Diretor de O Traidor fará minissérie sobre o caso Moro
O cineasta italiano Marco Bellocchio, grande vencedor do David di Donatello (o Oscar italiano) deste ano por “O Traidor”, vai produzir e dirigir uma minissérie sobre o caso Moro. No caso, o Moro não é aquele que você pode estar pensando, mas o ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro, sequestrado e assassinado em 1978 pelo grupo terrorista Brigadas Vermelhas. Intitulada “Exterior, Night”, a minissérie analisará o trágico caso Moro sob múltiplas perspectivas, levantando todos os interesses em jogo, inclusive daqueles que torciam à distância pelo assassinato político. Para quem não tem idade para saber ou já chegou na idade de esquecer, o caso Moro dominou a mídia mundial no final da década de 1970, pela ousadia dos terroristas e a importância da vítima. Um dos políticos mais populares da Itália, Moro foi eleito cinco vezes ao cargo de primeiro-ministro, como líder da Democracia Cristã, e revolucionou a política de sua época ao atrair o partido Socialista para seu governo de centro. Na época em que foi sequestrado, era tão querido na Itália que o Papa Paulo VI chegou a se oferecer para trocar de lugar com ele, disposto a se tornar refém dos Brigadas Vermelhas se o político fosse libertado. Embora os Brigadas Vermelhas fossem um grupo de extrema esquerda, as investigações sobre o assassinato de Moro apontaram um grande complô por trás da ação, que teria participação da CIA, a agência secreta americana, com o objetivo de criar tensões capazes de desestabilizar o governo e permitir um renascimento da direita na Itália, supostamente capaz de dar uma resposta mais dura aos terroristas. A história é intrincada, cheia de nuances, muitos elementos conspiratórios e tão fascinante que já inspirou vários longas, com destaque para o primeiro, “Aldo Moro – Herói e Vítima da Democracia”, vencedor do Urso de Prata de Melhor Ator (Gian Maria Volontè) no Festival de Berlim de 1986. Hollywood também filmou o caso em “O Ano da Fúria”, dirigido por John Frankenheimer em 1991 – com Andrew McCarthy no papel principal. E Paolo Sorrentino destacou a responsabilidade do primeiro ministro Giulio Andreotti pelo desfecho trágico em “Il Divo”, vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Cannes em 2008. Mas o mais curioso é que o próprio Bellocchio já dedicou um filme ao tema: “Bom Dia, Noite”, premiado no Festival de Veneza de 2003. A série será uma coprodução da rede pública italiana RAI e as empresas Kavac e Fremantle, e deveria ter sido oferecida ao mercado internacional durante o Festival de Cannes deste ano, que foi cancelado devido à pandemia do novo coronavírus. Ainda não há previsão para o começo da produção ou data para seu lançamento.
Gregório Duvivier revela que anda com seguranças e pensou em sair do país após ataque ao Porta dos Fundos
Gregório Duvivier, que interpreta o Jesus Gay no Especial de Natal do Porta dos Fundos para a Netflix, revelou em entrevista à agência francesa de notícias AFP que, desde o ataque com bombas incendiárias à produtora, anda com seguranças e até pensou em sair do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, ficou “com vontade ainda maior de lutar” e que a liberdade de expressão é algo “inegociável”. Logo após a disponibilização do especial “A Primeira Tentação de Cristo”, o Porta dos Fundos foi alvo de várias críticas de grupos religiosos e movimentos conservadores, gerando desde processos na Justiça pela censura do programa até manifestações no Congresso Nacional contra a Netflix pelo lançamento da produção. Este clima culminou num atentado violento, em que quatro homens encapuzados atiraram coquetéis molotov contra a sede da produtora no Rio de Janeiro. As cenas foram registradas em vídeos de segurança e pelos próprios criminosos, que posteriormente as divulgaram junto de um “manifesto revolucionário” típico de ações terroristas de fundamentalistas religiosos. “Fiquei muito assustado porque a imagem é assustadora mesmo. O vigia que estava lá sofreu sério risco de ter morrido. Nesse momento, você se diz: talvez seja o momento de sair do país. Estão tentando colocar fogo na minha empresa. Por outro lado, também dá aquela vontade ainda maior de lutar”, contou sobre o ataque. Ele continuou: “As ameaças são constantes, e não vêm apenas de pessoas anônimas. Há inclusive congressistas que falam, no Congresso… Tem sujeito berrando: a justiça não se faz só no céu, se faz também na Terra. São ameaças veladas, não ameaças de morte. Se chegar um momento em que eu sentir de fato que as ameaças são serias e algo pode acontecer, vou sair daqui, não faz sentido.” Gregório ainda contou na entrevista que o conglomerado americano Viacom, acionista majoritário na produtora Porta dos Fundos, tem cuidado de sua proteção. “O momento já está bastante inconfortável, estou só andando com segurança e carro blindado, por decisão da Viacom. É uma coisa constrangedora, cerceia a liberdade, mas