A pandemia de coronavírus rendeu o primeiro cancelamento oficial de uma estreia de cinema. A Disney abandonou os planos de lançamento de “Artemis Fowl: O Mundo Secreto”, previsto para maio.
O filme não foi apenas adiado, mas completamente descartado na nova programação do estúdio, anunciada nesta sexta (3/4). A superprodução não seguirá mais para o circuito cinematográfico, sendo disponibilizada diretamente na plataforma Disney+ (Disney Plus).
Fantasia juvenil baseada nos livros de Eoin Colfer, Artemis Fowl: O Mundo Secreto” era considerado uma espécie de “Harry Potter” da Disney. Mais que o protagonista com a idade do bruxinho e a trama envolvendo criaturas mágicas, a conexão se estendia até ao roteirista Michael Goldenberg, que escreveu a versão cinematográfica de “Harry Potter e a Ordem da Fênix” (2007).
Além disso, como a saga de J.K. Rowling, “Artemis Fowl” também é uma franquia literária juvenil, que conta com 8 volumes.
Mas as comparações ficam nisso, já que o personagem está mais para Tom Riddle (o jovem Voldemort) que Harry Potter – ainda que eventualmente vire um “malvado favorito”.
A história filmada pela Disney apresenta a “origem” da saga, mas o trailer que chegou a ser divulgado atenuou várias características do personagem, um menino de 12 anos que é milionário e também gênio do crime.
Artemis é herdeiro da família de criminosos Fowl, tem o maior Q.I. da Europa, uma frieza perceptível e usa sua inteligência fora do comum para fins muito pouco nobres. No livro, ele enfrenta sérios problemas quando sequestra uma fada, com o objetivo de usar sua mágica para salvar seu pai, aprisionado por um inimigo misterioso.
O elenco grandioso atestava a ambição da Disney em relação à franquia, ao incluir Colin Farrell (“Dumbo”), Josh Gad (“A Bela e a Fera”), Nonso Anozie (série “Zoo”), Hong Chau (“Pequena Grande Vida”), Miranda Raison (“Assassinato no Expresso do Oriente”), Judi Dench (“Cats”), Lara McDonnell (“Simplesmente Acontece”) e o estreante Ferdia Shaw no papel-título. Ele é neto do falecido Robert Shaw, até hoje lembrado pelo papel de Quint no clássico “Tubarão” (1975).
Em desenvolvimento desde 2013, a produção do filme envolveu um curioso drama de bastidores, já que quase voltou a juntar a Disney com o produtor Harvey Weinstein, condenado por crimes sexuais.
Foi Weinstein quem viu o potencial de “Artemis Fowl”, negociando os direitos dos livros em 2001, quando ainda estava à frente da Miramax, empresa financiada pela Disney. Em 2005, a Disney optou por não renovar sua parceria com os irmãos Harvey e Bob Weinstein, comprando a companhia para dispensá-los – a Miramax acabou vendida mais tarde por US$ 650 milhões para um empresário árabe. Mas uma cláusula contratual assegurava a Harvey que, se um filme de “Artemis Fowl” fosse realizado pela Disney, ele teria direito à participação como produtor.
Kenneth Branagh (“Assassinato no Expresso do Oriente”) foi contratado para dirigir o longa em 2015. Mas de lá para cá Weinstein caiu em desgraça, envolvido num escândalo de abuso sexual que lhe fez ser demitido da sua própria empresa, The Weinstein Company, e banido de Hollywood, até ir parar na cadeia.
Logo que a polêmica estourou, a Disney aproveitou para eliminá-lo do negócio. Mas os demais parceiros do projeto permaneceram, entre eles o ator Robert De Niro (“O Lado Bom da Vida”) e sua sócia na Tribeca Films Jane Rosenthal. Foram De Niro e Rosenthal que apresentaram o livro a Weinstein e o envolveram na adaptação há 17 anos.
Após tantas reviravoltas, o filme orçado em US$ 125 milhões vai sair diretamente em streaming, tornando-se a produção mais cara já realizada para a plataforma Disney+ (Disney Plus).
Veja abaixo o trailer feito pela Disney quando os planos ainda previam lançamento cinematográfico.