Brimstone: Veja três cenas e dez fotos do western ultraviolento estrelado por Dakota Fanning
Com a première de “Brimstone” no Festival de Veneza, a Paradiso Entertainment divulgou três cenas e dez fotos do filme, dirigido pelo holandês Martin Koolhoven (“AmnesiA”). As prévias dão uma mostra do clima tenso, sádico e ultraviolento da produção, com cenas de tortura psicológica, um assassinato escatológico e o açoitamento de uma mulher. Primeiro filme falado em inglês do cineasta, que também assina o roteiro, “Brimstone” conta a história de sobrevivência de uma mulher muda chamada Liz, interpretada por Dakota Fanning (“Movimentos Noturnos”). Na trama, ela é vítima da violência exacerbada de um padre vingativo, vivido por Guy Pearce (“The Rover – A Caçada”), e sofre na carne tormentos de um inferno na Terra. O elen co também inclui os ingleses Kit Harington (série “Game of Thrones”) e Emilia Jones (“High-Rise”), a suiça Carla Juri (“Zonas Úmidas”), a sueca Vera Vitali (“Blind”) e a holandesa Carise Van Hotten (também de “Game of Thrones). Após Veneza, o filme ainda será exibido nos festivais de Toronto e Londres, mas ainda não tem previsão de estreia comercial.
Veneza: Dakota Fanning sofre horrores em western sádico “feminista”
Até parece que western feminista é novidade, pela recepção de parte da crítica a “Brimstone” no Festival de Veneza. Feminismo dirigido por um homem? Hollywood faz isso desde os anos 1950, com “Johnny Guitar”, do mestre Nicholas Ray, cujo cartaz trazia Joan Crawford de roupa “masculina” (calças e botas) e prestes a tirar o revólver do coldre. Mas foi assim que o diretor holandês Martin Koolhoven (“AmnesiA”) vendeu “Brimstone”, durante a entrevista coletiva do Festival de Veneza, onde disse ter escolhido mostrar “uma mulher no papel principal para finalmente apresentar o universo masculino do Velho Oeste sob o ponto de vista feminino”. Se sadismo puder ser confundido com “ponto de vista feminino”, é claro. “Brimstone” é o primeiro filme falado em inglês do cineasta, e o tema não poderia ser mais americano: uma história de vingança passada no Velho Oeste. “Sempre fui muito fã do gênero, mas também fiquei um pouco intimidado, porque há muitos grandes filmes de western”, explicou Koolhoven. Além de dirigir, ele assina o roteiro, que conta a história de sobrevivência de uma mulher muda chamada Liz, interpretada por Dakota Fanning (“Movimentos Noturnos”). Na trama, ela é vítima da violência exacerbada de um padre vingativo, vivido por Guy Pearce (“The Rover – A Caçada”), e sofre na carne tormentos de um inferno na Terra. Segundo Fanning, os horrores da tela foram prazerosos, na hora de filmar. “Todo o filme foi uma aventura completamente nova para mim, porque nunca vi nada parecido, então fiquei feliz em poder participar deste desafio. Acho que todos nos superamos, encontrando novos limites, e adoro isso, porque não gosto de coisas fáceis”, disse a atriz, que apesar da longa filmografia ainda tem apenas 22 anos. Os créditos da produção revelam financiamento de empresas de meia dúzia de países europeus, quase num reflexo da escalação do elenco, que também inclui os ingleses Kit Harington (série “Game of Thrones”) e Emilia Jones (“High-Rise”), a suiça Carla Juri (“Zonas Úmidas”), a sueca Vera Vitali (“Blind”) e a holandesa Carise Van Hotten (também de “Game of Thrones). Não deve ser mera coincidência, mas Koolhoven valorizou a coprodução por lhe permitir mais flexibilidade “para fazer o que quisesse”, do que, na sua opinião, se o filme fosse realizado por um estúdio americano. As locações também aconteceram na Europa, como nos velhos tempos dos spaghetti western. Mas o que se vê em “Brimstone” ultrapassa até a ultraviolência dos clássicos de Sam Peckinpah. É torture porn. Pior: torture porn com menores. A jovem Emilia Jones, que aos 14 anos interpretou a versão infantil da heroína, revelou que algumas das cenas eram tão violentas que Guy Pearce hesitou em fazer o que estava previsto no roteiro. “Mas eram muito importantes para o roteiro e, no momento em que falavam ‘corta’, ele me abraçava e pedia desculpas”, disse. “Seria moralmente duvidoso filmar a violência de forma suave”, justificou-se o diretor. “Tem que ser desconfortável, e se for muito fácil de ver, então fiz algo errado”, completou. Filme sádico, repleto de violência contra mulheres, e que se define “feminista”… De todo modo, a fotografia em grande scope, a estrutura narrativa inversa (a história acontece de trás para frente, sem avisos) e os arroubos estilísticos são de fato tecnicamente impressionantes.
