O Festival de Gramado, que iniciou na sexta (17/8), virou palco para protestos da classe cinematográfica brasileira contra os ataques feitos pelo presidente Bolsonaro aos filmes realizados no país.
Uma das manifestações mais emocionadas do evento foi proferida pelo cineasta Emiliano Cunha, diretor de “Raia 4”, exibido no sábado no evento. Ele afirmou que seu filme só foi feito graças às políticas de fomento da Ancine, alvo constante de críticas de Bolsonaro, destacando que o longa gerou 400 empregos, diretos ou indiretos, além de impostos e receitas. Seu discurso arrancou gritos de “viva o cinema brasileiro!” e “fora, Bolsonaro!” da plateia.
A quantidade de postos de trabalho gerados pelos filmes vem sendo reforçada pelos cineastas em Gramado para mostrar que o audiovisual é um setor importante para a economia.
Além disso, a questão da volta da censura federal tem sido constantemente evocada. “Alguns desses projetos que Bolsonaro quer censurar são de amigos meus. Nosso filme existe hoje, mas talvez não pudesse existir em 2020”, disse um integrante da produção do curta-metragem “Marie”, de Leo Tabosa, sobre uma mulher transexual que retorna ao sertão para enterrar seu pai, em entrevista ao jornal O Globo.
Um grupo de profissionais ligados ao cinema gaúcho também usou o tapete vermelho do evento para empunhar cartazes de filmes brasileiro e entoar um coro “pelo cinema, pela cultura, por uma arte livre e sem censura”.
E a atriz e cineasta Carla Camurati, homenageada do festival e símbolo da retomada do cinema brasileiro – seu filme “Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil” (1995) foi o primeiro sucesso após o estrago causado por Fernando Collor no setor – , lembrou que sem liberdade não se faz cinema.
“Não tem um filme que fiz que não tivesse política, religião e sexo”, afirmou Camurati, referindo-se a temas que Bolsonaro quer vetar em filmes incentivados.
O evento vai continuar até sábado que vem (24/8).