Viola Davis disse que criou sua própria produtora, a JuVee Productions, para mudar o jogo racial de Hollywood. Numa mesa redonda com a escritora e ativista Stacey Abrams, realizada pela revista americana Variety, a atriz contou que decidiu financiar os seus projetos e escapar dos papéis de empregada doméstica ou mãe enlutada, que geralmente lhe eram oferecidos. Ela queria poder viver uma mulher negra de meia idade completa, inclusive em sua vida sexual.
“Ninguém estava desenvolvendo filmes com alguém como eu em mente. Eu sou uma mulher de 55 anos, de pele negra, em Hollywood. Eu ainda recebo ofertas para ser ‘a empregada’, ou ‘a mãe de família chorando em cima do cadáver do seu filho no meio da rua'”, contou.
Davis explicou que uma de suas grandes frustrações é “nunca ser vista como um ser sexual”. “Os fundamentos básicos do que é ser mulher não parecem me incluir”, disse.
Ela também apontou que uma das poucas exceções em sua carreira foi o papel da advogada Annalise Keating em “How to Get Away with Murder”. “Aquela foi minha primeira chance de criar uma mulher completa”, comentou.
“Quando vemos mulheres negras nas telas, somos uma extensão da nossa história. Agora somos vistas como tão fortes que ficamos quase masculinizadas. Não sentimos nenhuma dor. Não somos desejadas, ou abraçadas. Na série, tive a chance de explorar o que é ser mulher, toda a bagunça disso, até mesmo os traumas sexuais”, explicou.
Foi para não querer que Annalise Keating fosse uma raridade em sua carreira, ela fundou a JuVee Productions em 2011. Com a produtora, busca representar a experiência negra em toda a sua riqueza, buscando apresentar pessoas que merecem ser celebradas, “mesmo que não tenham entrado para o livro de história”.
“Mesmo que elas não sejam pessoas fáceis de gostar, mesmo que elas não sejam ‘bonitas’ – e essa é uma grande preocupação minha -, mesmo que elas não sejam heterossexuais, mesmo que sintam raiva de Deus. E é uma honra trabalhar com artistas cujo objetivo é aprofundar as histórias que contamos sobre pessoas não-brancas”, concluiu.
Entre os títulos produzidos pela empresa de Viola Davis estão o thriller “Lila & Eve: Unidas pela Vingança” (2015), que a atriz estrelou ao lado de Jennifer Lopez, o drama jurídico “Sob Custódia” (2016), a divertida comédia infantil “Tropa Zero” (2019), o documentário “Emanuel” (2019), sobre o fuzilamento dos frequentadores de uma igreja por um branco racista, e as séries “American Koko” (2017) e “The First Lady”, que vai estrear no final de 2021 com Viola no papel de Michelle Obama.