Imprensa mundial repercute ataque do governo à Petra Costa e ela responde: “Não podemos ficar calados”
O ataque oficial do governo Bolsonaro a uma cidadã brasileira, a cineasta Petra Costa, repercutiu no mundo inteiro. A notícia foi distribuída pela agência AP a jornais tão diferentes quanto o New York Times e publicações da Ásia. Outras grifes da imprensa buscaram refletir por conta própria o que foi considerado “extraordinário” – isto é, foram do comum. “A maioria dos governos celebram quando seus cidadão são indicados para o Oscar, mas não no Brasil de Jair Bolsonaro”, escreveu o jornal inglês The Guardian, que citou a forma como o documentário “Democracia em Vertigem” e sua diretora estão sendo agredidos verbalmente por representantes do Estado brasileiro. Ao retuitar a reportagem sobre as ofensas que recebeu, a diretora se manifestou sobre o ataque. “O governo brasileiro usou sua conta oficial da Secretária de Comunicação nas mídias sociais para me atacar, chamando-me de anti-patriota. Este é mais um passo em direção ao autoritarismo, em relação ao qual não podemos permanecer calados”, ela escreveu, em inglês, falando ao mundo. A repercussão levou o Washington Post a contatá-la, dando espaço para que ela apontasse que o ataque contra ela foi também um ataque contra a liberdade de expressão. “Quando eles me chamam de ‘militante anti-Brasil’, como fazem com muitos que não concordam com eles, estão tentando censurar críticas e pensamentos divergentes, o que é garantido por nosso direito fundamental à liberdade de expressão”, Petra disse ao jornal americano. Diretora de “Democracia em Vertigem”, que disputa o Oscar de Melhor Documentário, Petra vem dando uma série de entrevistas para a imprensa americana, conforme a data da premiação se aproxima. E uma delas causou a ira do clã Bolsonaro. Um dos filhosdo presidente chegou a chamá-la de “canalha” e a comparou a um criminoso. Eduardo Bolsonaro, que queria ser embaixador do Brasil nos EUA, costuma usar essa truculência para consumo interno de seus seguidores, mas ao atacar Petra, no momento de maior visibilidade da cineasta, acabou jogando o comportamento agressivo de sua família nos holofotes da mídia internacional. Mas o que realmente motivou interesse mundial foi o fato de a Secom (Secretaria de Comunicação do governo) usar seus canais oficiais para perseguir a diretora, acusando-a de “denegrir uma nação” durante a entrevista “polêmica” ao canal americano PBS. Num série de posts publicados em inglês e português no Twitter, a Secom sustentou que a cineasta “assumiu o papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do País no exterior”, “sem respeito por sua Pátria e seu povo”. O motivo? Ela denunciou justamente o perfil autoritário do governo, auto-exemplificado pela Secom. O responsável pela secretaria, Fabio Wajngarten, investigado por suspeita de corrupção (peculato e outros crimes) pela Polícia Federal, ainda foi ao Twitter defender o tom gravíssimo do ataque. “Um dos deveres da comunicação do governo é informar os fatos, sobretudo quando informações falsas são espalhadas no Brasil e no exterior. Porém, o que muitos querem, de fato, é denegrir o país sem direito a réplica por parte dos brasileiros. Isso sim é censura”, disse, repetindo a expressão “denegrir”, politicamente incorreta. Vale pausar para tentar entender o raciocínio: dar entrevistas contra o governo, fazendo uso da liberdade de expressão, “isso sim é censura”. Em seu clássico distópico “1984”, George Orwell batizou o ato de usar contradições evidentes em manifestações oficiais de “duplipensar”. A frase de Wajngarten é um dos melhores exemplos do significado desse uso político da boa e velha hipocrisia. Ouvidos pelos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, diversos juristas consideraram o uso da Secom para atacar uma cidadã brasileira como anticonstitucional, pois fere o princípio da impessoalidade. Em outras palavras, Eduardo Bolsonaro pode chamar Petra Costa de “canalha” – e talvez responder por isso num processo por calúnia e difamação. Mas o Estado não pode perseguir nenhum cidadão, especialmente se esta pessoa não cometeu crime algum. À Folha, a advogada Mônica Sapucaia Machado, professora da Escola de Direito do Brasil, disse que os posts atropelam o artigo 37 da Constituição, que alerta para a forma de comunicação permitida ao governo, com termos como “impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, e determina ainda que a publicidade dos governos terá caráter educativo, informativo ou de orientação social”. Para Machado, a Secom se comportou “como um instrumento de opinião sobre determinada obra cultural” num país onde “a liberdade de expressão é um pilar constitucional”. Por conta da polêmica, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) já protocolou no Ministério Público Federal uma representação contra Fabio Wajngarten, que vai se acumular a seu processo criminal. “Esta importante secretaria do Poder Executivo Federal, em sua conta oficial do Twitter (@secomvc), de forma inacreditável, passou a atacar de forma pessoalizada e nada republicana a cineasta Petra Costa”, diz o texto