“Candyman” é destaque entre 10 estreias de cinema
O período de fechamento dos cinemas durante a pandemia causou acúmulo de títulos e a programação desta quinta (26/8) contém nada menos que 10 filmes em busca de público. Trata-se da maior quantidade de lançamentos desde março de 2010, quando o circuito foi paralisado, e coincide com a saída de cartaz de uma dezena de outros títulos. O terror “A Lenda de Candyman” e o infantil “Pedro Coelho 2 – O Fugitivo” tem a melhor distribuição, seguido pelo thriller “Infiltrado”. Dos três, a retomada da franquia clássica de horror dos anos 1990 causa maior impacto, graças à atualização temática e uma trama de viés social e racial – características da produção de Jordan Peele (diretor de “Corra!”, “Nós” e novo mestre do terror). “Pedro Coelho 2” aprimora o humor e a fofura do primeiro. E “Infiltrado” traz Jason Statham em ritmo de vingança, retomando sua antiga parceria com o diretor Guy Ritchie, que o transformou em ator em 1998. Dentre as estreias em circuito limitado há nada menos que cinco títulos brasileiros. O grande destaque cinéfilo é “Nuvem Rosa”, estreia da gaúcha Iuli Gerbase, que venceu o Grand Prix do Festival de Sofia, na Bulgária, e foi aclamada pela imprensa americana durante sua passagem pelo Festival de Sundance. O filme da filha do cineasta Carlos Gerbase (“Menos que Nada”) é uma ficção científica que antecipou as quarentenas causadas pelo coronavírus. Escrito em 2017 e filmado em 2019, sua trama acompanha um casal de desconhecidos que, após uma noite de sexo casual, acorda no dia seguinte sob lockdown, quando uma misteriosa nuvem rosa passa a cobrir o mundo, matando quem sai nas ruas. Com a sorte de estar numa casa bem abastecida de alimentos, eles passam os dias, os meses e até os anos presos um com o outro, acompanhando os efeitos da quarentena mundial forçada pela TV, videoconferência e redes sociais. Por coincidência, outro filme com título colorido também chama atenção na programação: “Um Animal Amarelo”, de Felipe Bragança, que venceu nada menos que cinco prêmios no Festival de Gramado do ano passado. Comparado ao clássico “Macunaíma” (1969) e bastante elogiado por críticos nacionais, acompanha a crise existencial de um cineasta que questiona como filmar num país que está perdendo sua identidade. E estas são apenas metade das opções. Confira abaixo a lista completa das estreias da semana, acompanhadas por seus respectivos trailers. À exceção dos três primeiros, os demais filmes só entram em cartaz nas maiores cidades. A Lenda de Candyman | EUA | Terror Pedro Coelho 2 – O Fugitivo | EUA | Infantil Infiltrado | EUA | Thriller Nuvem Rosa | Brasil | Sci-Fi Um Animal Amarelo | Brasil, Portugal, Moçambique | Drama Lamento | Brasil | Suspense Homem Onça | Brasil | Drama Encarcerados | Brasil | Documentário Edifício Gagarine | França | Drama A Candidata Perfeita | Arábia Saudita | Drama
Fim de semana tem 4 festivais online com 74 filmes de graça
Os cinéfilos vão se fartar neste fim de semana com a realização de quatro festivais online simultâneos, que disponibilizam a exibição gratuita de nada menos que 74 filmes. O Panorama Digital de Cinema Suíço reúne 14 longas, alguns deles premiados e imperdíveis, até o dia 6 de setembro na plataforma Sesc Digital. Entre os destaques, estão a cinebiografia “Bruno Manzer – A Voz da Floresta”, sobre o ativista ambiental do título, que rendeu a Sven Schelker o troféu de Melhor Ator na premiação da Academia de Cinema Suíço, e “No Meio do Horizonte”, de Joanne Giger, grande vencedor da Academia Suíça, com o equivalente ao Oscar do país nas categorias