão | Drama Misako (Ayame Misaki) é uma cineasta apaixonada pelas versões cinematográficas destinadas a deficientes visuais. Durante a exibição de um dos seus filmes, ela conhece Masaya Nakamori (Masatoshi Nagase), um fotógrafo que está perdendo a sua visão, mas que guarda um acervo de fotografias que atrairá Misako e fará com que ela se conecte com seu passado. Attack On Titan: Fim do Mundo | Japão | Ação Eren Jäeger continua lutando na guerra entre os Titãs e os humanos sobreviventes. À medida que a batalha continua, ele descobre que tem a habilidade de se transformar em um Titã. Agora, as pessoas que Eren Jurou proteger o consideram mais um dos monstros que precisam derrotar. Para ter Onde Ir | Brasil | Drama No Pará, a história de três amigas inseparáveis e completamente diferentes: Eva Maués, uma mulher formal e madura cheia de incertezas; Melina Ribeiro, uma mulher livre que busca o grande amor; e Keithylennye, que por infortúnios da vida teve que abandonar sua adorada função de dançarina de tecnobrega. Hare Krishna! O Mantra, o Movimento e o Swami que Começou Tudo | EUA | Documentário Fundador do movimento espiritual Hare Krishna, Srila Prabhupada chegou aos Estados Unidos em 1965 com 70 anos e praticamente nenhum dinheiro ou contatos. Morando em Nova Iorque, ele começou a dar palestras interpretando antigos sânscritos indianos na época do auge da contracultura, e os jovens hippies, inclusive George Harrison dos Beatles, rapidamente se juntaram. O swami foi um incansável promotor até sua morte em 1977, tendo viajado por todo o mundo para espalhar sua mensagem. Todos os Paulos do Mundo | Brasil | Documentário A carreira de Paulo José como ator é revista a partir de seus filmes, dos icônicos “Todas as Mulheres do Mundo” a “Macunaíma”, passando ainda por “O Padre e a Moça”, “Juventude” e “O Palhaço”. Ícone do cinema brasileiro, a trajetória de Paulo José serve também como retrato de uma era no audiovisual do país. Chega de Fiu Fiu | Brasil | Documentário Através de imagens coletadas por câmeras escondidas, o dia a dia de três mulheres com vidas distintas é retratado, mostrando como a violência de gênero é constantemente praticada no espaço público urbano. Dessa forma, as diretoras Amanda Kamanchek Lemos e Fernanda Frazão procuraram especialistas para discutir sobre o assunto, buscando encontrar respostas e alternativas para a uma questão fundamental: Será que as cidades foram feitas para as mulheres? O Renascimento do Parto 2 | Brasil | Documentário O Brasil é o país com o maior número de cesáreas no mundo. O documentário busca elucidar os mitos em torno do parto normal e divulgar os cuidados para a realização dele.
Versão com atores do mangá Bleach ganha primeiro trailer completo
A Warner do Japão divulgou o trailer completo da adaptação live-action do popular mangá e anime “Bleach”. A prévia apresenta um visual próximo dos desenhos animados. Além dos efeitos visuais, na criação dos monstros, o comportamento dos personagens também sugere um desenho com atores reais. Um dos mangás mais bem-sucedidos e cultuados deste século no Japão, “Bleach” acompanha Ichigo Kurosaki, um estudante de 15 anos que desde criança se sentia amaldiçoado por poder ver fantasmas. Graças a essa capacidade, ele descobre a existência de uma ceifadora de almas chamada Rukia Kuchiki, que integra uma complexa sociedade de shinigamis, guardiões de almas. Numa luta para defender a Terra de um ataque de criaturas das trevas, a ceifadora acaba ferida e precisa deixar o garoto como responsável pelas almas humanas, o que o leva a descobrir um mundo sobrenatural que sequer imaginava existir. O mangá, escrito e desenhado por Tite Kubo, é publicado no Japão desde 2001 e se tornou bastante ambicioso com o passar do tempo, expandindo seu universo para outros planos de existência e incluindo centenas de personagens, entre eles mais de uma dezena de ceifadores da Sociedade das Almas – os “mocinhos” da trama, embora no começo não pareçam. Os quadrinhos também inspiraram uma série animada bastante popular, exibida entre 2004 e 2012, com 16 temporadas. Ou seja, caso seja bem-sucedido, o filme pode render inúmeras continuações. “Bleach” tem direção de Shinsuke Sato, um especialista em versões live action de mangás, que já dirigiu “Death Note: Iluminando um Novo Mundo” (2016), “I Am a Hero” (2015) e “Gantz” (2010). O elenco destaca Sôta Fukushi (da adaptação do mangá “As the Gods Will”) e Hana Sugisaki (“Blade of the Immortal”). A estreia acontece em julho no Japão e não há previsão de lançamento no Brasil.
