A atriz Bárbara Paz se declarou uma pessoa não binária. Em entrevista ao podcast “Almasculina”, de Paulo Azevedo, a viúva do diretor Hector Babenco, sobre quem dirigiu o premiado documentário “Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou”, disse que se descobriu sem gênero recentemente, mas no fundo sempre foi assim.
“Sou uma pessoa inquieta. Uma mulher, um homem, não-binária. Descobri que sou não-binária há pouco tempo. Um amigo meu falou que eu era, e eu acreditei, entendi. Sou uma pensadora, uma diretora, uma cineasta, uma atriz, uma pintora, uma escritora. Nas horas vagas a gente tenta tudo com as mãos, com a cabeça, com o cérebro e com a imaginação. A imaginação precisa estar trabalhando o tempo todo. Então, não sei bem quem eu sou. Se tiver alguma referência para me dizer quem eu sou, ainda estou em busca. Sou muitas coisas. Sou muitos, muitos, muitas. É difícil dizer quem você é para se apresentar. Sou uma pessoa de fazer o que tenho dentro, o que não é pouco. Arte”, ela explicou.
No bate-papo, Barbara, que ficou órfã de pai aos 6 anos, disse ter percebido que desde cedo assumiu papéis masculinos. “Eu fui o homem da casa. Mesmo sendo criança, eu me sentia responsável por aquilo tudo. Sentia que tinha que cuidar da casa”, afirmou.
“Minha ideia, quando criança, de quando eu subia nas árvores, era: ‘Então eu vou sair daqui, vou levar minha mãe para São Paulo, vou achar um médico'”, disse, citando a mãe que perdeu aos 17 anos de idade.
“Eu comecei a trabalhar com 9 anos. Ninguém me falou para ir trabalhar. Eu sabia que ia ficar sem dinheiro, que minha mãe precisava… Então, esse lado meu masculino, que sei que tenho muito forte (veio dali)”, continuou.
Ela também abordou o visual andrógino que marcou sua vida.
“Sempre fui muito guri. Sempre tive cabelo curto, fui muito magra, não tinha tênis, eu tinha um kichute. Usava um meião. E eu tinha que usar, pra agradar minha mãe, um vestidinho sempre. Só que eu detestava. Sempre quis agradar muito minha mãe. Então eu era metade menino, metade menina.”
Apesar disso, Bárbara pondera que nunca questionou sua sexualidade, dizendo que não via problemas em gostar de homem ou mulher.
“Nunca questionei sobre isso, se é homem, mulher, do que você gosta. Nunca questionei sobre isso. Pra mim, você gosta de pessoas.”
Depois da entrevista, ao ver seus comentários transformados em posts de portais e tópicos nas redes sociais, Bárbara foi ao Instagram demonstrar surpresa com a repercussão. “Gente, quanto sensacionalismo. Não há nenhuma descoberta, nenhuma revelação. Sempre fui assim — inquieta, curiosa com a vida”, explicou. “Amo ser minha mulher, ser meu homem. Amo ser essa mistura de eus. Amo ser quem eu sou!”.