A atriz francesa Juliette Binoche, que preside o júri do Festival de Berlim 2019, deu uma declaração polêmica na entrevista coletiva que abriu o evento. Ela disse achar que Harvey Weinstein “já sofreu o suficiente”.
Reforçando que nunca teve problemas com o produtor acusado de assédio, abuso sexual e estupro por mais de 100 mulheres, ela afirmou: “As pessoas já se manifestaram, eu mesma me manifestei. Agora é a hora da Justiça fazer seu trabalho”.
Ela justificou sua fala, dizendo que estava “se colocando no lugar” do ex-produtor, que perdeu seu status e foi afastado de suas funções desde que as denúncias ganharam força. “Eu nunca tive problemas com ele”, garantiu. “E não podemos esquecer que ele foi quase sempre um grande produtor”, acrescentou a atriz, que atuou em “O Paciente Inglês”, de 1996, e em “Chocolate”, de 2001, produzidos por Weinstein.
Os filmes de Weinstein estão entre os mais premiados pela Academia. Mas ele também era conhecido, antes das denúncias atuais, por gritar com diretores, aterrorizar funcionários, interferir na edição de filmes, chantagear estrelas a usarem roupas da grife de sua mulher e lançar versões retalhadas de sucessos internacionais nos Estados Unidos.
Weinstein será julgado em 6 de maio sob acusação de abuso sexual e estupro de duas mulheres, cujos casos não prescreveram. Mas uma centena de mulheres revelou ter sofrido assédio do ex-magnata de Hollywood desde os anos 1970.
As denúncias contra ele deram origem ao movimento #MeToo, que foi o estopim para tirar do escuro diversos casos de assédio, abuso e outras formas de violência sexual na indústria cinematográfica, levando à queda de vários produtores e empresários.
Entretanto, as atrizes francesas se manifestaram de forma contrária ao movimento, que taxaram de autoritário. Um abaixo-assinado de estrelas idosas do cinema francês, como Catherine Deneuve, Ingrid Caven e Catherine Robbe-Grillet – todas com mais de 70 anos – defendeu o direito dos homens de “importunarem” mulheres no ambiente de trabalho.