Mercado publicitário reage à projeto homofóbico da Assembleia Legislativa de SP
Um projeto de lei (PL) em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) colocou o mercado publicitário em alerta e chamou atenção de diversas entidades pela clareza de sua intenção, ao promover preconceito e buscar marginalizar um grupo social. Apresentado pela deputada estadual Marta Costa (PSD), o projeto pretende proibir veiculação de publicidade no estado de São Paulo que “contenha alusão a preferências sexuais e movimentos sobre diversidade sexual relacionado a crianças”. Segundo a autora do PL, tais propagandas trariam “desconforto emocional a inúmeras famílias” e mostram “práticas danosas” às crianças. Para ela, a proibição vai “evitar a inadequada influência na formação de jovens e crianças”. A discussão em plenário estava prevista para terça passada (20/4), mas foi atropelada por outras pautas e só deverá entrar em votação na semana que vem. Ainda que a proposta seja inconstitucional, chocou o mercado por ter chegado tão longe. Entidades ligadas aos direitos LGBTQIA+, como Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), Mulheres EIG (Evangélicas pela Igualdade de Gênero) e a ONG Mães pela Diversidade no Estado de São Paulo repudiaram prontamente o projeto, que discrimina mães e pais LGBTQIA+, e enviaram ofícios à Alesp. A Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) também emitiu um comunicado afirmando o óbvio: que a proposta é inconstitucional por “impor discriminação à liberdade de expressão comercial e ao direito de orientação sexual”. Além disso, é uma tentativa de “censura de conteúdo, abrindo um precedente perigosíssimo para a liberdade de expressão e os direitos de minorias”. O mesmo fez a Associação Brasileira de Anunciantes (Aba), reforçando que se trata de iniciativa inconstitucional e ilegal. O PL viola o artigo 220 da Constituição, que defende que “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição”. Vai além, ao usar o termo “preferência sexual”, que é incorreto e preconceituoso, para se referir à “orientação sexual”, e, ainda por cima, pretende legislar sobre publicidade e propaganda, o que é de competência exclusiva da União. Ao contrário do que pretendia, a iniciativa ofensiva serviu para fortalecer a defesa dos direitos LGBTQIA+ pelo mercado. A agência Mutato, por meio de seu Comitê de Diversidade, criou um grupo de discussão sobre o assunto, que já tem o apoio de mais de 110 líderes de diferentes empresas — entre anunciantes (como Ambev, Avon, iFood e Mastercard), agências de propaganda (como Africa, AlmapBBDO, Ogilvy e Publicis), plataformas de mídia (como o Twitter, Facebook e TikTok) e entidades de classe (como a Aba e a Abap). O objetivo é rechaçar iniciativas preconceituosas como a PL da deputada do PSD para criar (e assumir) compromissos públicos que assegurem representatividade em novas campanhas publicitárias e segurança à comunidade LGBTQIA+ nas equipes responsáveis por elas.
