Terror que venceu Festival de Cannes representará a França no Oscar
O terror “Titane”, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, será o representante da França no Oscar, disputando com produções de outros países uma das cinco indicações na categoria de Melhor Filme Internacional. Dirigido por Julia Ducournau, o filme radicaliza o estilo repulsivo de “Raw”, longa de estreia da cineasta que deu muito o que falar ao ser lançado na seção Semana da Crítica de Cannes em 2016. A trama combina terror corporal, filme de serial killer feminina, fetiche sexual por carros e é estrelado pelo veterano Vincent Lindon (“O Valor de um Homem”) e a estreante Agathe Rousselle. O filme estreou em 1 de outubro nos Estados Unidos, onde chamou atenção pelo desempenho inesperado. Lançado em 562 cinemas dos EUA, fez US$ 515 mil em seu primeiro fim de semana para cravar a maior estreia de um filme vencedor da Palma de Ouro não falado em inglês no mercado norte-americano em todos os tempos. Em menos de duas semanas, já arrecadou mais de US$ 1 milhão. “Titane” terá première no Brasil durante a Mostra de São Paulo, que começa em 21 de outubro, antes de ser lançado pela plataforma de streaming MUBI. Já a 94ª cerimônia do Oscar está marcada para 27 de março de 2022 em Los Angeles. Veja abaixo o teaser do lançamento no MUBI.
Titane: Veja o trailer intenso do vencedor do Festival de Cannes 2021
A Altitude Films divulgou o pôster e o primeiro trailer de “Titane”, da cineasta francesa Julia Ducournau, que neste fim de semana venceu a Palma de Ouro como Melhor Filme do Festival de Cannes 2021. O filme radicaliza o estilo repulsivo de “Raw”, longa de estreia de Ducournau que deu muito o que falar ao ser lançado na seção Semana da Crítica de Cannes em 2016. A trama combina terror corporal, filme de serial killer feminina, fetiche sexual por carros e é estrelado pelo veterano Vincent Lindon (“O Valor de um Homem”) e a estreante Agathe Rousselle. “Titane” foi apenas o segundo longa dirigido por uma mulher a conquistar a Palma de Ouro. Antes dela, somente a neozelandesa Jane Campion tinha realizado a façanha, ao vencer em 1993 por “O Piano”. Já em cartaz na França, onde teve lançamento comercial um dia depois de sua première em Cannes, o filme vai chegar ao Brasil pela plataforma de streaming MUBI.
Filme sobre Rodin é a maior decepção do Festival de Cannes
“Rodin”, de Jacques Doillon, era um dos filmes franceses mais aguardados do Festival de Cannes. E isto dá a dimensão da decepção com que sua projeção foi recebida. Um crítico chegou a vociferar “É um filme antigo”, tão logo as luzes se acenderam. Mas muitos outros foram embora bem antes disso. No extremo oposto de “Le Redoutable”, de Michel Hazanavicius, que tomou liberdades para transformar o cineasta Jean-Luc Godard em personagem de comédia, “Rodin” tentou ser reverente demais. E se tornou convencional como um teledrama. Para piorar, transformou as mulheres importantes da vida do escultor em meras coadjuvantes, inclusive relevando sua rejeição à assistente Camile Claudel (vivida por Izïa Higelin, de “Um Belo Verão”) como causa do colapso mental da artista. Neste sentido, é quase um anti-“Camille Claudel”, o clássico de 1988 que contou essa história por outro ponto de vista. Estrelado por Vincent Lindon, que já foi premiado em Cannes por “O Valor de um Homem” (2015), o filme acompanha o escultor aos 40 anos, quando ele recebe sua primeira encomenda do Estado, criando a famosa obra “Porta do Inferno”. Há especial atenção para detalhar seu processo criativo, mas os recursos utilizados para isso são antiquados, com leituras de cartas, narrações e personagens que conversam consigo mesmo em voz alta. O mais incômodo, porém, é a forma como as mulheres de sua vida são retratadas como histéricas. Ele usa e abusa de cada uma delas, mas é um artista. Elas querem definição de relacionamento e são loucas. “As esculturas de Rodin são muito sensuais, e ele também era um homem muito sensual. Rodin amava o corpo feminino. Eu o teria traído se deixasse de lado esse aspecto de sua personalidade” justificou-se o diretor Jacques Doillon (“O Casamento a Três”), durante a entrevista coletiva do festival. O cineasta defende que Rodin era um homem irresistível e que suas palavras e atos no filme são baseados em pesquisa intensa. “Tudo o que Rodin diz no filme é resultado de muita pesquisa, ainda que também de muita fantasia minha. Ele, que não gostava de escrever, não deixou muito material escrito. Mas aqueles que conviveram com ele na época deixaram referências sobre o que ele disse e pensava. Então, posso afirmar que aquilo que o personagem diz no filme é o que o próprio Rodin teria dito em vida”, garantiu Doillon no encontro com a imprensa. Talvez a crítica esperasse que um filme sobre um artista genial fosse contaminado pelo talento retratado. Mas a reverência acadêmica de Doillon revela-se pouco adequada para integrar um festival, especialmente o Festival de Cannes.
Estreias: Alice Através do Espelho desencanta em grande circuito
Mais uma semana, mais um candidato a blockbuster. “Alice Através do Espelho” chega em 1.102 salas do país, mais que o dobro do primeiro título da franquia em 2010 (487 telas), ocupando dois terços do parque exibidor nacional. Deste total, 666 telas são 3D e 12 IMAX (ou seja, todos do país). Mas se a criatividade do primeiro filme, dirigido por Tim Burton, inaugurou a tendência das fábulas encantadas com atores reais da Disney, o novo representa o primeiro sinal de esgotamento da fórmula. A continuação de “Alice no País das Maravilhas”, com direção de James Bobin (“Os Muppets”), é um desencanto completo. O colorido excessivo se junta à falta de coerência e as interpretações exageradas para conjurar muitos fogos de artifício. Mas sob o visual deslumbrante, só há fumaça e canastrice. Tiques, afetação e vozes irritantes dão o tom dos personagens, em especial o Chapeleiro Louco de Johnny Depp, que já figura como um das piores interpretações de sua carreira. Com 28% de aprovação no site americano Rotten Tomatoes, a sequência do filme de 2010 (56%, na época) é oficialmente podre. Outro lançamento infantil ocupa 463 salas. A animação “Peppa Pig – As Botas de Ouro e Outras Histórias” é uma coletânea de curtas da porquinha Peppa Pig, sucesso da TV paga britânica, que no Brasil tem sua série exibida na TV Cultura e na Discovery Kids. Difícil é entender o apelo de assistir TV no cinema. Apenas um lançamento adulto ganha distribuição ampla: “Jogo do Dinheiro”, de Jodie Foster (“Um Novo Despertar”), que reúne os astros George Clooney e Julia Roberts (parceiros da franquia “11 Homens e um Segredo”), em 220 salas. Thriller com muitas camadas, acompanha um apresentador de programa financeiro que, enquanto está “ao vivo”, torna-se refém de um telespectador armado, que perdeu tudo seguindo suas dicas e exige saber porquê ele foi mal intencionado. 