A safra de filmes de horror contemporâneo lançados no circuito anda tão em fraca que, quando surge algum trabalho que seja ao menos diferente, que fuja do lugar comum, já inspira festa. Este é o caso de “A Maldição da Floresta” (2015), produção que se passa na Irlanda, mas que também conta com dinheiro inglês e americano. A história companha um casal com um filho pequeno, que se muda para uma região rural da Irlanda, próxima a uma floresta que é considerada amaldiçoada e cheia de criaturas malignas, como dizem os moradores.
Interessante como florestas continuam servindo de inspiração para o gênero, do melhor filme de horror deste ano, “A Bruxa”, ao pior, “A Bruxa de Blair”. Até o Brasil explorou o tema, com “A Floresta de Jonathas” (2012), de Sergio Andrade.
Quanto ao filme em questão, seu mérito consiste em saber esconder as criaturas, até certo ponto, e assim torná-las mais assustadoras, mas também na coragem de explicitá-las quando chega a hora, o que acaba aproximando “A Maldição da Floresta” do tipo de cinema de horror que se fazia nas décadas de 1970 e 80, quando se trabalhava pouco ou quase nada com computação gráfica.
A estreia na direção de Corin Hardy é muito bem-vinda, cheia de elementos sobrenaturais que fogem dos estereótipos do terror cristão, predominantes hoje em dia. E este tipo de cinema mais pagão ainda causa estranheza, permitindo que ganhe a aparência de uma espécie de pesadelo filmado. O clima onírico predomina e algumas cenas ficam grudadas na memória, como a tentativa do protagonista de dirigir na estrada, o olho na fechadura, ou a busca desesperada da mãe pelo filho capturado pelas criaturas. São cenas que, ainda que numa obra irregular, acabam demonstrando o talento do diretor.
Além de alguns curtas-metragens no currículo, Hardy também fez alguns videoclipes antes de se lançar no cinema. Talvez o mais conhecido deles seja o que ele fez para o Keane, para a canção “Somewhere Only We Know”. Por “A Maldição da Floresta”, ele chegou a ganhar alguns prêmios em festivais de cinema fantástico, como o Screamfest e o Toronto After Dark. E embora passe longe de ser um filme perfeito, pareceu razoável o suficiente para chamar a atenção de Hollywood e dar ao diretor um grande orçamento para seu próximo filme – o amaldiçoado remake de “O Corvo” (1994).