Spike Lee é acusado de inventar fatos em Infiltrado na Klan para favorecer imagem da polícia

O cineasta Spike Lee envolveu-se numa polêmica com outro diretor afro-americano, Boots Riley (de “Sorry to Bother You”), por conta de seu novo filme, “Infiltrado na Klan” (BlacKkKlansman). Numa longa crítica publicada […]

O cineasta Spike Lee envolveu-se numa polêmica com outro diretor afro-americano, Boots Riley (de “Sorry to Bother You”), por conta de seu novo filme, “Infiltrado na Klan” (BlacKkKlansman).

Numa longa crítica publicada nas redes sociais, Riley desancou o filme de Lee, acusando-o de mudar eventos históricos para retratar a policia americana de uma forma mais positiva. Ele alega ainda que Lee teria recebido US$ 200 mil da polícia de Nova York para dirigir uma campanha publicitária para melhorar a sua imagem junto das comunidades minoritárias e que “Infiltrado na Klan” se assemelha a uma espécie de extensão desse trabalho.

Riley ainda comparou o novo filme de Lee ao anterior, “Chi-Raq”, afirmando que o diretor bate na tecla de que “os negros devem deixar de se preocupar com a violência policial e preocuparem-se com o que fazem uns aos outros, pois a policia é contra o racismo”. E isto acontece enquanto o movimento Black Lives Matter denuncia a violência policial contra os negros nos Estados Unidos, que só tem aumentado.

O diretor ainda afirma que a história supostamente real de Ron Stallworth, um ex-detetive que se infiltrou na Ku Klux Klan nos anos 1970, tem várias partes inventada, com o único objetivo de pintar uma imagem positiva da polícia. “É uma história inventada em que as partes falsas tentam fazer do policial o protagonista na luta contra a opressão racial”, diz.

Ele chama atenção para o fato de que, na vida real, Stallworth fez parte da COINTELPRO, uma série de operações secretas e muitas vezes ilegais conduzidas pelo FBI para atacar organizações políticas, entre elas os militantes dos Pantera Negras. Stallworth chegou a se infiltrar por três anos no grupo para sabotá-lo, atuando contra a luta pela igualdade racial. “Sem as coisas inventadas e com o que sabemos da história real do trabalho policial em grupos radicais, e como eles se infiltraram e conduziram organizações de Supremacia Branca para atacar esses grupos, Ron Stallworth é na verdade um vilão”, afirma Riley.

“Spike lançar um filme em que pontos da história são fabricados para fazer um policial negro e seus colegas parecerem aliados na luta contra o racismo é realmente decepcionante, para dizer o mínimo”, concluiu.

Durante a divulgação de “Infiltrado na Klan”, Lee tentou evitar a polêmica, mas acabou comentando, rapidamente, numa entrevista ao jornal britânico The Times. “Vejam os meus filmes, eles têm sido muito críticos em relação à polícia, mas, por outro lado, nunca direi que todos os policias são corruptos, que todos os policias detestam as pessoas de cor. Eu não vou dizer isso. Quer dizer, nós precisamos da polícia. Infelizmente, a polícia, em muitos casos, não aplica a lei; eles quebraram a lei”.

Lee ainda frusiy que “os negros não são um grupo monolítico”, e citou algumas críticas que recebeu quando anunciou “Malcom X”. “Como pode um burguês como Spike Lee fazer ‘Malcolm X?’”, lembrou, citando comentários negativos que ouviu antes das filmagens.

“Infiltrado na Klan” rendeu o Grande Prêmio do Juri do Festival de Cannes 2018 para Spike Lee. O filme, que já está em cartaz nos Estados Unidos, tem estreia marcada no Brasil apenas para novembro.