55% no Rotten Tomatoes. O circuito limitado dá destaque para “A Garota do Livro”, drama indie sobre pedofilia, em 41 salas. Emily VanCamp (“Capitão América: Guerra Civil”) interpreta uma editora literária que precisa lidar com um trauma do passado, quando um escritor best-seller reaparece em sua vida. Longa de estreia da diretora Marya Cohn, teve boa recepção da crítica americana, com 91% no Rotten Tomatoes. “Roteiro de Casamento”, de Juan Taratuto (“Um Namorado para Minha Esposa), mostra que o cinema argentino também é capaz de produzir comédias tão bobas quanto o Brasil. A história, com projeção em 35 salas, gira em torno de um ator ególatra, que para se relacionar com uma atriz iniciante passa a interpretar um roteiro criado especialmente para o namoro dar certo. Mesmo assim, a trama não vira um besteirol e até introduz citações sofisticadas. Melhor lançamento internacional da semana, o francês “O Valor de um Homem” tem obviamente a pior distribuição, chegando a apenas três salas. Dirigido por Stéphane Brizé (“Mademoiselle Chambon”), traz Vincent Lindon (“Bastardos”) como um profissional desempregado que, entrando na Terceira Idade, precisa reajustar suas expectativas durante o período de crise financeira. É uma porrada dramática, que apresenta de forma crua e dolorida a banalidade da vida. Lindon foi premiado no Festival de Cannes do ano passado pelo papel, além de ter vencido o César (o Oscar francês). A programação ainda traz quatro estreias nacionais. Dois lançamentos são documentários. Da premiada diretora Sandra Werneck (“Cazuza – O Tempo Não Para”), “Os Outros” exibe o cotidiano de três “covers” oficiais de artistas populares – Roberto Carlos, Cazuza e Ivete Sangalo – em dez salas. Já “São Sebastião do Rio de Janeiro – A Formação de uma Cidade” foca a evolução do urbanismo do Rio de Janeiro, em quatro salas. “Uma Noite em Sampa”, de Ugo Giorgetti, é um drama social disfarçado de suspense, que explora clichês da luta de classe numa situação de paranoia não muito distante da visão distópica de “Uma Noite de Crime” (2013), mas que tem mais em comum com a espera de “Festa” (1989), do próprio Giorgetti. Acompanha um grupo de privilegiados – e alguns manequins de plástico… – , que trocaram a cidade vista nos telejornais sensacionalistas de José Luiz Datena e Marcelo Rezende pela segurança dos subúrbios, mas que decidem aproveitar as delícias da capital numa excursão a bordo de um ônibus seguro. Até que, após um jantar num restaurante caríssimo, o motorista some e o medo de passar uma noite paulista se instala. Tudo, porém, acontece numa locação única e o pavor paralisante é mais um estado de espírito que uma ameaça real. O circuito não foi divulgado, mas uma rápida pesquisa aponta exibição numa sala em São Paulo. Com maior alcance, “Ponto Zero” marca a estreia de José Pedro Goulart em longa-metragem, após impressionar com curtas nos anos 1980 e ir ganhar dinheiro com a publicidade. Longe de se mostrar “novato”, o cineasta gaúcho revela excelente domínio de cena, técnica e acabamento, além de apresentar uma narrativa muito bem desenvolvida, como se tivesse burilado o roteiro ao longo de vários anos até deixá-lo brilhante. Seu filme é diferente de tudo que se tem feito no cinema brasileiro nos últimos tempos. Ambicioso, com um toque de experimentalismo, mas bastante coeso, o filme acompanha uma noite de fuga de um adolescente em busca de sexo, um ato de rebeldia numa vida de submissão, que cobra um preço caro – e não apenas por ser sexo pago. Ocupa 13 salas.
