A Netflix finalmente divulgou as primeiras informações sobre “Black Mirror: Bandersnatch”, disponibilizado nesta sexta (28/12). Mas a esta altura nem precisava, pois o público já deve ter descoberto por conta própria. Conforme apontavam rumores, trata-se da primeira experiência interativa para adultos do serviço de streaming.
Ao longo do filme, o espectador é convidado a fazer escolhas para o protagonista da história. As decisões acontecem de forma simples, pela seleção de uma entre duas alternativas que lhe são oferecidas durante várias cenas.
Usando toque na tela, mouse ou controle remoto, cada opção leva a trama para um determinado rumo. Elas começam com opções simples, como o que comer no café da manhã, e acabam conduzindo a escolhas éticas, potencializando conflitos aflitivos de quem precisa decidir o destino do personagem.
O espectador tem um determinado tempo para decidir. Se optar por não fazê-lo, a história segue um rumo pré-determinado, apresentando sua versão mais simplificada.
É possível conduzir o filme à sua conclusão em até 90 minutos. Mas também assisti-lo por 2h30. O recomendado é não recomeçar a vê-lo após o final e sim continuar assistindo mesmo depois dos créditos aparecerem, pois a inteligência artificial do mecanismo interativo oferecerá de novo o longa levando em conta as opções anteriores, para que a história não se repita.
Ao todo são cinco finais possíveis e múltiplas variações da história.
O resultado é impressionante e deixa para trás as experiências anteriores na criação de uma narrativa interativa.
Vale lembrar que a Netflix começou a introduzir elementos interativos na série animada “Kong: O Rei dos Macacos”, disponibilizada em abril de 2016. E aprimorou o formato com o lançamento de três outras produções infantis, “Gato de Botas: Preso num Conto Épico”, “Buddy Thunderstruck: A Pilha do Talvez” e “Stretch Armstrong: The Breakout”.
“Black Mirror” é a primeira experiência interativa da plataforma com atores reais, mas foi precedida por uma série do cineasta Steven Soderbergh realizada inteiramente neste formato, “Mosaic”, lançada em janeiro na HBO.
A diferença é que a história de Charlie Brooker, criador de “Black Mirror”, inclui muito mais opções e layers narrativos. E levou à criação de uma nova tecnologia. Isto mesmo, “Black Mirror” deixou de ser uma produção sobre tecnologia futurista para virar uma produção que cria tecnologia futurista.
O filme foi desenvolvida com o auxílio de uma nova ferramenta de roteiro, que trabalha a história em layers, de modo que cada opção interativa seja levada em consideração e faça sentido em relação às conclusões oferecidas. Também inovou na criação de buffers para servir as diferentes versões para diferentes pessoas simultaneamente. Além de incluir a inteligência artificial que “lembra” opções tomadas anteriormente ao conduzir e retomar a história.
Tudo isso se dá no contexto propício de uma trama sobre games interativos dos anos 1980, época em que os jogos de computador de aventuras (choose your own adventure) tinham se tornado muito populares – uma fase que durou até a chegada dos jogos de tiros.
No filme, o protagonista vivido por Fionn Whitehead (“Dunkirk”) começa a desenvolver um game chamado “Bandersnatch”, mas o trabalho o leva ao limite de sua capacidade, após ele decidir explorar realidade virtual, tecnologia inexistente na época em que a história se passa.
“Bandersnatch” é o nome de uma criatura fantástica do universo de “Alice no País das Maravilhas”. Mas também foi o título de um jogo anunciado em 1984, ano em que se passa o filme. E ele nunca foi lançado.
A direção é do cineasta David Slade (“30 Dias de Noite” e série “Hannibal”), que já havia comandando um episódio de “Black Mirror”: “Metalhead” na temporada passada. E há um easter egg do cão-robô daquele capítulo no filme interativo.
O elenco ainda destaca Will Poulter (“Maze Runner”), Alice Lowe (“Prevenge”) e Asim Chaudhry (“People Just Do Nothing”).
Assista abaixo ao trailer disponibilizado na quinta (27/12) do filme de “Black Mirror”, que em nenhum momento avisa se tratar de uma experiência interativo.
Segundo Carla Engelbrecht, diretora de inovação de produtos da Netflix, a ideia era realmente fazer segredo. “Percebemos que agir um pouco mais silenciosamente significaria que mais pessoas poderiam tentar dar uma chance à experiência, em vez de ficarem refletindo sobre isso por um tempo”, ela disse à revista The Hollywood Reporter.
A tecnologia pode ser inovadora – e será usada em novos projetos interativos da Netflix -, mas a ideia de que segredo é publicidade reprova em qualquer teste científico.