por outro lado se estão propiciando isso pra gente, temos que aproveitar essa estrutura de proteção”, contou. O humorista considera que a intolerância e escalada de violência seja fruto da ascensão de Bolsonaro e da extrema direita ao poder no país, uma vez que o presidente trata determinadas manifestações artísticas como “degeneradas” e inimigas da família brasileira. Mas, em seu ponto de vista, o verdadeiro inimigo do Brasil é o próprio Bolsonaro. “O que me preocupa é a erosão da democracia, nossa democracia é muito recente. Isso se vê em todas a áreas, inclusive a cultura. Todos esses filmes que foram premiados no ano passado em Cannes (‘Bacurau’, vencedor do Prêmio do Júri, e ‘A Vida Invisível’, filme que conta com Duvivier no elenco, vencedor da mostra Um Certo Olhar) foram feitos com incentivos fiscais, graças a uma política que demorou 30 anos para ser implementada. Essa política já foi para o ralo. Já desmontou tudo, já não existe. Outra coisa que me preocupa é o meio ambiente. O Brasil tinha criado uma estrutura para inibir o desmatamento, controlar ele, com Ibama, Inpe. Isso já foi por água abaixo. Ele exonerou o presidente do Inpe por divulgar a realidade. O grande inimigo dele é a realidade. O que mais me preocupa com isso é que é um ponto que não dá mais para voltar. De todos os absurdos que ele fala, talvez esse seja o mais sério, porque não tem volta. Não tem outro planeta pra gente se mudar”.
O Caso Richard Jewell faz o que denuncia, com estereótipos e manipulação
Dirigido pelo veterano Clint Eastwood, “O Caso Richard Jewell” narra a história real do personagem-título, um segurança que salvou a vida de centenas de pessoas quando uma bomba explodiu em Atlanta, durante as Olimpíadas de 1996. Jewell (interpretado por Paul Walter Hauser) sempre sonhou em proteger o país e em ter o devido reconhecimento pelos seus serviços. Tudo se tornou realidade rapidamente. O simpático segurança se tornou herói nacional, foi parar nas capas de jornais e na TV. Editoras começaram a procurá-lo, interessadas em transformar a sua história em um livro. Mas o sonho durou pouco e logo se transformou em pesadelo. Em pouco tempo, aos olhos da mídia e do público, o heroísmo de Richard Jewell foi substituído pela vilania. Jewell se tornou suspeito da autoria do atentado e os mesmos jornais que antes bradejavam os seus atos passaram a condená-lo. As discussões acerca da manipulação da mídia e de fake news são pertinentes e atuais, mas a narrativa de Eastwood é anacrônica. O diretor investe em personagens caricatos, como a repórter sem escrúpulos (interpretada por Olivia Wilde), constantemente em busca da matéria de capa, e o agente durão do FBI (John Hamm), incapaz de assumir os seus erros. Nenhum desses têm o devido desenvolvimento porque, em outra época, isso não era necessário. O estereótipo, antes, era suficiente. Felizmente, a abordagem rasteira dos coadjuvantes é compensada pelo trio principal. Kathy Bates interpreta a mãe do protagonista com sensibilidade, delicadeza e emoção. E Sam Rockwell demonstra seu carisma característico no papel do advogado que aceita defender Jewell mesmo a contragosto. Mas o grande destaque é de Houser, capaz de tornar crível um sujeito que, nas mãos de um ator menos talentoso, seria apenas outro estereótipo. Afinal, Richard Jewell é um personagem complexo. Ele se equilibra entre o atencioso e o impertinente, o prestativo e o incômodo. Condicionado a aceitar e adorar a autoridade, ele não questiona as ações dos agentes federais, até quando eles abusam do poder. Em vez disso, ele se oferece para ajudá-los, sabendo que esta ajuda possa acabar condenando-o. Mais do que isso, Richard Jewell não é o típico herói. Acima do peso, solteiro e morando com a mãe, o protagonista carrega consigo as características “do perfil do terrorista solitário”, segundo aponta o agente do FBI. A falta de provas contra ele é irrelevante. Aos olhos das autoridades e da mídia ele “parece culpado”, e isso é suficiente. Há uma ironia em tudo isso, já que Eastwood usa estereótipos para denunciar o uso de estereótipos, e manipula a trama – inclusive com supostas fake news, que estão sendo contestadas na justiça, em relação ao papel da repórter – para atacar a manipulação de informação pela mídia. Para fazer defender a reputação de uma pessoa, destrói a de outra sem provas. Pegou especialmente mal uma cena do roteiro de Billy Ray (“Projeto Gemini”) que mostra o agente do FBI vazando informações à imprensa em troca de sexo. Para completar, logo a trama mostra a repórter tendo crises de consciência de uma hora para a outra. “O Caso Richard Jewell” expressa a visão política de Eastwood em relação à mídia, que é mesma de Donald Trump. Mas o foco permanece, como na maior parte de sua filmografia, no heroísmo individual. Não por acaso, ele já contou história muito parecida, ao explorar a linha tênue que separa a percepção de heroísmo e vilania, em “Sully: O Herói do Rio Hudson”.
