Ivete Sangalo e Ludmilla cancelam turnês por problemas com produtora
A cantora afirmou que teve que cancelar a megaturnê comemorativa por falta de "condições necessárias" da produtora responsável
Cineasta Sally Potter divulga clipe de seu disco de estreia
A cineasta britânica Sally Potter decidiu apostar numa carreira musical com o lançamento do seu primeiro álbum, intitulado “Pink Bikini”. Conhecida por dirigir filmes como “Orlando, a Mulher Imortal” (1992), “Porque Choram os Homens” (2000) e “A Festa” (2017), ela divulgou o videoclipe da primeira faixa do projeto. Mergulhado no conceito preto e branco, a gravação exalta o conceito minimalista característico da cineasta com a canção “Black Mascara”. Durante o vídeo, Potter aparece balançando o quadril enquanto gira um bambolê na cintura. Com a música tocando ao fundo, ela permanece afastada da câmera e sem sair do lugar, enquanto as letras da canção aparecem do outro lado da tela e destoam em vermelho do filtro monocromático. “‘Black Mascara’ foi uma das primeiras faixas que escrevi para ‘Pink Bikini’, um álbum de canções que explora retrospectivamente os desesperos e anseios da minha turbulenta adolescência; uma época de transição, marcada pelo fim da infância e o início da vida adulta”, revelou Potter em comunicado. Conhecida por produções minimalistas A artista se entrega ao seu lado musical enquanto aborda os conceitos do cinema, caminho pelo qual trilhou ao longo de mais de 50 anos de carreira. Segundo ela, o videoclipe é o início de uma nova fase e, por isso, deve ser produzido de forma orgânica. “Fazer o vídeo foi um retorno diferente. Precisava ser feito da mesma forma que fiz filmes quando comecei na adolescência”, declarou. Dessa forma, o clipe faz uma referência nostálgica aos primeiros trabalhos de Potter, que foram curta-metragens ainda filmados em preto e branco, no início dos anos 1970. “Naquela época eu não tinha dinheiro, treinamento ou equipamento. A necessidade de inventar e imaginar coisas do nada se tornou parte de uma filosofia que mais tarde chamei de ‘Barefoot Filmmaking'”, revelou. Traduzido como “cinema descalço”, o conceito engloba um estilo de produção desprevenido. A partir dessa abordagem, a cineasta ficou conhecida por fazer filmes com recursos simples e improvisação, sem grandes orçamentos ou equipamentos sofisticados. “Significava trabalhar com meios mínimos, pegar equipamentos emprestados e trabalhar com a boa vontade e a energia de alguns amigos queridos e co-conspiradores”, detalhou. A diferença é que, para a produção do clipe, ela ainda com profissionais premiados. As imagens do vídeo foram gravadas por Robbie Ryan, diretor de fotografia indicado ao Oscar pelo seu trabalho em “A Favorita” (2018). Além disso, a produção também teve o apoio de uma equipe formada por graduados da Escola Nacional de Cinema e Televisão do Reino Unido. Paixão de longa data pela música Apesar de estar produzindo seu primeiro álbum aos 73 anos, o interesse de Potter pela música não é de hoje. Antes de se dedicar ao cinema, ela fazia parte do grupo Feminist Improvising Group (“Grupo Feminista de Improvisação”, em tradução livre), uma banda britânica de vanguarda. Durante os anos 1970, o grupo chegou a fazer turnês pela Europa. Além disso, a cineasta já se apresentou com a Film Music Orchestra e colaborou como letrista no álbum “Oh Moscow”, ao lado da musicista inglesa Lindsay Cooper. Na época, o conjunto realizou shows nas antigas União Soviética e Berlim Oriental em 1989, antes da queda do Muro de Berlim. Ainda no cinema, ela atuou na produção das trilhas sonoras originais de dois longas que dirigiu, sendo um deles “Orlando – A Mulher Imortal” (1992), ao lado do compositor David Motion. Recentemente, ela foi responsável pelas músicas de seu filme “Sonhos de Uma Vida” (2020), estrelado por Javier Bardem (“A Pequena Sereia”), Elle Fanning (“The Great”) e Salma Hayek (“Eternos”). Pink Pikini será um álbum biográfico Com o álbum de estreia, a cineasta promete uma coleção de canções “semi-autobiográficas”. “Pink Bikini” vai apresentar suas composições e letras originais, inspiradas na sua própria experiência na Londres dos anos 1960, período do qual era uma jovem rebelde e ativista. A capa do álbum é uma imagem de uma Potter ainda jovem, também em preto e branco. Além disso, arranjos musicais do projeto contam com a participação do guitarrista Fred Frith, ex-integrante de várias bandas de vanguarda (Henry Cow, Art Bears, Massacre e Skeleton Crew), que colabora com a cineasta em suas trilhas sonoras há anos. “Pink Bikini” será lançado nas plataformas digitais no dia 14 de julho.
