Uma semana depois de anunciar sua saída da secretária especial da Cultura, Regina Duarte segue no cargo. Ela não foi exonerada (desligada oficialmente) porque o ato que a desvincula da secretaria ainda não foi publicado no Diário Oficial da União até esta quinta-feira (28/5).
O afastamento da ex-atriz e futura ex-secretária foi comunicado em vídeo pelo presidente, ao lado de Regina, na quarta-feira passada (20/5), quando anunciaram que ela seria transferida para o comando da Cinemateca, em São Paulo. Mas o cargo informado não existe, uma vez que a Cinemateca é gerida por uma ONG.
Comprovando sua permanência, a agenda pública da secretária revela que, nesta semana, ela teve ao menos quatro atividades de despachos da pasta – duas internas, duas por videoconferência.
Questionado pelo UOL, o Ministério do Turismo informou que Regina está em transição.
“A secretária especial de Cultura, Regina Duarte, encontra-se em fase de transição dos trabalhos realizados por ela durante este período para valorizar a cultura no país”, comunicou a pasta.
Desde o anúncio da saída de Regina, um dos nomes cotados para substituí-la é do ator Mário Frias, que almoçou com Bolsonaro na semana passada, antes mesmo da ida da ex-atriz para o limbo, e que o próprio presidente tachou de “excelente nome” para assumir a Cultura do país. Mas assim que sua participação no governo “>começou a ser vazada por fontes do Planalto, os radicais da direita do Twitter protestaram, como tinham feito no dia da posse de Regina Duarte – quando iniciaram a campanha que acabou por derrubá-la. Querem um terraplanista no cargo.
A demora na definição pode ser creditada à burocracia, mas faz parte do uso da burocracia como estratégia de governo.
A queda para o nada da ex-atriz, pouco mais de dois meses após sua posse, faz parte do método implantado por Bolsonaro para neutralizar a pasta da Cultura e congelar todo e qualquer fomento para o setor.
O método das demissões em série, demora para contratações, desorganização estrutural e sabotagem assumida tem como resultado prático a implosão de organogramas e travamento de definições de comitês importantes, como o responsável pela gestão do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). Essa desgovernança, que se aproveita da morosidade burocrática para transformar inoperância em modelo administrativo, justifica porque nenhum dinheiro da Cultura foi liberado por Bolsonaro desde que assumiu a presidência.
Além de não liberar, seu desgoverno se caracteriza por cortar incentivos e vetar leis que possam ajudar a classe artística, com o objetivo claro de sangrar o setor até matá-lo. Presidente dos brasileiros, Bolsonaro resolveu que os artistas não deveriam receber nem o cornavoucher, cortando a classe dos benefícios do programa emergencial de sobrevivência financeira.
O jogo ficou tão manjado que o meio artístico reagiu, ignorando a pasta da Cultura e o governo Bolsonaro para buscar uma aliança com o Congresso. O resultado foi a aprovação na Câmara dos Deputados, nesta semana, de um projeto de lei que restitui o direito ao coronavoucher e direciona recursos financeiros para o setor, para compensar a mortandade de CPFs e CNPJs do setor a mando do presidente.
Regina Duarte foi peão e cúmplice do maior ataque estatal já sofrido pela Cultura brasileira em todos os tempos. E já se sabe que seu sucessor, seja qual for, deverá apenas esquentar banco para o próximo, e assim sucessivamente, para que o pior presidente da História do Brasil avance em sua guerra cultural declarada, com o objetivo de exterminar o inimigo – a cultura do povo brasileiro.