Jimmy Kimmel vai apresentar o Oscar 2017
O apresentador americano Jimmy Kimmel vai comandar a próxima edição do Oscar. A informação foi confirmada pelas publicações especializadas dos EUA. Será a estreia de Kimmel na função, apesar de o Oscar ser exibido pela rede ABC nos EUA, onde ele comanda seu talk show “Late Night with Jimmy Kimmel” desde 2003. Kimmel já apresentou uma cerimônia da indústria do entretenimento neste ano: o Emmy, principal troféu televisivo dos EUA. E esta também será a primeira vez que um apresentador comandará o Oscar e o Emmy no mesmo ciclo de premiação. Em suas edições mais recentes, o evento máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA teve Chris Rock, Neil Patrick Harris e Ellen DeGeneres como apresentadores. A cerimônia do Oscar 2017 vai acontecer no dia 26 de fevereiro no teatro Dolby, em Los Angeles, com transmissão no Brasil pela rede Globo e pelo canal pago TNT.
Academia divulga os 20 filmes que disputam indicações ao Oscar de Efeitos Visuais
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA divulgou a lista com os filmes pré-selecionados para a disputa do Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Ao todo, 20 longas disputam as cinco vagas da categoria. Chama atenção na lista a ascensão dos filmes de super-heróis (seis) sobre as produções de sci-fi (cinco). O predomínio, porém, são de fantasias infanto-juvenis (sete). Entre as curiosidades, há uma animação (“Kubo e as Duas Cordas Mágicas”, feita em stop motion) e um drama (“Sully – O Herói do Rio Hudson”). Dentre os selecionados, apenas um ainda não estreou nos cinemas, “Rogue One: Uma História Star Wars”, previsto para 15 de dezembro no Brasil e no dia seguinte nos EUA. O anúncio dos indicados definitivos ao Oscar 2017 está marcado para 24 de janeiro. Já a premiação será realizada no dia 26 de fevereiro, em Los Angeles, com transmissão no Brasil pelos canais Globo e TNT. Confira a lista completa abaixo. Finalistas ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais “Alice Através do Espelho” “A Chegada” “O Bom Gigante Amigo” “Batman v Superman: A Origem da Justiça” “Capitão América: Guerra Civil” “Deadpool” “Horizonte Profundo” “Doutor Estranho” “Animais Fantásticos e Onde Habitam” “Independence Day: Ressurgimento” “Mogli – O Menino Lobo” “Kubo e as Duas Cordas Mágicas” “Lar das Crianças Peculiares” “Passageiros” “Rogue One: Uma História Star Wars” “Star Trek: Sem Fronteiras” “Esquadrão Suicida” “Sully – O Herói do Rio Hudson” “Warcraft – O Primeiro Encontro Entre Dois Mundos” “X-Men: Apocalipse”
Filmes do Festival de Cannes dominam lista dos indicados ao “Oscar do cinema europeu”
A Academia Europeia de Cinema divulgou os candidatos da sua premiação, os European Film Awards. Considerado o Oscar do cinema europeu, a lista privilegia a programação do Festival de Cannes, destacando o vencedor da Palma de Ouro “I, Daniel Blake”, de Ken Loach, e alguns dos filmes mais comentados do evento, como “Elle”, de Paul Verhoeven, “Julieta”, de Pedro Almodóvar, “Graduation”, de Cristian Mungiu, e “Toni Erdmann”, de Maren Ade. O britânico “O Quarto de Jack”, de Lenny Abrahamson, premiado no Oscar 2016, também está na lista. O alemão “Toni Erdmann” lidera em indicações, disputando cinco categorias: Melhor Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro. Entre os atores, o favoritismo sempre é de Isabelle Huppert, desta vez pelo desempenho em “Elle”, e há a presença de um astro popular, Hugh Grant, por “Florence – Quem é Essa Mulher?”. A cerimônia de premiação do European Film Awards será realizada este ano em 10 de dezembro, na cidade de Wroclaw, na Polônia. Indicados ao European Film Awards 2016 MELHOR FILME “Elle” (França) “I, Daniel Blake” (Inglaterra) “Julieta” (Espanha) “O Quarto de Jack” (Reino Unido) “Toni Erdmann” (Alemanha) MELHOR DIREÇÃO Paul Verhoeven, por “Elle” Cristian Mungiu, por “Graduation” Ken Loach, por “I, Daniel Blake” Pedro Almodóvar, por “Julieta” Maren Ade, por “Toni Erdmann” MELHOR ATOR Rolf Lassgård, por “A Man Called Ove” Hugh Grant, por “Florence – Quem é Essa Mulher?” Dave Johns, por “I, Daniel Blake” Burghart Klaußner, por “The People vs. Fritz Bauer” Peter Simonischek, por “Toni Erdmann” Javier Cámara, por “Truman” MELHOR ATRIZ Isabelle Huppert, por “Elle” Emma Suárez e Adriana