Estreias: “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” e os melhores filmes pra ver em casa
O multiverso indie chega às locadoras digitais. A programação de filmes da semana destaca o maior “blockbuster” independente do ano: “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, um filme de ação e fantasia que virou unanimidade crítica. Há também a bizarrice biológica de David Cronenberg, um terror tailandês de arrepiar, duas produções brasileiras e vários filmes premiados, com destaque para “A Pior Pessoa do Mundo”, que foi indicado a quase 100 prêmios, entre eles dois Oscars, e venceu 22 vezes. Confira abaixo a sugestão semanal dos 10 melhores lançamentos para programar seu cinema em casa. | TUDO EM TODO O LUGAR AO MESMO TEMPO | VOD* Maior sucesso da História do estúdio indie A24 (de filmes como “Midsommar” e “Ex Machina”), a sci-fi com 95% de aprovação da crítica americana no Rotten Tomatoes conta a história de uma mãe de família exaurida pela dificuldade de pagar seus impostos, quando descobre a existência do multiverso e de muitas versões dela mesma em diferentes realidades. Não só isso: um de seus maridos de outro mundo lhe revela que o destino do multiverso está em suas mãos. E para impedir o fim de todos os mundos, a personagem vivida por Michelle Yeoh (“Star Trek: Discovery”) precisará incorporar as habilidades da totalidade de suas versões para enfrentar Jamie Lee Curtis (“Halloween”) e outras ameaças perigosas que a aguardam em sua missão. O elenco ainda destaca Ke Huy Quan (que foi o menino Short Round de “Indiana no Templo da Perdição”) como o marido de Yeoh, Stephanie Hsu (“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”) como sua filha e o veterano James Hong (“Aventureiros do Bairro Proibido”), entre outros. Roteiro e direção são dos Daniels, pseudônimo da dupla Daniel Kwan e Daniel Scheinert (ambos de “Um Cadáver Para Sobreviver”), e a produção já é considerada cult. | CRIMES OF THE FUTURE | MUBI A sci-fi bizarra marca a volta do diretor David Cronenberg aos horrores biológicos do começo de sua carreira – e até os efeitos parecem de época, sem nenhum tratamento computadorizado. Centrado em mutações biológicas e performances de arte corporal, o filme chama mais atenção por sua ideias subversivas – frases como “cirurgia é o novo sexo” – e pela ambientação decadente – num futuro em que tudo parece antigo, sem computadores nem celulares – do que pela trama, tão nonsense quanto a de “Videodrome” (1983) e com muitas pontas soltas sem resolução. Nesse futuro onde a tecnologia parece alienígena, as pessoas estão sofrendo mutações espontâneas, com o surgimento de novos órgãos internos. O protagonista, vivido por Viggo Mortensen (“Green Book”), é um performer conhecido por transformar seu corpo em espetáculo, extraindo, com a ajuda da esposa (Léa Seydoux, de “007 – Sem Tempo para Morrer”), suas próprias mutações diante de uma plateia extasiada. Ele também é um assistente voluntário de uma organização burocrática criada para catalogar o surgimento de novos órgãos – e sua biologia única encanta os dois encarregados desse processo, vividos por Kristen Stewart (“Spencer”) e Don McKellar (“Ensaio contra a Cegueira”). Como se não bastasse, secretamente ainda é um informante da polícia. Ele se infiltra entre revolucionários pró-mutação, fingindo permitir que suas performances se tornem plataformas para a próxima fase da evolução humana. | A PIOR PESSOA DO MUNDO | VOD* A obra mais premiada do dinamarquês Joachim Trier (“Mais Forte que Bombas”), vencedora de 19 prêmios internacionais, indicada a dois Oscars (Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Internacional) e com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, acompanha uma mulher que se aproxima dos 30 anos com uma crise existencial. Vários de seus talentos foram desperdiçados e seu namorado está pressionando para que eles se estabeleçam. Uma noite, ela invade uma festa, conhece um homem charmoso e se joga em um novo relacionamento, esperando