de Melhor Filme e Roteiro. O drama rural, passado nos anos 1970, acompanha a dissolução de uma família sob o olhar de um adolescente. Além dos longas, há dois programas dedicados à curtas, um deles para o público adulto e outro para crianças. Cada seleção traz cinco obras diferentes. Por sua vez, a Festa do Cinema Italiano leva 20 filmes à plataforma digital Looke até 10 de setembro, com apenas duas exceções, que só estarão disponíveis por 24 horas. Nove longas são inéditos no circuito cinematográfico nacional, como “Fortunata” (2017), em que Jasmine Trinca (premiada na mostra Um Certo Olhar, em Cannes) vive um casamento fracassado e cuida da filha de oito anos, enquanto sonha em ter seu próprio salão de beleza, e “Os Mosqueteiros do Rei” (2018), paródia de “Os Três Mosqueteiros” que se tornou um dos maiores sucessos recentes do cinema italiano. Mas os melhores títulos são filmes que tiveram passagens relâmpago pelos cinemas de arte e agora podem finalmente ser apreciados com calma pelos cinéfilos. Alguns são fundamentais, como o vencedor da mostra Horizontes do Festival de Veneza, “Nico, 1988” (2017), de Susanna Nicchiarelli, que registra o final da vida da cantora Nico (ex-Velvet Underground), e “Martin Eden” (2019), adaptação da obra homônima de Jack London que rendeu a Copa Volpi de Melhor Ator para Luca Marinelli no Festival de Veneza passado. Além destes, também merece atenção a animação “A Gata Cinderela”, que transporta a fábula “Cinderela” para uma ambientação noir futurista. Infelizmente, esta é uma das exceções, com disponibilidade restrita apenas ao dia 5 de setembro. Já a Mostra Mundo Árabe de Cinema apresenta 16 filmes sobre a cultura árabe, quatro deles inéditos no Brasil e o restante selecionado entre os destaques das edições anteriores, que ficarão disponíveis das 18h desta sexta até 13 de setembro. E de segunda (31/8) a 27 de setembro na plataforma digital do Sesc. Vale reparar que a maioria das produções são documentais, como “Gaza”, Garry Keane e Andrew McConnell, que foi o representante da Irlanda na busca por uma indicação ao Oscar de filme internacional em 2020. O filme registra Gaza como um lugar com esperança em meio ao conflito da região. Entre as ficções, o destaque é o inédito “O Dia em que Perdi Minha Sombra”, da cineasta sírio-francesa Soudade Kaadan, sobre uma mulher que tenta comprar gás no início da guerra na Síria e vê a tarefa cotidiana sair do controle em meio às incertezas da guerra civil. A seleção abre espaço até para documentários de cineastas brasileiros, como “Naila e o Levante”, de Julia Bacha, que retrata a participação das mulheres durante a Primeira Intifada, na Palestina, e como sua importância foi minimizada pela liderança masculina, e “Os Caminhos dos Mascates” de José Luis Mejias, sobre a migração árabe ao Brasil. Para completar, o evento vai mostrar a clássica Trilogia do Deserto, do tunisiano Nacer Khemir, composta pelos filmes “Andarilhos do Deserto” (1984), “O Colar Perdido da Pomba” (1991) e “Baba Aziz, o Príncipe que Contemplava Sua Alma” (2005) Para completar, o Festival Internacional de Cinema LGBTI, normalmente realizado em Brasília, exibirá sua 5ª edição de forma online e gratuita a partir das 18h desta sexta e poderão ser vistos até as 23h59 de domingo (30/8), à exceção de “Erik & Erika”, que terá apenas uma sessão, transmitido às 20h de sábado (29/8). Entre os destaques, encontram-se o australiano “52 Terças-feiras”, premiado no Festival de Berlim, sobre uma adolescente que começa a aprender sobre sexualidade no momento em que sua mãe revela planos de transição de