Sergio: Wagner Moura vive diplomata brasileiro em trailer de filme internacional da Netflix
A Netflix divulgou o pôster, fotos e o trailer de “Sergio”, biografia do diplomata Sérgio Vieira de Mello, que traz o ator Wagner Moura (“Narcos”) no papel-título. Além de estrelar o filme, Moura é um dos produtores. Ele estava desde 2013 tentando tirar o filme do papel e chegou a passar uma temporada nos Estados Unidos negociando a produção. Falado em inglês, “Sergio” tem elenco internacional, com participação da cubana Ana De Armas (“Blade Runner 2049”) no papel de Carolina Larriera, economista argentina e mulher de Vieira de Mello, que foi a última pessoa a vê-lo com vida, além dos atores Garret Dillahunt (“Fear the Walking Dead”), Will Dalton (“Loving”), Clemens Schick (“Praia do Futuro”) e Brían F. O’Byrne (“Menina de Ouro”). Trata-se do primeiro longa de ficção dirigido por Greg Barker, vencedor do Emmy pelo documentário “Manhunt: The Inside Story of the Hunt for Bin Laden” (2013). Mas ele conhece bem o tema. Em 2009, Barker dirigiu outro “Sergio” (2009) sobre o mesmo diplomata, um documentário sobre a vida de Vieira de Mello para o canal pago HBO. O roteiro, por sua vez, é de Craig Borten, indicado ao Oscar por “Clube de Compras Dallas” (2013), e adapta o livro “O Homem Que Queria Salvar o Mundo”, de Samantha Power, ex-embaixadora dos Estados Unidos para as Nações Unidas e premiada com o Pulitzer. O filme foca as missões de Sérgio Vieira de Mello durante seu período no Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, quando fez importantes avanços sócio-políticos no Timor Leste, Bangladesh, Camboja e outros países com problemas humanitários. Sua capacidade de resolver crises aparentemente insolúveis lhe rendeu o apelido de “Mr. Fix-It”, citado no trailer, e fama de ser uma mistura de “James Bond com Bobby Kennedy”. Graças à sua capacidade de negociação, coragem e disposição de enfrentar o perigo, ele foi escolhido para representar o secretário-geral das Nações Unidas no Iraque, em maio de 2003. E acabou vítima de um ataque à bomba ordenado por Osama Bin Laden contra a sede das Nações Unidas em Bagdá. A estreia está marcada para 19 de abril, exclusivamente em streaming.
Homeland: Série retoma premissa original no trailer da última temporada
O canal pago Showtime divulgou um novo trailer da 8ª e última temporada de “Homeland”. A prévia leva Carrie Mathison (Claire Danes) de volta ao Afeganistão, numa missão final para a CIA, enquanto a trama sofre uma reviravolta para retomar a premissa original da 1ª temporada, sobre a existência de um agente inimigo infiltrado. Desta vez, porém, a suspeita é a própria protagonista, após meses de aprisionamento na Rússia. Desde que foi lançada em 2011, “Homeland” venceu cinco Globos de Ouro e oito Emmys. A estreia dos episódios finais foi marcada para 9 fevereiro, dois anos após a 7ª temporada. A demora se deve a complicações no agendamento de gravações internacionais, mais especificamente às locação no Marrocos, que faz as vezes de Afeganistão na trama da produção. A série faz parte da programação do canal pago FX no Brasil.
