A indicação de “Detainment” ao Oscar 2019 na categoria de Melhor Curta-Metragem está causando polêmica. O filme reproduz entrevistas da polícia feita com dois meninos de 10 anos condenados pelo assassinato de outra criança, de apenas dois anos de idade.
O crime chocou tanto o Reino Unido em 1993, que acabou inspirando a redução da maioridade penal para 10 anos na região. E agora volta a virar notícia graças ao Oscar.
A mãe de James Bulger, a vítima da atrocidade, se disse “enojada” com a indicação do filme, feito sem sua autorização.
“Eu não consigo expressar como estou enojada e chocada por esse filme ter sido feito e agora indicado ao Oscar”, tuitou Denise Fergus, a mãe de James, após o anúncio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos.
“Uma coisa é fazer um filme como esse sem contatar ou pedir permissão à família de James e outra é ter uma criança encenando as últimas horas de vida dele, os momentos que antecederam o seu assassinato brutal, e fazer a mim e a minha família reviver tudo isso!”, criticou.
O diretor irlandês Vincent Lambe, responsável pelo curta, divulgou um comunicado se desculpando por não ter avisado a Fergus sobre o filme e “por qualquer mal estar que o curta possa ter causado”.
Segundo Lambe, o filme foi feito para tentar entender o que levou os dois garotos de 10 anos a cometer “um crime tão horrível”. “Porque eu acho que, se não entendermos a causa disso, é provável que algo parecido volte a ocorrer no futuro”, observou ele.
Mas a briga de Denise Fergus com o diretor não começou nesta semana. Em entrevista ao programa de TV britânico “Loew Women”, da ITV, no mês passado, Fergus acusou Lambe de estar usando o caso para promover a carreira, conclamou que o filme fosse boicotado e pediu para que a Academia o tirasse da disputa do Oscar.
“Eu quero muito tirar esse filme da lista (de indicados). Eu acho que ele (Lambe) não merece nenhum Oscar e que só está tentando promover sua carreira e se engrandecer usando o sofrimento de outra pessoa”, disse ela. “Eu estou pedindo que as pessoas boicotem (o curta-metragem) porque, em primeiro lugar, ele nem deveria ter sido feito, especialmente sem os pais de James terem sido consultados a respeito”, continuou.
“Detainment” (Detenção, em tradução literal) conta os detalhes do crime, a partir dos depoimentos dados pelos assassinos à polícia.
James estava em um shopping center em Bootle, perto de Liverpool, com a mãe, quando foi raptado em 12 de fevereiro de 1993. Câmeras de segurança mostraram quando Robert Thompson e Jon Venables, que na época tinham 10 anos, atraíram e levaram o menino. Logo depois, eles o espancaram até a morte com tijolos e uma barra de ferro e deixaram o corpo em uma linha de trem. James foi encontrado pela polícia dois dias depois.
Os assassinos, por sua vez, foram identificados após o programa da BBC “Crimewatch” exibir a gravação em que apareciam levando a criança do shopping. Eles foram condenados em novembro do mesmo ano e cumpriram 8 anos de detenção em um reformatório, tornando-se os condenados por assassinato mais jovens da História na Inglaterra.
Fergus pressionou vários anos por sentenças mais longas para os assassinos do filho, mas eles foram libertados em 2001, receberam novas identidades e desde então vivem anonimamente.
Depois que a indicação ao Oscar foi confirmada, o presidente da Irlanda, Michael D. Higgins, usou o Twitter para parabenizar os indicados irlandeses, incluindo a equipe por trás do curta-metragem.
A cerimônia de premiação do Oscar 2019 será realizada no dia 24 de fevereiro, em Los Angeles, com transmissão no Brasil pelos canais Globo e TNT.