Ugarte, por “Julieta” Valeria Bruni Tedeschi, por “Like Crazy” Trine Dyrholm, por “A Comunidade” Sandra Hüller, por “Toni Erdmann” MELHOR ROTEIRO Cristian Mungiu, por “Graduation” Paul Laverty, por “I, Daniel Blake” Emma Donoghue, por “O Quarto de Jack” Maren Ade, por “Toni Erdmann” Tomasz Wasilewski, por “United States of Love” MELHOR DOCUMENTÁRIO “The Land Of The Enlightened” (Holanda) “21 X New York” (Polônia) “Mr. Gaga,” ( Israel, Suécia, Alemanha, Holanda) “S is for Stanley – 30 Years At The Wheel For Stanley Kubrick,” (Itália) “A Family Affair,” (Bélgica) “Fogo no Mar,” (Itália, França) MELHOR ANIMAÇÃO “My Life as a Zucchini” (França, Suíça) “Psiconautas, the forgotten children” (Espanha) “The Red Turtle” (França, Bélgica) “A Man Called Ove” (Suécia, Noruega) “Look Who’s Back” (Alemanha) “La Vache” (França) MELHOR REVELAÇÃO “Dogs”, de Bogdan Mirica (França, Romênia, Bulgária, Catar) “Liebmann”, de Jules Herrmann (Alemanha) “Sand Storm”, de Elite Zexer (Israel) “The Happiest Day in the Life of Olli Mäki”, de Juho Kuosmanen (Finlândia, Suécia, Alemanha) “Thirst”, deSvetla Tsotsorkova (Bulgária) MELHOR COMÉDIA “A Man Called Ove” (Suécia, Noruega) “Look Who’s Back” (Alemanha) “One Man and His Cow” (França) MELHOR CURTA “The Wall” “Edmond” “The Goodbye” “90 Degrees North” “We All Love The Sea Shore” “In The Distance” “A Man Returned” “Small Talk” “I’m Not From Here” “Home” “The Fullness Of Time (Romance)” “Limbo” “Amalimbo” “9 Days – From My Window In Aleppo”
Mel Gibson revela ter versão de Coração Valente com 1 hora de cenas inéditas
Vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1996, “Coração Valente” chegou aos cinemas bem diferente da versão originalmente concebida por seu diretor, Mel Gibson. Em entrevista ao site Collider, o cineasta revelou que possui a versão original, que tem uma hora de cenas inéditas, nunca vistas pelo público. Segundo Gibson, a primeira versão do filme tinha 3h45, o que assustou aos executivos da 20th Century Fox. Atendendo aos produtores, o astro e o montador Steven Rosenblum reduziram a duração para 3h15. Nova conversa acabou conduzindo à versão final, com 2h45, que venceu cinco categorias do Oscar, inclusive o troféu de Melhor Direção. Questionado sobre a possibilidade de lançar a versão original, o diretor se mostrou animado. “As pessoas já mencionaram. É um grande negócio. Se algum estúdio, como a Fox ou Paramount, quiser financiar isso, vá em frente. […] Eu tenho a fita com essa versão em algum lugar”, afirmou.
Menino 23 vai disputar uma vaga na categoria de Melhor Documentário do Oscar 2017
O Brasil vai tentar uma vaga na disputa de Melhor Documentário do Oscar 2017 com “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”, dirigido por Belisário Franca. O filme entrou na lista de inscritos para o prêmio. “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil” acompanha as investigações sobre tijolos marcados com suásticas nazistas, encontrados no interior do Brasil, e revela a história de meninos órfãos e negros, vítimas de um projeto criminoso de eugenia. Ele concorrerá com outros 144 títulos para as cinco vagas da categoria, que, ao contrário de outros prêmios, não distingue produções de língua inglesa de outras de “língua estrangeira”. A primeira peneira da categoria selecionará 15 documentários finalistas em dezembro, dos quais sairão os cinco indicados da categoria, que serão anunciados no dia 24 de janeiro. No ano passado, a estatueta ficou com “Amy”, documentário sobre a vida da cantora britânica Amy Winehouse, dirigido por Asif Kapadia, mesmo cineasta que retratou a vida de Ayrton Senna em 2010. Neste ano, há candidatos fortes como “A 13ª Emenda”, filme da diretora Ava DuVernay sobre o sistema carcerário dos Estados Unidos, e “A Voyage of Time: Life’s Journey”, de Terrence Malick, que já concorreu ao Oscar com os longas “A Árvore da Vida” (2011) e “Além da Linha Vermelha” (1998). Outros fortes concorrentes são “Weiner”, que levou o prêmio do júri no Festival de Sundance, “I Am Not Your Negro”, estrelado por Samuel L. Jackson e premiado pelo público do Festival de Toronto, além do francês “Bright Lights: Starring Carrie Fisher and Debbie Reynolds”, sobre a relação da intérprete da Princesa Leia e sua mãe famosa, que estrelou “Cantando na Chuva” (1952).
