Lembram quando o Brasil tinha Ministério da Cultura? Foi criado em 1985 pelo primeiro presidente civil após o fim da ditadura militar no Brasil. Antes, durante o período em que generais presidiam o país, ele era subordinado ao Ministério da Educação. Um dos primeiros atos do ex-capitão Jair Bolsonaro, ao assumir a presidência em janeiro, foi extinguir o Ministério, voltando a transformá-lo em apêndice de outro departamento, no caso o Ministério da Cidadania, invenção do atual mandatário de Brasília. Isso durou 300 dias.
Nesta quinta (7/11), Bolsonaro jogou a atual Secretaria da Cultura em outra pasta, transformando-a em linha auxiliar do Ministério do Turismo.
Também foram transferidas para o Turismo o Conselho Nacional de Política Cultural, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura e a Comissão do Fundo Nacional de Cultura e outras seis secretarias não especificadas, além de atribuições como a proteção do patrimônio histórico, artístico e cultural, e regulação dos direitos autorais.
Vale lembrar que o atual Ministro do Turismo é Marcelo Álvaro Antônio, denunciado pelo Ministério Público Federal por envolvimento no escândalo de corrupção que é chamado pelo próprio Bolsonaro de “laranjal” do PSL.
O deputado Alexandre Frota aproveitou o decreto que oficializou a mudança para fazer piada nas redes sociais. “Com a ideia de Bolsonaro transferir a Secretaria de Cultura que estava na Cidadania para o Ministério do Turismo acho que o primeiro filme a ser realizado poderia ser o Meu Pé de ‘LARANJA’ Lima”, postou o político, aludindo tanto ao escândalo quanto à adaptação do famoso romance de José Mauro de Vasconcelos, lançado em 1968.
Questionado sobre os motivos da transferência, a assessoria do Ministério Turismo disse à imprensa não ter detalhes ainda sobre a decisão do presidente, nem o nome de quem comandará a Secretaria, que, para completar, está sem chefia. Na quarta, o antigo Secretário de Cultura, o economista Ricardo Braga, foi exonerado do cargo para assumir um novo posto no governo.
Braga assumiu a pasta da Cultura após Henrique Pires, que ocupou o mesmo cargo, pedir demissão em agosto. Na ocasião, Pires disse que preferia “cair fora” a “ficar e bater palma para censura”, aludindo à perseguição do governo à produções de temática LGBTQ+.
O descaso chamou atenção do atual Secretário da Cultura de São Paulo, que foi às redes sociais protestar. “Que absurdo a cultura do nosso país sendo tratada dessa forma. Atacada, sucateada, censurada. E agora, jogada como uma sub pasta de um ministério para outro”, escreveu Alexandre Youssef no Instagram. “A classe cultural precisa se levantar unida, para erguer a bandeira da nossa identidade nacional. É disso que se trata: cultura é identidade!”