encontrar uma perspectiva diferente em sua vida. Elogiadíssima pelo desempenho, a norueguesa Renate Reinsve (“Oslo, 31 de Agosto”) foi consagrada como Melhor Atriz no Festival de Cannes. | DOWNTON ABBEY: UMA NOVA ERA | VIVO PLAY, VOD* O segundo filme baseado na série britânica volta a trazer a maioria do elenco original numa trama que é literalmente cinematográfica, por mostrar a produção de um filme na propriedade da família Crawley. Em sua volta às telas, os personagens também embarcam numa viagem de veraneio, após a Condessa de Grantham (Maggie Smith) herdar uma villa na Riviera Francesa – e deixar todos curiosos para descobrir o mistério por trás dessa herança. E além de encher a tela com a paisagem esplendorosa do litoral francês, a trama ainda inclui um casamento. O roteiro é de Julian Fellowes, que conduziu a série de época entre 2010 e 2015, e a direção está a cargo do cineasta Simon Curtis (“Sete Dias com Marilyn”). | A MEDIUM | VIVO PLAY, VOD* Longe de ser um terror hollywoodiano, “A Médium” é uma história assustadora baseada na espiritualidade tailandesa. O diretor Banjong Pisanthanakun é especialista no gênero, responsável pelo sucesso “Espíritos” (2004), que virou franquia, e vários outros horrores made in Thailand. Sua abordagem segue de perto a escola “found footage” (mais “Holocausto Canibal” que “A Bruxa de Blair”), com equipe de (falsos) documentaristas mobilizada para acompanhar um exorcismo com rituais muito diferentes dos apresentados nos terrores católicos. Na trama, Nim, uma importante médium que mora ao norte da Tailândia, percebe comportamentos cada vez mais sinistros em sua jovem sobrinha Mink, indicando que talvez ela esteja sendo possuída por uma entidade maligna ancestral. A médium logo descobre que a jovem é vítima de algo que aconteceu em sua família, muitos anos atrás. E a câmera tremida deixa tudo muito mais realista e arrepiante. | A SUSPEITA | VIVO PLAY, VOD* Glória Pires foi premiada no último Festival de Gramado como Melhor Atriz pelo desempenho neste filme, em que interpreta uma policial diagnosticada com Alzheimer. Enquanto se conforma com sua aposentadoria, a investigação de seu último caso aponta um esquema que pode torná-la suspeita de assassinato. Logo, ela percebe que precisará encontrar o verdadeiro culpado, enquanto luta contra os lapsos de memória e recusa os conselhos de pegar leve. Diretor de novelas da Globo, Pedro Peregrino fez sua estreia no cinema à frente deste thriller policial, que foi escrito por dois roteiristas experientes, Newton Cannito (“Bróder”, “Reza a Lenda”) e Thiago Dottori (“VIPs” e “Turma da Mônica: Laços”), em parceria com a produtora Fernanda De Capua (“Domingo”). | INFLUENCER DE MENTIRA | STAR+ Escrita e dirigida pela atriz Quinn Shephard (“Sol da Meia-Noite”), a comédia segue Danni Sanders (Zoey Deutch, de “Zumbilândia: Atire Duas Vezes”), uma aspirante a escritora que é praticamente invisível, sem perspectivas românticas nem seguidores nas redes sociais. Quando ela decide fingir ser uma influencer digital para alavancar seu status social, simples e inocentes montagens para mostrá-la em Paris viram seu pior pesadelo. Isto porque a capital francesa vira palco de um atentado, transformando Danni na principal personagem da mídia sobre o ocorrido. Acumulando fama e seguidores como sobrevivente fake do ataque mortal, ela se vê enredada numa ficção muito maior que jamais imaginou. O elenco também destaca um irreconhecível Dylan O’Brien (“Amor e Monstros”), bem loiro e tatuado, além de Embeth Davidtz (“The Morning Show”), Sarah Yarkin (“O Massacre da Serra Elétrica”), Brennan Brown (“Chicago Med”) e Karan Soni (“Deadpool”). | MINHAS FÉRIAS COM PATRICK | MUBI A comédia rendeu o César (o Oscar francês) de Melhor Atriz para Laure Calamy. A história em si é típica do cinema do país, acompanhando uma farsa entre amantes. Calamy vive a professora amante do pai de um de seus alunos, que resolve encontrá-lo “por coincidência” nas férias com a esposa e o filho. O passeio pela locação