Andrzej Wajda (1926 – 2016)
Morreu Andrzej Wajda, um dos maiores cineastas da Polônia, vencedor da Palma de Ouro de Cannes e de um Oscar honorário pela carreira de fôlego, repleta de clássicos humanistas. Ele faleceu no domingo (9/10), aos 90 anos, em Varsóvia, após uma vida dedicada ao cinema, em que influenciou não apenas a arte, mas a própria História, ao ajudar a derrubar a cortina de ferro com filmes que desafiaram a censura e a repressão do regime comunista. Nascido em 6 de março de 1926 em Suwalki, no nordeste polonês, Wajda começou a estudar cinema após a 2ª Guerra Mundial, ingressando na recém-aberta escola de cinema de Lodz, onde também estudaram os diretores Roman Polanski e Krzysztof Kieslowski, e já chamou atenção em seu primeiro longa-metragem, “Geração” (1955), ao falar de amor e repressão na Polônia sob o regime nazista. Seu segundo longa, “Kanal” (1957), também usou a luta contra o nazismo como símbolo da defesa da liberdade, e abriu o caminho para sua consagração internacional, conquistando o prêmio do juri no Festival de Cannes. Com “Cinzas e Diamantes” (1958), que venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza, ponderou como pessoas de diferentes classes sociais e inclinações políticas tinham se aliado contra o nazismo, mas tornaram-se inimigas após o fim da guerra. Os três primeiros filmes eram praticamente uma trilogia temática, refletindo as ansiedades de sua geração, que tinha sobrevivido aos nazistas apenas para sofrerem com os soviéticos. Ele também filmou várias vezes o Holocausto, do ponto de vista da Polônia. Seu primeiro longa sobre o tema foi também o mais macabro, contando a história de um coveiro judeu empregado pelos nazistas para enterrar as vítimas do gueto de Varsóvia, em “Samson, a Força Contra o Ódio” (1961). Aos poucos, suas críticas foram deixando de ser veladas. Num novo filme batizado no Brasil com o mesmo título de seu terceiro longa, “Cinzas e Diamantes” (1965), lembrou como os poloneses se aliaram a Napoleão para enfrentar o império russo e recuperar sua soberania. A constância temática o colocou no radar do governo soviético. Mesmo com fundo histórico conhecido, “Cinzas e Diamantes” disparou alarmes. Aproveitando uma tragédia com um ator local famoso, Wajda lidou com a perigosa atenção de forma metalinguista em “Tudo à Venda” (1969), sobre um diretor chamado Andrzej, que tem uma filmagem interrompida pelo súbito desaparecimento de seu ator principal. Considerado muito intelectual e intrincado, o filme afastou o temor de que o realizador estivesse tentando passar mensagens para a população. Mas ele estava. Em “Paisagem Após a Batalha” (1970), o diretor voltou suas câmeras contra o regime, ao registrar o sentimento de júbilo dos judeus ao serem libertados dos campos de concentração no fim da guerra, apenas para sepultar suas esperanças ao conduzi-los a outros campos cercados por soldados diferentes – russos – , inspirando a revolta de um poeta que busca a verdadeira liberdade longe disso. Seus três longas seguintes evitaram maiores controvérsias, concentrando-se em dramas de família e romances de outras épocas, até que “Terra Prometida” (1975) rendeu efeito oposto, celebrado pelo regime a ponto de ser escolhido para representar o país no Oscar. E conquistou a indicação. Ironicamente, a obra que o tornou conhecido nos EUA foi a mais comunista de sua carreira. Apesar de sua obsessão temática pela liberdade, “Terra Prometida” deixava claro que Wajda não era defensor do capitalismo. O longa era uma denúncia visceral de como a revolução industrial tardia criara péssimas condições de trabalho para os operários poloneses, enquanto empresários enriqueciam às custas da desumanização na virada do século 20. Brutal, é considerado um dos maiores filmes do cinema polonês. Satisfeito com a consagração, Wajda manteve o tema em seus filmes seguintes, acompanhando a evolução da situação dos operários poloneses ao longo do século. Mas os resultados foram o avesso do que a União Soviética gostaria de ver nas telas. A partir daí, sua carreira nunca mais foi a mesma. Seus filmes deixaram de ser cinema para virarem registros históricos, penetrando nas camadas mais profundas da cultura como agentes e símbolos de uma época de transformação social. “O Homem de Mármore” (1977) encontrou as raízes do descontentamento dos trabalhadores da Polônia no auge do stalinismo dos anos 1950. O filme era uma metáfora da situação política do país e também usava de metalinguagem para tratar da censura que o próprio Wajda sofria. A trama acompanhava uma estudante de cinema que busca filmar um documentário sobre um antigo herói do proletariado, que acreditava na revolução comunista e na igualdade social, mas, ao ter acesso a antigas filmagens censuradas para sua pesquisa, ela descobre que foi exatamente isto que causou sua queda e súbito desaparecimento da história. Diante da descoberta polêmica, a jovem vê seu projeto de documentário proibido. A censura política voltou a ser enfocada em “Sem Anestesia” (1978), história de um jornalista polonês que demonstra profundo conhecimento político e social numa convenção internacional, o que o faz ser perseguido pelo regime, que cancela suas palestras, aulas e privilégios, culminando até no fim de seu casamento, para reduzir o homem inteligente num homem incapaz de se pronunciar. Após ser novamente indicado ao Oscar por um longa romântico, “As Senhoritas de Wilko” (1979), Wajda foi à luta com o filme mais importante de sua carreira. “O Homem de Ferro” (1981) era uma obra de ficção, mas podia muito bem ser um documentário sobre a ascensão do movimento sindicalista Solidariedade, que, anos depois, levaria à queda do comunismo na Polônia e, num efeito dominó, ao fim da União Soviética. A narrativa era amarrada por meio da reportagem de um jornalista enviado para levantar sujeiras dos sindicalistas do porto de Gdansk, que estavam causando problemas, como uma inusitada greve em pleno regime comunista. Ao fingir-se simpatizante da causa dos estivadores, ele ouve histórias