Veneza: Exibição para o público do novo filme de Mel Gibson é aplaudida de pé por 10 minutos
Após arrancar elogios da crítica, “Até o Último Homem” (Hacksaw Ridge), volta de Mel Gibson à direção após hiato de dez anos, recebeu uma das maiores aprovações que poderia ter. A exibição do filme ao público, durante sua première mundial no Festival de Veneza, foi aplaudida de pé, durante dez minutos, com direito a gritos de viva e assobios. Os aplausos continuaram mesmo após o final da projeção dos créditos e das luzes se acenderem. O longa-metragem foi o mais aplaudido dentre as atrações internacionais do festival deste ano, ainda que sua exibição tenha ocorrido fora de competição. Ele conta a história verídica de Desmond Doss, vivido na tela por Andrew Garfield (“O Espetacular Homem-Aranha”), um jovem adventista que se alista como médico durante a 2ª Guerra Mundial, mas, por causa da religião, recusa-se a pegar em armas. O filme emocionou o público e poderia ser considerado favorito ao Oscar, não fosse o diretor Mel Gibson. Por seu passado recente de confusões, em que passou a encarnar a imagem de um misógino racista, Gibson dificilmente bisará o reconhecimento que seu talento já mereceu, quando a Academia lhe premiou com os Oscars de Melhor Filme e Direção por “Coração Valente” (1995).
Paolo Sorrentino planeja filmar cinebiografia de Silvio Berlusconi
O cineasta italiano Paolo Sorrentino, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por “A Grande Beleza” (2013), revelou, durante o Festival de Veneza, que fará uma cinebiografia do ex-Primeiro Ministro italiano Silvio Berlusconi. Segundo a revista americana Variety, que cita uma “fonte confiável”, a produção se chamará “Loro”, palavra que significa “Eles” em italiano, mas também faz trocadilho com “L’oro”, ou “O ouro”. Sorrentino já estaria trabalhando no roteiro, para começar a filmar em 2017. Vale lembrar que ele já fez uma cinebiografia sobre um ex-premier da Itália: “Il Divo” (2008), sobre a vida de Giulio Andreotti, produção que venceu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes. O cineasta encerrou recentemente as gravações de sua série “The Young Pope”, estrelada por Jude Law. Os primeiros episódios foram exibidos em première mundial no Festival de Veneza, mas a série ainda não possui data de estreia definida.
Veneza: François Ozon visita o cinema europeu clássico com provocação à Hollywood
Rodado em preto e branco e passado nos anos 1930, “Frantz”, do diretor francês François Ozon (“Dentro da Casa”), evoca uma produção clássica europeia. E, de fato, a história já foi filmada antes, pelo mestre alemão Ernst Lubitsch em “Não Matarás”, de 1932. Mas “Frantz” também é uma provocação a Hollywood. Por isso, o diretor não gosta que o chamem de remake. Na entrevista coletiva do Festival de Veneza, Ozon garantiu que “Frantz” não é uma refilmagem, pois, ao decidir rodar a história original, baseada numa peça do francês Maurice Rostand, não conhecia a obra de Lubitsch. Além disso, ele promoveu mudanças significativas na estrutura narrativa, mudando o foco para a personagem feminina e a situação da Alemanha do pós-guerra. Ele também explicou que a escolha do preto e branco não se deu apenas como homenagem ao cinema da época em que se passa a trama. “Nossas memórias da guerra estão vinculadas a essas duas cores, preto e branco, os arquivos, filmes e filmagens… esse é um período de mágoa e perda então eu pensei que o preto e branco fossem as melhores cores para a história”, disse para a imprensa. “Cores são muito mais emotivas e fornecem uma ideia sobre o sentimento de alguém”, completou. E, curiosamente, algumas cenas coloridas pontuam a narrativa, para enfatizar quando os personagens finalmente voltam à vida. O cineasta lembrou ainda que há poucos filmes sobre a 1ª Guerra Mundial, porque o nazismo que levou à 2ª Guerra Mundial capturou a imaginação mundial de tal forma que tudo o que o precedeu parece pouco importante. Um dos poucos foi um clássico do próprio cinema francês, “A Grande Ilusão” (1937), de Jean Renoir. “Frantz” tem uma cena de batalha, mas não é exatamente um filme de guerra e sim sobre suas consequências. A começar por seu título, nome de um soldado alemão morto em batalha. O filme acompanha sua jovem viúva Anna, interpretada por Paula Beer (“O Vale Sombrio”), que, numa visita ao cemitério, conhece o tenente francês Adrien (Pierre Niney, de “Yves Saint Laurent”), quando este deixa flores no túmulo de Frantz. O filme se constrói em torno de sentimentos de culpa e da paixão latente entre Anna e Adrien, estabelecendo-se quase como um melodrama, mas com as marcas do cinema de Ozon, em sua obsessão por contar histórias, esconder segredos e visitar a dor. Além disso, Ozon continua a provocar o público com armadilhas narrativas, num jogo de aparências derivado do suspense, que leva a ponderar o que é realmente verdade e que rumos terá sua trama. Pela primeira vez filmando em alemão, o cineasta defendeu em Veneza a decisão de escalar atores que falassem os idiomas originais de seus personagens, em vez de usar intérpretes falando a mesma língua com diferentes sotaques, como é comum nos filmes americanos. E aí provocou. “Em Hollywood, há essa convenção de que todo mundo fala inglês, mas o público não quer mais isso, porque eles querem ver a verdade”, disse Ozon. “Foi muito importante usar as línguas nativas porque elas são parte da cultura de ambos os países”, continuou, acrescentando que isso fez com que Niney precisasse aprender alemão durante as filmagens, para se comunicar com Beer.