encaminhado à Procuradoria pela equipe da deputada. Importante salientar que no exterior ninguém sabe quem é o subalterno de Bolsonaro responsável pela Secom. As reportagens internacionais simplesmente ignoram qualquer distinção entre a figura do secretário e a cabeça do governo. Todos são Bolsonaro. Como Bolsonaro costuma dizer que a imprensa brasileira tem “má vontade” contra seu governo, ele já deve saber como proceder. Após um órgão da presidência atacar a liberdade de expressão de uma artista brasileira em plenos Estados Unidos, país que considera a liberdade de expressão sagrada, ele só vai precisar estender a denúncia de “má vontade” à cobertura de toda a imprensa internacional. “Democracia em Vertigem” não era favorito ao Oscar de Melhor Documentário, mas a divulgação de última hora do governo Bolsonaro pode ter mudado a intensão de voto. A votação se encerrou nesta terça (4/2) e o resultado será conhecido no domingo (9/2), com transmissão ao vivo para o Brasil pelos canais Globo e TNT. The Brazilian government used its Secretary of Communication official account on social media to attack me calling me an anti-patriot. This is yet another step towards authoritarianism, in face of which we should not remain silent #TheEdgeofDemocracy https://t.co/4rJ9VmRNsy — Petra Costa (@petracostal) February 4, 2020
Governo Bolsonaro acusa diretora de Democracia em Vertigem de “denegrir” o Brasil
O governo Bolsonaro decidiu atacar a cineasta Petra Costa em seus canais oficiais. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) acusou a cineasta do documentário “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar 2020, de “denegrir uma nação” diante da mídia dos EUA. Em um série de posts do Twitter, em inglês e português, a Secom sustenta que a cineasta “assumiu o papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do País no exterior”, “sem respeito por sua Pátria e seu povo”, por denunciar, em entrevistas, o perfil autoritário do governo, seus ataques a minorias, desmandos na área de meio-ambiente e os reflexos da eleição passada no aumento dramático no número de mortes em ações policiais. “É incrível que uma cineasta possa criar uma narrativa cheia de mentiras e prognósticos absurdos a fim de denegrir uma nação só porque não aceita o resultado das eleições”, diz um dos tuítes da Secom, que busca desmentir pontualmente as “fake news” da diretora, criando sua própria versão dos fatos. Leia abaixo toda a narrativa oficial – que ignora dados como recordes de desmatamentos, pressão mundial para início de trabalhos de defesa ambiental, acusação leviana do presidente contra ONGs, que envolveram ataques gratuitos até ao ator Leonardo DiCaprio, projetos para garimpagem e atividades agropecuárias em terras indígenas, sem esquecer a situação catastrófica de poluição litorânea, além das tentativas de aprovar leis que isentam de punição militares e policiais, e descriminalizar a letalidade em ação policial (autos de resistência). O vídeo que acompanha os tuítes é ainda mais parcial, chegando a afirmar que “o governo federal não fez nenhuma ação contra direitos de minorias”. O presidente só disse publicamente que “não fazia sentido” incentivar filmes e séries de temática LGBTQIA+, afirmando que ia “mandar pro pau” projetos do gênero, o que levou à derrubada de um edital. Também esteve por trás de censura explícita e demissão de quem autorizou publicidade estatal com LGBTQs+ e da notória proibição de manifestações artísticas sobre diversidade sexual em centros culturais ligados a estatais. “Nenhuma ação”? A votação do Oscar se encerra nas próximas horas (em 4/2), mas o governo brasileiro, que até então não tinha ajudado a única representante do cinema nacional que disputa a premiação, acabou prestando grande serviço, ao fazer propaganda gratuita de última hora. O ataque acaba materializando um forte motivo para os votantes optarem pelo filme de Petra Costa, em repúdio a mais uma manifestação contra o trabalho de artistas feita oficialmente pela administração de Bolsonaro. A campanha anti-Petra se dá em função de a cineasta ter ganhado grande visibilidade com a indicação ao Oscar e estar no centro da mídia americana, dando diversas entrevistas em que denuncia o crescente autoritarismo do governo. Claramente sem perceber a ironia, o ataque da Secom apenas confirma o diagnóstico da diretora para o mundo inteiro – ainda escandalizado ao descobrir que o Brasil tinha um secretário de Cultura simpatizante do nazismo. Ninguém nega, nem a própria Petra, que “Democracia em Vertigem” faz uma retrospectiva de um ponto de vista pessoal – e assumidamente petista – dos eventos recentes da política brasileira, com ênfase no impeachment de Dilma Rousseff. Trata-se de uma peça da guerra de narrativas políticas. Há outra, feita pelo MBL, chamado “Não Vai Ter Golpe”, que conta versão diferente. E democracia é exatamente isso, a convivência entre diferenças de perspectivas. Quem tem bom-senso sabe que a parcialidade faz parte desse jogo. Entretanto, não vem à lembrança outro caso em que o governo de um país democrático – a Rússia não se enquadra – tenha denunciado um cineasta