Reação de Gabriela Duarte a vídeo da mãe com Bolsonaro repercute na internet
As redes sociais viralizaram a reação da atriz Gabriela Duarte ao rever um vídeo de sua mãe, Regina Duarte, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, exibido durante o programa “Conversa com Bial”. A expressão de desânimo, misturando desgosto e vergonha, foi replicada até virar meme após o programa, que foi ao ar na madrugada desta quinta (15/4) na rede Globo. O vídeo que gerou o mal-estar foi a última aparição de Regina com Bolsonaro, em maio de 2020, quando o presidente anunciou que ela não estaria mais à frente da Secretaria Especial da Cultura e iria assumir a presidência da Cinemateca Brasileira – o que nunca aconteceu. Após exibir a cena, o apresentador Pedro Bial questionou se Gabriela se sentiu aliviada com a saída da mãe do governo. “Foi um período muito turbulento, de muitas coisas. Um período que, de certa forma, nos afastou bastante. Não por uma questão ideológica, não é isso. Tem a ver com uma dinâmica muito complicada, de entrar ali, sair… Então, eu posso responder por mim, eu fiquei muito aliviada”, admitiu. Na entrevista, Bial quis saber como ficou a relação entre mãe e filha diante de possíveis divergências políticas. E embora tenha afirmado não falar sobre isso com a mãe, Gabriela Duarte disse: “Uma coisa posso afirmar, nós somos muito diferentes realmente”. Ela ainda revelou que votou em Ciro Gomes no primeiro turno e anulou o voto no segundo turno das últimas eleições presidenciais, para deixar claro que não é eleitora de Bolsonaro. Isso não a impediu de sofrer ameaças por conta das opções da mãe, especialmente durante o período em que Regina Duarte esteve à frente da Secretaria Especial da Cultura. “Fiquei muito assustada, recebi muitas ameaças, nunca me passou pela cabeça isso. Foi Bizarro”, contou. A atriz, que está completando 47 anos nesta quinta, terminou a entrevista agradecendo ao SUS (Sistema Único de Saúde) pelo empenho dos profissionais da saúde durante a pandemia de coronavírus. E recebeu muitas mensagens de apoio ao fim do “Conversa com Bial”. Veja abaixo algumas das reações. Quando eu vejo parente apoiando o Bolsonaro nas redes sociais, faço a mesma cara da Gabriela Duarte ☹️😓😕 #ConversaComBial pic.twitter.com/XTMxhsz6WW — Fernando Mancini (@fermancini) April 15, 2021 Rapaz, acabei de ver a entrevista de Gabriela Duarte no #ConversaComBial que foi ao ar na madrugada de hoje e, sabe, entendi todos os posicionamentos dela enquanto filha da R****a. É muito doloroso ter uma pessoa tão próxima pensar tão diferente de você. Mas força pra Gabi. — Robson Gomes ▽▲ (@robinhogomes) April 15, 2021 A cara da Gabriela Duarte vendo isso kkkk. Vou ter que ver essa entrevista. #ConversaComBial https://t.co/jtcraMhHJD — Olliver (@Evandro_Olliver) April 15, 2021 Eu tô só a Gabriela Duarte desde 2018. pic.twitter.com/ohKgugIR83 — Açúcar invertido 🇨🇦🇧🇷 (@BFFCanadaBrasil) April 15, 2021 a gabriela duarte deve odiar o bolsonaro e as loucuras da mãe#ConversaComBial pic.twitter.com/zmkgCGbS4h — DOMÊNICO #bbb21 (@eumaluma) April 15, 2021 Amei acompanhar essa entrevista super importante do Bial para com Gabriela Duarte e destaco as falas pontuais que foram imprescindíveis para explanar as diferenças entre ela e a mãe dela. Desta entrevista só engrandeceu o orgulho de ser fã desta maravilhosa atriz#ConversaComBial pic.twitter.com/flVY4l5HwT — Tiago Dias (@dia_tiago) April 15, 2021 Coitada da Gabidu, Regina tão grandiosa, não precisava desse peso na sua biografia pessoal e artística. Foi muita mancada. #ConversaComBial pic.twitter.com/tT4XaasYST — PAPO RETO 📢🎙📢 (@papporetoo) April 15, 2021 Ela acabou a entrevista agradecendo ao sus. Fadinha, Eu te amo!!! #ConversaComBial — ✨🌛jOsEpH🌛✨ (@DramadelReyyy) April 15, 2021
Bolsonaro se aproxima do que deputados consideraram crime com Danilo Gentili
