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Tudo Vai Ficar Bem é volta triste de Wim Wenders à ficção
O veterano cineasta alemão Wim Wenders avança pelo século 21 mostrando a vitalidade de um verdadeiro artista – seja por meio de suas mais diversas experiências tecnológicas, com destaque para a bela filmagem em 3D de “Pina” (2011), seja através das tentativas de variação estilístico/temática do seu cinema. O que “Tudo Vai Ficar Bem” vem demonstrar, no entanto, é que os acertos do velho mestre em seus recentes documentários (“Pina”, “O Sal da Terra”) não se confirmam em sua volta para a ficção, sete anos após seu último drama, “Palermo Shooting” (2008). Sem música indie e com exteriores reduzidos em relação a alguns dos seus registros mais característicos, Wenders apoia-se na trilha sonora orquestral do francês Alexandre Desplat (“O Grande Hotel Budapeste”) para desenvolver uma fantasia dramática em tons mais convencionais. Baseado num roteiro do norueguês Bjorn Olaf Johannessen (que chamou atenção com o sucesso de “Nowhere Man”, em Sundance), “Tudo Vai Ficar Bem” conta a história de um escritor (o americano James Franco) em crise existencial, particularmente no casamento e na carreira, que vê a sua situação agravada pela culpa, após um acidente de trânsito com vítima fatal. Wenders continua fascinado por filmar em 3D e, se tal propósito ajuda a sacudir a poeira da idade, “Tudo Vai Ficar Bem” vem falhar no outro polo da sua proposta – a tentativa de contar uma história relativamente linear. A leveza dos movimentos e os fade-outs (e algumas soluções inventivas, como a câmera que sai detrás de um monte de gelo no acidente) são acompanhados por uma fotografia em 3D que visa esmiuçar visualmente o interior dos personagens – num jogo onde os disfarces e os truques dos atores não são permitidos. O problema é que os distribuidores brasileiros não levaram em conta esse detalhe, ao programarem apenas projeções convencionais, em 2D, do longa-metragem. O que ajuda a fazer com que as “almas” dos personagens revelem-se brutalmente desinteressantes. Parte da culpa pela falta de profundidade também cabe ao roteiro de Johannenssen: na sua tentativa de evitar os lugares comuns de uma trama, que bem poderia ser a base de um dramalhão-clichê, o roteirista criou um conjunto de sequências isoladas, em que as elipses constantes parecem uma forma desesperada de compensar a falta de inspiração com novos recomeços. As tantas idas e vindas do enredo transitam do penoso para o exasperante e, se a familiaridade com algumas soluções das obras de Wenders (“Paris, Texas”, por exemplo) permite adivinhar o final, a certa altura isto já não interessa, desde que ele chegue depressa.
Estreias: Pior filme da franquia Divergente chega a mais de mil cinemas
O penúltimo episódio da saga “Divergente” é a maior estreia da semana, alcançando 1.023 salas de cinema. A ocupação é a maior de toda a franquia, atingindo quase o dobro das salas que receberam “Divergente” (524) em 2014 e acima de “Insurgente” (837), de 2015. A má notícia é que “A Série Divergente: Convergente” também é o pior filme dos três. Repetindo o que vem sendo feito com as adaptações da literatura juvenil desde o final de “Harry Potter”, o último livro foi dividido em dois filmes, mas no caso de “Convergente” não daria meio longa-metragem. Tanto que os roteiristas se desviaram da história original. E o resultado é lamentável. A nota no Rotten Tomatoes resume tudo: 0% de avaliação na média da crítica americana. Como o filme vai ocupar um terço de todo o parque exibidor, que já se encontra sobrecarregado com “Kung Fu Panda 3”, “Deadpool” e “Os Dez Mandamentos”, todos os demais lançamentos da semana ficaram restritos ao circuito limitado. De fato, as condições de ocupação até criaram um paradoxo: o lançamento limitado de shopping center. Caso do filme “Little Boy – Além do Impossível”, produção mexicana, falada em inglês, que explora a fé alheia com uma fábula moralista sobre milagres, ridicularizada pela crítica americana – 21% no Rotten Tomatoes. Chega em 26 salas, todas na rede Cinépolis (por sinal, também de origem mexicana). Apesar dessa distribuição dirigida, “Little Boy” consegue ser um dos maiores lançamentos da semana, tão poucas foram as salas que sobraram. A falta de espaço prejudicou até um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos, “Boa Noite, Mamãe”, filme austríaco mais premiado de 2015, que chega em 48 cinemas. Talvez o fato de não ser falado inglês amedronte mais o circuito que sua trama. Releve, pois o longa venceu o famoso festival de cinema fantástico de Stiges, considerado o “Cannes do terror”. Sua história, sobre duas crianças gêmeas que não reconhecem mais a própria mãe, após ela passar por cirurgia plástica, ultrapassou até os limites de gênero, conquistando o “Oscar austríaco” como Melhor Filme do ano, além do troféu de Melhor Direção de Fotografia da Europa, respectivamente pelas Academias Austríaca e Europeia. Para completar, tem 85% de aprovação no Rotten Tomatoes, a melhor cotação entre todas as estreias da semana. Outro destaque do circuito, “Tudo Vai Ficar Bem” marca o retorno do cineasta alemão Wim Wenders à ficção após dois documentários premiados, “Pina” (2011) e “O Sal da Terra” (2014). Mas não impressionou a crítica – 22% no Rotten Tomatoes. Traz James Franco como um escritor envolvido em uma tragédia. O que o distingue de um melodrama convencional é justamente a filmagem do diretor, que usa 3D para perscrutar os recônditos dos personagens. O detalhe é que será exibido no Brasil somente em 20 salas de projeção convencional. Incrível. Os demais lançamentos são praticamente invisíveis. O documentário “Glauco do Brasil”, sobre o pintor tropicalista Glauco Rodrigues, chega em quatro salas (duas no Rio, uma em Florianópolis e uma em Curitiba), assim como o drama francês “É o Amor”, em que o corso Paul Vecchiali (“Noites Brancas no Pier”) aborda a infidelidade (duas em São Paulo, uma em Porto Alegre e uma em Goiânia). Para completar, duas estreias chegam exclusivamente em São Paulo: o romance francês “Astrágalo” (Imovision), que a atriz Brigitte Sy (“Um Lugar na Terra”) filmou em preto e branco com ecos da nouvelle vague, e a dramédia “O Presidente”, do iraniano Mohsen Makhmalbaf (“A Caminho de Kandahar”), sobre um ditador deposto, que se disfarça de sem-teto para escapar do linchamento com seu pequeno príncipe desencantado. Cada um desses filmes chega em apenas uma sala. Estreias de cinema nos shoppings Estreias em circuito limitado