gênero, a comédia uruguaia “Os Golfinhos Vão para o Leste”, premiada no Festival de Gravado, o documentário holandês “Galore”, que venceu vários prêmios de cinema LGBTQIA+ ao contar a história de uma famosa drag queen europeia, o espanhol “Por 80 Dias”, premiado no Festival de San Sebastian, sobre a descoberta da sexualidade na Terceira Idade, e o citado “Erik & Erika”, produção austríaca sobre a vida de Erika Schinegger, estrela do esqui dos anos 1970 que sofreu acusações de fraude quando seu segredo biológico veio à tona. A seleção também inclui curtas e media-metragens nacionais, entre eles “Quebramar”, de Cris Lyra, que venceu prêmios internacionais ao acompanhar jovens lésbicas numa praia deserta, e os documentários “Meu Corpo É Político”, de Alice Riff, “Que os Olhos Ruins Não Te Enxerguem”, de Roberto Maty, “MC Jess”, de Carla Villa-Lobos, “Terra sem Pecado”, de Marcelo Costa, e “Minha História É Outra”, de Mariana Campos. Veja abaixo onde acessar cada evento online. Panorama Digital de Cinema Suíço: http://www.sescsp.org.br/panoramasuico(saiba mais). Festa do Cinema Italiano: https://www.looke.com.br/movies/festa-do-cinema-italiano (saiba mais). Mostra Mundo Árabe de Cinema: https://www.youtube.com/channel/UCfmZ3RvF7GUiHcVFgW2FdJg, http://mundoarabe2020.icarabe.org/ e, a partir de segunda, em https://sesc.digital/categorias/cinema-e-video (saiba mais). Festival Internacional de Cinema LGBTI: https://www.votelgbt.org/flix (saiba mais).
Mostra online de cultura árabe exibe 16 filmes de graça
A tradicional Mostra Mundo Árabe de Cinema, que acontece há 15 anos em São Paulo, vai ampliar seu alcance com uma exibição online, a partir desta sexta (28/8), como alternativa para sua realização durante a pandemia de coronavírus. A programação inclui 16 filmes sobre a cultura árabe, quatro deles inéditos no Brasil e o restante selecionado entre os destaques das edições anteriores, que serão disponibilidades de forma digital e gratuita. Vale reparar que a maioria das produções são documentais, como “Gaza”, Garry Keane e Andrew McConnell, que foi o representante da Irlanda na busca por uma indicação ao Oscar de filme internacional em 2020. O filme registra Gaza como um lugar com esperança em meio ao conflito da região. Entre as ficções, o destaque é o inédito “O Dia em que Perdi Minha Sombra”, da cineasta sírio-francesa Soudade Kaadan, sobre uma mulher que tenta comprar gás no início da guerra na Síria e vê a tarefa cotidiana sair do controle em meio às incertezas da guerra civil. A seleção abre espaço até para documentários de cineastas brasileiros, como “Naila e o Levante”, de Julia Bacha, que retrata a participação das mulheres durante a Primeira Intifada, na Palestina, e como sua importância foi minimizada pela liderança masculina, e “Os Caminhos dos Mascates” de José Luis Mejias, sobre a migração árabe ao Brasil. Para completar, o evento vai mostrar a clássica Trilogia do Deserto, do tunisiano Nacer Khemir, composta pelos filmes “Andarilhos do Deserto” (1984), “O Colar Perdido da Pomba” (1991) e “Baba Aziz, o Príncipe que Contemplava Sua Alma” (2005) A Mostra Mundo Árabe de Cinema em Casa é promovida pelo ICArabe (Instituto da Cultura Árabe) em parceria com o Sesc-SP e com patrocínio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Os filmes podem ser assistidos nos canais da mostra (http://mundoarabe2020.icarabe.org/ e https://www.youtube.com/channel/UCfmZ3RvF7GUiHcVFgW2FdJg), entre 29 de agosto e 13 de setembro e também, às segundas, na plataforma do Sesc Digital (www.sescsp.org.br/cinemaemcasa), de 31 de agosto até 21 de setembro.