Em gravação revelada nesta segunda (12/4), o presidente Jair Bolsonaro ameaçou agredir fisicamente um senador da República. Durante uma entrevista à Rádio Bandeirantes, o senador Jorge Kajuru revelou uma nova parte do diálogo polêmico que travou com Bolsonaro no fim de semana, em que o presidente lhe pediu para participar ou tentar travar a CPI da Pandemia. “Se você não participa, daí a canalhada lá do Randolfe Rodrigues vai participar. E vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desse”. O “bosta desse” contra quem Bolsonaro disse que vai “ter que sair na porrada” é um Senador eleito, Randolfe Rodrigues, responsável pela criação da CPI da Pandemia. A ameaça física com nome e sobrenome é menos genérica que o tuite de fevereiro passado de Danilo Gentili, que levou a Câmara dos Deputados a protocolar uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a prisão do apresentador. Na época, a sugestão de Gentili para que a população “entrasse” no Congresso “e socasse todo deputado” por causa da PEC de im(p)unidade parlamentar, foi considerado um ameaça à democracia. Originalmente, Gentili escreveu: “Eu só acreditaria que esse País tem jeito se a população entrasse agora na câmara e socasse todo deputado que está nesse momento discutindo PEC de imunidade parlamentar”. A ação contra Gentili foi coordenada pelo deputado Luis Tibé, responsável pela procuradoria da Câmara, a partir de um pedido do deputado federal Celso Sabino, buscando equiparar a postagem do apresentador do talk show “The Noite” com a do deputado federal Daniel Silveira, preso após ameaçar ministros do STF. “Não podemos ter uma sociedade e uma Democracia com pesos e duas medidas. Se o Supremo Tribunal Federal, sabiamente, estabeleceu um limite para a livre manifestação do pensamento que é o respeito à integridade das instituições democráticas – princípio que a Câmara dos Deputados acolheu com margem de 364 votos – a Justiça brasileira não pode permitir que ninguém faça a incitação de ‘socar’ deputados”, concluiu o deputado, por meio de sua assessoria de imprensa. A ação política contra Gentili não foi adiante porque ele não é um político eleito e, portanto, não tem fórum no STF. A PEC da im(p)unidade parlamentar também não foi votada, graças ao repúdio das redes sociais. Mesmo assim, Gentili se arrependeu, apagou o post e fez outra afirmação em seguida: “Eu fiz um tuíte que foi alvo de justas críticas por alguns deputados. Quem me segue sabe que sempre defendi as instituições. Aliás, minha briga com bolsonaristas foi justamente pelo fato de eu ser contrário aos pedidos criminosos de fechamento do STF e do Congresso”. Já Bolsonaro dobrou a aposta e afirmou para seus seguidores, a respeito da gravação polêmica: “Falei mais coisas naquela conversa lá. Pode divulgar tudo da minha parte, tá?”. Mas enquanto o presidente brada, sua tropa de choque no Congresso tenta minimizar as bravatas. A avaliação é de que o ataque contra Randolfe Rodrigues foi individualizado, a um parlamentar identificado com a esquerda, e não contra o Senado. Jair Bolsonaro tem fórum no STF.
Bolsonaro cumpre ameaça e Ancine começa mudança para Brasília
Enquanto a pandemia continua a ocupar o noticiário, o governo Bolsonaro segue passando a boiada. A coluna de Lauro Jardim, no jornal o Globo, revelou que a Ancine iniciou um processo para diminuir a sua presença física no Rio de Janeiro. No final da semana passada, a agência desocupou um andar inteiro de um prédio no Centro da cidade e a expectativa é que, ainda em abril, um andar no prédio da Anatel, em Brasília, seja disponibilizado para a agência. Em janeiro, o Ministério das Comunicações sugeriu que poderia realizar uma fusão entre a Ancine e a Anatel, entidades de pastas e funções completamente distintas. Neste sentido, a mudança da Ancine para o prédio da Anatel seria praticamente uma declaração de intenções. Bolsonaro tem se mostrado insatisfeito com a Ancine desde o começo de seu governo. Em agosto de 2019, ele ameaçou pela primeira vez a transferência do órgão colegiado para Brasília, como parte de um plano para a Ancine “deixar de ser uma agência e passar a ser uma secretaria subordinada a nós”. O objetivo, segundo Bolsonaro, era sujeitar a aprovação de projetos a seus “filtros” (ou