Veneza: Mel Gibson vai à guerra e vence desafetos com filme heroico
Após passar uma década sem dirigir um filme, em decorrência das confusões de sua vida pessoal, o veterano ator e diretor mostrou não ter perdido a forma. Nem sua fé. A mesma fé que o levou a filmar “Paixão de Cristo” (2004), mas também o faz se exaltar e, numa ocasião documentada, proferir ofensas antissemitas, empodera o protagonista de “Até o Último Homem”. Por este prisma, o longa é praticamente uma provocação. “Até o Último Homem” (Hacksaw Ridge) é baseado na história verídica de Desmond Doss, um jovem adventista que se alista durante a 2ª Guerra Mundial, mas que, por causa da religião, recusa-se a pegar em armas. Chamado de covarde pelos outros soldados, ele consegue permissão para lutar desarmado, trabalhando como médico do batalhão. Mas quando as forças americanas sofrem um emboscada e são massacradas durante o desembarque numa ilha, torna-se um herói improvável, salvando as vidas de dezenas de companheiros. Doss acabou se tornando o único soldado a ser condecorado por bravura sem ter dado um único tiro na guerra. “O que me chamou a atenção é que ele é um homem comum que faz coisas extraordinárias, em circunstâncias difíceis”, disse o diretor, durante a entrevista coletiva. “A luta dele é singular: vai para a guerra munido apenas de fé e de convicção. E somente com essas duas coisas foi capaz de fazer coisas magníficas”, resumiu, enquanto alisava sua barba longa e grisalha. Na verdade, quem faz coisas magníficas em “Até o Último Homem” é o próprio diretor. Mel Gibson foi à guerra armado até os dentes com seu talento. Com cenas de carnificina e muita ação, seu novo longa, exibido fora de competição no Festival de Veneza, lembra que ele foi e continua a ser um grande diretor. E até os críticos politicamente corretos tiveram que dar o braço a torcer, em reconhecimento à qualidade da obra. “Eu gosto de dirigir, de ver projetado na tela as coisas que eu imagino”, defendeu-se Gibson diante da imprensa, mas sem perder a dimensão da carreira destroçada que tenta reerguer. “Talvez seja megalomania, quem sabe?”, completou com ironia, autodepreciando-se. A obra fala por ele. “Até o Último Homem” é bipolar. Possui duas partes bem distintas. O começo é romântico e até cômico, centrado na vida de Desmond antes de se alistar. Até que, ao ver pessoas da sua idade voltarem sempre feridas da guerra, ele decide se alistar, e as cenas de combate, que compõem sua segunda parte, não são menos que espetaculares. Interpretado por Andrew Garfield, o personagem tem um pouco do Peter Parker do começo de “O Espetacular Homem-Aranha” (2012), um jovem boa praça e desajeito, mas de grande determinação moral, que sofre bullying dos soldados mais fortes. Gibson deve ter visto o filme da Marvel para escalá-lo, já que garante não fazer testes com atores. “Não faço leituras com atores. Acho que quando você conversa com uma pessoa, mesmo por Skype, você já tem uma ideia de quem ela é. Sabia que Andrew tinha interesse no filme, isso foi importante para escolhê-lo”, o diretor contou. Garfield, por sua vez, fez questão de marcar distância entre Desmond Doss e Peter Parker, mas principalmente do super-herói Homem-Aranha. “Obtenho muito mais inspiração nas pessoas comuns”, disse o ator. “Meu irmão é médico, cuida de três filhos, uma mulher, salva seus pacientes. Para mim, esses são os verdadeiros heróis: aqueles que não buscam o heroísmo”. No filme, porém, a apresentação de Desmond vai além do heroísmo. Ele é mostrado praticamente como um santo. Até o Homem-Aranha tinha falhas de caráter. Já Desmond é a perfeição encarnada, fazendo com o que, paradoxalmente, o filme de guerra tenha mensagem pacifista. “Não acho que existam guerras justas”, defendeu Gibson, que já encenou muitas batalhas em sua carreira, dentro e fora das telas. “Eu odeio guerras. Mas não posso deixar de amar os guerreiros, de prestar uma homenagem às pessoas que se sacrificam pelas outras. Precisamos compreendê-los quando voltam para casa. Espero que meu filme tenha ajudado nisso”, conclui.