Indicado ao Oscar 2018, O Insulto já chegou longe pelo que oferece
O filme libanês “O Insulto” é um dos cinco finalistas na disputa pelo Oscar 2018 de Melhor Filme em Língua Estrangeira. É a primeira produção do Líbano que chega a tanto. E é uma proeza estar entre títulos de peso. Não que ao tema com que lida falte apelo. Ao contrário, é assunto de todos os dias no noticiário internacional. Uma divergência absolutamente banal, uma calha que verte água por onde não podia, molhando as pessoas, opõe dois homens: o mecânico cristão-libanês Tony (Adel Karam) e o refugiado palestino Yasser (Kamel El Basha, premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza pelo papel). Um desentendimento, um insulto, e tudo vai parar nos tribunais. A partir daí, o conflito localizado não só se estabelece como vai progressivamente se ampliando, para acabar abarcando toda a questão judaico-palestina que envolve o Oriente Médio. Tema espinhoso, sem solução, tratado com uma certa ingenuidade política pelo diretor e roteirista Ziad Doueiri (que começou a carreira como assistente de Quentin Tarantino em filmes como “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”). Vamos descobrindo, ao longo das discussões que o filme mostra, que, afinal, os dois contendores em conflito sofreram ambos violências atrozes. São, portanto, vítimas. O que abre espaço para o discurso da conciliação, como se nessa história toda as coisas simplesmente se equiparassem. O que falta é o quê? Boa vontade, disposição política? Não é tão fácil assim. Há questões históricas complexas aí envolvidas, fanatismos de todos os tipos: políticos, religiosos, culturais, étnicos. Boas intenções não bastam. Aliás, o próprio filme apresenta esses impasses quando mostra as reações dos grupos envolvidos e representados nas ações dos tribunais, suas repercussões midiáticas e tudo o mais. As pessoas, individualmente, podem se pacificar, tornarem-se tolerantes, praticar a empatia. Ainda assim, o impasse coletivo continuará lá. O social e o político não são a soma das ações individuais. Assumem outra dimensão que tem de ser encarada e a verdade é que ninguém mais sabe encontrar o tal caminho da conciliação, nem mesmo sabe se, neste caso, ele ainda existe. “O Insulto” é bem produzido, mas é um filme absolutamente convencional. Já alcançou uma evidência e um sucesso de público pelo mundo surpreendentes pelo que oferece.
Animações infantis são primeiros filmes exibidos na Arábia Saudita após 35 anos de censura
A Arábia Saudita escolheu animações infantis para retomar as exibições de filmes, após os cinemas serem proibidos no país por 35 anos. A decisão do governo saudita foi anunciado em dezembro e, para surpresa geral, os filmes começaram a ser exibidos no fim de semana passado. Tudo aconteceu de forma improvisada, com projeção em teatros, porque não existem salas de cinema no país. Após três décadas de censura total, o público árabe foi saudado com a exibição de “Emoji: O Filme”, animação que tem cocôs falantes e apenas 9% de críticas positivas no site Rotten tomatoes, e “As Aventuras do Capitão Cueca: O Filme”, que possui 86% de avaliações positivas. Segundo apurou a Reuters, os primeiros cinemas de verdade começarão a ser abertos a partir de março. As salas de exibição foram banidas no início da década de 1980, sob pressão dos líderes islâmicos que, baseados numa interpretação fundamentalista do islã, desaprovavam entretenimento público, além da mistura entre homens e mulheres no mesmo espaço público. A volta dos cinemas é parte de uma campanha de reforma liberalizadora, que tenta trazer a Arábia Saudita para o século… 20. No ano passado, o país também passou a permitir shows musicais e de comédia, além da carteira de motorista para mulheres. As mudanças estão acontecendo sob o comando do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, um jovem de 32 anos, que resolveu acabar com muitas restrições que atrasam o país. Um mês antes de anunciar as mudanças, ele mandou prender cerca de 40 príncipes, militares, ministros e empresários sob a acusação de corrupção, tirando do poder lideranças conservadoras com apoio do pai, o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, de 81 anos. Curiosamente, apesar da proibição, a Arábia Saudita possui uma pequena indústria audiovisual na capital Riad, que lança longas-metragens e documentários para o mercado internacional. E a ironia suprema é que o nome mais conhecido da produção cinematográfica saudita é uma mulher: Haifaa Al-Mansour, diretora e roteirista do premiado “O Sonho de Wadjda” (2012), sobre uma menina que quer uma bicicleta. O filme fez tanto sucesso que lhe permitiu iniciar carreira em Hollywood com “Mary Shelley”, previsto para julho, em que Elle Fanning vive a escritora de “Frankenstein”.
