Tony Ramos lembra um passado fabuloso no trailer de Quase Memória
A Pandora Filmes divulgou fotos, pôster e trailer de “Quase Memória”, estrelado e narrado por Tony Ramos, que volta a protagonizar um filme após o ótimo trabalho em “Getúlio” (2014). Mas o retorno mais importante é o do diretor Ruy Guerra, que foi expoente do Cinema Novo e não filmava desde “O Veneno da Madrugada” (2005). A prévia alterna elementos teatrais com uma abordagem quase surrealista na adaptação do livro de memórias de Carlos Heitor Cony (falecido em janeiro), evocando neste quesito os recentes filmes memorialistas do chileno Alejandro Jodorowsky – que é contemporâneo de Guerra. Na trama, Tony Ramos vive o velho Carlos, que relembra seu pai Ernesto (vivido por João Miguel), e sua narrativa se torna uma história fabulosa pela distorção causada pelo fato de os eventos terem sido testemunhados por ele quando era criança. Para complicar, ele ainda está perdendo a memória. O elenco da produção inclui Mariana Ximenes (“Uma Loucura de Mulher”), Antonio Pedro (“A Casa da Mãe Joana”), Charles Fricks, Julio Adrião e Flavio Bauraqui (todos os três de “Nise – O Coração da Loucura”). Comprovando a dificuldade enfrentada pelos filmes brasileiros para chegar aos cinemas, “Quase Memória” foi premiado no Festival do Rio… em 2015! A estreia finalmente vai acontecer em 19 de abril.
Cinema Novo faz ensaio-poesia sobre o movimento mais famoso do cinema brasileiro
A opção de Eryk Rocha de fazer de “Cinema Novo” um documentário em formato de ensaio-poesia, em vez de um filme mais convencional e informativo, é compreensível, inclusive dentro da curta duração – cerca de uma hora e meia. Para se contar a história do Cinema Novo em um projeto audiovisual, o ideal seria mesmo uma minissérie para a televisão com mais tempo disponível. Mas mesmo aceitando a proposta, a falta de identificação nas imagens utilizadas – qual é tal filme em tal cena mostrada – não deixa de ser problemática. O resultado privilegia a edição e a força das imagens de grandes obras – algumas pouco conhecidas do grande público – , mas deve sua existência principalmente aos depoimentos de arquivo da época (anos 1960 e 1970), de cineastas (Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Glauber Rocha, Leon Hirszman, Arnaldo Jabor, Ruy Guerra e vários outros) que comentam direto do túnel do tempo. Não há depoimentos novos, o que torna o trabalho do filho de Glauber Rocha diferente e interessante. Um dos problemas do filme, premiado no Festival de Cannes deste ano, está no fato de que, se exibido para uma plateia que desconhece totalmente o movimento original, pode até despertar desinteresse. Mas, para quem conhece um pouco, permite rever sequências lindas, como as de “A Falecida”, “Vidas Secas”, “Rio, Zona Norte”, “Terra em Transe”, “Macunaíma”, além de filmes que não são necessariamente do Cinema Novo, mas pioneiros do próprio cinema brasileiro, como “Limite”, de Mário Peixoto, e o trabalho de Humberto Mauro. O que importa é que Eryk, enquanto deixa o público intrigado com certas cenas de filmes menos conhecidos, não deixa dúvidas a respeito da grandeza de nosso cinema. Ele pontua tudo de forma mais ou menos organizada em blocos temáticos, e procura emular o clima de tensão que surge a partir dos eventos políticos ocorridos no Brasil durante o Golpe militar, através de um som e de uma montagem inteligentes. Ainda assim, acaba parecendo estranho quando, no final, entre os créditos de diversos cineastas envolvidos com o Cinema Novo, surge o nome de Walter Hugo Khouri, que não era muito bem-visto pelo movimento e considerado basicamente alienado, distante dos interesses sociais e de natureza revolucionária de Glauber, Diegues e cia. De todo modo, há tanta gente boa envolvida nesse que é o maior movimento cinematográfico da América Latina, que a vontade de ver e rever os filmes apresentados é grande. A admiração que já temos por cineastas como Leon Hirszman e Joaquim Pedro de Andrade, por exemplo, só aumentam, diante de seus depoimentos e trechos de filmes. Há também algo que faz com que “Cinema Novo” dialogue muito bem com o momento atual em que estamos vivendo, tanto do ponto de vista político, como no que se refere à baixa audiência de público para o cinema brasileiro (que importa). Uma cena em particular mostra Diegues e Jabor debatendo sobre a dificuldade de atingir o grande público, que até hoje continua resistente ao tipo de filmes que eles faziam. Mas, ao ver, por exemplo, um trecho de “Terra em Transe”, clássico do pai de Eryck, com dois personagens recitando suas falas de forma poética e teatral, percebe-se o porquê de esses filmes não lotarem salas. O cinema brasileiro dessa época só chegaria nas massas na década de 1970, com o advento das pornochanchadas. Mas isso já é outra história e de outra turma, que seria até bem mais divertida de ser vista em um filme-ensaio desse tipo.