Veneza: Tom Ford desfila estilo com substância em seu segundo filme
O estilista Tom Ford não entende só de moda. O homem que revitalizou a grife Gucci já tinha surpreendido o mundo cinematográfico ao lançar seu primeiro filme, “Direito de Amar”, no Festival de Veneza de 2009. Naquela ocasião, Colin Firth foi premiado por seu desempenho com a Colpa Volpi de Melhor Ator. Sete anos depois, o segundo longa de Ford, “Nocturnal Animals”, volta a dar o que falar em Veneza, e provavelmente também sairá com prêmios do festival. Após sua apresentação para a crítica, já se fala até de Oscar. Mesmo assim, o longo espaço entre os dois filmes chama atenção. Ford explicou que não foi fácil definir o que iria filmar após sua estreia. “Abri uma centena de lojas, tive um filho, a vida meio que assumiu o controle e não encontrei o projeto certo durante alguns anos”, ele contou no encontro com a imprensa. “Então, com sorte, levará mais três anos até o próximo, e não sete”, completou. Mais confiante após fazer uma estreia festejada como diretor, Ford criou em “Nocturnal Animals” um longa complexo e envolvente, a partir da adaptação do romance “Tony & Susan”, do escritor nova-iorquino Austin Wright. Com Jake Gyllenhaal e Amy Adams nos papéis principais e uma locação dividida entre as elegantes galerias de arte de Los Angeles e as estradas empoeiradas do Texas, o diretor entregou um filme impecável. A parte técnica é belíssima, com figurino, fotografia e direção de arte deslumbrantes, como já tinha sido “Direito de Amar”. A abertura prima pela ousadia e o desenvolvimento revela que, além de estilo, Ford também faz questão de conteúdo. “Para mim, o estilo tem que vir junto com alguma substância. Se não, não me interessa”, disse Ford. A trama passa longe de ser simples. Começa de forma alegórica, com mulheres obesas de meia-idade, pulando e dançando nuas. “Quis mostrar mulheres exageradas, envelhecendo, como é a sociedade americana. Mas me apaixonei, vendo-as tão belas, livres”, explicou o diretor. “Quis dizer que as pessoas devem largar o que esperam que elas sejam e serem o que de fato são”. A introdução prepara a chegada da personagem de Susan Morrow (Amy), uma galerista que atravessa um momento de crise, desgostosa com a própria vida, não vendo mais sentido no seu relacionamento atual, no trabalho e no mundinho fútil que a cerca. Neste contexto, ela recebe o manuscrito de um livro a ser publicado por Edward, seu ex-marido (Gyllenhaal), de quem se separou há 20 anos. O livro é dedicado a Susan e a leitura desperta lembranças do tempo em que ela e o ex aspiravam virar artistas. De família texana conservadora, ela lembra que já foi idealista, mas cedeu aos apelos de uma vida confortável, o que levou ao fim de seu primeiro casamento. Mas o filme não se prende no flashback afetivo. A narrativa se divide em três níveis: naquele instante do presente, na memória de Susan e também na própria leitura do romance. Há uma ficção dentro da ficção, trazida à tona pela trama do livro, sobre Tony Hastings (também interpretado por Gyllenhaal), um professor universitário, cuja mulher e filha adolescente foram assassinadas durante uma viagem de carro da família. Ele quer vingança, mas, segundo Tom Ford, o filme também não é sobre isto. “O filme não é exatamente sobre vingança, mas sobre o sentimento devastador de culpa que atravessa uma pessoa quando ela coloca em apuros aqueles que ama profundamente”, explicou o diretor. Para Amy Adams, o sentimento de vingança “não é útil, não resolve nada”. Mas Gyllenhaal, que tem papel duplo, como Edward em versão jovem e um Tony mais maduro, aprofundou um pouco mais a situação. “Tony se depara com a sua incapacidade de proteger a quem ama, que é um tema muito interessante. Acredito na palavra vingança, mas não acho que ‘Nocturnal Animals’ seja um filme sobre vingança. Meu personagem é um sujeito que odeia armas, não tolera violência, mas acaba tendo que lidar com elas para fazer justiça”. Embora a trama do livro seja a mais chamativa, Ford prefere enfatizar o que acontece no presente, quando Edward ressurge, por meio do presente inesperado, na vida de Susan. “O filme, na verdade, fala de encontrar aquelas pessoas na sua vida que significam algo para você, e de como a gente se apega a elas”, contou o diretor. “A lealdade é algo que certamente é um tema na minha vida pessoal… Não largo das pessoas quando elas são maravilhosas, então para mim é disso que se trata o filme”, explicou.
