Muita gente não sabe, mas “No Ritmo do Coração” é remake de um filme francês, “A Família Bélier”. Só que sua consagração no Oscar 2022 sinaliza um momento bem diferente da falta de visão internacional da Academia ao premiar em 2007 “Os Infiltrados”, um remake muito inferior ao original de Hong Kong “Conflitos Internos”. Isto porque “No Ritmo do Coração” não só é muito superior, por ter melhorado o conceito original, como seu sucesso aumentou a rejeição ao longa francês.
Os filmes contam basicamente a mesma história, mas com tons, cenas e até músicas diferentes, além de um detalhe crucial. A versão francesa de 2014 escalou atores sem deficiências para os papéis de surdos. A situação rendeu críticas muito negativas sobre a falta de sensibilidade e realismo da produção.
Embora os dois filmes contem a história de uma menina de uma família surda que sonha em ser cantora, a família francesa era fazendeira, enquanto a americana trabalha na pesca e enfrenta situações bem mais dramáticas.
Uma diferença marcante entre os roteiros dos dois filmes é a relação de Ruby (Emilia Jones), que não tem problemas de audição, com sua família. Na trama americana, o irmão mais velho (Daniel Durant) tenta tocar sozinho os negócios da família com os pais, o que cria uma situação trágica. Mas na versão francesa, o irmão da protagonista era o caçula da família e não tem confronto algum com a irmã.
A química dos atores também é infinitamente maior no lançamento americano. E o fato de serem surdos abre um abismo de diferença em relação à interpretação dos atores franceses.
Além do troféu de Melhor Filme, “No Ritmo do Coração” foi premiado com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Troy Kotsur – primeira vez que um ator surdo foi consagrado pela Academia – e com o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, entregue para a cineasta Sian Heder, também diretora do filme.