que traçam a longa trajetória de repressão aos movimentos sindicais no país, acompanhadas pelo uso de imagens documentais. O filme chega a incluir em sua história o líder real do Solidariedade, Lech Walesa, que depois se tornou presidente da Polônia. Apesar da trajetória evidente do cineasta, o regime foi pego de surpresa por “O Homem de Ferro”, percebendo apenas o que ele representava após sua première mundial no Festival de Cannes, onde venceu a Palma de Ouro e causou repercussão internacional. Sem saber como lidar com a polêmica, o governo polonês sofreu pressão mundial para o longa ir ao Oscar, rendendo mais uma indicação a Wajda e um confronto político com a União Soviética, que exigiu que o filme fosse banido dos cinemas. Assim, “O Homem de Ferro” só foi exibido em sessões privadas em igrejas em seu país. Considerado “persona non grata” e sem condições de filmar na Polônia, que virara campo de batalha, com o envio de tropas e tanques russos para sufocar o movimento pela democracia despertado pelo Solidariedade, Wajda assumiu seu primeiro longa internacional estrelado por um grande astro europeu, Gerard Depardieu. O tema não podia ser mais provocativo: a revolução burguesa da França. Em “Danton – O Processo da Revolução” (1983), o diretor mostrou como uma revolução bem intencionada podia ser facilmente subvertida, engolindo seus próprios mentores numa onda de terrorismo de estado. A história lhe dava razão, afinal Robespierre mandou Danton para a guilhotina, antes dele próprio ser guilhotinado. E mesmo assim o filme causou comoção, acusado de “contrarrevolucionário” por socialistas e comunistas franceses, que enxergaram seus claros paralelos com a União Soviética. Ficaram falando sozinhos, pois Wajda ganhou o César (o Oscar francês) de Melhor Diretor do ano. Sua militância política acabou arrefecendo no cinema, trocada por romances e dramas de época, como “Um Amor na Alemanha” (1983), “Crônica de Acontecimentos Amorosos” (1986) e “Os Possessos” (1988), adaptação de Dostoevsky que escreveu com a cineasta Agnieszka Holland. Em compensação, acirrou fora das telas. Ele assinou petições em prol de eleições diretas e participou de manifestações políticas, que levaram ao fim do comunismo na Polônia. As primeiras eleições diretas da história do país aconteceram em 1989, e Wajda se candidatou e foi eleito ao Senado. A atuação política fez mal à sua filmografia. Filmando menos e buscando um novo foco, seus longas dos anos 1990 não tiveram a mesma repercussão. Mas não deixavam de ser provocantes, como atesta “Senhorita Ninguém” (1996), sobre uma jovem católica devota, que acaba corrompida quando sua família se muda para a cidade grande, numa situação que evocava a decadência de valores do próprio país após o fim do comunismo. Por outro lado, seus filmes retratando o Holocausto – “As Duzentas Crianças do Dr. Korczak” (1990), sobre um professor que tenta proteger órfãos judeus no gueto de Varsóvia e morre nos campos de concentração, e “Semana Santa” (1995), evocando como a Polônia lidou com a revolta do gueto de Varsóvia em 1943 – receberam pouca atenção. O que o fez se retrair para o mercado doméstico, onde “Pan Tadeusz” (1999), baseado num poema épico polonês do século 19 sobre amor e intriga na nobreza, virou um sucesso. Durante duas décadas, Wajda sumiu dos festivais, onde sempre foi presença constante, conquistando prêmios, críticos e fãs. Mas estava apenas recarregando baterias, para retornar com tudo. Seu filme de 2007, “Katyn” se tornou uma verdadeira catarse nacional, quebrando o silêncio sobre uma tragédia que afetou milhares de famílias na Polônia: o massacre de 1940 na floresta de Katyn, em que cerca de 22 mil oficiais poloneses foram executados pela polícia secreta soviética. Quarta indicação ao Oscar de sua carreira, “Katyn” foi seu filme mais pessoal. Seu pai, um capitão da infantaria, estava entre as vítimas. Durante a divulgação do filme, o cineasta fez vários desabafos, ao constatar que jamais poderia ter feito “Katyn” sem que o comunismo tivesse acabado, uma vez que Moscou se recusava a admitir responsabilidade e o assunto era proibido sob o regime soviético. “Nunca achei que eu viveria para ver a Polônia como um país livre”, Wajda disse em 2007. “Achei que morreria naquele sistema.” Após acertar as contas com a história de seu pai, focou em outro momento importante de sua vida, ao retomar a trama de “Homem de Ferro” numa cinebiografia. Em “Walesa” (2013), mostrou como um operário simples se tornou o líder capaz de derrotar o comunismo na Polônia. Na ocasião, resumiu sua trajetória, dizendo: “Meus filmes poloneses sempre foram a imagem de um destino do qual eu mesmo havia participado”. Ao exibir “Walesa” no Festival de Veneza, Wajda já demonstrava a saúde fragilizada. Mas cinema era sua vida e ele encontrou forças para finalizar uma última obra, que ainda pode lhe render sua quinta indicação ao Oscar, já que foi selecionada para representar a Polônia na premiação da Academia. Seu último filme, “Afterimage” (2016), é a biografia de um artista de vanguarda, Wladyslaw Strzeminski, perseguido pelo regime de Stalin por se recusar a seguir a doutrina comunista. Um tema – a destruição de um indivíduo por um sistema totalitário – que sintetiza o cinema de Wajda, inclusive nos paralelos que permitem refletir o mundo atual, em que a liberdade artística sofre com o crescimento do conservadorismo. Com tantos filmes importantes, Andrzej Wajda ganhou vários prêmios por sua contribuição ao cinema mundial. Seu Oscar honorário, por exemplo, é de 2000, antes de “Katyn”, e o Festival de Veneza foi tão precipitado que precisou lhe homenagear duas vezes, em 1998 com um Leão de Ouro pela carreira e em 2013 com um “prêmio pessoal”. Há poucos dias, em setembro, ele ainda recebeu um prêmio especial do Festival de Cinema da Polônia. O diretor também é um dos homenageados da 40ª edição da Mostra de Cinema de São Paulo, que começa no dia 20 de outubro. A programação inclui uma retrospectiva com 17 longas do grande mestre polonês.