como anti-patriota por conta de críticas políticas, como a Secom acaba de fazer. Vale considerar que, se criticar um presidente fosse “denegrir uma nação”, Bolsonaro seria um dos maiores anti-patriotas da história do Brasil. Não só atacou os governos petistas como votou pelo Impeachment de Dilma Rousseff. Mas ele se considera o maior patriota de todos. E tem seu direito constitucional garantido de criticar presidentes passados, porque um nação democrática não se confunde com seus governantes. Quando a crítica ao governo passa a ser considerado antipatriotismo, a declarada saudade da ditadura do presidente sai do terreno das ideologias para se materializar com a força de uma ação oficial. Nesse sentido, é interessante reparar ainda na escolha de palavras da Secom. “Denegrir” é o termo mais politicamente incorreto que poderia ter sido usado na situação. Sua inclusão ajuda a aprofundar o intertexto, num vislumbre da mente dos responsáveis pelo ataque oficial, que ainda chamam negros brasileiros de afro-americanos. Só que afro-americano é um termo que identifica exclusivamente afro-descendentes nos EUA – e não no Brasil. Ou seja, se a discussão for racismo no governo, a Secom contribuiu apenas para piorar o quadro. Para completar, ressalte-se que a Secom está atualmente envolvida num escândalo político, graças às denúncias sobre a atuação de seu chefe, Fábio Wajngarten, suspeito de peculato (subtração ou desvio, por abuso de confiança, de dinheiro público), advocacia administrativa (patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública) e quebra do princípio da impessoalidade na administração (colocar interesses pessoais acima do interesse público), que estão sendo investigadas pelo MPF (Ministério Público Federal) e pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Nos Estados Unidos, a cineasta Petra Costa assumiu o papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do País no exterior. Mas estamos aqui para mostrar a realidade. Não acredite em ficção, acredite nos fatos. pic.twitter.com/NLnf8gA87c — SecomVc (@secomvc) February 3, 2020 Filmmaker Petra Costa played the role of an anti-Brazil activist and tarnished the country's image abroad with a series of fake news in an interview on American television. pic.twitter.com/jRxCGqLoAo — SecomVc (@secomvc) February 3, 2020 It is unbelievable that a filmmaker can create a narrative full of lies and absurd forecasts in order to denigrate a nation just because she does not accept the result of elections. — SecomVc (@secomvc) February 3, 2020 Quanto ao suposto excesso de letalidade das forças policiais do Rio de Janeiro, é importante lembrar que essa é uma responsabilidade do Governo do Estado do Rio de Janeiro. — SecomVc (@secomvc) February 3, 2020 O presidente @jairbolsonaro já reforçou o compromisso brasileiro com o Meio Ambiente e a preservação da Amazônia em discurso na ONU e com ações efetivas. A criação do Conselho da Amazônia e da Força Nacional Ambiental são duas delas. — SecomVc (@secomvc) February 3, 2020 O @MMeioambiente lançou o Pacto pelo Ambientalismo de Resultado: incluir para preservar. O resultado: combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e tolerância zero com os desmatadores. — SecomVc (@secomvc) February 3, 2020
Tema de Roque Santeiro ganha versão de apoio ao governo e incomoda autor, que vai processar
O músico Guarabyra pretende processar o responsável por uma versão pirata de “Dona”, que ele gravou com o parceiro Sá e se tornou grande sucesso como tema da Viúva Porcina na novela “Roque Santeiro” (1985). A música ganhou letra modificada para exaltar Regina Duarte, a própria Viúva Porcina, na Secretaria Especial da Cultura. Publicada em 30 de janeiro no YouTube, a versão pirata é acompanhada por uma galeria de fotos ilustrativas, que, de forma didática, ajuda a propagar os pontos mais preconceituosos e intolerantes da visão “cultural” representada pelo atual governo. Exemplos: funk é lixo “travestido de cultura” e Regina “representa os bons tempos”, uma “patriota que tem fé”, e por isso vai resgatar os “valores cristãos” e “rejeitar o que não convém”. O que é um elogio pouco disfarçado à censura. “A versão de nossa música ‘Dona’, com letra pró Secretária da Educação não foi autorizada por nós, e a questão está sendo estudada pelo departamento jurídico da Editora que representa a obra”, escreveu Guarabira, em seu perfil oficial no YouTube, corrigindo-se em seguida pela confusão de figurinhas do governo. “Digo, Secretária de Cultura”. O autor da canção é identificado no YouTube como Guto Sallen, cantor que imitava Roberto Carlos no programa Raul Gil. Ultimamente, ele tem se especializado em canções com ataques à bailes funk, LGBTQs e outros “inimigos”. Também transformou o clássico “Let it Be”, dos Beatles, em “Ele sim”, a favor de Bolsonaro. Ironicamente, o ator Lima Duarte, que estrelou “Roque Santeiro” como o vilão Sinhozinho Malta, chegou a comparar à ida da atriz ao governo com o enredo da novela, dizendo que era uma representação perfeita “para o Brasil de hoje: Sinhozinho Malta na Presidência e Viúva Porcina na Cultura”. Digo, Secretária da Cultura. — Guarabyra (@Gutbyra) February 2, 2020