O Insulto: Candidato libanês ao Oscar, dirigido por ex-assistente de Tarantino, ganha trailer legendado
O premiado filme libanês “O Insulto”, que disputa uma vaga no Oscar 2018, ganhou seu primeiro trailer com legendas em português. A prévia é extremamente eficaz, combinando cenas agitadas de protestos nas ruas de Beirute com imagens solenes de um julgamento por agressão. No tribunal, um cristão libanês acusa um refugiado palestino de agressão, mas ambos são obrigados a abordar as consequências de um xingamento, desferido pelo cristão e que se transformou em briga pública violenta, refletindo a divisão politica, religiosa e cultural do Líbano. Kamel El Basha, intérprete do palestino, foi premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza deste ano. A direção é de Ziad Doueiri, que começou sua carreira cinematográfica como assistente de câmera de ninguém menos que Quentin Tarantino, em filmes como “Cães de Aluguel” (1992), “Pulp Fiction” (1994) e “Jackie Brown” (1997). “O Insulto” é seu quarto longa como diretor, sempre se debruçando sobre conflitos culturais de etnias do Oriente Médio – e todos têm sido consistentemente premiados. Finalista na disputa por indicação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, “O Insulto” também venceu o prêmio do público no recente AFI Fest, festival do American Film Institute, e maior relevância após o diretor ser ameaçado de prisão pelos militares de seu país. O filme tem cenas filmadas em Israel, o que é considerado um crime no Líbano. Doueiri chegou a ser detido, mas o apoio público do Ministério da Cultura do Líbano, com o aceno ao Oscar, evitou o pior. O lançamento comercial está marcado para 1 de fevereiro no Brasil.
Arábia Saudita vai permitir abertura de cinemas no país após 35 anos de proibição
O governo da Arábia Saudita anunciou nesta segunda-feira (11/12) que vai acabar com a proibição de cinemas no país. A decisão põe fim a um veto de mais de 35 anos, desde que todos os cinemas do país foram fechados na década de 1980, após a ascensão de uma insurgência islâmica. “Como reguladora da indústria, a Comissão Geral para Mídia Audiovisual começou o processo de licenciar cinemas no Reino”, informou em comunicado o ministro da Cultura e da Informação saudita, Awwad bin Saleh Alawwad. A previsão é que os novos cinemas sejam abertos em março do próximo ano. Ironicamente, apesar da proibição, a Arábia Saudita é palco de uma pequena indústria de audiovisual na capital Riad, que lança sobretudo longas-metragens e documentários, exibidos no exterior. O anúncio do fim do veto acompanha uma série de medidas liberalizantes do governo saudita e faz parte de um ambicioso plano de reformas do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, que busca promover espetáculos e eventos de entretenimento, apesar da oposição dos círculos conservadores. O conservadorismo na Arábia Saudita afeta, em especial, as mulheres, cujos direitos começam a ser reconhecidos no movimento modernizador do governo. Riad anunciou em outubro que, a partir de 2018, permitiria a elas participar de eventos esportivos em três estádios e a dirigir. Ainda assim, as sauditas continuam a enfrentar diversas restrições. Apesar de tanta proibição, o nome mais conhecido da produção cinematográfica saudita é uma mulher: Haifaa Al-Mansour, diretora e roteirista do premiado “O Sonho de Wadjda” (2012), sobre uma menina que quer uma bicicleta. O filme fez tanto sucesso que lhe permitiu iniciar carreira em Hollywood com “Mary Shelley”, previsto para julho, em que Elle Fanning vive a escritora de “Frankenstein”.
