A ativista Monica Lewinsky, que ficou mundialmente conhecida quando era estagiária da Casa Branca e se viu envolvida num escândalo que levou ao julgamento de impeachment do então presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, lamentou a cultura misógina que veio à tona durante o julgamento de Johnny Depp contra Amber Heard.
Em um artigo de opinião para a revista Vanity Fair, Lewinsky descreveu como triste o “espetáculo” do julgamento transmitido pela internet, definindo-o como um “pornô de tribunal” pela forma como chegou ao público e os prazeres sádicos que despertou.
“Seria triste o suficiente, mesmo se apenas considerássemos como isso afetou sobreviventes de violência doméstica ou aquelas que buscaram força no movimento #MeToo. No entanto, são as implicações para nossa cultura que mais me preocupam: as maneiras como alimentamos as chamas da misoginia e, separadamente, o circo das celebridades”, refletiu Lewinsky.
Para ela, a facilidade de assistir ao julgamento ao vivo faz muitos “pensarem, inconscientemente, que temos o direito de olhar e assistir. De julgar. De comentar. (…) E acabamos com esse cruzamento cultural confuso de ver duas pessoas (que estamos acostumados a ver como atores atuando em uma tela) em um cenário – um tribunal – onde normalmente esperaríamos que eles assumissem os papéis de seus personagens”
Ela também relembrou de sua própria controvérsia no passado – “Google: 1998″, brincou – e comentou não ter ficado surpresa com o fato de os memes negativos de Heard “superassem em muito” os de Depp. “Não fiquei surpresa que o discurso cruel e cáustico fosse predominantemente voltado contra a mulher”, acrescentou. “E eu não deveria ter ficado surpresa (mas fiquei) que logo após minha busca, comecei a receber sugestões de posts sobre o julgamento.”
“Mas eles eram menos sobre Depp e Heard; mais pareciam idolatrar Camille Vasquez (advogada de Depp) por sua ‘performance’ interrogando Heard. Ah, você pensou que não teríamos nenhuma rixa de garota contra garota neste julgamento? Isso está no álbum dos maiores sucessos da Misogina”, ironizou Lewinsky.
“No final, as maneiras como desdenhosamente cooptamos o julgamento para nossos próprios propósitos são um sinal de quantos de nós continuamos a desvalorizar nossa dignidade e humanidade”, continuou. “Tendo sido alvo desse tipo de crueldade, posso dizer que as cicatrizes nunca desaparecem.”