Sem blockbusters, cinemas recebem filmes de José Padilha, Wim Wendes e Hirokazu Kore-Eda
Em semana sem blockbusters, a programação de cinema ganha perfil de festival internacional, com lançamentos de Wim Wenders, Hirokazu Kore-Eda, José Padilha e do retorno de Ruy Guerra após mais de uma década. Mas só os nomes famosos não garantem bons filmes. Até o terror horroroso com maior distribuição, que abre em 380 salas, é de um diretor francês conhecido. “Exorcismos e Demônios” tem direção de Xavier Gens, que retorna ao gênero que o consagrou em “(A) Fronteira” (2007), após fracassar em produções mais convencionais. Baseado numa história real, conta a história do exorcismo de uma jovem freira esquizofrênica por um padre psicopata, com requintes de crueldade. O fato chocou a Romênia e inspirou um filmão. Não este, mas “Além das Montanhas” (2012), do romeno Cristian Mungiu. A versão de terror, porém, não passa de um sub-“O Exorcismo de Emily Rose” (2005), que conseguiu uma rara unanimidade entre a crítica norte-americana: atingiu 0% (zero por cento) de aprovação no site Rotten Tomatoes. Um horror de ruim. Festival internacional “7 Dias em Entebbe” é o segundo filme internacional de José Padilha e, como “RoboCop” (2014), trata de história já vista antes, a quarta filmagem de uma das missões de resgate e combate ao terror mais famosas de todos os tempos: o salvamento dos passageiros de um voo da Air France vindo de Tel Aviv, que teve sua trajetória desviada para Entebbe, em Uganda, por sequestradores em 1976. Em vez de destacar a ação de resgate como as produções B anteriores – entre elas, telefilmes com Charles Bronson (“Desejo de Matar”) e Linda Blair (“O Exorcista”) – , Padilha optou por enfatizar o aspecto político da trama, em especial a causa palestina. Para completar a revisão, ainda minimizou o papel do comandante da missão, considerado herói em Israel – e que era irmão do atual Primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu. O resultado desarma um longa que estampa metralhadoras e militares em seu pôster, em favor de cenas demasiadamente discursivas. A crítica norte-americana bocejou, com 22% de aprovação no Rotten Tomatoes. O longa do alemão Wim Wenders, “Submersão”, é um melodrama romântico, em que a sueca Alicia Vikander (“Tomb Raider”) e o inglês James McAvoy (“X-Men: Apocalipse”) se apaixonam e são separados por seus trabalhos arriscados, que flertam com tragédias. Ele viaja à Somália para libertar prisioneiros de jihadistas, enquanto ela explora as profundezas do oceano num mini-submersível. Diante de situações de morte iminente, resta aos dois as lembranças de um encontro na véspera de Natal ocorrido em uma praia. Vale dizer que o trailer é ótimo. Já o filme demora quase duas horas para contar o que se vê na prévia de dois minutos. Lento de doer, tem apenas 16% de aprovação. Ao contrário dos demais, “O Terceiro Assassinato” tem avaliação positiva, 90% no Rotten Tomatoes. Mas mesmo entre os elogios se constata um consenso de que é um trabalho menor do japonês Hirokazu Kore-Eda. O que começa com tons de suspense logo se transfigura num drama de tribunal. A trama gira em torno do julgamento de um assassino confesso, que seu advogado suspeita ser inocente, e a situação vira uma discussão metafísica do que seria a verdade. O alemão “De Encontro com a Vida”, de Marc Rothemund (“Uma Mulher Contra Hitler”) é o mais previsível da lista. Baseado numa história real, acompanha um jovem que perde 90% da visão, mas consegue fingir não ter deficiência para conseguir um emprego num hotel de luxo. A trama edificante logo vira uma comédia romântica, quando uma camareira entra na história. Seleção brasileira “Todo Clichê do Amor” vai da comédia rasgada à conversa dramática em três histórias diferentes, amarradas por um cacoete estilístico do ator e diretor Rafael Primot em seu segundo longa – após o surpreendente “Gata Velha Ainda Mia” (2014). Apesar do elenco