bucólica, porém, envolve um burro (o animal, não o marido) não muito cooperativo. Vagamente inspirada num conto de Robert Louis Stevenson do final do século 19, “Minhas Férias com Patrick” é o segundo filme dirigido por Caroline Vignal, lançado 20 anos após a estreia da cineasta com “Les Autres Filles” (2000). | A FESTA | MUBI A comédia britânica ironiza a esquerda intelectual com humor ferino e fotografia em preto e branco, mas divide opiniões – talvez porque a esquerda intelectual não tenha gostado de se reconhecer no enquadramento da cineasta Sally Potter (“Ginger & Rosa”). Mesmo quem desdenha, dá o braço a torcer para a interpretação de Patricia Clarkson (“A Livraria”), que rouba as cenas como convidada da festa do título, realizada pela personagem de Kristin Scott Thomas (“O Destino de uma Nação”) para comemorar sua indicação a um cargo político. Clarkson ganhou o BIFA, o prêmio do cinema indie britânico. | BARBA, CABELO E BIGODE | NETFLIX O ex-BBB Lucas Penteado interpreta Richardsson, um jovem que termina o Ensino Médio e entra na fase de descobrir o que fazer com a própria vida. Embora sua mãe (Solange Couto) tenha grandes sonhos para seu futuro, a vontade dele é cortar cabelos no Saigon, salão administrado por ela e que enfrenta crise financeira no bairro carioca da Penha. Sem apoio da mãe, ele busca realizar seu sonho por conta própria, envolvendo-se em várias confusões, enquanto espalha cortes estilosos pelo Rio de Janeiro. A direção é de Rodrigo França (“Como Esquecer um Grande Amor”) e Letícia Prisco (diretora assistente de “Minha Mãe é uma Peça 3”), e o elenco também inclui Juliana Alves, Rebecca, MV Bill, MC Carol, Yuri Marçal, Jeniffer Dias, Sérgio Loroza e Neuza Borges. * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Microsoft Store, Loja Prime e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.
Bruno Ganz (1941 – 2019)
O ator suíço Bruno Ganz, que viveu um anjo em “Asas do Desejo” e Adolf Hitler em “A Queda! As Últimas Horas de Hitler”, morreu de câncer neste sábado (16/2) aos 77 anos em Zurique, informou seu agente. Nascido em 22 de março de 1941, Ganz desenvolveu a maior parte de sua carreira artística no cinema, na televisão e no teatro alemães durante mais de meio século de interpretações. Ele foi atraído para a atuação ainda muito jovem, quando um amigo, técnico de iluminação de um teatro local, passou a deixá-lo assistir às produções. A trajetória cinematográfica começou em 1960 no cinema suíço, mas só deslanchou quando foi filmar no exterior, ao se envolver com ícones da nouvelle vague francesa. Em 1976, coadjuvou em “No Coração, a Chama”, primeiro filme dirigido pela atriz Jean Moreau, e se tornou protagonista em “A Marquesa d’O”, de Éric Rohmer. Falado em alemão, o longa do mestre francês foi premiado em Cannes e rendeu a Ganz o primeiro reconhecimento de sua carreira, como Melhor Ator na votação anual da Academia Alemã-Ocidental. No ano seguinte, ele iniciou uma das principais parcerias de sua filmografia, ao estrelar o filme que lhe apresentou para o mundo, “O Amigo Americano” (1977), adaptação do suspense noir de Patricia Highsmith realizada pelo alemão Win Wenders. Na trama, Ganz vivia um emoldurador de quadros casado, com filho, endividado e vítima de uma doença terminal, que, por não ter muito a perder, é convencido a virar assassino profissional pelo amigo americano do título, ninguém menos que o serial killer Tom Ripley (que depois teria sua origem filmada em “O Talentoso Ripley”), interpretado por Dennis Hopper. O resultado, filmado de forma altamente estilizada por Wenders, e a presença de Hopper – e dos diretores Nicholas Ray e Samuel Fuller, em papéis coadjuvantes – transformou a obra em cult movie e deu a Ganz audiência cativa mundial. Fez, a seguir, seu primeiro filme americano, o terror “Meninos do Brasil” (1978), de Franklin J. Schaffner, sobre clones de Hitler, embarcou no remake do marco do expressionismo alemão “Nosferatu: O Vampiro da Noite” (1979), com direção de Werner Herzog, voltou