Veneza: Wim Wenders transforma conversa de casal em filme 3D
Wim Wenders volta a dramatizar o 3D com “Les Beaux Jours d’Aranjuez”, seu terceiro longa rodado com a tecnologia, após o documentário “Pina” (2011) e o melodrama “Tudo Vai Ficar Bem” (2015). Exibido na competição do 73º Festival de Veneza, o novo filme é uma antítese do que se imagina numa produção tridimensional. Adaptação da peça homônima de Peter Handke, roteirista de “Asas do Desejo” (1987), um dos filmes mais famosos do próprio Wenders, trata-se de um drama intimista, de assumida inspiração teatral, construído em torno de uma longa conversa entre um homem e uma mulher, que acontece nos jardins de uma casa de campo nos arredores de Paris. O plano inicial localiza a locação, ao abrir com imagens de uma Paris deserta, afastando-se da cidade até encontrar seu protagonista em meio à natureza, ocupado com a máquina de escrever. A casa que ele habita pertenceu à famosa atriz francesa Sarah Bernhardt, e se localiza no meio da mata das colinas que cercam Paris, de onde se tem uma bela vista da capital francesa à distância, no horizonte. Segundo Wenders, o cenário “pode ser descrito como o Jardim do Éden, o paraíso bíblico, original”. E inclui, de forma descarada, uma maçã entre o homem e a mulher. “O 3D me deu a possibilidade de colocar o espectador nesse lugar, onde podemos ouvir o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas das árvores. É uma linguagem e tecnologia muito suave, muito muito gentil e terna para esse tipo de assunto do que o 2D”, ele explicou, durante a entrevista coletiva do festival. Primeiro filme do cineasta alemão falado em francês, “Les Beaux Jours d’Aranjuez” tem até as afetações do cinema feito na França, como a busca pelo experimentalismo e a tendência à verborragia. Metade da crítica presente à exibição bocejou. A outra metade aplaudiu O diretor até chegou a considerar montá-lo nos palcos, devido a trama ser “um diálogo fora do tempo, da notícia e de qualquer contexto histórico e social”, de acordo com a definição de Handke. Mas achou mais apropriada uma versão filmada em locação real, para dar novas “dimensões” ao texto. Seus personagens não tem nome e a narrativa se desenvolve conforme o homem, calmamente sentado, faz perguntas de cunho sexual para a mulher, que lhe responde de forma poética, com o objetivo de frisar a diferença entre os sexos. O “homem” e a “mulher” são interpretados respectivamente por Reda Kateb (“Os Cavaleiros Brancos”) e Sophie Semin (“Além das Nuvens”), mas também há participações especiais do próprio Handke e do roqueiro Nick Cave, velho amigo e colaborador do diretor. “A peça é repleta das questões sobre o relacionamento entre homem e mulher, e as perspectivas de cada um sobre o mundo, mas o filme não pretende responder a nenhuma delas”, disse Wenders. “A relação entre homem e mulher já motivou guerras, mas também uma das melhores coisas do mundo, que são as histórias de amor, inclusive em filme. Hoje em dia parece que o diálogo entre os dois encolheu, no meio dessa discussão sobre gêneros. Por isso, acho que o texto do Handke chega em um momento bastante oportuno”, concluiu.