Regina Duarte irrita colegas que a apoiavam e culpa “resistência ideológica”
A polêmica de Regina Duarte com os colegas de classe aumentou. A decisão de juntar no Instagram diversas fotinhas de atores que apoiaram sua decisão de assumir a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro causou inúmeras reclamações. Poucas horas após colocar o post no ar, na sexta (31/1), ela precisou retirar uma das fotos, atendendo ao pedido de Carolina Ferraz. Regina substituiu a imagem por uma foto de Carla Daniel, que também reclamou, pedindo para que sua imagem não fosse usada. Na própria noite de sexta, foi ao ar uma terceira versão da montagem com apoiadores. Mas logo outros artistas se manifestaram. E Regina acabou tirando o post inteiro do ar neste sábado (1/2), reclamando de “resistência ideológica”. No post original, as imagens apareciam reunidas sob o título: “Artistas quebram o silêncio e apoiam Regina Duarte”. Vendo a montagem, Carolina enviou um áudio de WhatsApp, que vazou na internet, desaprovando o uso de sua foto pela equipe da colega. “Eu não imaginei que você fosse colocar minha foto ou de qualquer um né, colega nosso, sem pedir autorização da gente, né”, disse a atriz no áudio, que a Folha confirmou ser de autoria de Carolina. Na mensagem, ela admite que torce pela colega, mas não quer ter seu nome associado a “um governo que desprestigia tanto a classe artística”. “Realmente, torço para que você consiga exercer e fazer a diferença em um governo que desprestigia tanto a classe artística, que persegue tanto a classe artística”, continuou a atriz. “Mas eu não quero ser usada como alguém que está ali no seu Instagram, porque dá a entender que apoio o governo Bolsonaro e eu não apoio, Regina. Eu nunca aprovei e nunca compactuei com esse governo e inclusive não votei no Bolsonaro”, completou. Ao aparecer na montagem, Carla Daniel também reclamou publicamente. “Regina, vamos deixar claro uma coisa com todo carinho. Apoiei a sua coragem e seu amor à Cultura. Não compactuo com esse governo e nem o anterior. Torço pela sua gestão”, escreveu Carla nas redes sociais. Além de Carolina Ferraz e Carla Daniel, também sumiram da montagem Beth Goulart e Mario Frias, que não se manifestaram publicamente. Maitê Proença, que vinha defendendo a atriz em entrevistas, registrou: “Eu também NÃO GOSTEI de ter sido usada em uma montagem que dá a entender o apoio a um governo que não aprovo. Que fique claro. Não aprovo este governo mas apoiarei até a morte o direito de quem pensa diferente de mim”. O comediante Luiz Fernando Guimarães ficou ainda mais revoltado. Ele publicou: “Pessoal, sobre a minha imagem estar sendo divulgada fazendo menção ao apoio do governo atual, é MENTIRA! Apoio a querida Regina, e espero que ela faça um belo trabalho, porém não concordo com a administração atual, e não compactuo dos mesmos pensamentos e ideias. Já solicitei que retirassem minha imagem das postagens”. Questionado por fãs em sua conta no Instagram se apoia o governo, já que foi incluído nas montagens divulgadas por Regina Duarte, Ary Fontoura repetiu mais de uma vez: “Não apoio ninguém”. Em suma, Regina Duarte confundiu o afeto dos colegas com apoio político. Ao publicar suas imagens sem autorização, percebeu que está realmente isolada, praticamente sozinha entre os atores da Globo, ao se posicionar a favor de Bolsonaro. Carlos Vereza é a exceção, tendo comparecido em Brasília neste sábado para manifestar seu apoio. Ao excluir a montagem polêmica de seu perfil, ela publicou nova mensagem dizendo: “Vou tirar post com artistas porque agora é a Maitê pedindo pra sair”. Para justificar porque publicou fotos de artistas sem autorização, optou por politizar o incômodo que causou. “Meu desejo de pacificar, de UNIFICAR a classe artística já mostra que a RESISTÊNCIA IDEOLÓGICA vai bater forte e tentar impedir que a polarização reinante possa ser vencida. Vou, no entanto, lutando para que a CULTURA do nosso país possa estar acima de ideologias e partidos.”
Atrizes reclamam após Regina Duarte incluí-las em foto-montagem de apoio
A atriz Regina Duarte arrumou a primeira polêmica com os colegas de classe na noite de sexta (31/1), ao resolver juntar no Instagram diversas fotinhas de atores que apoiaram sua decisão de assumir a Secretaria Especial de Cultura do governo Bolsonaro. Poucas horas após colocar o post com as imagens no ar, ela precisou retirar uma das fotos, atendendo ao pedido de Carolina Ferraz. Carolina enviou um áudio de WhatsApp, que vazou na internet, desaprovando o uso de sua imagem pela equipe da colega. No post original, as imagens apareciam numa montagem sob o título: “Artistas quebram o silêncio e apoiam Regina Duarte”. “Eu não imaginei que você fosse colocar minha foto ou de qualquer um né, colega nosso, sem pedir autorização da gente, né”, disse a atriz no áudio, que a Folha confirmou ser de autoria de Carolina. Na mensagem, ela admite que torce pela colega, mas não quer ter seu nome associado a “um governo que desprestigia tanto a classe artística”. “Realmente, torço para que você consiga exercer e fazer a diferença em um governo