à França para “A Dama das Camélias” (1981), adaptação do clássico literário de Alexandre Dumas Filho, em que contracenou com Isabelle Huppert, e trabalhou com ainda outro mestre do Novo Cinema Alemão, Volker Schlöndorff, em “O Ocaso de um Povo” (1981), sobre a questão Palestina. O segundo encontro com Wenders rendeu novo papel memorável, como um anjo pairando sobre Berlim em “Asas do Desejo” (1987). Filmado em preto e branco – e novamente com participação de um americano, Peter Falk – , o filme se tornou o postal definitivo de Berlim Ocidental, uma cidade à beira de um muro com uma juventude à beira do abismo, embalado por trilha/shows de rock depressivo – Nick Cave and the Bad Seeds e Crime and the City Solution. Cultuadíssimo, venceu o troféu de Melhor Direção no Festival de Cannes, o Prêmio do Público na Mostra de São Paulo e o de Melhor Filme Estrangeiro no Film Independent Spirit Awards americano. Ganz filmou ainda um terceiro longa com Wenders, “Tão Longe, Tão Perto” (1993), novamente ao lado de Peter Falk e com Willem Dafoe. E embarcou numa turnê cinematográfica mundial, rodando produções na Itália (“Sempre aos Domingos”, 1991), Austrália (“O Último Dia em Que Ficamos Juntos”, 1992), Islândia (“Filhos da Natureza”, 1991) e Reino Unido (“A Vida de Saint-Exupery”, 1996). Até criar outro clássico com um grego, Theodoros Angelopoulos, em “A Eternidade e um Dia” (1998). Após filmes de menor evidência, voltou com tudo em 2004 com duas produções que lhe deram grande visibilidade: o remake de “Sob o Domínio do Mal”, dirigido pelo americano Jonathan Demme, e principalmente “A Queda! As Últimas Horas de Hitler”, de Oliver Hirschbiegel, em que interpretou o Hitler mais convincente já visto no cinema, amargurando seu final de vida no bunker de onde só sairia morto. A popularidade de “A Queda!”, indicado ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, embalou outra volta ao mundo, que desta vez o levou até ao Japão (“The Ode to Joy”, 2006), antes de colocá-lo novamente em Hollywood, em “Velha Juventude” (2007), dirigido por Francis Ford Coppola, e numa nova parceria com Angelopoulos, “A Poeira do Tempo” (2008). Ele ainda realizou uma façanha, ao estrelar dois filmes indicados ao Oscar num mesmo ano: “O Grupo Baader Meinhof” (2008), de Uli Edel, sobre o grupo terrorista alemão dos anos 1970, que disputou o troféu de Melhor Filme em Língua Estrangeira, e “O Leitor” (2008), do inglês Stephen Daldry, sobre uma ex-funcionária nazista analfabeta, que rendeu o Oscar de Melhor Atriz para Kate Winslet. Membro ativo da comunidade cinematográfica alemã, Ganz também atuou como presidente da Academia Alemã de Cinema de 2010 a 2013. E, em 2010, recebeu uma homenagem da Academia Europeia por sua filmografia. Que só aumentou desde então. Extremamente versátil, Ganz acumulou filmes de alcance internacional na fase final de sua carreira, como os thrillers hollywoodianos “Desconhecido” (2011), de Jaume Collet-Serra, e “O Conselheiro do Crime” (2013), de Ridley Scott, o romance “Trem Noturno para Lisboa” (2013), de Bille August, o cult escandinavo de vingança “O Cidadão do Ano” (2014), de Hans Petter Moland – refilmado neste ano como “Vingança a Sangue Frio” – , o drama “Memórias Secretas” (2015), de Atom Egoyan, a comédia “A Festa” (2017), de Sally Potter, e o ultraviolento “A Casa que Jack Construiu” (2018), de Lars Von Trier, em que deu vida ao poeta Virgílio, acompanhando o serial killer interpretado por Matt Dillon numa jornada para o Inferno. No ano passado, os médicos o diagnosticaram com um câncer intestinal, mas, mesmo passando por tratamento com quimioterapia, ele continuou filmando. O ator deixou três longas inéditos, entre eles “Radegund”, do americano Terrence Malik. Para se ter ideia da importância de Ganz para o cinema e o teatro alemães, ele era portador do Anel de Iffland, uma honraria lendária do século 18, que apenas o melhor ator em língua alemã pode usar, e sua utilização é vitalícia, passando a outro intérprete apenas após sua morte.