Aquarius vai tentar emplacar Sonia Braga como Melhor Atriz no Oscar
A Vitagraph Films, empresa responsável pela distribuição do brasileiro “Aquarius” nos Estados Unidos, irá lançar uma campanha para tentar uma indicação de Melhor Atriz para Sonia Braga no Oscar. A informação foi passada pelo diretor Kleber Mendonça Filho ao site americano Screen Daily. Embora a indicação de Sonia tenha muita torcida, é importante dimensionar a campanha do filme, que não seria muito diferente caso tivesse sido escolhido como representante brasileiro para a categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira. A distribuidora americana Vitagraph é muito pequena, nem canal tem no YouTube, e não contará com grande orçamento para divulgar a estreia do filme nos cinemas, que dirá bancar corrida ao Oscar. Segundo Filho, a campanha começará em duas semanas com um jantar em Los Angeles. Enquanto isso, campanhas caríssimas dos grandes estúdios de Hollywood incluirão anúncios na mídia, envios de Blu-ray e diversos mimos. Vale lembrar que Fernanda Montenegro teve apoio do estúdio Sony Pictures Classics quando conseguiu sua indicação ao Oscar por “Central do Brasil” (1998), enquanto as diversas indicações de “Cidade de Deus” (2002) ocorreram com empurrão da Miramax, dos irmãos Weinsten, que sabem como poucos o que fazer para conquistar Oscars. “Aquarius” chega aos cinemas dos EUA com exibição no Festival de Cinema de Nova York, que começa na sexta (30/9), e terá lançamento comercial em 14 de outubro, em circuito limitado.
16 filmes brasileiros disputarão uma indicação no Oscar 2017
Dezesseis filmes brasileiros foram inscritos na comissão do Ministério da Cultura, que irá selecionar o representante do país na busca por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017. A lista das produções inscritas foi divulgada pela Secretaria do Audiovisual e conta, entre outros, com “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, e “Chatô – O Rei do Brasil”, de Guilherme Fontes. “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert, e “Para Minha Amada Morta”, de Aly Muritiba, não foram incluídos na seleção por decisão de seus diretores, como protesto contra uma suposta “imparcialidade questionável” da comissão, no dizer de Mascaro, que colocaria o resultado em cheque. Os três diretores seguiram deixa de Kleber Mendonça Filho, que denunciou em carta aberta a inclusão do crítico Marcos Petrucelli, de visão política diferente da sua, como uma conspiração do “governo ilegítimo” contra seu filme “Aquarius”. Petrucelli criticou a photo-op de “Aquarius” no Festival de Cannes, quando Filho e seu elenco ergueram cartazes, em francês e inglês, para denunciar que “o Brasil não é mais uma democracia” por ter sofrido um “golpe de estado”. Além dos três cineastas desistentes, a própria comissão sofreu baixas, com as saídas do cineasta Guilherme Fiúza Zenha, que alegou motivos pessoais, e da atriz Ingra Lyberatto, que revelou ter sofrido pressões extremas da classe. Os dois foram substituídos pelos cineastas Bruno Barreto e Carla Camurati. Além disso, a presença de Petrucelli foi garantida pelo Secretário do Audiovisual, Alfredo Bertini. Os demais integrantes do comitê julgador são Adriana Rattes, Luiz Alberto Rodrigues, George Torquato Firmeza, Bruno Barreto, Carla Camurati, Paulo de Tarso Basto Menelau, Silvia Maria Sachs Rabello e Sylvia Regina Bahiense Naves. Em nota, o ministro da Cultura, Marcelo Calero, disse confiar “plenamente na isenção e na capacidade da comissão avaliadora”. “Será um trabalho difícil, pois a safra de filmes brasileiros está excelente”, afirmou. Apesar da polêmica, a quantidade de filmes inscritos é alta. No ano passado, foram apenas nove títulos. E vale registrar que o responsável por polemizar todo o processo, Kleber Mendonça Filho, não retirou seu filme da competição, deixando seus três colegas solidários no vácuo. Veja a lista completa de filmes: “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho “Chatô – O Rei do Brasil”, de Guilherme Fontes “Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”, de Afonso Poyart “Nise – O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner “Campo Grande”, de Sandra Kogut “Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil”, de Belisário Franca “Pequeno Segredo”, de David Schürmann “O Roubo da Taça” de Caíto Ortiz “A Despedida”, de Marcelo Galvão “O Outro Lado do Paraíso”, de André Ristum “Uma Loucura de Mulher”, de Marcus Ligocki Júnior “Vidas Partidas”, de Marcos Schechtman “Tudo que Aprendemos Juntos”, de Sérgio Machado “O Começo da Vida”, de Estela Renner “A Bruta Flor do Querer”, de Andradina Azevedo e Dida Andrade “Até que a Casa Caia”, de Mauro Giuntini
Secretário do Audiovisual garante Marcos Petrucelli na comissão do Oscar 2017
A patrulha ideológica perdeu. O secretário do Audiovisual Alfredo Bertini disse ao jornal O Estado de S. Paulo que o crítico Marcos Petrucelli será mantido na comissão que vai escolher o representante brasileiro para disputar uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2017. “A polêmica entre Petrucelli e Kleber Mendonça é antiga e envolve questões políticas, não tem nada a ver com a avaliação do filme ‘Aquarius’, que Petrucelli só viu agora na abertura do Festival de Gramado”, declarou Bertini ao jornal. Ele se refere ao fato de Kleber Mendonça Filho ter pedido publicamente a cabeça do crítico, convencendo um grupo de cineastas a se engajarem em sua campanha. Por meio de uma Carta Aberta à Comissão Brasileira do Oscar, o diretor pernambucano exerceu pressão até sobre os membros do comitê. Dois deles pediram para sair, sendo que a atriz Ingra Lyberato desabafou no Facebook: “Estamos sendo extremamente pressionado por todas as notícias a ponto de ter gente pedindo para sair. Qual é o objetivo? Forçar o Petrucelli a sair? Forçar todos a sair?” Os dois membros foram substituídos pelos cineastas Bruno Barreto e Carla Camurati, mas três diretores retiram seus filmes da disputa, ecoando uma acusação de “imparcialidade questionável”, que colocaria a comissão em cheque. Segundo Filho, a inclusão do crítico Marcos Petrucelli, de visão política oposta a sua, refletiria uma perseguição que seu filme “Aquarius” estaria sofrendo por parte do governo, após sua equipe ter se manifestado politicamente durante o