Cannes inicia primeiro festival “pós-pandemia”

O Festival de Cannes começa sua 75ª edição nessa terça-feira (17/5), a primeira com todos os eventos marcados para acontecer de forma presencial, após dois anos de pandemia, trocando a ênfase da […]

Divulgação/Festival de Cannes

O Festival de Cannes começa sua 75ª edição nessa terça-feira (17/5), a primeira com todos os eventos marcados para acontecer de forma presencial, após dois anos de pandemia, trocando a ênfase da prevenção da covid por preocupações com a situação na Ucrânia.

Começa sem máscaras, mas não sem medo, em meio a boatos e receios bastante difundidos de contaminação – a revista Variety chegou a publicar artigo questionando uma possível explosão de covid devido ao festival. E apenas três meses após o Festival de Berlim acontecer sob um rigoroso protocolo de segurança – como testagem diária, exigência de vacinação e sem festas e eventos públicos.

Refletindo a mudança radical de situação, apenas um jornalista internacional participou com máscara da entrevista coletiva de recepção do evento, em que o responsável pela organização, Thierry Frémaux, respondeu a uma única pergunta sobre a política de prevenção do festival.

A maior precaução de Frémaux neste ano é a mesma dos últimos anos: evitar contato com o streaming – se possível, lavar as mãos com álcool para evitar ao máximo a transmissão para o festival. Nenhum dos filmes que sua equipe selecionou para as mostras competitivas tem vínculo com a Netflix ou seus rivais – veto iniciado em 2018 e que tornou o Festival de Veneza o favorito das plataformas.

Cannes 2022 também colocou em quarentena o Brasil de Bolsonaro. Refletindo o desmonte das políticas de incentivo pelo governo atual, filmes brasileiros ficaram de fora até mesmo do circuito das exibições paralelas oficiais do festival, três anos após “Bacurau” vencer o Prêmio do Júri em Cannes.

O evento começa com a exibição fora de competição de “Coupez”, novo filme de Michel Hazanavicius (“O Artista”), uma comédia zumbi que refaz o cult japonês “One Cut of the Dead” em francês. E segue até o dia 28 de maio com cineastas acostumados com premiações, como David Cronenberg, os irmãos Dardenne, James Gray, Cristian Mungiu, Ruben Östlund, Park Chan-Wook, Claire Denis, Valeria Bruni Tedeschi e Kelly Reichard, todos estes disputando a Palma de Ouro com seus novos filmes.

Cronenberg já previu que o público não aguentará ver seu longa, “Crimes of the Future”, e espera testemunhar pessoas abandonando a première durante a projeção. O que imediatamente gerou atenção para seu trabalho. Ele é um dos três diretores norte-americanos da competição, junto com James Gray e Kelly Reichard.

Neste ano, a maioria dos títulos que vai disputar a Palma de Ouro deste ano vem da Europa. Tem até um filme de cineasta russo, contrariando boicotes políticos de outros festivais devido à guerra na Ucrânia. A lista de Cannes inclui uma obra de Kirill Serebrennikov, que, como aponta a organização, é dissidente e saiu da Rússia para viver em Berlim. A trama, por sinal, seria vetada por Putin, já que aborda a mulher de Tchaïkovski, compositor russo que teria relações com outros homens – a Rússia proíbe filmes de “propaganda gay”.

O festival também vai exibir, fora de competição, uma produção angustiante ligada à guerra atual: “Mariupolis 2”, documentário que teve as filmagens interrompidas depois que o diretor lituano Mantas Kvedaravicius foi capturado e assassinado pelo exército da Rússia na cidade ocupada de Mariupol – seis anos antes dela ser destruída por bombas russas.

Sessões não competitivas também contemplarão novos filmes de mestres europeus, como o italiano Marco Bellocchio, o francês Oliver Assayas e o ucraniano Sergei Loznitsa, que misteriosamente ficaram fora da competição principal.

Apesar disso, as grandes sessões de gala paralelas às disputas de Cannes mantêm sua tradição de ser a extensão hollywoodiana do festival, com sessões cheias de estrelas para atrair o grande público – e a mídia – para Cannes.