STF derruba censura ao Especial de Natal do Porta dos Fundos
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli derrubou nesta quinta (9/1) a liminar que censurava a exibição do Especial de Natal do Porta dos Fundos, “A Primeira Tentação de Cristo”. Em sua decisão, Toffoli avaliou que “uma sátira humorística” não teria o “condão de abalar valores da fé cristã”, como alegado pelo desembargador Benedicto Abicair, do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) para justificar sua ordem de censura. Foi a Netflix que acionou o STF para manter o especial no ar. O vídeo, que não chegou a sair do ar, é indexado no serviço como sátira e possuiu classificação indicativa para maiores de 18 anos. A plataforma também se manifestou sobre o caso em seu Twitter oficial. “Sobre o especial do Porta dos Fundos: apoio fortemente a expressão artística e vou lutar para defender esse importante princípio, que é o coração de grandes histórias”, postou a empresa. Um pouco antes de Toffoli proibir a censura, o autor confesso do atentado incendiário contra a sede do Porta dos Fundos, Eduardo Fauzi Richard Cerquise, chegou a comemorar a atitude “de homem” do desembargador carioca. “O Brasil tem homem, o Brasil tem macho para defender igreja de Cristo e a pátria brasileira”, ele exclamou em vídeo gravado na Rússia, onde encontra-se escondido, após fugir do país para não ser preso. Cerquise já assumiu a autoria do atentado e também sua participação na gravação de um vídeo em que mascarados identificados como uma célula integralista revolucionária assumiam a responsabilidade pelo ataque. “Alguém tinha que tomar alguma atitude”, disse, numa entrevista publicada no início do ano pelo site Projeto Colabora. Em sua decisão em favor da censura, Benedicto Abicair praticamente defendeu o ataque contra os comediantes, que seria justificado pela “agressividade e deboche” com que eles reagiram às críticas da direita. “Toda ação provoca uma reação”, ele considerou, e o autor do crime se disse “muito feliz” no vídeo, completando o agradecimento ao desembargador carioca com a saudação “Anauê”, a versão dos integralistas (grupo fascista brasileiro) para o “Heil Hitler” nazista. Mas a censura permanece proibida pela Constituição do Brasil, assim como a justiça dos coquetéis molotov.
Autor confesso do atentado contra o Porta dos Fundos comemora censura do Especial de Natal
Autor confesso do atentado incendiário contra a sede do Porta dos Fundos, Eduardo Fauzi Richard Cerquise comemorou a decisão do desembargador Benedicto Abicair, do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), de censurar o Especial de Natal do grupo na Netflix. Em vídeo publicado na plataforma Vimeo, ele declarou: “Essa vitória é a vitória de todo o povo brasileiro”. A manifestação foi gravada numa rua na Rússia (possivelmente em Moscou), à noite, para onde o procurado fugiu após participar do ataque com bombas incendiárias à sede do Porta dos Fundos. “O Brasil tem homem, o Brasil tem macho para defender igreja de Cristo e a pátria brasileira”, ele exclamou, deixando claro como vê a decisão de Abicair. Crequise ainda felicitou o Centro Dom Bosco, instituição responsável pela ação que levou à suspensão da exibição do programa, e faz a saudação “Anauê”, a versão dos integralistas (grupo fascista brasileiro) para o “Heil Hitler” nazista. Ele assumiu a autoria do atentado e também sua participação na gravação de um vídeo em que mascarados identificados como uma célula integralista revolucionária assumiam a responsabilidade pelo ataque. “Alguém tinha que tomar alguma atitude”, disse, numa entrevista publicada no início do ano pelo site Projeto Colabora. Em sua decisão em favor da censura, Benedicto Abicair praticamente defendeu o ataque contra os comediantes, que seria justificado pela “agressividade e deboche” com que eles reagiram às críticas da direita. “Destaco, ainda, que a primeira Agravada não foi centrada e comedida ao se manifestar, nas redes sociais, conforme transcrito nas razões da ora Agravante, pois, ao meu ver, poderiam justificar sua ‘obra’ através de dados técnicos e não agindo com agressividade e deboche. Maior comedimento possibilitaria, talvez, debate em nível mais elevado, sem ferir, acintosamente, suscetibilidades”, afirmou, acrescentando que “toda ação provoca uma reação”, numa aparente alusão ao ataque à sede da produtora no Rio. Difícil entender de outra forma que não uma defesa do ataque terrorista contra o Porta dos Fundos. Até o autor do crime parece ter entendido assim.