gosto) pessoais. “Se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine. Privatizaremos ou extinguiremos. Não pode é dinheiro público ficar usado para filme pornográfico”, afirmou. Um mês depois desta declaração e inconformado com a demora para conseguir o que queria, Bolsonaro foi mais longe e ameaçou “degolar” os integrantes da Ancine: “Se a Ancine não tivesse, na sua cabeça toda, mandato, já tinha degolado todo mundo”. A ameaça foi completada por um gesto com as mãos sob o pescoço que representa o assassinato por meio de degola. Desde a posse de Bolsonaro, a Ancine enfrenta uma crise sem precedentes, atuando com um presidente interino nunca efetivado e com uma diretoria incompleta, que não tem seus diretores nomeados. Enquanto isso, a arrecadação das taxas Condecine e Fistel, pagas pela indústria de telefonia e audiovisual para o financiamento público de novas produções brasileiras de cinema e TV, acumula uma fortuna não contabilizada em cofres que têm sido blindados de investigação, sem que projetos novos – ou muito poucos – sejam beneficiados com a verba do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Apenas os valores arrecadados em 2018 (para serem investidos em 2019) foram divulgados (e somente em dezembro de 2019): um montante de R$ 703,7 milhões. Desde então, as taxas fecharam mais dois anos de arrecadação não revelada, podendo ter ultrapassado R$ 2 bilhões de dinheiro sem uso – ou com mau uso. O Ministério Público Federal (MPF) questionou, num ofício datado de 13 de outubro do ano passado, porque a Ancine tinha aprovado apenas um projeto para obter recursos do FSA num período de dez meses, pedindo que a agência tornasse públicos relatórios anuais de gestão do FSA. “Apuramos que houve uma ordem da procuradoria da Ancine de que não fosse dado andamento a processos, a não ser aqueles que obtivessem liminar na Justiça. Houve, portanto, negligência ao correto andamento desses procedimentos, como houve ação deliberada de paralisação”, denunciou o procurador. Mas um juiz da 11ª Vara Federal do Rio de Janeiro barrou a investigação, aceitando a explicação de que “a culpa é da burocracia”. Na ocasião, já havia ao menos 194 mandados de segurança impetrados contra a Ancine na Justiça Federal do Rio, em razão da demora na análise de projetos audiovisuais. Neste meio tempo, a Ancine mudou sua atividade principal, deixando de ser uma instituição de fomento para virar um escritório de cobranças, aproveitando uma orientação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre problemas de prestações de contas para rever centenas de balanços anteriormente aprovados de produções com mais de 20 anos, como “Madame Satã”, de 2002, “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida”, de 2004, e “Xuxa Gêmeas”, de 2006. Por coincidência, depois de a apresentadora Xuxa Meneghel criticar o governo Bolsonaro e após o presidente dizer que iria rever aprovação de filmes de temática LGBTQ pela Ancine. “Confesso que não entendi por que gastar dinheiro público com um filme desses”, disse Bolsonaro em agosto passado. Enquanto escondia os valores de arrecadação do FSA, a Ancine também fez parceria com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul para assumir ainda outra função, oferecendo empréstimos financeiros para produtores de cinema. Neste caso, a ideia original do FSA, de investimento à fundo perdido, foi substituída por um negócio batizado de “linha de crédito emergencial” que passaria a cobrar juros – para terceiros (banco) ou para a própria Ancine (em parceria com banco). O que a Ancine faria com o lucro obtido com as taxas de empréstimo? Na segunda-feira (5/4), deputados da Comissão de Cultura da Câmara classificaram de “perseguição política” a paralisação nas atividades da Ancine e a demora na liberação de recursos para produções já contempladas em editais da agência. Convidado para debater com os integrantes da comissão, o presidente interino da entidade, Alex Braga, alegou que a questão foi judicializada e, por isso, não iria comparecer. Quem pode desaparecer a seguir é a própria Ancine.
