O advogado de Morgan Freeman quer que a rede CNN se retrate pela reportagem que denunciou o ator por assédio. Sob ameaça de processo, o advogado afirma que a acusação feita com estardalhaço foi leviana e causa prejuízo à imagem de um homem inocente.
O documento legal de dez páginas foi “vazado” para a revista The Hollywood Reporter, que publicou parte de seu conteúdo, dirigido ao presidente da rede televisiva, Jeff Zucker. Nele, o advogado exige retratações e um pedido de desculpas pela reportagem.
“No mínimo, a CNN precisa imediatamente emitir uma retratação e se desculpar ao sr. Freeman pelos mesmos canais, com o mesmo nível de atenção, que usou para atacá-lo injustamente em 24 de maio”, diz o documento.
Em defesa de Freeman, o advogado diz ter investigado as acusações contra o cliente e concluído que as denúncias não se sustentavam. O documento ainda questiona a confiança das fontes anônimas que acusam Freeman de assédio.
A jornalista Chloe Melas, que assina a reportagem com An Phung, é uma das pessoas que acusam Freeman de assédio. Ela teria sido motivada a fazer a reportagem por acreditar que o ator teria feito um comentário fora de lugar mais de um ano atrás, quando o entrevistou durante um junket do filme “Despedida em Grande Estilo” (2017). Para comprovar, veiculou um vídeo da entrevista.
Entretanto, o que as imagens mostram é, no mínimo, frágil. Na época, a repórter estava grávida e Freeman teria dito que queria estar lá, supostamente dentro dela. Mas as imagens da entrevista parecem mostrar outra coisa, um comentário de Freeman sobre uma declaração de Michael Caine, sentado a seu lado, sobre um equívoco que cometeu ao elogiar uma grávida que era apenas gorda. A impressão que a reprodução da entrevista dá é que Freeman gostaria de estar lá para ver isso.
Outra cena de bastidores de uma entrevista com o ator, trazida pelas duas repórteres que assinam a denúncia, também mostraram exagero na busca de imagens para corroborar um suposto escândalo. A cena apresentada registra uma troca de elogios sorridentes entre o ator e uma entrevistadora, cujo assunto de sua aparência e o fato de estar solteira foram trazidos à tona pela própria jornalista.
Já as denúncias mais graves foram apresentadas sem corroboração de imagens ou identificação de denunciantes, por meio de fontes anônimas. O caso mais sério teria ocorrido com uma assistente de produção de “Despedida em Grande Estilo”, que afirmou que Freeman a tocou sem consentimento nas costas e fez comentários sobre o seu corpo e suas roupas durante toda a produção, que durou meses.
“Ele ficava tentando levantar a minha camisa e perguntava se eu estava de lingerie”, contou a mulher, que não teve o nome revelado. Segundo ela, o assédio foi tão grande que o ator Alan Arkin, que também estava no elenco do filme, mandou Freeman parar.
Alan Arkin não atendeu pedidos da CNN para corroborar a história.
Outro caso teria ocorrido nas filmagens de “Truque de Mestre”, de 2013. A CNN ouviu uma mulher envolvida na produção do filme, que revelou ter sido assediada pelo ator em várias oportunidades, também com comentários sobre o seu corpo. Outras mulheres da equipe passaram pelo mesmo problema, segundo a fonte não identificada.
Veja abaixo o vídeo da CNN e as provas apresentadas para justificar a reportagem, que já custou projetos ao astro veterano e levou o próprio Sindicato dos Atores dos Estados Unidos (SAG) a considerar rever uma homenagem feita a ele no começo do ano por sua carreira premiada.
Desde que a reportagem foi ao ar, Freeman emitiu dois comunicados em que pede desculpas por seu comportamento expansivo, caso isso tenha incomodado alguém, ao mesmo tempo em que reiterou jamais ter praticado assédio sexual em seus 80 anos de vida.
Seu advogado foi mais direto, ao desmontar a acusação da reportagem. O texto enviado ao presidente da CNN afirma:
“Das três pessoas que a CNN identificou como sendo ‘vítimas’, a primeira, Chloe Melas, da CNN, não tem base razoável para interpretar o que o Sr. Freeman disse ou fez na entrevista de ‘Despedida em Grande Estilo’ do ano passado como sendo dirigido a ela ou se tratar de qualquer forma de assédio. O vídeo confirma que sua declaração não tinha nada a ver com ela e não a estava incomodando. E uma terceira parte independente, o Departamento de Recursos Humanos da Warner Bros., investigou sua alegação e concluiu que ela não era apoiada pelos fatos.
A segunda pessoa identificada pela CNN, Tyra Martin, afirmou publicamente duas vezes desde que a CNN veiculou a reportagem que a CNN deturpou o que ela disse e que o Sr. Freeman não a incomodou.
A terceira pessoa identificada pela CNN, Lori McCreary, disse à própria CNN que Freeman nunca a assediou. E quanto à impropriedade da CNN em relação à própria McCreary, uma investigação independente considerou a alegação feita pela CNN como sendo sem mérito.
A Sra. Melas atraiu e estimulou supostas ‘testemunhas’ a dizer coisas ruins sobre o Sr. Freeman e tentou convencê-las a confirmar seu preconceito contra ele. Assim, nenhum espectador pode ter qualquer confiança de que qualquer uma das fontes anônimas, que compõem o balanço da reportagem da CNN, possa ser levada a sério”.
Em resposta, a CNN soltou um comunicado afirmando que o canal apoiava o trabalho de suas repórteres. “As acusações infundadas feitas pelo advogado do Sr. Freeman são decepcionantes e são difíceis de conciliar com as declarações públicas do próprio Sr. Freeman durante a repercussão da história. A CNN defende informar e responderá com força a qualquer tentativa do Sr. Freeman ou seus representantes de nos intimidar para impedir a cobertura dessa importante questão pública.”
Veja abaixo a reportagem original da CNN.