Suspeito assume ataque ao Porta dos Fundos e diz ter escapado porque foi avisado da ação policial
O suspeito de ter cometido o atentado incendiário contra a sede do Porta dos Fundos, Eduardo Fauzi Richard Cerquise, contou ter recebido informação privilegiada de que seria alvo de mandato de prisão e por isso conseguiu fugir do país antes da polícia agir. “Achavam que fui muito estúpido pra não cobrir o rosto e não alterar a voz, mas fui conectado o suficiente pra ser avisado do mandado a tempo de viajar pra fora do país”, afirmou, em sua primeira entrevista após chegar na Rússia. Ao vangloriar-se de sua inteligência, ele também praticamente confessou o crime. Não, ele realmente confessou: “O atentado é pífio do ponto de vista militar – sem baixas ou danos – e foi pensado e perfeitamente executado para ser puramente simbólico e gerar reflexão na sociedade”, afirmou, deixando de ser suspeito para se tornar criminoso confesso. Disse mais: “Era inevitável que algo ocorresse. Alguém tinha que tomar alguma atitude”. Ele resume assim sua motivação para realizar o atentado: “Quando um cristão não tem possibilidade de ser ouvido, quando não há possibilidade de debate, quando não há formas de responder aos ataques feitos à fé, e, sobretudo, a Deus, além de nos depararmos com autoridades completamente inertes omissas ou até coniventes, que têm o poder de solucionar a questão e cessar a ofensa, mas não o fazem e se recusam a fazer, ou até mesmo defendem os atos criminosos e blasfemos, não resta outra forma do que responder com as próprias mãos.” Falando pelo Whatsapp com o repórter Lauro Neto, do site Projeto Colabora, Cerquise mostrou-se corajoso à distância. Embora tenha fugido, disse não temer ser preso. E afirmou que, apesar de não temer a prisão, vai pedir asilo na Rússia para evitar “o evento”. “Evidentemente, cadeia é uma experiência complexa e que tem potenciais desdobramentos terríveis, mas eu não me assusto com a ideia. Eu já fui preso antes e pude extrair algum aprendizado do evento”, afirmou na fase valente da entrevista, antes de contar que tem uma namorada na Rússia com quem tem um filho e que pretende pedir asilo no país. Embora tenha se definido como revolucionário – “as sementes que estamos plantando germinarão inevitavelmente a revolução brasileira” – ele esvaziou sua própria “revolução” ao afirmar que o Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira, grupo que assumiu o atentado em tom terrorista ameaçador, não existe e foi só “estratégia de marketing”. “Não existe enquanto grupo organizado. É apenas uma estratégia de marketing, uma peça midiática, uma roupagem que abusa de elementos pastiche e de uma estética agressiva e simbólica para gerar impacto, polarizar atenções e causar discussão. Numa análise mínima, se vê que o próprio nome do suposto movimento é clichê demais para ser levado a sério, e a identidade estética é totalmente defasada, tendo sido elaborada para evocar os movimentos de libertação nacional do século 20. É apenas uma roupagem. Eu militei na FIB (Frente Integralista Brasileira) por 10 anos. Tenho vários amigos no movimento e, de lá, extraí muito aprendizado”, afirmou. Ironicamente, Cerquise foi expulso da FIB após surgir como suspeito do atentado, mesmo sendo presidente da sucursal carioca do grupo de extrema direita inspirado pelo nazi-fascismo. Ele diz lamentar pela expulsão ter se dado “de forma desonrosa” e ataca os ex-colegas: “Não são revolucionários e a farda verde que envergam é vazia de significado militar e guerreiro e, por isso mesmo, têm algo de ridícula. Eu acho mesmo que usarem o epíteto de soldados de Deus para si, quando não são soldados e não lutam contra nada de opressor, é cruel, é pecado e equivale a usar o Seu Santo nome em vão. É o integralismo que o sistema precisa: manso, não contestador, passivo e assexuado. Não são um movimento político, mas apenas um clube social de debate e confraternização”. Além do ataque à produtora, Fauzi possui uma longa ficha criminal, que inclui crimes como ameaça, lesão corporal, desacato, extorsão e Lei Maria da Penha (agressão contra mulher). Mas na versão dele “são todas anotações de baixo potencial ofensivo como ameaça e agressão”. Ele garante que não é criminoso e sim “combativo” e que todas as investigações contra ele são de situações onde ele foi vítima da violência policial. “A minha única condenação é pelo episódio da agressão contra o então secretário de Ordem Pública, Alex Costa. Fora este, eu não tenho nenhum outro processo criminal contra mim. Nenhum. Nada. Zero”, diz. Ele cumpria pena de quatro anos e meio em liberdade condicional pelo caso mencionado e, ao fugir do Brasil, passou a ser considerado foragido. A Polícia Civil encaminhou pedido de inclusão do nome dele na lista internacional de procurados da Interpol.
