O roteirista Max Landis, de filmes como “Poder sem Limites” (2012), “Victor Frankenstein” (2015) e “Bright” (2017), foi acusado de assédio, abuso e violência sexual por oito mulheres numa reportagem do site Daily Beast.
A reportagem buscou aprofundar denúncias que surgiram em 2017, quando Landis foi chamado de “psicopata” sexual no rastro do movimento #MeToo, em meio a desabafos nas redes sociais.
O gancho para a investigação foi uma postagem de Ani Baker em seu Instagram. “Se você encontrou minha página via Max Landis, oi”, ela escreveu. “Eu vou te falar algumas informações sobre ele, porque a experiência/relacionamento com essa pessoa é realmente destrutivo, cheia de dor e um trabalho emocional que merece a sua energia e tempo”.
Após este post, Ani passou a receber diversos relatos de outras mulheres que também teriam sofrido abuso do roteirista.
Uma delas foi Julie (que teve o nome real trocado), que manteve um relacionamento com o roteirista por dois anos. Ela disse que ele mostrava filmes pornográficos pesados e constantemente testava seus limites. “Isso se tornou obscuro e sombrio, conforme nosso relacionamento se tornava mais tumultuado”, disse. “Isso me levou a ser mais abusada. Ele disse que me ver chorando o excitava e ele gritava e me humilhava até que eu chorava. Depois ele fazia sexo comigo enquanto eu continuava a chorar, sem nenhum respeito ou esforço para fazer as coisas direito. Ele me sufocou até eu desmaiar e fez coisas degradantes que eu não consigo escrever no papel”.
Descrevendo o espectro de abuso que ela experimentou durante o relacionamento, Julie escreveu: “[Landis] levantava a mão e fingia que ia me bater, e ria quando me encolhia. Ele constantemente ameaçava romper comigo, falar sobre suas ‘perspectivas’ para mim e flertar abertamente na minha frente. Em várias ocasiões, ele se referia a mim como sua ex-namorada na frente de garotas em festas que nós íamos juntos como um casal. Ele criticava abertamente o meu corpo na frente das pessoas e me dizia, em particular, que eu tinha o potencial de ser “tão quente” se me comprometesse a trabalhar mais. Ele descrevia graficamente o sexo com suas ex-namoradas e classificaria suas habilidades em comparação às minhas, tanto para mim quanto para seus amigos e colegas de trabalho. ”
Outra garota foi Verônica (também nome fictício). Ela alegou que Max Landis a levou numa viagem para a Disneylândia, a encurralou no hotel e tentou dominá-la com sexo violento. “Eu disse que estava desconfortável com a situação e não queria novamente. Ele ficou furioso e começou a gritar comigo e jogou as coisas no quarto do hotel. Eu encolhi em um canto do quarto e ele se queixou que eu não estava sendo um bom encontro”.
Tasha Goldthwait, que trabalhou como figurinista na estreia de Landis como diretor, “Me Him Her” (2015), o acusou de abusá-la fisicamente, sexualmente e verbalmente durante toda a produção. “Ele falava sobre seu pênis o tempo todo, gabava-se do tamanho dele”, ela afirmou. “E me tocava o tempo todo no set, chegando até a levantar minha camisa para expor meus seios e me levantar e carregar de cabeça para baixo. Até que, numa ocasião, me atirou numa cama do cenário e ficou em cima de mim, diante de várias pessoas”. Ela se demitiu.
A lista de relatos é enorme.
O Daily Beast apurou que a revista The Hollywood Reporter começou reportagem similar há dois anos, mas ela nunca foi publicada. Algumas das personagens citadas na reportagem disseram-se frustradas por contarem suas histórias para um artigo que nunca saiu do papel, e aliviadas por alguém finalmente trazer os abusos de Landis à tona.
Mas o site não ficou apenas nos relatos. Conseguiu acesso também a uma boletim criminal de estupro, datada de 2008, que foi cancelado. A vítima não quis ser entrevistada, mas uma amiga dela deu detalhes, sobre como pegou a amiga sedada e Max se forçando sobre ela. E como ele ameaçou destruí-la quando o caso virou criminal. Um post anônimo do Medium teve narrativa similar, com direito a droga para facilitar o estupro e muita violência física.
Landis foi acusado de conseguir se safar com esse comportamento abusivo devido às suas conexões em Hollywood – seu pai é o diretor John Landis, dos cultuados “Clube dos Cafajestes” (1978) e “Irmãos Cara de Pau” (1980) – e dinheiro – recebeu uma fortuna da Netflix pelo roteiro de “Bright”.
O site também revelou como ele conseguiu tantas vítimas dispostas a se sujeitarem a seus abusos.
Ele teria, basicamente, criado uma espécie de seita, aliciando seguidores com festas milionárias e explorando a sensação de privilégio que era fazer parte de seu círculo íntimo, que batizou de The Colour Society, formado por amigos que ele premiava e abusava. Landis controlava o grupo com uma tática que envolvia escolher seus 10 amigos favoritos para levar em festas exclusivas da indústria cinematográfica ou em viagens, e os estimulava a falar mal dos amigos que não tinham sido escolhidos. Ele rotacionava o grupo de escolhidos, de modo a forçar todos a bajulá-lo para que pudessem se tornar um de seus favoritos. Era entre esses amigos que também escolhia suas “namoradas”.
Max Landis ainda não se manifestou sobre a reportagem.