A atriz Emilia Clarke, conhecida por viver Daenerys Targaryen em “Game of Thrones”, revelou que quase morreu após gravar a 1ª temporada da série, e voltou a correr risco ao final da 3ª, tendo que sofrer três cirurgias no cérebro para sobreviver.
Ela admitiu pela primeira os problemas de saúde que sofreu durante sua trajetória de oito anos na atração da HBO em um desabafo publicado na revista The New Yorker.
Em seu relato, Emilia considera que contou com sorte e boa assistência médica para se manter viva e ser capaz de continuar sua carreira de atriz.
Nenhum dos problemas teve a ver com condições árduas de gravações e, por coincidência, aconteceram durante os intervalos da produção, de modo que não impactaram o cronograma de “Game of Thrones” e, por isso, não foram notados pela imprensa.
Apenas o tabloide National Enquirer chegou a publicar uma reportagem sobre seus problemas de saúde, mas ela negou a notícia sempre que foi perguntada por repórteres. Até agora.
Com a 8ª temporada de “Game of Thrones” pronta e prestes a estrear, atriz resolveu contar o que ninguém sabia.
Ela contou que estava malhando com o seu personal trainer em fevereiro de 2011, após encerrar as gravações da 1ª temporada da série, mas antes de a atração estrear na HBO, quando sentiu uma aguda dor de cabeça.
“Eu tentei ignorar a dor e acabar o treinamento, mas não consegui. Eu disse ao meu personal trainer que tinha que fazer uma pausa. De alguma forma, quase engatinhando, cheguei até o vestiário [da academia]. Eu alcancei a privada, ajoelhei e vomitei violenta e profusamente”, escreveu a atriz.
Clarke conta que começou a suspeitar que aquilo não era uma virose ou doença comum naquele mesmo momento. “Eu ouvi a voz de uma mulher, vinda da cabine ao meu lado no banheiro, perguntando se eu estava bem. Eu disse que não. Ela abriu a porta e me ajudou a ficar na posição de recuperação”, relatou Clarke.
“A seguir, eu me lembro do som de uma sirene, da ambulância. Eu ouvi novas vozes, alguém dizendo que meu pulso estava fraco. Eu continuava vomitando. Alguém achou meu celular e ligou para os meus pais, e eles foram me encontrar na emergência do hospital”, relatou.
Clarke relatou que o seu diagnóstico veio rápido: hemorragia subaracnoide, um tipo de derrame causado por sangramento no espaço do crânio que envolve o cérebro. Essa hemorragia, por sua vez, foi causada por um aneurisma, ou uma ruptura arterial.
“Como eu descobri mais tarde, um terço dos pacientes que sofre esse tipo de hemorragia morre na hora”, escreveu a atriz. “Para os pacientes que sobrevivem, tratamento urgente é necessário, e há muitas chances de um segundo aneurisma acontecer”.
Clarke passou por cirurgia pouco depois, no Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia, em Londres, no Reino Unido. “Por três horas, os médicos tentaram consertar o meu cérebro. Não seria minha última, nem minha pior cirurgia. Eu tinha 24 anos”, relatou.
No texto, Clarke descreve ter acordado após a primeira cirurgia com “uma dor insuportável” e ouvir dos médicos que eles a manteriam em observação por pelo menos duas semanas – se ela passasse desta marca, suas chances de recuperação total eram altas.
“Certa noite, depois de eu passar deste prazo, uma enfermeira me perguntou meu nome completo. Eu me chamo Emilia Isobel Euphemia Rose Clarke, mas não conseguia me lembrar. Ao invés disso, palavras que não faziam sentido saíram de minha boca, e eu entrei em pânico”, descreveu.
“Eu sou uma atriz, preciso lembrar as minhas falas. Agora, não lembrava nem o meu nome”, disse, evocando seu pânico daquele momento. “Eu estava sofrendo de uma condição chamada afasia [dificuldade de expressão em palavras], devido ao trauma que meu cérebro teve que aguentar”.
“Nos meus piores momentos, eu queria desistir de tudo. Eu disse aos médicos para me deixarem morrer. O meu trabalho, todo o sonho do que eu queria ser na minha vida, era centrado na linguagem e na comunicação. Sem isso, eu estava perdida”, completou.
Felizmente, a afasia durou apenas uma semana. “Eu consegui falar de novo. Eu sabia dizer o meu nome. Muita gente ao meu redor naquelas semanas no hospital não teve a mesma sorte. Eu saí de lá um mês depois de ser internada. Dentro de poucas semanas, tinha que voltar ao set de ‘Game of Thrones'”, relembrou.
Clarke acrescentou que, durante as filmagens da 2ª temporada, seu estado de saúde ainda era precário. “Depois do primeiro dia de filmagens, eu me arrastei para o hotel e mal consegui chegar na cama antes de desmaiar”, escreveu.
Os médicos haviam dito para a atriz que ela tinha um segundo aneurisma no outro lado do cérebro, mas que ele era pequeno, e poderia nunca chegar a causar problemas. O importante era fazer exames periódicos.
Em 2013, após finalizar a 3ª temporada de “Game of Thrones”, Clarke passou por um de seus exames de rotina, onde foi constatado que o segundo aneurisma havia duplicado de tamanho e uma nova cirurgia seria necessária.
Os médicos prometeram um procedimento simples, mas problemas surgiram durante o processo e Clarke acordou “gritando de dor”.
Foi necessária uma terceira cirurgia, mais invasiva e demorada, e a atriz passou mais um mês em recuperação no hospital. “Parecia que eu tinha passado por uma guerra pior que aquelas que Daenerys enfrentou. Partes do meu crânio foram substituídos por placas de titânio”, revelou.
“Novamente, eu tive momentos em que perdi toda a esperança. Eu não conseguia olhar ninguém nos olhos. Tive ansiedade, ataques de pânico. Minha mãe me criou para nunca dizer ‘isso não é justo’, para sempre lembrar que há alguém em situação pior que você, mas foi difícil sentir algo positivo naquele momento”, admitiu.
“É difícil para mim relembrar estes dias sombrios em detalhes. Minha mente os bloqueou”, acrescentou. “Eu lembro que estava convencida que ia morrer. Lembro que tinha certeza que as notícias sobre minha saúde sairiam na imprensa”.
“Poucas semanas depois da minha última cirurgia, eu fui à Comic-Con de San Diego com meus colegas de elenco em ‘Game of Thrones’. Eu não queria desapontar os fãs. Eu estava com muita dor de cabeça pouco antes de entrar no palco para conversar com eles” escreveu Clarke ao final de seu relato na New Yorker.
“Quando eu saí do palco, minha assessora me disse que um repórter da MTV estava me esperando. Eu pensei comigo: ‘Se eu vou morrer agora, que seja na televisão’. É claro, eu sobrevivi. Sobrevivi à MTV, e a muito mais”, continuou.
Clarke disse que está “100% recuperada” hoje em dia. “Incontáveis pessoas sofreram muito mais que eu, e não tiveram a sorte de receber o tratamento que eu recebi”, ela ponderou. Mas a experiência de quase morte mudou sua perspectiva de vida.
“Além de meu trabalho como atriz, eu decidi me dedicar a uma organização beneficente chamada SameYou, que ajuda a dar tratamento para pessoas que se recuperam de lesões cerebrais ou derrames”, contou.
“Há algo de muito gratificante em chegar ao fim de ‘Game of Thrones’, e eu me sinto muito sortuda por estar aqui para ver o final desta história e o começo do que vem a seguir”, completou.