atuar em volume histérico, há nuances que sobrevivem aos clichês do título. O bom elenco feminino inclui Maria Luisa Mendonça (série “Magnífica 70”), Débora Falabella (“O Filho Eterno”) e Marjorie Estiano (“Sob Pressão”) como uma dominatrix. “Quase Memória”, o “novo” longa de Ruy Guerra, foi exibido pela primeira vez no Festival do Rio de… 2015, o que comprova a dificuldade enfrentada pelos filmes brasileiros para chegar aos cinemas. Se uma obra do diretor de clássicos como “Os Cafajestes” (1962), “Os Fuzis” (1964), “Ópera do Malandro” (1986), “Kuarup” (1989) e “Estorvo” (2000) sofre com isso, o que dirá um diretor estreante. E olha que se trata da adaptação de um best-seller nacional, o livro homônimo de Carlos Heitor Cony, com mais de 400 mil exemplares vendidos, e estrelado por um dos atores mais populares do país, Tony Ramos, que volta a protagonizar um filme após o ótimo trabalho em “Getúlio” (2014). Expoente do Cinema Novo, Ruy Guerra não filmava desde “O Veneno da Madrugada” (2005) e retorna com um filme “borgiano”, em que um homem velho (Ramos) encontra sua versão jovem (Charles Fricks) e idealista, e ambos lembram do pai (vivido por João Miguel). Se o encontro se dá em tom teatral, as lembranças têm abordagem quase surrealista, ao se desdobrarem numa história fabulosa de tom circense, pela distorção causada pela memória distante. O elenco da produção ainda inclui Mariana Ximenes (“Uma Loucura de Mulher”) e Antonio Pedro (“A Casa da Mãe Joana”). Por fim, o documentário “Construindo Pontes” tem a plasticidade que se espera da diretora de fotografia de “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo” (2009) e “Lixo Extraordinário” (2010), apesar de ser construído em cima de conversas entre Heloísa Passos e seu pai, Álvaro, que viveu o auge de sua carreira de engenheiro civil durante o “milagre econômico” da ditadura militar. Esquerdista convicta de que o Brasil sofreu um golpe com o Impeachment de Dilma Rousseff, ela não consegue aceitar o saudosismo do pai pela ditadura e seu apoio a Sergio Moro, o juiz que participa do acordo das elites para tirar Lula das eleições deste ano. As discussões entre os dois ilustram a polarização em que se encontra o país. Mas, de forma inconsciente, também a cegueira de quem polariza, já que inicia com uma filmagem em super-8 das Sete Quedas, as cachoeiras destruídas para dar lugar à hidrelétrica Itaipu, uma das obras faraônicas do governo militar, no que se supõe uma crítica à direita, mas não termina com imagens de Belo Monte, a Itaipu do PAC petista, que causou desastre maior, por ir além do crime ambiental, afetando comunidades indígenas para favorecer interesses de corruptos. A não construção desta ponte metafórica é que causa a polarização do país.
Festival de Cannes anuncia seleção de 2018 com filmes de Spike Lee, Godard e Jia Zhangke
O presidente do Festival de Cannes, Thierry Fremaux, anunciou nesta quinta (12/4) a leva inicial de filmes que serão exibidos no evento deste ano. Apesar da inclusão de alguns realizadores bastante conhecidos dos cinéfilos, houve um certo anticlímax na revelação, já que poucos filmes listados despertaram expectativas. O que mais chamou atenção foi a inclusão de novos longas de dois cineastas considerados prisioneiros políticos, o iraniano Jafar Panahi e o russo Kirill Serebrennikov, que estão em prisão domiciliar em seus países. Ambos vão disputar a Palma de Ouro. O caso de Panahi é um fenômeno. Desde que foi preso e proibido de filmar, já rodou quatro longas, contando o atual “Three Faces”. A 71ª edição do festival selecionou – até o momento – apenas dois diretores americanos: Spike Lee, que volta a Cannes depois de 27 anos – após “Febre da Selva” (1991) – e David Robert Mitchell, que lançou seus dois filmes anteriores na mostra paralela Semana da Crítica. Desta vez, ele vai competir pela Palma de Ouro com “Under The Silver Lake”, que teve seu trailer revelado. Já o filme