A première mundial de “Top Gun: Maverick” vai acontecer na Croisette, acompanhada por uma homenagem ao astro Tom Cruise, além do lançamento de “Elvis”, cinebiografia do Rei do Rock dirigida por Baz Luhrmann, e “Three Thousand Years of Longing”, a aguardada volta de George Miller após impactar o cinema com “Mad Max: Estrada da Fúria” há sete anos.

Fãs de música ainda verão documentários inéditos sobre Jerry Lee Lewis (dirigido por Ethan Coen!) e David Bowie.

Além disso, o festival recebe várias mostras paralelas, como Um Certo Olhar, Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica, tem Sessões da Meia-Noite para filmes fantásticos, a mostra Cannes Classics para restaurações, em que será exibida a versão 4k de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, e até exibições de filmes na praia.

E sem esquecer o Marché du Film, o principal mercado europeu do cinema, em que produtores do mundo inteiro buscam negociar contratos de distribuição e parcerias internacionais para suas novas produções.

A agitação cinematográfica que começa nesta terça só termina daqui a 11 dias, quando o júri presidido pelo ator francês Vincent Lindon (“Titane”) entregar a Palma de Ouro para o melhor filme do evento.

Confira abaixo a lista atualizada dos títulos em competição nas principais mostras do evento.

Concorrentes à Palma de Ouro

Armageddon Time, de James Gray
Boy From Heaven, de Tarik Saleh
Broker, de Kore-Eda Hirokazu
Close, de Lukas Dhont
Crimes of the Future, de David Cronenberg
Decision to Leave, de Park Chan-Wook
Eo, de Jerzy Skolimowski
Frere et Soeur, de Arnaud Desplechin
Holy Spider, de Ali Abbasi
Leila’s Brothers, de Saeed Roustaee
Forever Young, de Valeria Bruni Tedeschi
Mother and Son, de Leonor Serraille
Nostalgia, de Mario Martone
Pacification, de Albert Serra
Showing Up, de Kelly Reichardt
Stars at Noon, de Claire Denis
Tchaïkovski’s Wife, de Kirill Serebrennikov
The Eight Mountains, de Felix Van Groeningen e Charlotte Vandermeersch
Triangle of Sadness, de Ruben Östlund
Tori and Lokita, de Jean-Pierre e Luc Daradenne
RMN, de Cristian Mungiu

Mostra Um Certo Olhar

All the People I’ll Never Be, de Davy Chou
Burning Days, de Emin Alper
Butterfly Vision, de Maksim Nakonechnyi
Corsage, de Marie Kreutzer
Domingo and the Midst, de Ariel Escalante Meza
Father and Soldier, de Mathieu Vadepied
Godland, de Hlynur Palmason
Harka, de Lotfy Nathan
Joyland, de Saim Sadiq
Les Pires, de Lise Akoka e Romane Gueret
Mediterranean Fever, de Maha Haj
Metronom, de Alexandru Belc
More than Ever, de Emily Atef
Plan 75, de Hayakawa Chie
Rodeo, de Lola Quivoron
Sick of Myself, de Kristoffer Borgli
The Blue Caftan, de Maryam Touzani
The Silent Twins, de Agnieszka Smocynska
The Stranger, de Thomas M. Wright
The Worst Ones, de Lise Akoka e Romane Gueret
War Pony, de Riley Keough e Gina Gammell

Quinzena dos Realizadores

1976, de Manuela Martelli
A Male, de Fabian Hernández
Ashkal, de Youssef Chebbi
Continental Drift, de Lionel Baier
De Humani Corporis Fabrica, de Véréna Paravel, Lucien Castaing-Taylor
Enys Men, de Mark Jenkin
Falcon Lake, de Charlotte Le Bom
Fogo-Fátuo, de João Pedro Rodrigues
Funny Pages, de Owen Kline
God’s Creatures, de Anna Rose Holmer, Saela Davis
Les Harkis, de Philippe Faucon
Men, de Alex Garland (exibição especial)
One Fine Morning, de Mia Hansen-Løve
Pamfir, de Dmytro Sukholytkyy-Sobchuk
Paris Memories, de Alice Winocour
Scarlet, de Pietro Marcello
The Dam, de Ali Cherri
The Five Devils, de Léa Mysius
The Green Perfume, de Nicolas Pariser
The Mountain, de Thomas Salvador
The Super 8 Years, de Annie Ernaux, David Ernaux-Briot
The Water, de Elena López Riera
Under the Fig Trees, de Erige Sehiri