Suspeito do atentado ao Porta dos Fundos fugiu para a Rússia
A Polícia Civil do Rio apurou que Eduardo Fauzi Richard Cerquise, suspeito do atentado incendiário contra o grupo Porta dos Fundos, fugiu para a Rússia. Ele viajou na tarde do dia 29 de dezembro, um dia antes da expedição do mandado de prisão. Imagens obtidas pela rede Globo mostraram o momento em que ele chegou ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Zona Norte do Rio. Ao comprovar a fuga, a polícia pediu nesta quinta (2/1) a inclusão do nome dele na lista internacional de procurados pela Interpol. Caso seja preso na Rússia, deverá ser extraditado para o Brasil. Segundo a polícia, Cerquise tem uma namorada que mora em Moscou e fez três viagens à Rússia somente em 2019. Desta vez, ele embarcou num voo da Air France, com conexão em Paris, e está com passagem de volta comprada para o dia 29 de janeiro. Mesmo foragido, Cerquise divulgou um vídeo na quarta em que atacou verbalmente o Porta dos Fundos. Invertendo as acusações do processo criminal, ele chamou os humoristas de “intolerantes”, “marginais”, “criminosos” e “bandidos” pela produção do Especial de Natal “A Primeira Tentação de Cristo”, que retrata Jesus como gay. O ataque à produtora aconteceu no dia 24 de dezembro. Os investigadores afirmam que cinco pessoas participaram do ataque e que o suspeito foi o único que fugiu com o rosto descoberto. A polícia vai agora quebrar o sigilo do celular do suspeito e usar novas imagens das câmeras da região, que já ajudaram a identificar Cerquise, para chegar nos demais cúmplices do crime.
Suspeito do atentado contra o Porta dos Fundos ataca o grupo nas redes sociais: “intolerantes” e “marginais”
Eduardo Fauzi Richard Cerquise, suspeito do atentado incendiário contra o grupo Porta dos Fundos, que se encontra foragido da Justiça em paradeiro desconhecido, postou um vídeo nas redes sociais na quarta-feira (1/1), em que ataca os humoristas. No mesmo dia, seu nome apareceu no Portal dos Procurados, com uma recompensa pela identificação de seu esconderijo (veja acima). Diferente de um vídeo anterior, em que uma aparente célula terrorista, identificada como num Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira, assumiu a autoria do atentado e pregou a revolução armada, o novo material não trouxe locução distorcida por efeito digital nem manifestantes mascarados. Fauzi inclusive se identificou para o público. Ele também usou uma saudação integralista, fortalecendo a ligação com o nome do Comando, os uniformes e as bandeiras usadas no vídeo anterior. Fauzi era presidente da seção carioca da Frente Integralista Brasileira (FIB), organização legalmente constituída, que reúne seguidores da extrema direita do pais em torno de símbolos e ideário associados ao nazi-fascismo, mas foi expulso nesta semana, logo após a Polícia Civil identificá-lo como principal suspeito do atentado com coquetéis molotov. Desde 2001, Cerquise também é filiado ao PSL, partido que elegeu o Presidente Jair Bolsonaro e que até o momento, ao contrário do integralistas que condenaram prontamente seu ato, ainda não se pronunciou sobre o caso. No vídeo reproduzido por sites de direita, Fauzi classificou os humoristas como “intolerantes”. E acrescentou: “são criminosos, são marginais, são bandidos” por terem feito o Especial da Natal em que mostram Jesus Cristo como gay, demonstrando grande dificuldade de discernimento e a motivação que facilitará bastante o caso da promotoria. “Quando o Porta dos Fundos escarnece do nome de nosso senhor Jesus Cristo, ele pisa na esperança de milhões de pessoas que só têm Jesus Cristo como riqueza. Quem fala mal do nome de Cristo prega contra o povo brasileiro. Esse é um crime de lesa-pátria. Eles são criminosos, são marginais, são bandidos”, acusou o integralista. O suspeito finalizou o vídeo pedindo orações: “Meu nome é Eduardo Fauzi, eu sou guardador de veículos, eu sou povo brasileiro. Se você crê, compartilhe, diga seu amém, me coloque em suas orações. Por Deus, pela pátria e pela família brasileira. Anauê.” “Anauê” é a saudação equivalente a “Heil Hitler” usada pelos integralistas desde a década de 1930. Além de ser um “guardador de veículos” e “povo brasileiro”, Cerquise também foi investigado por suspeita de integrar uma “milícia de estacionamentos”, que controla estacionamentos ilegais no Rio. Ele tem mais de uma dúzia de passagens pela polícia, principalmente por casos de coação, agressão e lesão corporal – inclusive na Lei Maria da Penha (agressão contra mulher) – , que pintam um perfil extremamente violento. Seu nome foi parar no noticiário carioca pela primeira vez em 2013, quando ele agrediu ao vivo na TV o então secretário de Ordem Pública Alex Costa, que dava uma entrevista à Globo durante uma operação da Prefeitura para fechar estacionamentos irregulares na região da Zona Portuária do Rio. Preso em flagrante, Fauzi foi condenado a quatro anos de prisão em fevereiro passado e cumpria a pena em liberdade condicional. Cerquise também tem ligações com a Associação Cívica e Cultural Arcy Lopes Estrella (ACCALE), batizada com o nome de um integralista histórico, que num post do Facebook afirmou não ter se surpreendido com o atentado contra o humoristas, porque “o Porta dos Fundos atacou deliberadamente e de forma calculista os maiores e mais cultuados símbolos sagrados nacionais, entre eles a figura de Jesus Cristo. Ao fazer isso, o Porta dos Fundos se indispôs com milhões de brasileiros”. Esse mesmo tipo de discurso apareceu no vídeo da suposta célula revolucionária de direita, que assumiu o atentado, e em várias outras bocas e locais. A ação de inspiração terrorista, que quase resultou na morte do vigia da sede do Porta dos Fundos, aconteceu após os humoristas sofrerem ataques virtuais de diversos militantes da extrema direita, condenações de políticos conservadores, inclusive da família Bolsonaro e de outros integrantes do PFL, pedidos de explicações do Congresso, campanha de boicote de líderes religiosos, repúdio televisivo da rede Record e até processo judicial. Antes do ataque com coquetéis molotov na véspera do Natal, o Porta dos Fundos chegou a ser alvo de sete ações judiciais devido ao Especial. Mas a tentativa de censura foi rejeitada pela Justiça.