que desprestigia tanto a classe artística, que persegue tanto a classe artística”, continuou a atriz. “Mas eu não quero ser usada como alguém que está ali no seu Instagram, porque dá a entender que apoio o governo Bolsonaro e eu não apoio, Regina. Eu nunca aprovei e nunca compactuei com esse governo e inclusive não votei no Bolsonaro”, completou. O post foi substituído por um novo, trazendo a atriz Carla Daniel no lugar de Carolina. Mas a troca rendeu outro problema. Carla Daniel também reclamou publicamente. “Regina, vamos deixar claro uma coisa com todo carinho. Apoiei a sua coragem e seu amor à Cultura. Não compactuo com esse governo e nem o anterior. Torço pela sua gestão”, escreveu Carla nas redes sociais. Assim, uma terceira versão do post, sem título sensacionalista, foi ao ar, desta vez com Rosamarinho Murtinho ao lado de Ary Fontoura, Maitê Proença, Márcio Garcia, Carlos Vereza, Beth Goulart e a autora de novelas Gloria Perez, entre outros. Regina, porém, não deixou barato. Ela também fez questão de publicar as mensagens originais que recebeu de Carolina e Carla apoiando a sua nomeação. Precisava? Nenhuma das duas negou o apoio crítico. Anteriormente, Antonio Fagundes disse ter pena de Regina por ter aceitado o cargo. “Tenho pena de artista que entra nessa jogada“, disse o ator. “Temos tanta coisa para fazer e o jogo sujo da política só pode trazer coisa ruim”. Ver essa foto no Instagram 🥰🤩👍🙏🙏🙏💞💞💝💝 Uma publicação compartilhada por Regina (@reginaduarte) em 31 de Jan, 2020 às 5:28 PST
Gregório Duvivier revela que anda com seguranças e pensou em sair do país após ataque ao Porta dos Fundos
Gregório Duvivier, que interpreta o Jesus Gay no Especial de Natal do Porta dos Fundos para a Netflix, revelou em entrevista à agência francesa de notícias AFP que, desde o ataque com bombas incendiárias à produtora, anda com seguranças e até pensou em sair do Brasil. Mas, ao mesmo tempo, ficou “com vontade ainda maior de lutar” e que a liberdade de expressão é algo “inegociável”. Logo após a disponibilização do especial “A Primeira Tentação de Cristo”, o Porta dos Fundos foi alvo de várias críticas de grupos religiosos e movimentos conservadores, gerando desde processos na Justiça pela censura do programa até manifestações no Congresso Nacional contra a Netflix pelo lançamento da produção. Este clima culminou num atentado violento, em que quatro homens encapuzados atiraram coquetéis molotov contra a sede da produtora no Rio de Janeiro. As cenas foram registradas em vídeos de segurança e pelos próprios criminosos, que posteriormente as divulgaram junto de um “manifesto revolucionário” típico de ações terroristas de fundamentalistas religiosos. “Fiquei muito assustado porque a imagem é assustadora mesmo. O vigia que estava lá sofreu sério risco de ter morrido. Nesse momento, você se diz: talvez seja o momento de sair do país. Estão tentando colocar fogo na minha empresa. Por outro lado, também dá aquela vontade ainda maior de lutar”, contou sobre o ataque. Ele continuou: “As ameaças são constantes, e não vêm apenas de pessoas anônimas. Há inclusive congressistas que falam, no Congresso… Tem sujeito berrando: a justiça não se faz só no céu, se faz também na Terra. São ameaças veladas, não ameaças de morte. Se chegar um momento em que eu sentir de fato que as ameaças são serias e algo pode acontecer, vou sair daqui, não faz sentido.” Gregório ainda contou na entrevista que o conglomerado americano Viacom, acionista majoritário na produtora Porta dos Fundos, tem cuidado de sua proteção. “O momento já está bastante inconfortável, estou só andando com segurança e carro blindado, por decisão da Viacom. É uma coisa constrangedora, cerceia a liberdade, mas por outro lado se estão propiciando isso pra gente, temos que aproveitar essa estrutura de proteção”, contou. O humorista considera que a intolerância e escalada de violência seja fruto da ascensão de Bolsonaro e da extrema direita ao poder no país, uma vez que o presidente trata determinadas manifestações artísticas como “degeneradas” e inimigas da família brasileira. Mas, em seu ponto de vista, o verdadeiro inimigo do Brasil é o próprio Bolsonaro. “O que me preocupa é a erosão da democracia, nossa democracia é muito recente. Isso se vê em todas a áreas, inclusive a cultura. Todos esses filmes que foram premiados no ano passado em Cannes (‘Bacurau’, vencedor do Prêmio do Júri, e ‘A Vida Invisível’, filme que conta com Duvivier no elenco, vencedor da mostra Um Certo Olhar) foram feitos com incentivos fiscais, graças a uma política que demorou 30 anos para ser implementada. Essa política já foi para o ralo. Já desmontou tudo, já não existe. Outra coisa que me preocupa é o meio ambiente. O Brasil tinha criado uma estrutura para inibir o desmatamento, controlar ele, com Ibama, Inpe. Isso já foi por água abaixo. Ele exonerou o presidente do Inpe por divulgar a realidade. O grande inimigo dele é a realidade. O que mais me preocupa com isso é que é um ponto que não dá mais para voltar. De todos os absurdos que ele fala, talvez esse seja o mais sério, porque não tem volta. Não tem outro planeta pra gente se mudar”.