Festival de Cannes – com cartazes que afirmavam que “o Brasil não é mais uma democracia” devido a um “golpe de estado”. “Há muito falatório sobre a possibilidade do filme estar sendo sabotado pelo governo ilegítimo”, ele declarou, em entrevista à revista americana Variety, buscando internacionalizar a polêmica. Tudo isso porque Petrucelli teve a audácia de criticar a photo-op de Cannes, o que, na visão dos cineastas retirantes, “solapa sua imparcialidade e legitimidade” para integrar a comissão. Por esta lógica, como os filmes inscritos já passaram no cinema, nenhum crítico poderia participar do processo, já que a categoria costuma fazer exatamente o que acham um absurdo proibitivo: criticar. Questionado se pensou em retirar o nome do crítico por causa da pressão exercida publicamente por Filho e demais cineastas, Alfredo Bertini foi enfático. “Nem eu nem o ministro Marcelo Calero cogitamos em momento algum retirar o nome de Petrucelli.” Aceitando que a polêmica seja consequência do ambiente de polarização política que vive o País, Bertini ressalva que também está havendo uma má vontade de alguns profissionais do audiovisual, que não conseguem aceitar a pluralidade de opiniões. Ele ainda ressalta que seguiu as mesmas regras que vinham sendo usadas para compôr as comissões durante os governos Lula e Dilma, que, por sinal, levaram a uma das mais infames seleções da história deste país, quando “Lula, o Filho do Brasil”, financiado por empreiteiras incriminadas pela operação Lava Jato, foi escolhido por unanimidade pelo comitê do Ministério da Cultura do próprio Lula. Na ocasião, nenhum cineasta manifestou indignação. “Na composição, respeitamos o que vinha sendo feito aqui na Secretaria do Audiovisual, chamando nomes com currículo notoriamente reconhecido, olhando para toda a cadeia produtiva do cinema, com profissionais da área de exibição, produção, direção, etc e, acima de tudo, procurando pessoas de diversas regiões do País. Então, não consigo entender essa má vontade e polêmica”, o secretário explicou. Com as substituições na comissão e as saídas dos filmes que não tem interesse em representar o país no Oscar 2017, Bertini espera que a polêmica tenha acabado para que se passe a discutir os filmes propriamente ditos. “Vamos deixar essa polêmica estéril de lado e focar nos filmes. Me preocupa que as atenções tenham até agora se centrado apenas entre Petrucelli e Kleber Mendonça, e sobre seu filme ‘Aquarius’”, disse, reparando na tática de polarização enquanto marketing.
Cineastas brasileiros acusam “governo ilegítimo” de conspirar contra Aquarius em publicação americana
Kleber Mendonça Filho aumentou o tom e voltou a desancar o governo brasileiro no exterior, chamando-o de “ilegítimo” e, com auxílio de outros cineastas, alimentando uma narrativa de “sutil conspiração” (no dizer de Anna Muylaert) contra seu filme “Aquarius”. Em reportagem da revista americana Variety, linkada no domingo (28/8) pelo Facebook oficial do filme, os cineastas brasileiros insinuaram que o governo está retaliando “Aquarius”, em consequência da manifestação realizada no Festival de Cannes, quando o diretor e seu elenco ergueram cartazes para denunciar que “O Brasil não é mais uma democracia” após sofrer um “golpe de estado”. “Junte os pontos”, Filho disse na reportagem, em referência à classificação etária de 18 anos do filme, devido a um pênis ereto numa cena de sexo grupal, e à inclusão do crítico Marcos Petrucelli, de visão política oposta a sua, na comissão que vai selecionar o candidato brasileiro à disputa de vaga de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2016. “Há muito falatório sobre a possibilidade do filme estar sendo sabotado pelo governo ilegítimo”, ele declarou. Para “juntar os pontos”, Filho voltou a atacar publicamente Petrucelli com calúnias. “Ele disse que fomos à Cannes de férias, pagos pelo governo. Isto é absurdo e louco”, declarou. Na verdade, Petrucelli escreveu no Facebook: “Vergonha é o mínimo que se pode dizer sobre a equipe e o elenco de ‘Aquarius’, filme que está em Cannes esse ano. Ao passar pelo tapete vermelho, os brasileiros protestaram contra o impeachment com cartazes que diziam ‘O Brasil não é mais uma democracia’. Ah não? Qual regime é esse, então, que permitiu ao diretor do filme levar 30 pessoas da equipe para tirar férias na Riviera Francesa? Nem blockbuster de Hollywood comparece a Cannes com tantas pessoas”. A comparação do contraste entre os protestos pela falta de democracia e a existência de liberdade para a equipe do filme ir à Cannes em peso, tratada ironicamente como “férias na Riviera Francesa”, ultrajou Filho, que ignorou a pergunta “Que regime é esse” e transformou o verbo “permitir” (antônimo de proibir, como numa ditadura) em “financiar”, para justificar uma perseguição brutal e infame, que supera os limites da patrulha ideológica. Para montar sua narrativa de vítima de perseguição, Filho alimenta campanha aberta contra a reputação de um crítico de cinema, com direito a uma Carta Aberta à Comissão Brasileira do Oscar, que detalha frases nunca ditas ou escritas por Petrucelli, num ataque pessoal declarado, ecoado por vários outros cineastas e diante do silêncio cúmplice da Abraccine (a suposta Associação dos Críticos de Cinema do Brasil). Recentemente, o nadador olímpico Ryan Lochte perdeu patrocínios por inventar a narrativa de um assalto inexistente, que ele e outros três nadadores teriam sofrido durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, acreditando que a má imagem internacional do país lhe permitiria se safar com impunidade. Vale observar que, embora o crítico não tenha escrito que a viagem para o Festival de Cannes foi paga pelo governo, o filme “Aquarius” recebeu, sim, verba da Ancine para participar do evento, dentro do Programa de Apoio à Participação de Filmes Brasileiros em Festivais Internacionais e de Projetos de Obras Audiovisuais Brasileiras em Laboratórios e Workshops Internacionais, que prevê pagamento de passagens, hospedagem, transportes, alimentação e “despesas afins” para diretor, produtor e ator/atriz. Mas, para Filho, falar isso é um absurdo, uma loucura. Alimentando a polêmica, a produtora Rachel Ellis, de “Boi Neon”, um dos filmes que pediu para ser excluído da disputa do Oscar em solidariedade ao perseguido Filho, enviou