Veneza: Michael Fassbender e Alicia Vikander vivem romance dentro e fora das telas
Os atores Michael Fassbender (“Steve Jobs”) e Alicia Vikander (“A Garota Dinamarquesa”) vivem um casal dentro e fora das telas, e foram a Veneza divulgar o filme que iniciou seu romance, “A Luz Entre Oceanos”. Trata-se de um melodrama que arranca lágrimas do público, mas foi recebido com cinismo pela crítica. A imprensa presente no festival, porém, estava pouco se importando com a ficção, já que a melhor história de amor do filme aconteceu fora das câmeras. Apesar da diferença de idade, Fassbender, de 39 anos, admitiu que se sentiu intimidado quando conheceu Vikander, de 27 anos, vencedora do Oscar 2016 de Melhor Atriz Coadjuvante por “A Garota Dinamarquesa”. “Fiquei com medo quando Alicia chegou, ela era tão feroz e ávida. Lembrei de como eu era quando estava começando. Eu realmente senti que tinha que fazer melhor minha parte, ser tão presente quanto ela”, ele contou, sobre sua primeira impressão da “garota”, que na verdade é sueca. Vikander retribuiu o elogio, confidenciando que ficou muito nervosa quando soube que atuaria junto a um “ator tão brilhante”, demonstrando que a lua de mel continua. O romance entre os dois nasceu por sugestão do diretor. Indiretamente, é verdade, mas o processo os aproximou. Para captar o espírito de seus personagens, que moram sozinhos num farol distante, o diretor Derek Cianfrance (“O Lugar Onde Tudo Termina”) propôs que Vikander e Fassbender se isolassem em uma ilha deserta para que se conhecessem melhor. No fim do período, veio a notícia de que eles estavam namorando. A ternura nascida do relacionamento transparece na sinceridade com que os atores interpretam seus papeis no filme. Mas isso não torna o enredo menos manipulativo. Baseado no best-seller homônimo de M.L. Stedman, o filme acompanha um casal traumatizado, que sofre com a perda do filho recém-nascido, quando um bebê surge num barco à deriva. Mas depois de cuidar da criança por vários anos, os dois descobrem o sofrimento da verdadeira mãe (Rachel Weisz, de “Oz, Mágico e Poderoso”), que acredita ter pedido a filha no mar. O trailer ainda explora o embate entre Fassbender, que se sente moralmente compelido a contar a verdade, e Vikander, para quem a criança é sua filha de verdade. “Este filme é uma batalha entre a verdade e o amor”, definiu o diretor Derek Cianfrance, que disse ter assumido a missão de “contar histórias familiares, os segredos em nossas casas”. Por isso, ele afirma que o livro do escritor australiano M.L. Stedman “parecia um filme que eu nasci para fazer”. “Mais que uma história de amor, ‘A Luz entre Oceanos’ quer ser uma lição de vida na qual o perdão e a compreensão ajudam a seguir adiante”, completou Fassbender.
Veneza: Amy Adams tem chegada triunfal no festival com sci-fi elogiada pela crítica
A consolidação do Festival de Veneza como plataforma de lançamentos de filmes vencedores do Oscar cria um forte expectativa para a exibição das produções americanas, paralela à disputa do Leão de Ouro. E em seu segundo dia, o evento acrescentou mais uma surpresa positiva à lista, com a elogiada première de “A Chegada”, do diretor canadense Denis Villeneuve (“Sicario”). A crítica internacional rendeu-se ao clima criado pelo cineasta, ao roteiro inteligente de Eric Heisserer (“Quando as Luzes se Apagam”), à fotografia belíssima de Bradford Young (“Selma”) e à interpretação de Amy Adams(“Batman vs Superman”), que ainda está em outro filme bastante aguardado no evento. “A Chegada” é uma ficção científica realista centrada numa mulher determinada, como “Gravidade”, que saiu de Veneza para conquistar sete Oscars em 2014. Na trama, Amy vive uma linguista contratada pelo governo dos Estados Unidos para entrar em uma de 12 naves espaciais que chegaram à Terra sem aviso. Sua missão: estabelecer contato com os alienígenas a bordo, decifrando sua língua para descobrir o motivo da visita. Para ilustrar a frustração com a barreira da linguagem, várias cenas do filme são mudas, levando o diretor a se focar na expressividade de Amy para mostrar que a comunicação de verdade nem sempre precisa de palavras. “Denis disse ‘preciso saber o que ela está pensando’… Ele confiou que o público irá entrar em uma jornada emocional”, disse a atriz, sobre a forma como interpretou a personagem. Durante a entrevista coletiva, ela foi perguntada sobre o que faria caso encontrasse alienígenas de verdade. “Eu só esperaria que eles fossem tão pacientes comigo quanto os do filme”, ela riu. “Que eles deixassem que a gente experimentasse e superasse nossas falhas de comunicação. Na verdade, acho que uma das nossas primeiras presunções, caso uma raça alienígena chegasse aqui, seria que eles se comunicam de forma parecida conosco – e essa é uma presunção perigosa de se fazer”, comentou, dando pista sobre o desenvolvimento da trama. Amy também está no filme “Nocturnal Animals”, do estilista Tom Ford, que será apresentado no mesmo festival. Perguntada se um dos dois filmes pode ajudá-la a conquistar seu aguardado Oscar, Amy assumiu sua ansiedade. “Quando você tem Tom Ford, que é excelente, e você tem Denis Villeneuve, acho que você não consegue evitar de se animar sobre o potencial que os filmes têm”, disse. “Mas tento não me preocupar com o resultado… Sou sortuda o suficiente de estar nestes filmes”. Além de Amy Adams, também estão no elenco de “A Chegada” os atores Jeremy Renner (“Capitão América: Guerra Civil”), Forest Whitaker (“O Mordomo da Casa Branca), Michael Stuhlbarg (“Steve Jobs”) e Tzi Ma (“A Hora do Rush”). A estreia no Brasil está marcada apenas para 9 de fevereiro.