Filme de cineasta marroquino vence o César, o Oscar francês
Um filme escrito e dirigido por um cineasta marroquino foi o grande vencedor do César 2016, a mais importante premiação do cinema da França, considerado uma espécie de “Oscar francês”. Dramatização da vida da poeta marroquina Fatima Elayoubi – que virou filme sobre “empregada doméstica imigrante” em notas das agências de notícias reproduzidas por diversos jornais brasileiros – , “Fátima” é o oitavo longa do diretor Philippe Faucon e retrata a relação da poeta com suas duas filhas, além das dificuldades de sua adaptação na França, onde se vê trabalhando como doméstica. Um dia, um acidente a força a tirar licença, e Fátima começa a escrever para as filhas em árabe tudo o que nunca conseguiu expressar em francês. Além do César de Melhor Filme, “Fátima” venceu nas categorias de Roteiro Adaptado (baseado nos livros de Elayoubi) e Atriz Revelação (a jovem Zita Hanrot, uma das filhas). Igualmente consagrado, “Cinco Graças”, da diretora turca Deniz Gamze Erguven, venceu quatro troféus importantes: Melhor Filme de Estreia, Roteiro Original, Edição e Trilha Sonora. Já exibido no Brasil, o longa acompanha cinco irmãs adolescentes, que, sob vigilância da família, são reprimidas e forçadas a casamentos arranjados no interior da Turquia. Curiosamente, este filme não foi apenas dirigido por uma cineasta nascida em outro país, mas também estrelado por estrangeiros e falado em turco. A coincidência ressalta o processo de internacionalização que envolve as produções francesas atuais – já reverenciado no ano passado por meio da consagração do mauritânio “Timbuktu”, grande vencedor do César 2015. O César de Melhor Atriz foi atribuído à Catherine Frot, por sua interpretação em “Marguerite”, em que vive uma diva tragicômica. Dirigido por de Xavier Giannoli, o longa também levou quatro prêmios, incluindo Melhor Som, Figurino e Cenografia. O veterano Vincent Lindon ficou com o César de Melhor Ator por “O Valor de um Homem”, que lida com a brutalidade do mundo do trabalho, após vencer a mesma categoria no Festival de Cannes. Por fim, o prêmio de Melhor Direção ficou com Arnaud Desplechin, pelo pseudobiográfico “Três Lembranças da Minha Juventude”, também já exibido no Brasil e elogiadíssimo pela crítica internacional. Vale ainda registrar que o vencedor do Festival de Cannes 2015, “Dheepan – O Refúgio”, de Jacques Audiard, não recebeu um troféu sequer, ignorado pelo César. O filme também não empolgou o comitê responsável por selecionar o candidato da França ao Oscar, que acabou preferindo “Cinco Graças” para a disputa de Melhor Filme Estrangeiro. “Cinco Graças” concorre à premiação marcada para domingo (28/2) pela Academia americana. Vencedores do César 2016 MELHOR FILME Fátima, de Philippe Faucon MELHOR DIREÇÃO Arnaud Desplechin, por Três Lembranças da Minha Juventude MELHOR ATRIZ Catherine Frot, por Marguerite MELHOR ATOR Vincent Lindon, por O Valor de um Homem MELHOR ATRIZ COADJUVANTE Sidse Babett Knudsen, por L’Hermine MELHOR ATOR COADJUVANTE Benoit Magimel, por De Cabeça Erguida ATRIZ REVELAÇÃO Zita Hanrot, por Fátima ATOR REVELAÇÃO Rod Paradot, por De Cabeça Erguida MELHOR FILME DE UM DIRETOR ESTREANTE Cinco Graças, de Deniz Gamze Erguven MELHOR ROTEIRO ORIGINAL Deniz Gamze Ergüven e Alice Winocour, por Cinco Graças MELHOR ROTEIRO ADAPTADO Philippe Faucon, por Fátima MELHOR FILME ESTRANGEIRO Birdman (Estados Unidos) MELHOR DOCUMENTÁRIO Demain, por Cyril Dion e Mélanie Laurent MELHOR ANIMAÇÃO O Pequeno Príncipe MELHOR DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA Christophe Offenstein, por O Vale do Amor MELHOR FIGURINO Pierre-Jean Laroque, por Marguerite MELHOR CENOGRAFIA Martin Kurel, por arguerite MELHOR EDIÇÃO Mathilde Van de Moortel, por Cinco Graças MELHOR SOM François Musy e Gabriel Hafner, por Marguerite MELHOR TRILHA SONORA CWarren Ellis, por Cinco Graças




