A campanha de boicote a “Mulan” ganhou novo impulso na Ásia após a estreia do filme em Taiwan e na Tailândia no fim de semana passado. Ativistas pró-democracia ficaram incomodados pelo texto dos créditos da produção, exibidos após o fim do filme.
Entre os agradecimentos da produção, há menções às agências governamentais da China que viabilizaram filmagens do longa na província de Xinjiang. Povoado majoritariamente pela minoria muçulmana do país (os uigures), o local teria sido palco de inúmeras violações de direitos humanos cometidas pelo governo central chinês.
Uma investigação internacional realizada em 2019 e por 17 veículos de imprensa, como a BBC e os jornais Le Monde e The New York Times, teve acesso a documentos que mostram que cerca de 1 milhão de uigures foram aprisionados e torturados em campos de reeducação em Xinjiang.
Os moradores afirmam ter sido submetidos a regimes de doutrinação política exaustiva, trabalho forçado e esterilização — parte de um suposto programa para suprimir as taxas de natalidade na população muçulmana.
Em resposta à polêmica, o governo chinês afirmou que os campos de detenção têm o objetivo de “pacificar” a região e acelerar seu desenvolvimento econômico.
A Disney agradece, ao todo, oito entidades governamentais de Xianjiang, incluindo o departamento de segurança pública, responsável pela “pacificação” dos uigures, e até o departamento de publicidade do Partido Comunista Chinês, responsável pela propaganda do regime e as justificativas cor-de-rosa para a tortura da população.
Um dos mais importantes ativista pró-democracia de Hong Kong, o jovem Joshua Wong, foi ao Twitter se dizer indignado com a submissão da Disney ao governo chinês, comentando a nova polêmica de “Mulan”.
“Só piora! Agora, quando você assiste ‘Mulan’, não só está fechando os olhos para a brutalidade policial e a injustiça racial defendida pelo elenco principal, também é potencialmente cúmplice do encarceramento em massa de uigures muçulmanos. #BoicoteMulan”, escreveu Wong.
O filme já vinha enfrentando boicote de ativistas por conta de sua história, que enaltece a defesa da China contra rebeliões, mas principalmente por declarações da atriz Liu Yifei, que dá vida à protagonista, em apoio às forças policiais durante a repressão violenta aos protestos pró-democracia de Hong Kong.
A Disney aposta alto no lançamento da produção no mercado chinês, onde os cinemas já voltaram a lotar e bater recordes de arrecadação.
A estreia de “Mulan” na China está marcada para sexta-feira (11/9).
Activist Joshua Wong accused Disney of “kowtowing” to China, citing Liu and another actor’s support for Hong Kong police and the movie’s credits mentioning state organisations in Xinjiang. “We urge people around the world to boycott the new Mulan movie,” he told Reuters pic.twitter.com/4FZN42ICY1
— Joshua Wong 黃之鋒 😷 (@joshuawongcf) September 8, 2020