Criadora de “Harry Potter” prefere ser presa a deixar de fazer comentários transfóbicos

J.K. Rowling, a renomada autora da série “Harry Potter”, voltou a defender seu posicionamento polêmico nas redes sociais, ao comentar uma possível legislação britânica que poderia criminalizar comentários transfóbicos. Questionada sobre a […]

Divulgação - Debra Hurford Brown

J.K. Rowling, a renomada autora da série “Harry Potter”, voltou a defender seu posicionamento polêmico nas redes sociais, ao comentar uma possível legislação britânica que poderia criminalizar comentários transfóbicos. Questionada sobre a possibilidade de enfrentar prisão por suas opiniões, Rowling declarou que “aceitaria feliz” tal punição. “Aceitaria feliz em cumprir dois anos se a alternativa for o discurso forçado e a negação forçada da realidade e da importância do sexo”, expressou a escritora na plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter.

A posição de Rowling surge em resposta a uma matéria do Daily Mail que discutia a possibilidade de um governo liderado pelo Partido Trabalhista, no Reino Unido, criminalizar ataques à identidade de gênero. Críticos apontaram que tal legislação poderia resultar em sentenças de prisão para aqueles que se recusassem a usar os pronomes preferidos de uma pessoa transgênero.

Ela continuou a discussão, mencionando que um processo judicial seria “mais divertido do que qualquer tapete vermelho”, antes de brincar com seus seguidores sobre suas supostas tarefas na prisão. “A lavanderia pode ser um problema. Tenho tendência a encolher coisas/torná-las rosadas acidentalmente. Suponho que isso não será um grande problema se forem principalmente roupas cirúrgicas e lençóis”, ironizou.

 

Histórico de polêmicas

Não é de hoje que J.K. Rowling se declara inimiga da comunidade trans. A autora vem acumulando críticas por seus comentários discriminatórios ao longo dos últimos anos.

O primeiro embate significativo de Rowling com a comunidade trans ocorreu em 2020, quando criticou uma matéria que utilizava a expressão “pessoas que menstruam” ao invés de “mulheres”. A autora alegou que tal terminologia apagava a experiência de mulheres cisgênero, desconsiderando a inclusão de homens trans que também podem menstruar. Recentemente, Rowling também defendeu uma pesquisadora demitida após protestar contra mudanças de leis britânicas que passaram a reconhecer os direitos de pessoas transexuais, escrevendo no Twitter que “homens não podem se transformar em mulheres”, e manifestou apoio a um ativista anti-trans, que havia sido temporariamente banido de uma rede social por comentários ofensivos, celebrando sua reinstalação com um “bem-vindo de volta”.

Sem dar pausa, no começo desta semana ela polemizou ao publicar uma foto de um muro pixado com a inscrição “Repita conosco: mulheres trans são mulheres”, ao que a autora retrucou com um simples e direto “Não”. Como sempre, as respostas não tardaram, com muitos seguidores expressando decepção e exaustão diante de sua postura. “Estamos cansados de você”, disparou um leitor.

Por outro lado, com o avanço da extrema direita e ideais conservadores em todo o mundo, muitos também estão apoiando Rowling, que tem se transformado numa porta-voz dos mais extremistas. De fato, ela chega a se engajar em campanhas contra direitos de transexuais.

 

Preconceito por escrito

Não bastasse isso, o preconceito chegou às suas obras. No livro “Sangue Revolto” (Troubled Blood), do personagem Cormoran Strike, a escritora deu vazão a seus devaneios contra transexuais, criando um assassino em série que vestia roupas femininas para matar mulheres. Antes de lançar este livro, ela se declarou preocupada com a chance de transexuais abusarem sexualmente de mulheres cisgênero em banheiros. De acordo com a avaliação de Jake Kerridge, crítico do jornal britânico The Telegaph, o livro reforçava essa mensagem com a seguinte moral da história: “nunca confie em um homem de vestido”.

Rowling assina essa coleção de livros de crimes com o pseudônimo de Robert Galbraith, mesmo nome de um psiquiatra norte-americano famoso por experimentar, na década de 1950, a terapia de conversão sexual.

 

Repercussões

A assumida postura transfóbica de Rowling busca se disfarçar de feminismo, mas criou atrito até com os atores Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint, que renegaram publicamente os argumentos da criadora de “Harry Potter”, colocando-se ao lado das pessoas transexuais. Daniel Radcliffe chegou a tuitar um pedido de desculpas em seu nome para a comunidade trans.

Embora não tenha comentado as críticas dos intérpretes de “Harry Potter”, ela apagou um elogio a Stephen King nas redes sociais após escritor defender mulheres trans. Foi além: devolveu um prêmio humanitário que recebeu da fundação de Direitos Humanos batizada com o nome do falecido senador Robert F. Kennedy após Kerry Kennedy, filha do célebre político americano, manifestar sua “profunda decepção” com os comentário transfóbicos.

A controvérsia em torno das declarações de Rowling acontece no momento em que a Warner Bros. tenta transformar a saga “Harry Potter” numa série.