A adaptação dos quadrinhos da “Red Sonja”, que seria dirigida por Bryan Singer (“Bohemian Rhapsody”), foi engavetada pela produtora Millennium Fims.
Em comunicado oficial, o estúdio afirmou que o filme “não está na agenda no momento, e não vai ser vendido para distribuidoras” durante o Festival de Berlim, como estava anteriormente planejado.
A Millennium não deixou claro se o engavetamento é permanente ou provisório.
A decisão veio menos de um mês após o surgimento de novas acusações de abuso de menor contra Singer e após o presidente da Millennium, Avi Lerner, garantir a manutenção do diretor no projeto.
Singer fechou um contrato milionário para dirigir “Red Sonja” e deveria receber em torno de US$ 10 milhões pelo trabalho. Ele se defendeu das acusações de abuso publicadas em janeiro pela revista The Atlantic acusando um dos repórteres de homofobia e revelando que a mesma denúncia tinha sido vetada por supostos problemas de apuração pela revista Esquire. Os autores da reportagem confirmaram que a editora da Esquire barrou a publicação original, mas disseram “não saber porquê”.
Antes disso, porém, Singer foi alvo de duas ações legais por abuso sexual de menor. A mais recente é de 2017, quando foi acusado de estupro por Cesar Sanchez-Guzman. O jovem conta que tinha 17 anos quando compareceu a uma festa em um iate na qual Singer era um dos convidados.
A ação ainda tramita na justiça americana. Mas chama atenção o fato de o advogado de Cesar Sanchez-Guzman ser Jeffrey Herman, o mesmo que representou Michael Egan em 2014, quando este também fez acusações de abuso sexual de menor contra vários figurões de Hollywood, inclusive Singer. Mais tarde, Egan voltou atrás nas denúncias, após inúmeras contradições em seus depoimentos. No caso de Singer, por exemplo, ele acusou o diretor de estuprá-lo numa viagem ao Havaí. Entretanto, Singer estava no Canadá filmando um dos longas dos “X-Men” no período apontado, e diante das evidências o caso foi retirado.
Para defender a manutenção de Singer à frente de “Red Sonja”, Lerner citou “os mais de US$ 800 milhões arrecadados por ‘Bohemian Rhapsody'”, dizendo que eram “uma prova de sua notável visão e perspicácia”. “Eu sei a diferença entre fake news e realidade, e estou muito confortável com a decisão. Nos Estados Unidos, as pessoas são inocentes até que se prove o contrário”, completou o produtor.
A permanência de Singer no projeto era uma decisão rara no clima que reina atualmente em Hollywood, considerando os inúmeros atores, produtores e executivos que foram demitidos após acusações menos graves ou similares.
Mas a polêmica não esmoreceu, com o BAFTA (a Academia Britânica das Artes Cinematográficas e Televisivas) retirando o nome de Singer das indicações do filme “Bohemian Rhapsody” em seu prêmio anual. “O BAFTA considera o comportamento denunciado completamente inaceitável e incompatível com seus valores”, disse a instituição como justificativa para a exclusão.
Diante da pressão negativa, o arquivamento de “Red Sonja” se tornou inevitável.