José de Abreu ameaça revelar o que sabe de Regina Duarte
José de Abreu sabe o que Regina Duarte fez em algum verão passado. O ator publicou uma mensagem agressiva nas redes sociais, em que promete contar segredos da atriz, caso ela compactue, ao entrar no governo, com a discriminação da diversidade estabelecida por decisões de Jair Bolsonaro. “Eu sei o que fizemos na sua casa, na Barra da Tijuca. Eu sou artista, assumo meu vícios e me libertei deles. Mas você, assumindo um cargo público, vai ter que prestar conta deles. E eu vou cobrar isto de você”, escreveu Abreu, em tom tão ofensivo quanto ameaçador. “Regina Duarte, vou lhe desmascarar! Assuma seu cargo de apoiadora de fascista se tiver coragem. E aguente as consequências”, acrescentou. Ele também desafiou a atriz, que nessa quarta (29/1) confirmou ter aceito o cargo de secretária especial da Cultura, para um debate. Veja abaixo o post completo. Ver essa foto no Instagram Topa, apoiadora de fascista? Ministra- nem isso – secretária! de um presidente sem legitimidade, um escroto, que quer que você discrimine a diversidade? Que discrimine LGBTS? Eu sei o que fizemos na sua casa, na Barra da Tijuca. Eu sou artista, assumo meu vícios e me libertei deles. Mas você, assumindo um cargo público, vai ter que prestar conta deles. E eu vou cobrar isto de você. Lembra de quantos gays lhe tiraram rugas? Coloriram seus cabelos brancos? Criaram figurinos para esconder suas banhas? Você está cagando na cabeça deles! Eles me ligam, desesperados, com sua postura! Tenha vergonha nessa cara! Vou até o fim. REGINA DUARTE, vou lhe desmascarar! Assuma seu cargo de apoiadora de fascista se tiver coragem. E aguente as consequências. Outra coisa, EU NÃO ESTOU SÓ! Arrisco minha carreira para impedir que uma colega minha se atire num poço sem fundo. Uma publicação compartilhada por josedeabreu (@josedeabreu) em 29 de Jan, 2020 às 6:33 PST
Regina Duarte confirma que será Secretária Especial da Cultura
A atriz Regina Duarte confirmou nesta quarta-feira (29/1) que irá assumir a Secretaria Especial da Cultura, após se reunir com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. O ministro do Turismo, Marcelo Alvaro Antonio, também participou do encontro. Regina será subordinada de Antonio. “Sim”, disse a atriz ao sair da reunião, revelando ter aceito ao convite. “Só que agora vão ocorrer os proclamas antes do casamento”, acrescentou, referindo-se aos trâmites legais e insistindo em sua metáfora matrimonial com Bolsonaro. Ela foi convidada para a pasta da Cultura após a demissão do antigo secretário, Roberto Alvim, que foi flagrado plagiando trechos de discursos nazistas. Mas só deve assumir para valer após a oficialização de seu cargo, via publicação no Diário Oficial da União, que ainda não tem data para acontecer. Na terça-feira, Bolsonaro havia dito que Regina tem o “conhecimento do que vai fazer no cargo”, mas ressaltou que ela precisará de pessoas “com gestão” ao seu lado, e garantiu que ela terá a liberdade de “trocar quem ela quiser” na secretaria. Em nota, o ministro Marcelo Álvaro Antonio afirmou que a atriz é um reforço “do mais alto nível” ao governo e terá excelentes resultados no cargo. “Trata-se de um reforço do mais alto nível para compor o time do governo federal. Turismo e Cultura são atividades com uma forte sinergia que mostram ao mundo o que o Brasil tem de melhor, além de terem um alto potencial de geração de emprego e renda em nosso país e é sob essa perspectiva que trabalharemos fortemente e tendo essa importante parceira em nossa equipe. Tenho certeza que ela será bem sucedida nesse novo desafio e que teremos excelentes resultados”, disse o ministro. Regina Duarte será a quarta titular da Cultura no governo Bolsonaro. Em agosto, o então secretário Henrique Pires deixou o cargo após polêmica envolvendo o cancelamento de um edital para TVs públicas que incluía séries com temática LGBT. Depois, o economista Ricardo Braga foi alçado ao cargo, mas acabou sendo indicado para chefiar uma secretaria do Ministério da Educação após cerca de dois meses, sendo substituído por Alvim. Defensora do governo, a atriz é amiga da primeira-dama Michelle Bolsonaro e uma das conselheiras do Pátria Voluntária, programa de Michelle para fomentar a prática do voluntariado no país. Após ser convidada e iniciar o período que chamou de “noivado”, Regina postou um vídeo com críticas ao “marxismo cultural”, expressão inspirada pelo nazismo e usada pelo defenestrado Alvim, que serve para rotular toda obra de arte engajada como inimiga.
Sertanejos e Dedé Santana homenageiam Bolsonaro em evento que pede fim da meia-entrada
O presidente Jair Bolsonaro recebeu uma homenagem de cantores sertanejos – e do comediante Dedé Santana – nesta quarta-feira (29/1), em uma cerimônia no Palácio do Planalto. Uma carta de apoio, lida no encontro, diz que Bolsonaro realiza “notáveis feitos” em “diversos setores produtivos” e é um “um governante que trabalha em prol de seu povo”. Aproveitando a oportunidade, um representante dos produtores de shows pediu a Bolsonaro o fim da meia-entrada em evento culturais e uma mudança na regulamentação dos direitos autorais. A carta de apoio foi lida pelo locutor oficial da festa do peão de Barretos (SP), Cuiabano Lima, já o porta-voz do pedido do fim do desconto nos ingressos de estudantes, idosos, deficientes e jovens de baixa renda foi o presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), Doreni Caramori Junior, que classificou a meia-entrada de “injustiça histórica”. “Meio livro não existe, meia bicicleta não existe. Não pode o Estado brasileiro intervir na economia e tomar 50% sem nenhum tipo de compensação”, ele reclamou. Além de shows, a meia-entrada vale para cinemas, teatros e outros eventos culturais e esportivos. Sem dar detalhes, o presidente prometeu trabalhar por pleitos apresentados pelo segmento, seja por meio de decretos ou por projetos de lei. Ele disse que atenderá os pedidos desde que não seja encontrado “óbice jurídico ou constitucional”. De acordo com lista divulgada pelo Palácio do Planalto, estiveram presentes 56 artistas, entre eles as duplas Bruno & Marrone e Cesar Menoti & Fabiano, além do ator Dedé Santana, ex-integrante do grupo “Os Trapalhões”.
