Ainda que seja o primeiro longa-metragem de Alan Yang na direção, ele já teve a oportunidade de imprimir a sua marca na televisão, especialmente com a série “Master of None”, da qual ele é cocriador.
O diretor é mais um americano descente de asiáticos a filmar nos Estados Unidos em língua não inglesa, mercado que começa a se abrir após a repercussão positiva de “A Despedida”, de Lulu Wang, no ano passado. E assim como Wang homenageou sua vovó em seu drama premiado, “Tigertail” é uma obra muito pessoal de Yang, inspirado nas memórias de seu pai.
Em “Tigertail”, o diretor usa o idioma natal de seu pai, o mandarim, para discutir as escolhas da vida, suas repercussões e a força das memórias.
O filme acompanha Grover, um senhor sexagenário vivido por Tzi Ma, rosto muito conhecido de filmes hollywoodianos, inclusive de “A Despedida”. Grover mora nos Estados Unidos há alguns anos e está de volta depois do funeral de sua mãe, que morava em Taiwan. Seu relacionamento com a jovem filha adulta Angela (Christine Ko) não é fácil. Ele é um homem muito fechado, não costuma ser a pessoa mais simpática do mundo e tem histórico de ter sido bastante duro com a filha durante a infância dela.
Yang faz um filme de idas e vindas no tempo, com as cenas de flashback gravadas em 16 mm, com aparência mais suja, e as cenas do presente em limpíssimo digital, para explicar o que tornou seu personagem num homem tão amargurado.
Para isso, o filme contrasta esse homem distante com o entusiasmo que mostrava na juventude, representado principalmente em sua relação com uma moça em Taiwan. Era uma jovem especial, que tornava o relacionamento dos dois divertido, com muitas conversas e sonhos compartilhados. Mas eis que Grover conhece a filha do patrão e tem a chance de ir com ela para os Estados Unidos. Sem dinheiro e filho de família pobre, ele vê a possibilidade de casar com essa outra moça, com quem tem pouca afinidade e pela qual sente pouco afeto, como chance de vencer na vida. Mesmo que para isso tenha que abandonar o amor de sua vida.
Hiatos apresentam os diferentes estágios da vida dos jovens casados, inclusive oferecendo espaço para que se saiba mais da vida da esposa de Grover. Quando está distante do marido, ela se mostra outra pessoa, muito mais solta, mais feliz, o que só prova o quanto o marido se tornou uma presença repressora.
O cineasta contou que muito da ideia do filme veio de conversas com seu pai e especialmente de uma viagem que ambos fizeram para Taiwan, quando o pai o apresentou a lugares importantes de seu passado. E isso é mostrado no filme também, de forma a acentuar a forte memória que o protagonista ainda carrega dos melhores anos de sua vida.
O resultado é uma pequena joia dramática, que conta uma história capaz de ser entendida e comover em qualquer língua. Mas, por favor, não façam a besteira de optar pela versão dublada, pois perderão as riquezas e sutilizas de sua narrativa.