A atriz Ruby Rose deletou sua conta no Twitter, alguns dias após ter sido anunciada como Batwoman na próxima série do Arrowverse da rede CW. Oficialmente, foi para não se distrair e focar no trabalho. Mas como ela também removeu comentários de suas fotos no Instagram, ficou claro que se trata de uma reação ao patrulhamento que transforma as redes sociais em ambientes tóxicos.
Assim como aconteceu com Daisy Ridley (a Rey de “Star Wars: O Despertar da Força”), Kelly Marie Tran (a Rose de “Star Wars: Os Últimos Jedi”) e Anna Diop (a Estelar da série “Titans”), o Twitter de Ruby Rose foi tomado nos últimos dias por uma avalanche de ataques. O bullying veio de todos os lados: patrulheiros da direita, que querem parar a “influência” LGBTQIA+ na TV, e até patrulheiros da esquerda, que não consideram a atriz lésbica o suficiente para o papel.
A última mensagem da australiana, pouco antes de deletar o Twitter foi: “De onde surgiu isso de ‘Ruby não é lésbica então não pode interpretar a Batwoman’? Provavelmente a coisa mais engraçada que já li – eu me assumi aos 12 anos de idade, sendo que nos últimos 5 anos tive de lidar com críticas de ‘ser gay até demais’. Como vocês viram a casaca assim? Eu não mudei”, criticou a atriz.
Seja como for, ela continua escalada para viver a personagem – e até foi elogiada por Greg Rucka, o cocriador da versão pós-reboot da heróina nos quadrinhos: “Não que alguém tenha me perguntado, nem importa, mas eu gosto muito de Ruby Rose. A Kate dela vai honrar o trabalho dos escritores”.
Para quem não acompanha quadrinhos, é interessante saber que Batwoman foi a primeira heroína de Gotham City. Kate Kane, a versão feminina de Batman, surgiu 12 anos antes de Batgirl, criada por Edmond Hamilton e Sheldon Moldoff em 1956 como possível interesse romântico do Homem-Morcego, em resposta às alegações sobre a suposta homossexualidade do herói – denunciada pelo controvertido livro “Sedução dos Inocentes”. Isto acabou se tornando irônico, devido ao posterior desenvolvimento da personagem.
A fase original acabou em 1964, quando o editor Julius Schwartz resolveu cortar a maioria dos coadjuvantes supérfluos de Batman – havia até um batcão. E Batwoman só foi retornar com força em 2006, numa versão repaginada pelo evento “52”, que rebutou os quadrinhos da editora. Foi nessa volta que ela se assumiu lésbica, tornando-se a mais proeminente heroína LGBTQIA+ da editora.
Apesar disso, esta opção sexual não foi facilmente assimilada pela Warner, que demorou a incorporar a personagem em seus projetos da DC Comics. Até a animação que tinha seu nome no título, “Batman: O Mistério da Mulher-Morcego”, optou por retratar a heroína com uma identidade diferente. Mas os tempos evoluem e, há dois anos, a animação “Batman: Sangue Ruim” finalmente debutou a versão atual de Kate Kane, com a voz de Yvonne Strahosky (da série “The Handmaid’s Tale”) e a mesma orientação sexual dos quadrinhos.
Agora, Ruby Rose será a primeira atriz a interpretar uma versão “live action” de Batwoman. Mais que isso, será a primeira protagonista lésbica de uma série de super-heróis.
Caroline Dries será a roteirista e showrunner do projeto. Ela tem uma longa história junto à CW, tendo trabalhado como roteirista e produtora em “The Vampire Diaries” e “Smallville”, e compartilha a mesma orientação sexual da heroína e da atriz.