Dib Lutfi (1936 – 2016)
Morreu Dib Lutfi, um dos principais diretores de fotografia da história do cinema brasileiro. Ele faleceu nesta quarta-feira (27/10), aos 80 anos, informou o irmão dele, o músico Sergio Ricardo, no Facebook. Ele morava no Retiro dos Artistas desde 2011 e sofria de mal de Alzheimer. Segundo a instituição, o seu estado de saúde piorou no sábado, quando foi diagnosticada uma pneumonia. Ele foi internado no Hospital Vitória, na Barra, mas não resistiu. Responsável pelas imagens de mais de 50 filmes, Lutfi foi responsável por enquadrar grandes clássicos do Cinema Novo, sendo literalmente a mão que segurava a câmera, na famosa frase definitiva: “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”, de Glauber Rocha. Pioneiro no uso da câmera na mão no cinema brasileiro, ele chamou atenção de Glauber, que o convidou para trabalhar no clássico “Terra em Transe”, de 1967, como operador de câmera. Muito antes da invenção da steady cam, ele conduziu o espectador à vertigem sentida pelo personagem emblemático vivido por Jardel Filho apenas com a delicadeza de seus movimentos e um olhar apurado. O resultado foi uma revolução visual para os padrões do cinema nacional. “Ele era a própria steady cam. A câmera na mão já era utilizada no cinema americano e francês, mas ninguém fez melhor do que o Dib. E isso influenciou muito a estética do Cinema Novo”, disse Luiz Carlos Barreto, produtor e diretor de fotografia de “Terra em Transe”, em entrevista ao jornal O Globo. “Nenhum plano do filme foi feito com tripé, e isso facilitou muito o trabalho, porque poupava tempo. Operando a câmera, o Dib conseguia andar, subir escada e pular muro. Nunca houve alguém igual”. Lutfi nasceu em Marília, no interior de São Paulo, em 1936. No fim da adolescência se mudou para o Rio e, em 1957, começou a trabalhar como câmera da extinta TV Rio, onde o irmão, o compositor Sérgio Ricardo, trabalhava como ator. O recurso da câmera na mão foi adotado desde o primeiro filme em que trabalhou como diretor de fotografia, “Esse Mundo é Meu” (1964), dirigido pelo irmão. E aprofundou a técnica e a estética em outros filmes dos pioneiros do movimento cinemanovista. Trabalhou com Nelson Pereira dos Santos (em “Fome de Amor”, de 1968, e “Azyllo muito Louco”, de 1969, pelos quais ganhou o prêmio de Melhor Fotografia no Festival de Brasília), Arnaldo Jabor (“Opinião Pública”, de 1967, “O Casamento”, de 1975, e “Tudo Bem”, de 1978), Ruy Guerra (“Os Deuses e os Mortos”, 1970) e Cacá Diegues (“Os Herdeiros”, 1970, “Quando o Carnaval Chegar”, 1972, e “Joanna Francesa”, 1973), entre outros. “O Dib foi o maior diretor de fotografia do cinema brasileiro, ele inventou uma nova maneira de fazer isso, que permitiu a existência do nosso cinema”, resumiu Cacá Diegues. “Ele não era só um grande cameraman, função pela qual sempre é reconhecido, mas também um fotógrafo de muita imaginação, e muito capaz de fazer um grande filme com as circunstâncias pobres da produção brasileira da época”, recordou. Apesar de ter uma relação íntima com as câmeras, ele só apareceu uma única vez na frente delas, no documentário “Dib”, feito em 1997 por Marcia Derraik, sobre sua carreira. Seu último trabalho foi o filme “Profana”, de João Rocha, lançado em 2011.