Filme libanês de ex-assistente de Tarantino ganha trailer em busca de vaga no Oscar 2018
O premiado filme libanês “The Insult” ganhou seu primeiro pôster americano e trailer com legendas em inglês. A prévia é extremamente eficaz, combinando cenas agitadas de protestos nas ruas de Beirute com imagens solenes de um julgamento por agressão. No tribunal, um cristão libanês acusa um refugiado palestino de agressão, mas ambos são obrigados a abordar as consequências de um xingamento, desferido pelo cristão, que se transformou em briga pública violenta, refletindo a divisão politica, religiosa e cultural do Líbano. Kamel El Basha, intérprete do palestino, foi premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza deste ano. A direção é de Ziad Doueiri, que começou sua carreira cinematográfica como assistente de câmera de ninguém menos que Quentin Tarantino, em filmes como “Cães de Aluguel” (1992), “Pulp Fiction” (1994) e “Jackie Brown” (1997). “The Insult” é seu quarto longa como diretor, sempre se debruçando sobre conflitos culturais de etnias do Oriente Médio, e todos têm sido consistentemente premiados. Candidato libanês à vaga entre os indicados a Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar 2018, “The Insult” também venceu o prêmio do público no recente AFI Fest, festival do American Film Institute, e ganhou maior relevância após o diretor ser ameaçado de prisão pelos militares de seu país. O filme tem cenas filmadas em Israel, o que é considerado um crime no Líbano. Doueiri chegou a ser detido, mas o apoio público do Ministério da Cultura do Líbano, com o aceno ao Oscar, evitou o pior. O lançamento comercial está marcado para 26 de janeiro nos Estados Unidos e ainda não há previsão para sua chegada ao Brasil.
Clash confina tensões da Primavera Árabe num camburão
O filme egipcio “Clash” trata das turbulências que têm atingido o país após o que se convencionou chamar de Primavera Árabe e a revolução egípcia de 2011. O diretor Mohamed Diab focaliza momentos que se seguiram à deposição do presidente eleito Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, derrubado pelos militares em 2013 por meio de um golpe, que produziu muitos protestos nas ruas e confrontos que marcaram um país dividido. Para abordar a questão da radicalização política que envolve os dois grupos principais – os militares e a Irmandade Muçulmana – , além da participação de grupos minoritários – como os cristãos e os judeus – e até a atuação da imprensa, a estratégia do cineasta foi agrupá-los num único dia de protestos intensos, pela cidade do Cairo, dentro de um camburão. Presos extraídos dos protestos, os diferentes personagens convivem obrigatoriamente uns com os outros e têm de lidar com suas diferenças e seus ódios recíprocos. Tudo se passa, claustrofobicamente, dentro do camburão, o tempo todo. A rua é vista de lá, os muitos protestos, a repressão policial, os tiroteios, as bombas, tudo está lá, mediado pela velha caminhonete-prisão. Quando a porta do camburão se abre, o horizonte se insinua, mas logo ela se fecha e voltamos à tensa dinâmica desse carro-prisão. A filmagem é muito tensa e intensa. A agitada câmera na mão chega a incomodar, mas isso é intencional, nos põe no olho do furacão. O tempo decorrido é o de um dia de protestos no centro de Cairo, absolutamente revelador do ambiente de confronto, aparentemente intransponível, que tomou conta do Egito. O encontro dos detidos no camburão mostra a face humana, óbvia, que todos têm, encastelados em suas verdades políticas, religiosas, comportamentais. É, pelo menos, uma tentativa de empatia, de se colocar no lugar do outro. Única forma de procurar compreender algo para além das verdades ideológicas estabelecidas por cada grupo. A imprensa, que se arrisca nesse ambiente conturbado, em busca do registro dos fatos, se sai bem, na visão do filme. Não sem registrar suas discordâncias, representadas pelos dois jornalistas trancafiados. O diretor Mohamed Diab já é conhecido do público brasileiro pelo filme ”Cairo 678”, de 2010, que tratava do machismo e do assédio sexual às mulheres da cidade do Cairo, nos ônibus. Um trabalho muito bom. Mas “Clash”, do ponto de vista cinematográfico, é mais criativo na concepção e execução dos planos. Indica, portanto, uma evolução técnica do trabalho desse cineasta, que merece toda a atenção. Se mais não for, por sua capacidade de lidar no cinema com questões pungentes do seu tempo e do seu país.