Veneza: La La Land é aplaudido de pé na abertura do festival
Filme de abertura do 73ª Festival Internacional de Cinema de Veneza, “La La Land” foi aplaudido de pé pela crítica internacional, durante sua exibição para a imprensa. Escrito e dirigido por Damien Chazelle, de “Whiplash – Em Busca da Perfeição” (2014), o longa é uma homenagem aos musicais clássicos, com cenas de cantoria, coreografia e até de sapateado. “Mais do que qualquer outro gênero, o musical nos permite ir da realidade à fantasia, e explorar diferentes emoções entre um extremo e outro”, disse Chazelle, durante a entrevista coletiva, explicando sua opção pelo gênero. “Sempre fui cinéfilo, e a música tem ocupado uma grande parte da minha vida. Meu primeiro filme (‘Guy and Madeline on a Park Bench’, trabalho de conclusão de curso em Harvard) também era um musical. Tudo o que eu faço, mesmo as coisas não relacionadas diretamente com música, acabam tendo um sentimento musical”. Assim como em “Whiplash”, a trama de “La La Land” traz novamente um jovem jazzista em busca de reconhecimento por sua música, mas encontrando apenas obstáculos. Ryan Gosling (“A Grande Aposta”) interpreta um pianista que deseja fazer melhor uso de seu talento e formação clássica, mas só consegue dinheiro com shows de música comercial. Ele acaba se apaixonando pela personagem de Emma Stone (“O Espetacular Homem-Aranha”), que vive situação similar. Ela é uma aspirante a atriz que trabalha como garçonete num café dos estúdios Warner enquanto faz testes para conseguir algum papel. Apesar da situação derrotista em que ambos se encontram, eles permanecem otimistas e sonhadores, e esse tom positivo do filme é um frescor num tempo marcado pelo pessimismo e atitudes cínicas. “O filme não tem nada de cínico”, assumiu Emma Stone, única integrante do elenco presente no encontro com a imprensa. “É sobre ter sonhos e esperanças e ir à luta para realizá-los. Os jovens de hoje são céticos demais. Tudo o que espero com esse filme é que os [jovens] que assistirem mantenham seus sonhos e trabalhem duro”, arrematou. “Hoje em dia, mais do que nunca, precisamos de romance e esperança”, emendou Chazelle, ressaltando que encara o cinema como uma “linguagem dos sonhos”. E nos seus sonhos, todos cantam e dançam. “A música sempre me inspirou muito. No filme, mesmo nas partes sem canções, eu queria que também elas soassem musicais, como que em um grande contínuo em que a música nunca parasse”, explicou. Além das referências aos musicais clássicos da MGM, também é evidente a influência das cores vibrantes e da melancolia do francês “Os Guarda-Chuvas do Amor” (1964), de Jacques Demy. E Chazelle é o primeiro a confirmar a relação. “Nunca havia visto um filme como o de Demy, que emulava o estilo de musical da Metro Goldwyn Mayer que eu queria tomar emprestado, mas que lidava com os fatos da vida de forma mais realista”, ele comparou, durante a entrevista coletiva em Veneza. “Há algo de muito belo e poético sobre ‘Os Guarda-Chuvas do Amor. Muitas coisas podem acontecer depois de um ‘e viveram felizes para sempre’”, argumentou o jovem diretor de 31 anos. Para o diretor do Festival, Alberto Barbera, se “Whiplash” foi a revelação de um novo diretor, “La La Land” é a confirmação definitiva de Chazelle como um dos grandes cineastas americanos do século 21. E seus elogios foram ecoados até por um “rival”, o diretor artístico do Festival de Karlovy Vary, Karel Och, que disse, para a revista Variety, que o filme “faz o coração bater mais forte e te deixa sorrindo, o que pouquíssimos filmes de festival são capazes de fazer hoje dia”. As primeiras críticas não pouparam exaltação, com palavras como “impressionante”, “brilhante” e “pura poesia”. E muitos críticos lembraram que os três últimos filmes que conquistaram algumas das estatuetas mais importantes do Oscar tiveram première mundial em Veneza: “Gravidade” (2013), “Birdman” (2014) e “Spotlight” (2015). Estaria “La La Land” destinado a ser o quarto?