um email para a Variety confirmando que a presença na comissão do jornalista, que “expressou suas opiniões de maneira inapropriada”, fez a equipe de seu filme se “sentir extremamente desconfortável sobre participar no processo de seleção, já que [Petrucelli] solapa sua imparcialidade e legitimidade”. Também em email, Anna Muylaert, que igualmente retirou “Mãe Só Há Uma” da disputa, denunciou a existência de uma “sutil conspiração” contra “Aquarius”. “Como eu acredito que ‘Aquarius’ é o candidato certo para o Brasil neste ano, eu decidi não submeter meu filme, para tornar [o de Filho] mais forte”, ela disse, assumindo mais claramente a tentativa de manipulação do resultado da comissão. De fato, parece haver mesmo uma “sutil conspiração”, mas ela não faz parte da denúncia. Seria a própria denúncia. Afinal, o cineasta que mais protesta não pretende retirar seu filme da disputa. Filho acrescentou que irá escrever uma “carta muito democrática” ao Ministro da Justiça, exigindo explicação para a classificação para maiores de 18 anos recebida por “Aquarius”. Ao final, a reportagem da Variety, que não se deu ao trabalho de checar as informações, acabou polarizando seus leitores, a maioria brasileiros. De 16 comentários publicados após a publicação, 9 foram contra a posição de Filho e 7 favoráveis. Um dos comentários chegou a ecoar Petrucelli, falando em “vergonha de ser brasileiro”. Espera-se que, uma hora, o cinema volte a dar orgulho aos brasileiros.
Carla Camurati entra na comissão que definirá o candidato brasileiro ao Oscar 2017
Um dos maiores ícones da retomada do cinema nacional, a diretora e atriz Carla Camurati vai ocupar a vaga de Ingra Lyberato na comissão que selecionará o candidato brasileiro para disputar uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2017. Convidada a integrar a comissão pelo próprio Ministro da Cultura Marcelo Calero e pelo secretário de Audiovisual Alfredo Bertini, Carla surpreendeu-se com o questionamento de sua “classe” (na definição de Lyberato) sobre a imparcialidade dos integrantes, afirmando que o convite não foi acompanhado de qualquer orientação política – como, por sinal, já tinha sido dito por Lyberato. “Eu estou do lado do cinema brasileiro, e estarei sempre. Minha preocupação é com a nossa cultura de forma geral”, disse a cineasta, cujo filme “Carlota Joaquina” é apontado como divisor da cinematografia nacional. Seu sucesso de bilheteria, numa fase em que o cinema nacional andava desacreditado, marcou o início do renascimento do mercado para as produções brasileiras, a ponto de servir como referência. É o marco zero da retomada. Camurati vê com bons olhos a produção brasileira. “Temos uma variedade muito interessante tanto em termos de conteúdo como de liguagem. A comissão vai ter um bom momento para fazer sua escolha”, avaliou. Na sexta-feira (26/8), Lyberato anunciou pelas redes sociais que deixaria o comitê de seleção após ter “começado a sofrer”. Ela se referiu à “retirada de alguns filmes preciosos”, que não seriam submetidos à comissão por decisão de seus cineastas, em protesto político, e também à pressões extremas da “classe”. Esta foi a segunda substituição na comissão, que já havia perdido o cineasta Guilherme Fiúza Zenha na quinta-feira (25/8). Segundo sua alegação, “por questões pessoais”. Ele foi substituído pelo cineasta Bruno Barreto, que já chegou disputar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por “O Que é Isso, Companheiro?”, em 1998. Com as mudanças, a comissão ficou ainda mais forte e representativa, ainda que o espírito de confronto tenha prejudicado a escolha. Três cineastas retiraram seus filmes da disputa pela vaga ao Oscar 2017 em protesto político contra a própria comissão, devido à sua “imparcialidade questionável”, como se expressou Gabriel Mascaro, que retirou “Boi Neon” da disputa. Em comunicado, a equipe de “Para Minha Amada Morta”, de Aly Muritiba, resumiu: “Não reconhecemos a legitimidade da comissão constituída pela SaV (Secretaria do Audiovisual) para escolher o representante brasileiro na disputa do Oscar 2017”. Além deles, Anna Muylaert também retirou “Mãe Só Há Uma” da apreciação da comissão. Na ocasião, ela deu a entender, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, que se tratava de uma tática para forçar a escolha de “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho. “Achamos que este é o ano de ‘Aquarius’. É o filme certo”, disse. Outros diretores alinhados com o mesmo discurso não chegaram tão longe, mas assumiram participar de uma conspiração. O objetivo seria, segundo consta num texto publicado no Facebook pelo cineasta Roberto Berliner, tentar forçar a “retirada” de um membro da comissão, que desagrada a “classe” por sua postura mais crítica. Lyberato chegou a dar nome à vítima, em seu desabafo, antes de pedir para sair. “Estamos sendo extremamente pressionado por todas as notícias a ponto de ter gente pedindo para sair. Qual é o objetivo? Forçar o Petrucelli a sair? Forçar todos a sair?”, ela escreveu. O alvo era o crítico Marcos Petrucelli. Desde que seu nome foi incluído na comissão, o cineasta Kleber Mendonça Filho abriu uma frente de ataque à sua participação. Petrucelli não poderia participar da comissão, na visão dos diretores citados, por ter criticado a photo-op da equipe de “Aquarius” em Cannes, quando Filho e seus atores ergueram cartazes para denunciar, em inglês e francês, que “o Brasil não é mais uma democracia” após sofrer um “golpe de estado”. Ele não seria isento, portanto, para escolher o filme que representará o país no Oscar. Além disso, a inclusão do crítico na comissão reforçaria a tese de vitimação de Filho, que estaria sofrendo perseguição pelo protesto no país do caviar. Outro exemplo disso seria a censura de 18 anos que seu filme recebeu do Ministério da Justiça, por mostrar um pênis ereto numa cena de orgia. O diretor escreveu em seu Facebook: “Alguém no governo fortalecendo o marketing desse filme. Incrível”. Apesar de todo o jogo de cena, Filho tirou o corpo fora do protesto, vendo seus colegas-rivais saírem da disputa, sem retirar “Aquarius” da comissão. “Tenho interesse em ver o processo se completar dentro das regras democráticas”, ele afirmou ao jornal Folha de S. Paulo. Seu interesse não deixa de ser um bom exemplo e uma bela lição.