O Lobo do Deserto surpreende com drama e aventura em clima de western beduíno
“O Lobo do Deserto”, produção capitaneada pela Jordânia (com Emirados Árabes, Qatar e Reino Unido), indicada ao Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro, é um drama de diretor estreante, Naji Abu Nowar, que mostra inegável talento na filmagem de sua história centrada na figura de uma criança: o Theeb do título original. O contexto histórico não fica muito claro, mas a trama se passa no deserto da Arábia, em 1916, em meio à 1ª Guerra Mundial. Theeb (Jacir Eid), que significa lobo, vive numa tribo beduína em algum ponto distante do Império Otomano. O menino convive com seu irmão maior, que procura lhe ensinar o estilo de vida beduíno. O sheik, seu pai, morreu recentemente. E é da perspectiva iminente da morte, todo o tempo, que vive a narrativa centrada no menino. Vemos a chegada de um oficial britânico àquelas paragens, pedindo ajuda para localizar um poço romano, no caminho para Meca, antiga rota de peregrinos, agora tomada por bandidos, mercenários, revolucionários e corsários. E Theeb, mesmo a contragosto dos viajantes, acompanha o irmão, o oficial e seu companheiro, numa jornada repleta de perigos, tiroteios e mortes, que remete ao gênero western. As linhas de trem anunciam que os camelos vão cedendo a vez ao progresso. O filme, ao se focar na figura do menino, se exime de explicar melhor o contexto. Tanto quanto nós, espectadores, o menino não sabe o que está acontecendo. Porque as pessoas se matam nesse local do deserto, o que está em jogo, que papel tem o oficial inglês nessa história e o que ele carrega consigo que parece valioso. A Theeb cabe, prematuramente, se defender, se esconder, sair de um poço onde caiu, manejar armas, conviver com um homem que não conhece e não sabe direito a que veio, escalar montanhas de pedra e, enfim, tentar sobreviver. O clima de tensão é criado ao explorar em panorâmicas ao mesmo tempo um ambiente misterioso, belo e assustador, e ao focar bem de perto a figura de Theeb, seu irmão maior e outros personagens, colocando-nos dentro da ação. Uma ação, como disse, um tanto incompreensível. Estamos vivendo os fatos como se fôssemos uma criança, como é Theeb, com cerca de 10 anos de idade. É evidentemente assustadora a jornada vivida pelo menino. A trama não desvenda propriamente o mistério, mas constrói um conjunto de situações que não só envolve o espectador como o intriga. Tudo vai ficando um pouco mais claro à medida que os eventos se sucedem. A sequência final fecha bem a trama. Até surpreende, mas o mistério das relações envolvidas permanece. É uma bela produção, muito bem realizada. Uma boa surpresa em termos cinematográficos, que já rendeu a esse filme da Jordânia alguns prêmios importantes, como um BAFTA, além da distribuição garantida em muitos países graças à sua indicação ao Oscar.









