O ator Bill Cosby foi sentenciado à prisão, após ser considerado um “predador sexual violento” pelo juiz Steven O’Neill nesta terça-feira (25/9). Ele deverá passar entre três e dez anos preso e, após cumprir a pena, será registrado na lista de agressores sexuais compilada pelo governo norte-americano, obrigado a comparecer a sessões de terapia pelo resto da vida, além de precisar informar as suas atividades às autoridades três vezes por ano.
Uma das figuras mais conhecidas da TV norte-americana, Cosby foi condenado pelo estupro de Andrea Constand em 2004. Mas ela é apenas uma das cerca de 50 mulheres que acusaram o comediante americano, que ficou famoso por desempenhar o papel de um patriarca sábio no sucesso televisivo “The Cosby Show”. Como as demais denúncias de abusos sexuais datam de décadas, a acusação de Constand era a única recente o suficiente para instaurar processo criminal.
Ela relatou que na época do ataque trabalhava na Temple University, universidade que Cosby patrocinava, como treinadora da equipe de basquete. Ela disse ter ido à casa do ator para discutir uma possível mudança de carreira. Cosby teria aproveitado para lhe dar três pílulas azuis, que disse serem para relaxá-la. Segundo seu testemunho, as pílulas a fizeram se sentir tonta, e Cosby a levou até um sofá e a deitou.
“A próxima coisa que eu lembro, eu estava meio acordada”, disse Constand. “Minha vagina estava sendo penetrada com bastante força. Eu senti meus seios sendo tocados. Ele colocou minha mão em seu pênis e se masturbou com minha mão. Eu não era capaz de fazer nada.”
Cosby tem repetidamente negado qualquer ato irregular e disse que qualquer encontro sexual que teve foi consensual. Seus advogados descreveram Constand como uma vigarista que busca dinheiro.
O caso já tinha rendido uma fortuna a Constand em 2005. Na época, o ator alcançou um acordo com a promotoria para indenizar a mulher pela via civil e evitar um processo criminal. Durante o julgamento, foi revelado que Cosby pagou US$ 3,38 milhões a Constand como parte desse acordo civil.
Mas conforme mais e mais mulheres surgiram alegando terem sido drogadas e estupradas pelo ator, a promotoria convenceu Constand a denunciar Cosby criminalmente.
“As vítimas de Cosby não podem voltar no tempo e desfazer o estupro. Tudo o que podemos fazer, infelizmente, é garantir que o criminoso enfrente a justiça pelo que fez”, disse Gianna Constant, mãe da vítima.
A sentença foi determinada após a psicóloga Dra. Kristen Dudley testemunhar que Cosby poderia ser classificado como um “predador sexual violento” e que ele recorreria nos crimes de estupro e assédio caso fosse liberado sem supervisão.
Um segundo profissional, chamado pela defesa, contradisse as declarações da colega e citou a idade do comediante como atenuante. A defesa ainda argumentou que o registro de Cosby na lista de predadores sexuais o impediria de ver seus netos.
O julgamento de Cosby foi o primeiro realizado após o movimento #MeToo cobrar punições para os abusadores sexuais que passaram décadas impunes em Hollywood.