Bruno Barreto entra na comissão que indicará candidato brasileiro ao Oscar 2017
Diretor de um dos últimos longas nacionais a emplacar uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o cineasta Bruno Barreto entrou na comissão avaliadora do Ministério da Cultura, que determinará o candidato brasileiro a tentar uma vaga na categoria em 2017. A informação foi confirmada pelo Secretário do Audiovisual Alfredo Bertini, após publicação no jornal O Globo. Barreto concorreu ao Oscar com “O Que É Isso, Companheiro?”, em 1997, e assumirá o lugar originalmente oferecido ao produtor Guilherme Fiúza Zenha, que alegou motivos pessoais para não continuar no júri. Zenha se recusou a dar detalhes, mas a atriz Ingra Lyberato, que também pediu para sair, publicou um longo desabafo no Facebook, mencionando pressões extremas da “classe” para abandonar a comissão. O objetivo seria, segundo consta num texto publicado no Facebook pelo cineasta Roberto Berliner, tentar forçar a “retirada” de um membro da comissão, que desagrada a “classe” por sua postura mais crítica. Lyberato chegou a dar nome à vítima, em seu desabafo. “Estamos sendo extremamente pressionado por todas as notícias a ponto de ter gente pedindo para sair. Qual é o objetivo? Forçar o Petrucelli a sair? Forçar todos a sair?”, ela escreveu. O alvo é o crítico Marcos Petrucelli. Desde que seu nome foi incluído na comissão, o cineasta Kleber Mendonça Filho abriu uma frente de ataque à sua participação. Petrucelli não poderia participar da comissão, na visão do diretor, por ter criticado a photo-op da equipe de “Aquarius” em Cannes, quando Filho e seus atores ergueram cartazes para denunciar, em inglês e francês, que “o Brasil não é mais uma democracia” após sofrer um “golpe de estado”. Ele não seria isento, portanto, para escolher o filme que representará o país no Oscar. Este discurso foi encampado por três outros diretores, que anunciaram a retirada de seus filmes da apreciação da comissão: “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert, e “Para Minha Amada Morta”, de Aly Muritiba. Em comunicado sucinto, postado no Facebook, Muritiba resumiu a situação, ao afirmar, em nome da equipe de “Para Minha Amada Morta”, que “não reconhecemos a legitimidade da comissão constituída pela SaV (Secretaria do Audiovisual) para escolher o representante brasileiro na disputa do Oscar 2017”. Pela lógica de panelinha, portanto, qualquer crítico de cinema que tiver se manifestado, ainda mais por escrito, como é da profissão, sobre qualquer filme nacional, a favor ou contra, estaria automaticamente impedido de participar da comissão, eliminando assim uma classe inteira do processo. Seria a vingança final dos diretores contra os críticos? A Abraccine, que surgiu como uma espécie de sindicato dos críticos de cinema, não fez, até o momento, nenhum comentário a respeito da situação. Claro que, com Bruno Barreto, fica difícil continuar falando em falta de legitimidade. Ainda mais quando se lembra do filme de seu irmão Fábio, “Lula, o Filho do Brasil”, escolhido para representar o país no Oscar em 2010, durante o mandato de Lula, em votação unânime da comissão do Ministério da Cultura do governo do próprio Lula. Faz só seis anos, mas nossos cineastas democratas, que se mostram tão engajados contra a falta de transparência, legitimidade e ética, podem ter se esquecido, já que não se manifestaram na ocasião. Bruno Barreto, por sinal, foi quem entregou, na noite de sexta (26/8), o prêmio pela carreira para Sonia Braga, durante o Festival de Gramado. Os dois trabalharam juntos em “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976) e se reencontraram durante a projeção de “Aquarius” no festival. “Ela é a minha musa eterna”, disse o cineasta, abraçando a atriz. Será que nossos cineastas paladinos vão questionar a legitimidade de seu voto por essa manifestação pública da afeto para a estrela de “Aquarius”, na véspera da votação da comissão? Imagine só.