Polícia identifica filiado do PSL como suspeito do ataque ao Porta dos Fundos
A Polícia Civil do Rio de Janeiro identificou um dos responsáveis pelo atentado à bomba contra o grupo Porta dos Fundos. Por meio de monitoramento das câmeras de tráfego, os policiais acompanharam um dos suspeitos e cumpriram na manhã desta terça-feira (31/12) mandados de busca, apreensão e prisão provisória contra Eduardo Fauzi Richard Cerquise. Como ele não foi encontrado em seu endereço residencial, é considerado foragido. Fauzi é dono de estacionamento, presidente da Associação dos Guardadores Autônomos de Veículos São Miguel e filiado ao PSL (partido que elegeu o presidente Jair Bolsonaro) desde 2001, de acordo com informações disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Seu nome foi parar no noticiário carioca pela primeira vez em 2013, quando agrediu o então secretário de Ordem Pública Alex Costa, durante uma operação da Prefeitura para fechar estacionamentos irregulares na região da Zona Portuária do Rio. Ele foi condenado a quatro anos de prisão em fevereiro passado pela agressão, mas cumpria a pena em liberdade. Segundo a Polícia Civil, além desse processo, Fauzi tem mais uma dúzia de registros criminais, acusado de lesão corporação, ameaça, coação no curso do processo, agressão configurada na Lei Maria da Penha (violência contra mulher), desacato e exercício ilegal da profissão. Ele também foi investigado por suspeita de integrar uma “milícia de estacionamentos”, que controla estacionamentos ilegais no Rio. “Monitoramos a rota de chegada e de fuga dos veículos usados na conduta”, explicou o delegado Marco Aurélio Ribeiro, da 10ª DP, sobre como chegou ao suspeito. “A partir desse momento seguimos a trajetória que foi feita do veículo. No momento da conduta eles estavam encapuzados, mas pelas imagens foi possível identificar a fuga a pé de um dos participantes, e nesse momento ele não tinha mais o rosto coberto. Fizemos a rota da fuga a pé e conseguimos identificar imagens do rosto, o local onde ele usou um táxi, o motorista o reconheceu como o autor do delito. As imagens foram submetidas a exame pericial e essa perícia veio positiva”. No endereço do suspeito, um condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca, foram apreendidos R$ 119 mil em dinheiro, munição, computadores, um simulacro de arma e uma camisa de entidade “filosófico-política”, segundo a polícia. O delegado disse ainda que investigações continuam com intuito de localizar e identificar os outros autores do crime. “Nenhuma linha de investigação está sendo descartada. Estamos apurando se é um ato isolado ou se há ligação com alguma entidade. As peças periciais estão sendo produzidas.” O atentado à sede do Porta dos Fundos aconteceu após o grupo humorístico retratar Jesus Cristo como gay no Especial de Natal “A Primeira Tentação de Cristo”, que estreou no dia 3 de dezembro no Netflix. Participaram do ataque quatro homens brancos encapuzados. Três atiraram coquetéis molotov incendiários, enquanto um quarto registrou a ação num celular. Esse vídeo posteriormente foi divulgado num manifesto em que os homens se identificaram como uma célula terrorista, chamada Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira, pregando a revolução armada pela “espada de Deus” contra os “marxistas culturais” do Brasil. Após o vídeo viralizar, a Frente Integralista Brasileira (FIB), organização legalmente constituída, que reúne seguidores da extrema direita do pais em torno de símbolos e ideário associados ao nazi-fascismo, disse em nota que não reconhecia o tal Comando e sugeriu que o vídeo poderia ser “forjado com o fim de incriminar os integralistas”. Levantamentos das atividades pregressas de Eduardo Fauzi Richard Cerquise, porém, contestam essa afirmação. Em setembro de 2018, uma nota no site integralista Notícias do Sigma apresenta o suspeito como presidente da divisão carioca da Frente Integralista Brasileira. O Comando, que