Em cinebiografias voltadas a grandes nomes da literatura, a singularidade de um escritor está sempre atrelada ao seu estilo de vida um tanto conturbado, geralmente encontrando em seus reveses a inspiração para a concepção de um novo livro. No entanto, há um agente intermediário sempre esquecido, aquele que desempenha uma função definitiva para a forma que uma obra literária toma antes de chegar ao público: o editor.
A memória pode nos enganar, mas “O Mestre dos Gênios” deve ser o único filme em que um editor tem um nível de importância maior que a de um notável escritor. E esse personagem vem a ser uma figura real: Maxwell Evarts Perkins (Colin Firth), britânico que apostou em nomes como Ernest Hemingway (Dominic West) e F. Scott Fitzgerald (Guy Pearce).
Os autores de “Adeus às Armas” e “O Grande Gatsby” seriam escolhas óbvias para assumirem o protagonismo de “O Mestre dos Gênios” ao lado de Maxwell, mas o diretor estreante Michael Grandage (de vasta experiência teatral) preferiu, junto com o roteirista John Logan (dos últimos “007”), se basear em um livro de A. Scott Berg que relata a relação do editor da Scribner com Thomas Wolfe (Jude Law) iniciada em 1929, ano em que entrega a ele centenas de páginas que se transformariam no best-seller “Look Homeward, Angel”.
Os biógrafos de ambos afirmam que o convívio foi além do profissional, partindo para uma amizade quase obsessiva. Não se tratava de paixão mútua, mas de admiração por mentes igualmente brilhantes, com Maxwell sabendo exatamente como agir para organizar o tumulto intelectual de Thomas Wolfe. Uma dinâmica na qual “O Mestre dos Gênios” sugere ter quase arruinado o casamento de Maxwell com Louise Perkins (Laura Linney) e de Wolfe com a figurinista Aline Bernstein (Nicole Kidman, em parceria com Grandage continuada em “Photograph 51”, peça apresentada em Londres no ano passado sobre a cientista Rosalind Franklin).
Com 43 anos, Jude Law é velho demais para dar vida a um Thomas Wolfe apresentado inicialmente aos 27 anos. Ainda assim, a efervescência que traz ao papel contrabalanceia perfeitamente a discrição a qual Colin Firth se notabilizou ao viver os seus melhores personagens. Essa sintonia, somada ao diferencial de conferir maior importância a alguém sempre eclipsado quando se discute a genialidade de um escritor, favorece o registro de Michael Grandage, que foi sábio ao dar ao seu filme um caráter mais afetuoso e menos deslumbrado.