Cannes: Novo filme de Ken Loach vence a Palma de Ouro
O veterano cineasta britânico Ken Loach foi o vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes com seu novo filme, o drama “I, Daniel Blake”, sobre um marceneiro em guerra contra a burocracia da previdência social. Em seu discurso, ele mencionou a crise econômica europeia. “A política neoliberal trouxe a miséria, da Grécia a Portugal, com um pequeno número de pessoas que enriquecem com isso”, afirmou. “Defendo um cinema de protesto, que coloca os fracos contra os poderosos. Um outro mundo não é só possível, mas necessário”. Foi a segunda vez que Loach venceu a distinção. A anterior foi há exatos dez anos, com o drama histórico “Ventos da Liberdade”. Como naquela oportunidade, seu filme não aparecia na lista dos favoritos da crítica, que neste ano destacou “Elle”, do holandês Paul Verhoeven, “Paterson”, do americano Jim Jarmusch, “Graduation”, do romeno Cristian Mungiu, “The Salesman”, do iraniano Asghar Farhadi, e o vencedor do prêmio da crítica, “Toni Erdmann”, da cineasta alemã Maren Ade. As decisões do juri da Palma de Ouro, presidido por George Miller (“Mad Max: Estrada da Fúria”), foram consideradas polêmicas e renderam até vaias. A maior saia justa aconteceu durante a entrega do troféu de Melhor Direção para o francês Oliver Assayas, cujo filme, “Personal Shopper”, em que Kristen Stewart tenta contatar o fantasma de seu irmão gêmeo, tinha sido vaiado durante a projeção para a crítica. A exibição para o público, porém, foi aplaudida longamente. Assayas dividiu o troféu de direção com um favorito da crítica, Cristian Mungiu, cujo filme “Graduation” foca o dilema de um pai disposto a apelar à corrupção para que a filha tenha um futuro melhor. Também foi surpreendente a escolha do novo filme do canadense Xavier Dolan, “Juste la Fin du Monde”, como vencedor do Grande Prêmio do Juri, conferido ao segundo melhor longa da competição. Afinal, o trabalho foi considerado desapontador e um dos mais fracos da carreira do menino-prodígio, que já tinha sido premiado com um Prêmio do Júri, equivalente ao terceiro lugar, por “Mommy” (2014). O vencedor do Prêmio do Júri deste ano foi “American Honey”, da britânica Andrea Arnold, sobre jovens americanos que se sustentam vendendo revistas, enquanto transam, se drogam e viajam pelos EUA numa van. Um dos filmes mais elogiados, “The Salesman”, de Asghar Farhadi, acabou se tornando o trabalho mais premiado do festival ao levar dois troféus: Melhor Roteiro, para o próprio Farhadi, e Melhor Ator para Shahab Hosseini. Na trama, ele vive um professor que precisa lidar com uma tentativa de estupro da mulher. O troféu de Melhor Atriz foi para a filipina Jaclyn Jose, que vive a personagem-título de “Ma’Rosa”, de Brillante Mendoza, uma mulher que vende drogas para sustentar os filhos. Nenhum americano levou um souvenir de Cannes para casa. O mesmo também aconteceu com “Aquarius”, do brasileiro Kleber Mendonça Filho. Mas o Brasil foi lembrado entre os curtas. “A Moça que Dançou com o Diabo”, de João Paulo Miranda Maria, levou uma menção especial do júri de curta-metragens, presidido pela cineasta japonesa Naomi Kawase (“Sabor da Vida”). O filme é uma releitura contemporânea de um lenda do interior paulista, contada há mais de cem anos, e trata de uma menina que vive o conflito entre a religião e suas descobertas da adolescência. Vencedores do Festival de Cannes 2016 Palma de Ouro “I, Daniel Blake”, de Ken Loach (Reino Unido) Grande Prêmio do Júri “Juste la Fin du Monde”, de Xavier Dolan (Canadá/França) Melhor diretor Olivier Assayas, por “Personal Shopper” (França), e Cristian Mungiu, por “Graduation” (Romênia) Melhor atriz Jaclyn Jose, por “Ma’ Rosa”, de Brillante Mendoza (Filipinas) Melhor ator Shahab Hosseini, por “The Salesman”, de Ashgar Farhadi (Irã) Melhor roteiro Asghar Farhadi, por “The Salesman” (Irã) Prêmio do Júri “American Honey”, de Andrea Arnold (Reino Unido/EUA) Prêmio Caméra d’Or (melhor primeiro filme) “Divines”, de Houda Benyamina (Afeganistão) Melhor curta-metragem “Time Code”, de Juanjo Gimenez (Espanha) Menção especial – curta-metragem “A Moça que Dançou com o Diabo”, de João Paulo Miranda Maria (Brasil) Palma de Ouro Honorária Jean-Pierre Léaud, ator de filmes clássicos de François Truffaut











