Novela | Bruno Luperi refaz “Renascer” sem preconceitos do avô

Neto de Benedito Ruy Barbosa traz discussão sobre diversidade sexual para o remake da novela

Divulgação/Globo

O escritor Bruno Luperi, autor do remake de “Renascer”, decidiu deixar a novela mais inclusiva em relação ao texto original. A produção pretende incluir uma cena crítica sobre homofobia e transfobia, em contraste com opiniões conhecidas de seu avô, Benedito Ruy Barbosa, que criou a novela original de 1993. A sequência vai mostrar Venâncio (Rodrigo Simas) repreendendo as piadas homofóbicas de José Bento (Marcello Melo Jr) e defendendo as minorias sexuais.

Cenas de combate ao preconceito

Durante um passeio pela orla de Ipanema, no Rio de Janeiro, José Bento faz comentários preconceituosos, utilizando termos inadequados para se referir às pessoas e ao local. Venâncio, ciente da transexualidade de Buba (Gabriela Medeiros), inicia um discurso em defesa da identidade de gênero e da liberdade individual. “Isso não é moda, é identidade de gênero! Liberdade pra se ser o que é sem necessidade de medo ou aprovação de ninguém!”, exalta Venâncio, destacando a importância do respeito e da informação para combater o preconceito.

A discussão se estende até a casa de Venâncio, onde ele compartilha com Eliana (Sophie Charlotte) o ocorrido. Apesar da ironia de Eliana, Venâncio mantém sua posição, condenando a homofobia e a transfobia como crimes e reflexos de uma educação preconceituosa. “E a gente é educado pra olhar torto, tirar sarro ou tratar diversidade como doença, quando, na verdade, os doentes nessa história toda somos nós!”, argumenta.

A cena deve ir ao ar no domingo (11/2).

Representatividade LGBTQ+

Além de Buba, que era uma hermafrodita na versão dos anos 1990, tratada como uma curiosidade praticamente bizarra pela trama, Luperi também trocou o sexo de outra personagem para abordar a comunidade LGBTQ+. Originalmente um homem chamado Zinho (Cosme dos Santos) na novela original, o filho de Jupará virou mulher, Zinha, interpretada por Samantha Jones, e viverá um drama com a descoberta da sexualidade. Ela deve se interessar por outras mulheres, numa história que ganha ainda mais relevância diante das reclamações sobre o apagamento do casal de lésbicas de “Terra e Paixão” (2023).

Posição de Benedito Ruy Barbosa

Benedito Ruy Barbosa, aos 92 anos, não está envolvido no remake de “Renascer” e assiste à novela apenas como telespectador. Mas tal cena seria impensável num texto de sua autoria. Em 2016, ele deixou isso claro durante uma entrevista coletiva de “Velho Chico”, quando expressou sua aversão a tramas que envolvem personagens LGBTQIA+. Na ocasião, ele afirmou: “Odeio história de bicha. Pode existir, pode aceitar, mas não pode transformar isso em aula para as crianças.”

Na ocasião, Bruno estava presente, assim como a mãe de Bruno e filha de Benedito, Edmara Barboda, que foram assistentes do autor na novela.

Impacto cultural de “Renascer”

A inclusão de temas relacionados à diversidade sexual no remake de “Renascer” marca uma evolução significativa na abordagem de telenovelas em relação a questões sociais, especialmente em obras derivadas de autores com histórico de declarações controversas sobre o assunto. A transformação de Buba em transexual e a inclusão de uma lésbica inexistente nos anos 1990 abriu as portas para discussões importantes, a cargo de Bruno Luperi.