Woody Allen pode ter dificuldades para montar o elenco de seu próximo filme. A atriz francesa Marion Cotillard e o ator inglês Colin Firth também disseram que não voltarão a trabalhar com o diretor.
Eles ecoam declarações anteriores de Mia Sorvino, Greta Gerwig, Rebeca Hall e Timothee Chalamet. Os dois últimos ainda doaram os cachês que receberam por “A Rainy Day in New York”, o próximo filme do diretor, para instituições que combatem o assédio sexual.
Firth foi definitivo ao declarar ao jornal The Guardian que “não voltaria a filmar com ele novamente”. O ator estrelou “Magia ao Luar” (2014), dirigido por Allen.
Já Cotillard foi menos incisiva, dizendo que “pensaria duas vezes” antes de decidir, mas deu uma longa explicação e lamentou não ter pesado melhor as consequências de trabalhar com o diretor em “Meia-Noite em Paris” (2011).
“Quando eu trabalhei com ele, tenho que confessar que não me questionei”, disse ela, durante uma entrevista para falar de seu filme mais recente, “Ismael’s Ghosts”. “Eu não sabia muito sobre sua vida pessoal. Eu sabia que ele se casou com uma das suas (filhas), o que eu honestamente pensei que era estranho, mas não poderia julgar algo que eu não conhecia. Eu ignorava o que ele fez ou não fez. Mas vejo pessoas sofrendo e é terrível. Hoje, se ele me convidasse novamente, o que eu não acho que fará, recusaria. Toda a experiência que tivemos juntos foi muito estranha. Admiro alguns de seus trabalhos, mas não tivemos nenhuma conexão no set, eu o conheci cinco dias antes das filmagens. Eu questionaria mais se ele me pedisse para trabalhar novamente com ele. Talvez eu investigasse mais. Eu sou muito ignorante sobre a história com ele, e só vejo que isso machuca (sua filha).”
Os comentários ocorrem depois de Dylan Farrow condenar os atores que continuam trabalhando com Allen. Eles devem “reconhecer sua cumplicidade” ao perpetuar a “cultura do silêncio” de Hollywood, ela disse, em sua primeira entrevista televisiva. A filha adotiva de Woody Allen acusa o pai de tê-la molestado em 1992, quando ela tinha sete anos, e diz que não descansará enquanto não “derrubar” o diretor, no sentido de acabar com a carreira dele.
A acusação veio à tona em meio ao processo de separação de Allen e Mia Farrow, durante a luta pela custódia dos filhos, e foi contestada por investigações independentes de serviços de proteção aos menores. Mesmo assim, o juiz responsável pelo julgamento da custódio negou a guarda a Allen e a história continuou viva, graças a insistência de Dylan de acusar o pai.
Allen sempre negou ter atacado sexualmente sua filha e emitiu uma nova nota a respeito disso, após a aparição televisiva da filha. Mas enquanto Hollywood parece finalmente ter chegado a um veredito sobre o diretor, seus outros filhos se dividem a respeito de sua culpa. Enquanto Ronan Farrow defende a irmã e também cobra publicamente atrizes que trabalham com Woody Allen, Moses Farrow veio a público dizer que se alguém era abusivo era sua mãe, que tinha coagido os filhos a mentirem e acusarem Woody Allen durante as audiências de guarda das crianças no processo de separação. Mia se separou de Woody Allen após ele se envolver, de forma escandalosa, com sua enteada Soon-Yi Previn, que a atriz tinha adotado quando era casada com André Previn.
Diferente do que diz Marion Cotillard, Soon-Yi não era filha de Woody Allen. Também era maior de idade na ocasião. Mas o relacionamento dos dois – que dura até hoje – causou escândalo na época, dando maior credibilidade à acusação de assédio de Dylan. A história, entretanto, é muito mal-interpretada, como atesta a própria entrevista de Cotillard.
Um único ator se pronunciou em defesa de Allen até o momento. Alec Baldwin foi às redes sociais lembrar que “acusar pessoas de tais crimes deve ser algo feito com cuidado”.
“Woody Allen foi investigado por dois estados e nenhuma acusação foi formalizada. A renúncia a ele e ao seu trabalho, sem dúvida, serve a algum propósito. Mas é injusto e triste pra mim. Eu trabalhei com ele três vezes e foi um dos privilégios da minha carreira”, escreveu Baldwin.
Ao contrário de outros casos de assédio, que alimentam o movimento #Metoo em Hollywood, ninguém mais acusa o diretor de comportamento abusivo. Apenas Dylan, que tinha sete anos na ocasião do suposto abuso.