Ivan Cândido (1931 – 2016)
Morreu o ator Ivan Cândido, que participou de diversos filmes clássicos e novelas da Globo. Ele faleceu vítima de pneumonia, na terça-feira (31/6), aos 84 anos. Carioca, nascido em 21 de dezembro de 1931, Ivan começou a carreira no teatro, nos anos 1950, e foi estrear no cinema em 1962, vivendo o repórter Caveirinha no filme “Boca de Ouro”, adaptação de Nelson Rodriguez (que ele já tinha interpretado no teatro) com direção de Nelson Pereira dos Santos. O ator deu sequência a carreira em filmes importantes como “Os Fuzis” (1964), de Ruy Guerra, e “A Falecida” (1965), de Leon Hirszman, antes de firmar parceria com o diretor e produtor Miguel Borges, com quem trabalhou em comédias sexuais e produções sensacionalistas – “Maria Bonita, Rainha do Cangaço” (1968), “As Escandalosas” (1970), “O Último Malandro” (1974) e “Pecado na Sacristia” (1975). Se não rendeu clássicos, a parceria lhe permitiu explorar outros talentos: roteirista em “O Último Malandro” e diretor assistente em “As Escandalosas”. A partir dos anos 1970, Ivan tornou-se mais conhecido por seus trabalhos televisivos, participando de marcos da teledramaturgia da rede Globo, como “Irmãos Coragem” (1970), “Pecado Capital” (1975), “Dancin’ Days” (1978) e “Pai Herói” (1979). Mas não largou o cinema, estrelando a adaptação de Machado de Assis “A Cartomante” (1974) e a pornochanchada “O Roubo das Calcinhas” (1975), além de dois clássicos que delimitaram a fase de abertura política no pais, “Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia” (1977), de Hector Babenco, e “Pra Frente, Brasil” (1982), de Roberto Farias. Ele ainda voltaria ao tema da ditadura militar em “Zuzu Angel” (2006), de Sérgio Rezende. Esse ímpeto se arrefeceu após os anos 1980, quando também participou dos filmes “Tensão no Rio” (1982), de Gustavo Dahl, “Luz del Fuego” (1982), de David Neves, “Urubus e Papagaios” (1985), de José Joffily, e “Pedro Mico” (1985), de Ipojuca Pontes. Porém, mais de 20 anos se passaram até “Zuzu Angel”, seu filme seguinte – e último trabalho cinematográfico, no mesmo ano em que encerrou a carreira televisiva. Se ficou muito tempo afastado do cinema, Ivan quase não se ausentou das telas até 2006, aparecendo em novelas e minisséries consecutivas da Globo, como “Elas por Elas” (1982), “Tenda dos Milagres” (1985), “Roda de Fogo” (1986), “O Salvador da Pátria” (1989), “Lua Cheia de Amor” (1990), “Perigosas Peruas” (1992), “Anos Rebeldes” (1992), “Agosto” (1993), “Pátria Minha” (1994), “Incidente em Antares” (1994), “Hilda Furacão” (1998), “Suave Veneno” (1999), “Senhora do Destino” (2004), “A Lua Me Disse” (2005) e no derradeiro papel, vivendo padre Valeriano na novela “Cobras & Lagartos” (2006). O ator já era viúvo e deixou três filhas e quatro netos.
Quatro décadas após A Dama do Lotação, Neville d’Almeida prepara A Dama da Internet
O veterano cineasta Neville d’Almeida, que voltou à atividade após quase 20 anos sem filmar com o lançamento de “A Frente Fria que a Chuva Traz” em abril, já tem novo projeto. Ele se prepara para rodar “A Dama da Internet”, cujo título evoca um de seus maiores sucessos, “A Dama do Lotação” (1978), que está prestes a completar 40 anos. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o projeto não será um remake nem uma continuação de seu clássico, protagonizado por Sonia Braga. “Jamais faria”, disse ele. Mas o filme contará com a recriação de uma cena famosa do cinema brasileiro. O cineasta adiantou que pretende evocar a corrida nua de Norma Bengell pela praia, eternizada em “Os Cafajestes” (1962), de Ruy Guerra. Ele está atualmente em busca da intérprete, que precisará dar vida a uma mulher forte, como as outras estrelas com quem já trabalhou, que também incluem Regina Casé (“Os Sete Gatinhos”) e Bruna Linzmeyer (“A Frente Fria que a Chuva Traz”). “Ela tem de estar preparada para viver intensamente ‘A Dama da Internet’”, descreveu o diretor.




