A atriz Kate Winslet disse ter se arrependido de trabalhar com os diretores Woody Allen e Roman Polanski. A declaração foi dada em entrevista publicada pela revista Vanity Fair. Em 2011, ela ela estrelou “Deus da Carnificina”, de Polanski, e, em 2017, “Roda Gigante”, dirigido por Allen.
“O que eu estava fazendo?”, disse Winslet à revista. Vencedora do Oscar de Melhor Atriz por “O Leitor” (2009), ela ainda comentou que acha “inacreditável” que os dois cineastas “tenham sido respeitados e donos de um amplo prestígio na indústria do cinema por tanto tempo”.
“Tenho de assumir a responsabilidade de ter trabalhado com os dois. É muito vergonhoso”, desabafou a atriz, que ainda lamentou não poder voltar no tempo.
Apesar dessa adesão à narrativa de Ronan Farrow, que já comparou seu pai ao produtor Harvey Weinstein, condenado pelo abuso de várias mulheres, a verdade é que Woody Allen é um caso bem diferente de Roman Polanski. Ele é alvo de uma campanha de difamação movida por seus filhos, Dylan e Ronan Farrow, que sob influência da mãe Mia Farrow (inimiga mortal de Allen), pressionam parceiros de negócios e atores a abandoná-lo, como Winslet fez agora.
A pressão acontece pelas redes sociais, com ameaças de cancelamento a quem não aderir, e partem das acusações contra o diretor por um suposto abuso cometido em Dylan quando ela tinha sete anos, em 1992, em plena fase de separação entre Allen e Mia Farrow e o escândalo de seu relacionamento com a enteada da ex-mulher. O caso foi investigado pela Justiça americana não uma, mas duas vezes na ocasião, e em ambas a conclusão foi pela inocência do diretor. Ninguém mais o acusa de nada e nenhuma atriz, inclusive Winslet, cita qualquer inconveniência de sua parte durante seus trabalhos. Atualmente, o diretor tem duas filhas de 20 e 21 anos com sua esposa Soon Yi (a enteada de Mia) que o adoram.
Polanski, por sua vez, admitiu sua culpa e chegou a ser preso por estuprar uma menina de 13 anos em 1977, fugindo dos EUA para a França (de onde não pode ser extraditado), antes da sentença final. Após o movimento #MeToo, várias outras mulheres, inclusive atrizes, acusaram o diretor de ter abusado delas nos anos 1970, quando também eram menores ou muito jovens.
Após as novas denúncias, o diretor franco-polonês foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, mas venceu o César (o Oscar francês) deste ano por “O Oficial e o Espião”, alimentando o desconforto de atrizes francesas. Já Woody Allen continua membro da Academia. Ele chegou a dizer que temia ver o #MeToo transformado em caça às bruxas, mas ninguém o acusou de nada novo desde que o movimento enquadrou vários diretores, produtores e astros poderosos de Hollywood.
Simplificando: Roman Polanski admite culpa, fugiu da Justiça e recebeu várias outras acusações de abuso sexual. Woody Allen se diz inocente, enfrentou a Justiça, foi julgado inocente e nunca mais foi acusado de nenhum abuso.