Minha Mãe É uma Peça 3 ultrapassa R$ 150 milhões nas bilheterias
Recordista de bilheteria do cinema brasileiro desde a semana passada, “Minha Mãe É uma Peça 3” aumentou ainda mais o volume de sua arrecadação, mantendo-se como o segundo filme mais visto pelo público do Brasil no último fim de semana. De quinta a domingo (27/1), a comédia exibida em 487 salas arrecadou R$ 9,1 milhões, levando mais 530 mil pessoas aos cinemas. Desde que estreou há cinco semanas, “Minha Mãe é uma Peça 3” já foi vista por 9,8 milhões de espectadores, segundo levantamento da Comscore, e acumula R$ 156 milhões, a maior arrecadação de um filme brasileiro em todos os tempos. Lançado na última semana de dezembro, “Minha Mãe É uma Peça 3” já tinha impressionado na estreia, arrecadando mais de R$ 30 milhões no fim de semana inaugural. Com isso, bateu o blockbuster “Star Wars: A Ascensão Skywalker” nas bilheterias nacionais. E, nas semanas seguintes, nem tomou conhecimento da concorrência de “Frozen 2”, tornando-se um pesadelo para a Disney no Brasil. Mas, apesar do recorde de bilheteria, o longa estrelado por Paulo Gustavo ainda não é o que mais vendeu ingressos. Com distribuição de ingressos para fiéis da Igreja Universal, “Nada a Perder” fez circular 11,5 milhões de ingressos, segundo informações da produtora Paris Filmes. A diferença em reais fica, portanto, por conta da inflação. Na verdade, o terceiro “Minha Mãe É uma Peça” é o quinto filme com maior público do cinema nacional. Os demais filmes que completam o ranking são “Os Dez Mandamentos” (11,3M de ingressos), “Tropa de Elite 2” (11,1M) e “Dona Flor e seus Dois Maridos” (10,7M). Por curiosidade, “Minha Mãe É uma Peça 2” agora é o sexto, com 9,3 milhões de espectadores superados pela venda da continuação. O detalhe é que “Minha Mãe É uma Peça 3” continua lotando cinemas. O longa só perde, nas bilheterias atuais, para “Jumanji: Próxima Fase”, que estreou há duas semanas. Ou seja, ainda tem muitos ingressos para vender. A popularidade do filme também representa uma contraste gritante em relação ao modelo conservador de cinema que o governo Bolsonaro tenta implantar no país, já que sua trama é estrelada por um homem vestido de mulher (que na vida real é casado com outro homem), inclui uma trama de casamento homossexual e gira em torno de uma família que lida com a sexualidade de forma natural e bem-humorada. Veja abaixo o Top 10 do fim de semana no Brasil, segundo levantamento da consultoria Comscore. TOP 10 #bilheteria #cinema Final Semana 23 a 26 JAN: 1. Jumanji – Próxima Fase2. Minha Mãe É Uma Peça 33. 19174. Frozen 25. Um Espião Animal6. Adoráveis Mulheres7. O Escândalo8. Parasita9. A Possessão de Mary10. O Melhor Verão de Nossas Vidas — Comscore Movies BRA (@cSMoviesBrazil) January 27, 2020
Regina Duarte posta vídeo contra “marxismo cultural”, repetindo ex-secretário demitido por nazismo
A atriz Regina Duarte compartilhou no domingo (26/1) nas redes sociais um vídeo de um ex-BBB, defendendo alucinadamente o vitimismo dos homens brancos e atacando aquilo que extremistas de direita chamam de “marxismo cultural” – basicamente, qualquer obra de temática engajada, como as de filmes que costumam ser premiados em festivais internacionais de cinema e livros que ganham o Nobel. A ex-namoradinha do Brasil transformada em “noiva” de Bolsonaro exibiu a seus seguidores um trecho do programa “Jovem Pan Morning Show”, em que o ex-BBB Adrilles Jorge vocifera a teoria de conspiração que acusa a esquerda de dominar a indústria cultural para promover o ódio. “O que o ‘marxismo cultural’ faz? Coloca negros contra brancos, mulheres contra homens, homossexuais contra heterossexuais”, diz Jorge no vídeo. “Quem é esse cara ?!”, escreveu Regina em comentário publicado junto do vídeo. “Que depoimento bacana, profundo, super real”, escreveu a atriz. O vídeo foi visto por 188 mil perfis no Instagram. Ao contrário do que afirma a Noiva, a crítica ao “marxismo cultural” não é bacana. Muito menos profunda. E o que há de “super real” nela é seu viés nazista. Trata-se de variação do “bolchevismo cultural”, expressão cunhada por Joseph Goebbels, ideólogo do nazismo e aparentemente um dos autores favoritos do ex-secretário de Cultura do Brasil, Roberto Alvim, demitido após ter sido flagrado plagiando o responsável pela Cultura do governo sanguinário de Hitler. Artistas como Max Ernst e Hans Bellmer foram denunciados e presos por serem “bolchevistas culturais”, durante o nazismo, porque suas pinturas modernistas (progressistas) eram consideradas “degeneradas” por Goebbels. A autobiografia de Hitler usa várias vezes a expressão “bolchevismo cultural” para demonstrar o ódio do fuhrer, que era um pintor frustrado, contra a Cultura e os artistas progressistas, que ele considerava seus inimigos. Lembra algo? A convocação de Alvim a artistas conservadores para criar uma máquina de guerra “contra o satânico progressismo cultural” e o “marxismo cultural” foi o que o credenciou a virar secretário da Cultura do Brasil über Alles de Bolsonaro. Com a postagem, Regina Duarte demonstra que reza pela mesma cartilha. Bastante seletiva em sua mensagem, ela não linkou o programa de onde saiu a entrevista. Nele, o