Diretores de fotografia de séries não costumam ser assediados para entrevistas. Mas foi o que aconteceu com Fabian Wagner, após o episódio de “Game of Thrones” do último domingo (28/4), intitulado “The Long Night”. Ele se viu pressionado a defender o seu trabalho, após a avalanche de críticas negativas sobre a qualidade das imagens – resultando na segunda pior nota da série no Rotten Tomatoes.
Primeiro, ele tentou culpar o público. Em entrevista para o site da revista Wired, ele disse que o problema das “imagens muito escuras” poderia ser resolvido com simples ajuste na televisão. “Grande parte do problema é que muitas pessoas não sabem ajustar suas TVs adequadamente”, ele apontou. “Muitas pessoas também, infelizmente, assistem em dispositivos móveis pequenos, o que, de certa forma, dificulta a experiência de assistir ao episódio”.
Ele ainda defendeu o visual adotado para retratar a grande batalha: “Tudo o que queríamos que as pessoas vissem está lá”.
Wagner explicou que a escuridão do episódio era deliberada, para as cenas de batalha parecerem claustrofóbicas e desorientadoras, mas não escuras a ponto de ninguém ver nada. “Nós tentamos dar aos espectadores e fãs um episódio legal para assistir”, afirmou. “Eu sei que não estava muito escuro porque eu filmei.”
É curioso que, no documentário divulgado pela HBO sobre os bastidores das gravações, Wagner tenha mencionado a iluminação. Na sua descrição, o episódio começa com uma noite muito escura, porque o Rei da Noite leva consigo tempestade e nuvens densas. Mas aos poucos surgem fogos, que representariam o inferno pessoal dos personagens. No final, o fogo já é apagado e a luz do luar passa a banhar as cenas.
O problema é que a maioria das pessoas não viu nada disso. Nem com TV 4k de 50 polegadas.
Confrontado sobre esse fato, Wagner encontrou outro culpado. Em nova entrevista, desta vez para o site TMZ, ele disse que os problemas de qualidade podem ter sido ocasionados pela própria HBO. Segundo ele, a técnica de compressão do episódio para a plataforma pode ter deixado as imagens pixeladas, empobrecendo a qualidade das filmagens.
Pode, não. Não é uma questão de possibilidade. Foi exatamente o que aconteceu.
O cinematógrafo afirmou que “Game of Thrones” “sempre foi uma série escura e muito cinematográfica”. Entretanto, a produção nunca tinha lançado um episódio inteiramente rodado no escuro. Nem um episódio tão longo.
Para não ficar com um arquivo muito grande, que deixaria a transmissão muito lenta, a HBO provavelmente abusou na compressão. E, mesmo assim, o serviço HBO Go caiu em vários países – inclusive no Brasil.
Para complicar ainda mais, os provedores de TV paga praticam uma alta definição de mostruário – 720p ou 1080i – deixando as cenas noturnas totalmente pixeladas e com baixa qualidade.
Mesmo que a fotografia seja de cinema, ninguém da produção levou em consideração a forma como as imagens seriam transmitidas e em quais aparelhos. A Netflix aprendeu essa lição com a 1ª temporada de “Demolidor” – também muito escura. Investiu em tecnologia e nunca mais teve problema – reveja os episódios da série do super-herói em 4k para ver a diferença.
A HBO não transmite em 4k. As telas de TV, por maiores e mais modernas que sejam, não vão mostrar cenas cinematográficas se o que é exibido tem baixa definição, devido à compressão excessiva.
“The Long Night” só vai poder ser apreciado da forma como Wagner garante ter filmado quando sair em Blu-ray. Será um verdadeiro tira-teima.
Mas “Game of Thrones” não é uma produção feita para colecionadores de Blu-ray. Seu público original são os assinantes de TV paga e plataforma de streaming. Eis a questão.