A Festa ironiza intelectuais e poderosos de partidos políticos
“A Festa” é uma comédia irônica, de sorrisos, não de gargalhadas. Ao revelar-nos um universo perverso, que escamoteia todas as questões, o que fica é só aparência e vazio. O que é objeto de reflexão sobre o mundo dos bem-sucedidos e poderosos. Um encontro íntimo reúne sete amigos, com a intenção de celebrar a ida de Janet (Kristin Scott Thomas) para o prestigioso Ministério da Saúde, no Reino Unido. É bom lembrar que o atendimento britânico de saúde é referência mundial . Pois bem, o filme tratará de pôr em cheque isso também. O mais importante é que uma doença terminal, revelações sobre uma gravidez inesperada, infidelidades várias, lesbianismo e dependência de drogas serão elementos detonadores dessa celebração. O desnudamento da burguesia poderosa que o filme apresenta faz lembrar o mestre espanhol Luís Buñuel e seu estilo corrosivo. No entanto, aqui não há propriamente surrealismo ou non sense. Tudo se dá numa dimensão que cabe no terreno racional. Com dificuldade, é verdade, mas cabe. O mais próximo do surreal é o ótimo personagem de Bruno Ganz, Gottfried, com sua energia positiva descolada da realidade, sua atitude de autoajuda e suas crenças alternativas. Já a militante do partido que vai virar ministra nos é bastante familiar, no seu cinismo e descrença do seu papel republicano no governo. A intelectualidade real, ou simulada, dos demais não resiste ao crivo da razão e do equilíbrio. Jogam pesadamente na deslealdade, no que está encoberto ou omisso. Detonam a si mesmos e aos outros. O título original “The Party” refere-se tanto à festa que implode quanto ao partido político – supostamente de esquerda. Um bom roteiro, diálogos atraentes, um elenco de peso e uma interessante opção pelo preto e branco, que reforça a ligação com o Buñuel dos primeiros tempos, faz do filme da cineasta Sally Potter (do clássico “Orlando, a Mulher Imortal”) uma ótima atração do presente ano cinematográfico.
Missão Impossível é a maior, melhor e mais bem-sucedida estreia de cinema da semana
“Missão: Impossível – Operação Fallout” tem a missão mais fácil da semana: lotar os cinema com a melhor aventura da franquia estrelada por Tom Cruise. O filme estreia em 1,3 mil salas no Brasil, um dia antes de chegar nos Estados Unidos, onde conquistou 97% de aprovação da crítica, na média do site Rotten Tomatoes. É disparada a nota mais alta entre todos os demais lançamentos da programação – e uma das mais altas do ano. Só um míssil termonuclear poderá impedir o seu sucesso. Frenético ao extremo, repleto de ação do começo ao fim, o longa explora a coragem suicida de Tom Cruise como nenhum filme antes. O ator, que dispensa dublês e efeitos digitais, vive ele mesmo as situações de perigo, como pilotar helicóptero em fuga, pular de um avião em queda livre, dirigir moto na contra-mão sem capacete ou pular entre prédios distantes. Não foi por acaso que se machucou durante as filmagens, o que o afastou do set por três meses. Por sinal, a cena em que o ator quebra o tornozelo, durante um erro de cálculo num salto entre edifícios em Londres, entrou no filme. Adaptação de best-seller juvenil, o romance adolescente sobrenatural “Todo Dia” tem público cativo em seu nicho. A trama acompanha alguém que acorda todo o dia num corpo diferente, até que se apaixona pela namorada de seu novo corpo. Melhor que a média do gênero, serve metafísica para adolescentes, ainda que de forma superficial. Os encontros de dois jovens também alimentam “Alguma Coisa Assim”, apelidado de “Boyhood” brasileiro por encontrar seus personagens em três momentos diferentes ao longo de uma década. O terceiro personagem é a rua Augusta, em São Paulo, que em dois dos encontros muda mais que o casal, dos neons piscantes das casas de strip e botecos com mesas de plástico aos restaurantes chiques e bares da moda. Trata-se de um trabalho bastante instigante de Esmir Filho e Mariana Bastos, mas também pragmático, por reunir os curtas originais “Alguma Coisa Assim” (2006) e “Sete Anos Depois” (2014) com novas filmagens, desta vez em Berlim, amarrando tudo com ajuda de um quarto personagem: o próprio tempo. A comédia britânica “A Festa” ironiza a esquerda intelectual com humor negro e fotografia em preto e branco, mas divide opiniões – talvez porque a esquerda intelectual não tenha gostado de se reconhecer na tela de Sally Potter. Mesmo quem desdenha, dá o braço a torçar para a interpretação de Patricia Clarkson, que rouba as cenas como convidada da festa do título, realizada pela personagem de Kristin Scott Thomas para comemorar sua indicação a um cargo político. Clarkson ganhou o BIFA, o prêmio do cinema indie britânico. O francês “Promessa ao Amanhecer” é remake do clássico homônimo de Jules Dassin, baseado na autobiografia do escritor Romain Gary, e tem como maior destaque a participação da atriz Charlotte Gainsbourg como mãe do protagonista, num papel que foi interpretado por Melina Mercouri em 1970. Gainsbourg foi indicada ao prêmio César. Por fim, “Lámen Shop” usa culinária para contar sua história e a História de Singapura. Mais fast food que prato gourmet, não repete a receita de qualidade do diretor singapurense Eric Khoo, conhecido pela animação “Tatsumi” (2011), que venceu o Festival de Tóquio ao retratar a vida de um dos pioneiros dos quadrinhos japoneses. Confira abaixo mais detalhes dos filmes, com sinopses oficiais e trailers, para decidir melhor o que assistir. Missão: Impossível – Operação Fallout | EUA | Ação Obrigado a unir forças com o agente especial da CIA August Walker (Henry Cavill) para mais uma missão impossível, Ethan Hunt (Tom Cruise) se vê novamente cara a cara com Solomon Lane (Sean Harris) e preso numa teia que envolve velhos conhecidos movidos por interesses misteriosos e contatos de moral duvidosa. Atormentado por decisões do passado que retornam para assombrá-lo, Hunt precisa se resolver com seus sentimentos e impedir que uma catastrófica explosão ocorra, no que conta com a ajuda dos amigos de IMF. Todo Dia | EUA | Romance A tem o incrível poder de acordar todos os dias em um corpo diferente, independente de gênero, cor ou idade. Sua rotina de constante adaptação, no entanto, ganha ares tristes quando acorda no corpo de Justin (Justice Smith) e acaba se apaixonando perdidamente pela namorada dele, Rhiannon (Angourie Rice). Alguma Coisa Assim | Brasil | Drama Enquanto buscam diversão, os jovens Caio (André Antunes) e Mari (Caroline Abras), vagam pela noite de São Paulo. Nesse contexto, entre o som e os silêncios, os dois vão se conhecendo ainda mais e ao longo de uma década se reencontram em três momentos muito importantes de suas vidas. A Festa | Reino Unido | Comédia Janet (Kristin Scott Thomas), uma política de esquerda, convida os amigos do partido para comemorar a sua escolha para o cargo de Ministra da Saúde britânica, coroando um objetivo que ela perseguia há anos. Os amigos – e penetras – também têm suas revelações, como uma gravidez inesperada. Mas é a surpresa revelada pelo marido de Janet, o intelectual Bill (Timothy Spall), que transforma completamente o clima da celebração. Promessa ao Amanhecer | França | Drama Desde sua infância na Polônia até a adolescência em Nice, de seus anos de estudante em Paris ao período de seu treinamento como piloto durante a 2ª Guerra Mundial, Romain Gary (Pierre Niney) atribui a vontade de viver intensamente à sua mãe, Nina (Charlotte Gainsbourg). É a força desse amor que o consagra como um dos mais famosos romancistas franceses e o único escritor a vencer o Prêmio Goncourt pela literatura francesa duas vezes, porém essa devoção também se torna um fardo em sua vida. Lámen Shop | Singapura, Japão | Drama Masato (Takumi Saitoh) trabalha no restaurante da família, um dos estabelecimentos de lámen mais reputados em todo o Japão. Quando ele perde o pai, o jovem chef decide buscar as raízes culinárias e históricas do pai e da mãe, também falecida. Através de um diário e de cartas, Masato faz um caminho através de China, Japão e Singapura, confrontando-se ao trauma da batalha de Singapura, que mudou para sempre os rumos de seus pais. Ele decide então acertar as contas com o passado. Vinte Anos | Brasil, Costa Rica | Documentário As recentes transformações da sociedade cubana através de histórias de amor de três casais cubanos, filmadas ao longo de vinte anos.