de Spike Lee é “BlacKkKlansman”, história de um policial afro-americano que consegue se infiltrar na organização racista Ku Klux Klan. O festival também voltará a receber velhos habitués da Croisette, como o o japonês Hirokazu Kore-Eda, o italiano Matteo Garrone, o chinês Jia Zhangke e o veterano cineasta francês Jean-Luc Godard, atualmente com 87 anos de idade. A aparição mais celebrada na lista, porém, é de um estreante em Cannes, o polonês Pawel Pawlikowski, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015 por “Ida”. Seu novo filme “Cold War” marca o retorno de uma produção polonesa à disputa da Palma de Ouro após duas décadas de ausência na competição. Como já é praxe e nem os últimos avanços parecem modificar, filmes dirigidos por mulheres continuam a ser minoria absoluta no evento. Apenas três diretoras estão na disputa pelo principal prêmio: a francesa Eva Husson, a libanesa Nadine Labaki e a italiana Alice Rohrwacher. Apesar disso, o júri da Palma de Ouro de Cannes será presidido por uma mulher, a atriz australiana Cate Blanchett, enquanto outra, a diretora francesa Ursula Meier, tem a responsabilidade de eleger o melhor filme de cineasta estreante para a premiação da Câmera de Ouro. Dois filmes de diretores brasileiros ganharão exibições fora de competição. Haverá uma sessão especial com a estreia mundial do musical “O Grande Circo Místico” (2016) de Cacá Diegues, e a projeção, entre as sessões à meia-noite, de “Artic”, drama de sobrevivência estrelado pelo dinamarquês Mads Mikkelsen, assinado pelo paulista estreante em longas Joe Penna. Com abertura de “Todos lo Saben”, longa-metragem rodado em espanhol pelo iraniano Asghar Farhadi, o Festival de Cannes 2018 vai acontecer entre os dias 8 e 19 de maio – sem filmes da Netflix, sessões adiantadas para a imprensa e selfies no tapete vermelho. Veja abaixo, a primeira lista de filmes selecionados. MOSTRA COMPETITIVA “Todos lo Saben”, Asghar Farhadi (Irã) “Le livre d’image”, Jean-Luc Godard (França) “BlacKkKlansman”, Spike Lee (EUA) “Three Faces”, Jafar Panahi (Irã) “Cold War”, Pawel Pawlikowski (Polônia) “Leto”, Kirill Serebrennikov (Rússia) “Lazzaro Felice”, Alice Rohrwacher (Itália) “Under The Silver Lake”, David Robert Mitchell (EUA) “Capernaum”, Nadine Labaki (Líbano) “At War”, Stephane Brizé (França) “Asako I&II”, Ryusuke Hamaguchi (Japão) “Sorry Angel”, Christophe Honoré (França) “Dogman”, Matteo Garrone (Itália) “Girls of the Sun”, Eva Husson (França) “Yomeddine”, A.B Shawky (Egito) “Burning”, Lee-Chang Dong (Coreia do Sul) “Shoplifters”, Kore-Eda Hirokazu (Japão) “Ash Is Purest White”, Jia Zhang-Ke (China) SESSÕES ESPECIAIS “Dead Souls”, Wang Bing (China) “10 Years In Thailand”, Aditya Assarat, Wisit Sasanatieng, Chulayarnon Sriphol & Apichatpong Weerasethakul (Tailândia) “Pope Francis – A Man Of His Word”, Wim Wenders (Alemanha) “La Traversée”, Romain Goupil (França) “To The Four Winds”, Michel Toesca (França) “O Grande Circo Místico”, Carlos Diegues (Brasil) “The State Against Mandela And The Others”, Nicolas Champeaux & Gilles Porte (França) SESSÕES DA MEIA-NOITE “Arctic”, Joe Penna (Brasil) “The Spy Gone North”, Yoon Jong-Bing (Coreia do Sul) FORA DE COMPETIÇÃO “Le Grand Bain”, Gilles Lellouche (França) “Han Solo: Uma História Star Wars”, Ron Howard (EUA) MOSTRA UM CERTO OLHAR “Long Day’s Journey Into Night”, Bi Gan (China) “Little Tickles”, Andréa Bescond & Eric Métayer ( França) “Sofia”, Meyem Benm’Barek (França) “Border”, Ali Abbasi (Irã) “Sextape”, Antoine Desrosières (França) “The Gentle Indifference Of The World”, Adilkhan Yerzhanov (Cazaquistão) “El Ángel”, Luis Ortega (Argentina) “In My Room”, Ulrich Kohler (Alemanha) “The Harvesters”, Etienne Kallos (África do Sul) “My Favorite Fabric”, Gaya Jiji (Síria) “Friend”, Wanuri Kahiu (Quênia) “Euphoria”, Valeria Golino (Itália) “Angel Face”, Vanessa Filho (França) “Girl”, Lukas Dhont (Bélgica) “Manto”, Nandita Das (Índia)