apresentador Guga Noblat contestou o ex-BBB e disse que o termo “marxismo cultural” foi criado “por teoria conspiratória que ninguém leva a sério”. Infelizmente, a extrema direita leva esta e outras teorias de conspiração muito a sério. E todo mundo também precisa levar essa gente à sério, especialmente depois do episódio explícito de nazismo no governo Bolsonaro. Veja-se que o ex-BBB chega ao ponto de dizer que “só existe isso no mundo hoje, pessoas que se colocam no lugar de vítimas para massacrar as outras”, propagando narrativa de homem branco que se julga ameaçado porque minorias começam a conquistar direitos iguais aos dele. Para o famoso de reality show, “isso é o marxismo cultural propalado pela industria cinematográfica, teatral e literária”. Segundo ele, “toda a indústria midiática, a indústria da arte no Brasil, é povoada por esquerdistas fanáticos” e que “essa guerra cultural é uma guerra santa, sim”. Depois de declarar seu fanatismo, “sim”, ele também elogiou o “nazistão” demitido do governo, dizendo que o projeto cultural de Alvim era bom para o Brasil “O projeto do nazistão era bom”, porque fomentaria desde ópera até quadrinhos. Mas não rock, pois o ex-BBB é contra o rock, como o novo presidente da Funarte. Nisso, diferem de Hitler, que não tinha nada contra o rock, pois ele ainda não existia nos anos 1940. Os nazistas odiavam – e proibiram – o jazz (“Negermusik”). Ver essa foto no Instagram Viajando na internet neste domingo ensolarado … olha só que depoimento bacana, profundo , super real . Quem é esse cara ?! 👏👏👏👏👏💐👍💝🇧🇷 Uma publicação compartilhada por Regina (@reginaduarte) em 26 de Jan, 2020 às 7:41 PST
Guerra Cultural: Escola de Cinema Darcy Ribeiro recebe notificação de despejo do governo
A Escola de Cinema Darcy Ribeiro (ECDR), no Rio de Janeiro, está sendo ameaçada de despejo pelo governo Bolsonaro. Responsável por ceder o imóvel há 20 anos, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, estatal presidida pelo General Floriano Peixoto Vieira Neto, nomeado por Jair Bolsonaro, enviou uma notificação extrajudicial na sexta-feira (24/1) pedindo a sua devolução. Desde julho de 2019, a diretoria da escola negociava a permanência no edifício que serve de sede para a escola, no Centro do Rio. Mas as tratativas tomaram um rumo inesperado. Referência na formação e produção audiovisual, além da preservação de arquivos cinematográficos, a escola foi declarada Patrimônio Histórico Cultural Imaterial em 2018. Nas últimas duas décadas, ela formou 20 mil alunos para a indústria do cinema e da televisão, entre roteiristas, diretores, produtores, montadores, editores e outras funções técnicas. A instituição também mantém acervos de personalidades como o diretor Joaquim Pedro de Andrade e o ator José Wilker. Em nota, a diretoria dos Correios afirmou que está avaliando “todo o seu patrimônio imobiliário” visando sua sustentabilidade financeira e também ressaltou que, desde 2000, cede o prédio sem contrapartidas. Também por meio de comunicado, publicado em seu site, a escola lembra que o espaço estava abandonado e se encontrava em “estágio avançado de deterioração” quando teve o seu uso cedido. Desde então, a instituição teria feito inúmeros investimentos para restaurar e adequar o edifício às funções educacionais. Atualmente, a escola funciona em cinco pavimentos, onde foram construídas diversas ilhas de edição, além de um estúdio, uma biblioteca, uma filmoteca e uma sala para exibição de filmes. “Sair de lá representaria um prejuízo sem tamanho”, disse ao jornal O Globo a produtora de cinema Renata Magalhães, presidente do Instituto Brasileiro de Audiovisual (IBAV), que gerencia a escola. “A ECDR é um instituto sem fins lucrativos, que faz trabalho social e oferece cursos a preços acessíveis, muitos deles subsidiados”, acrescentou. De acordo com ela, a antiga direção dos Correios chegou a planejar a doação da totalidade do prédio à ECDR durante o governo Temer. O governo Bolsonaro, porém, tem postura diferente e bem conhecida, de desmonte cultural. O presidente mandou cortar todos os patrocínios de estatais para a Cultura, situação que pode enquadrar a ECDR. Além disso, há planos de privatização para os Correios, que podem incluir o prédio da escola como ativo. “Pedir a devolução do imóvel é uma decisão burra do atual presidente dos Correios porque o espaço tem mais valor como uma escola funcionando do que vazio”, avalia Magalhães. “O órgão precisa entender a importância de uma instituição que abriga pessoas do Brasil inteiro”. Também em depoimento para O Globo, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto destacou que o mercado do audiovisual brasileiro “melhorou muito” com a criação da escola. “Ela é diferente de outros cursos universitários porque forma uma mão de obra de técnicos fundamentais para a indústria”, apontou o produtor, fundador da L.C. Barreto Produções. “Nossa produtora sempre contrata muitos profissionais saídos de lá”. Barreto espera que a ameaça de despejo seja uma questão técnica mais do que política. Mas o fato é que a ação de desmonte cultural – e, no caso, também educacional – do governo continua sua escalada destruidora com essa decisão.