reivindicou o ataque, é o mesmo grupo responsável por atacar a UniRio em 2018, quando roubou e queimou bandeiras antifascistas postas em frente à universidade de Direito. No dia 25 de novembro, Fauzi afirmou no Facebook que os responsáveis pelo roubo das bandeiras expostas na universidade eram alunos – e até um docente – da própria instituição. Fauzi também tem ligações com a Associação Cívica e Cultural Arcy Lopes Estrella (ACCALE), batizada com o nome de um integralista histórico, que num post do Facebook afirmou não ter se surpreendido com o atentado, porque “o Porta dos Fundos atacou deliberadamente e de forma calculista os maiores e mais cultuados símbolos sagrados nacionais, entre eles a figura de Jesus Cristo. Ao fazer isso, o Porta dos Fundos se indispôs com milhões de brasileiros”. A ação, que quase resultou na morte do vigia da sede do Porta dos Fundos, aconteceu após os humoristas sofrerem ataques virtuais de militantes da extrema direita, condenações de políticos conservadores, inclusive da família Bolsonaro e de outros integrantes do PFL, pedidos de explicações do Congresso, campanha de boicote de líderes religiosos, repúdio televisivo da rede Record e até processo judicial. Antes do ataque com coquetéis molotov na véspera do Natal, o Porta dos Fundos chegou a ser alvo de sete ações judiciais devido ao Especial. Mas a tentativa de censura foi rejeitada pela Justiça.
Blog de extrema direita acusa Fabio Porchat de forjar ataque terrorista contra Porta dos Fundos
O blog de extrema direita Better Call Glenn publicou um post acusando o comediante Fabio Porchat de forjar o ataque terrorista de que o grupo Porta dos Fundos foi vítima. A publicação foi compartilhada pelo guru dos bolsonaristas Olavo de Carvalho, nas redes sociais. “O mais falso que nota de 3 reais ataque ao Porta dos Fundos na noite de 24/12 foi forjado por Fábio Porchat e mais três pessoas ainda não identificadas… eu suspeitaria de participar do teatrinho tosco, o Padre Fábio de Melo (que ofendeu fiéis para defender Duvivier e Porchat) e de outro Fábio: o Pannunzio”, diz o texto, assinado por Luc Michel – pessoa que parece não existir nas redes sociais brasileiras, mas homônima de um político belga identificado com a extrema direita europeia. A acusação segue: “Até mesmo investigadores da 10ª DP de Botafogo que registraram o boletim de ocorrência dão riso de canto de boca sobre a farsa de Porchat. O malandro veio a sua página de Facebook todo bobão: não vão nos calar. Fosse algo real, um atentado de verdade e tanto Porchat quanto o resto do Porta dos Fundos já estariam escondidos na Tanzânia”. Citado pelo texto, o jornalista Fábio Pannunzio pronunciou-se, avisando que vai processar os responsáveis pelo blog e seu divulgador Olavo de Carvalho. “O autor dessa notícia absolutamente falsa é um profissional do crime. Ele e o Olavo de Carvalho vão ter que provar judicialmente o que postaram. Pode ir preparando outra vaquinha, Olavo de Carvalho. Vou processar você aí nos EUA e aqui no Brasil”, afirmou o jornalista. Diante da ameaça, o blog de direita disse que fez uma “piada” e, em seguida, reforçou a notícia. “O desempregado (por que será?) jornapetralha Fábio Pannunzio pegou uma piada nossa e nos chamou de profissionais do crime. Ele tem alguma noção da gravidade dessa acusação? Se não tinha Fábio, agora terá”, diz o texto de “Luc Michel”, retomando o tom acusador. “Disse uma vez e REPITO: o arara-ataque aos Porta dos Fundos foi armado pelo próprio grupo. Tudo armado! Um bando de párias que se gabam de ofender a fé cristã, humilhar milhões de cristãos que professam ardentemente sua fé cristã e zombam da figura de Jesus Cristo. Não sou cristão, mas sou judeu: como judeu tenho todas as razões do mundo de me revoltar ao ver Jesus Cristo sendo retratado com tamanho desrespeito”. Para deixar as teorias de conspiração equilibradas, vale lembrar que Lula também considera o ataque à faca contra Bolsonaro muito suspeito.