Ex-BBB Flávia Viana chora e se desculpa por campanha de “atendimento precoce” de covid-19
A ex-“BBB” Flávia Viana chorou e se desculpou nesta quarta (31/3), após a imprensa revelar que ela recebeu dinheiro do governo de Jair Bolsonaro para divulgar uma campanha dúbia do Ministério da Saúde. “Eu não acredito em tratamento precoce dessa doença tão louca que está espalhada por aí”, declarou a ex-sister em desabafo postado nos stories do Instagram. Ela recebeu R$ 11,5 mil para estimular o “atendimento precoce” em janeiro, enquanto Manaus vivia o auge do colapso na rede hospitalar. “Em janeiro, a minha equipe foi procurada para a gente fazer um trabalho de divulgação dos cuidados que a gente teria que ter com a covid-19, e os trabalhos incluíam máscara e álcool gel, tudo que a gente tem falado desde o começo dessa pandemia. A minha intenção ao fazer esse trabalho foi única e exclusivamente ajudar”, ela explicou. Mas o trabalho também incluía enfatizar o “atendimento precoce”, que lotaria ainda mais hospitais e postos de atendimento em momento de colapso, além de fazer confusão com o “tratamento precoce” divulgado por Bolsonaro. Em sua defesa, a participante da sétima edição do “BBB” fez questão de dizer que tem nojo do governo do Brasil. “Não me meto com político, acho que o que os governantes fazem com a gente é fazer todo mundo de palhaço, eu tenho nojo de falar de quem governa do nosso país”. A ação fez parte de uma iniciativa do governo Bolsonaro, que custou mais de R$ 1,3 milhão em ações de marketing com influenciadores e mídia. O valor saiu dos orçamentos do Ministério da Saúde e da Secretaria de Comunicação (Secom) e inclui R$ 85,9 mil destinados ao cachê de 19 “famosos” contratados para divulgar campanhas de “conscientização” em suas redes sociais. Uma das peças de TV veiculadas dentro do projeto focava na hashtag “NãoEspere”, presente no texto divulgado pelos influenciadores. As ações foram pensadas no bojo da campanha anunciada pela Secom no fim de setembro de 2020 para estimular o “atendimento precoce”. No roteiro da ação, obtido pela Agência Pública através de um pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI), a Secom orientava a ex-BBB Viana (2,5 milhões de seguidores) e os influenciadores João Zoli (747 mil seguidores), Jéssika Taynara (309 mil seguidores) e Pam Puertas (151 mil seguidores) a fazer um post no feed e seis stories — todos no Instagram — dizendo para os seguidores que, caso sentissem sintomas da covid, era “importante que você procure imediatamente um médico e solicite um atendimento precoce”. “O tratamento precoce comprovadamente aumenta as chances de recuperação e diminui a ocorrência de casos mais graves e, consequentemente, o número de internações”, diz o release da campanha, apostando na confusão de termos – atendimento x tratamento precoce. Poucos dias depois do começo da campanha nas redes sociais, em 16 de janeiro, uma postagem do Ministério da Saúde no Twitter foi marcada como “publicação de informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à covid-19” por mandar os cidadãos que tivessem sintomas buscar uma UBS e solicitar o “tratamento precoce”. Paralelamente à ação com influenciadores liderada pela Secom, o Ministério da Saúde lançou a plataforma “TrateCov”, que recomendava cloroquina até para bebês. O Conselho Federal de Medicina pediu, em nota, que o aplicativo fosse removido “imediatamente” pelo Ministério. O aplicativo saiu do ar em 20 de janeiro, menos de uma semana depois de seu lançamento. Mais recentemente, em fevereiro, uma pesquisa no Amazonas apontou que pacientes que tomaram remédios do “tratamento precoce” para evitar ou tratar sintomas iniciais da covid-19 tiveram maiores taxas de infecção que aqueles que não tomaram nada. Nesta quarta (31/3), a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que “não se utilize a ivermectina” para pacientes com covid-19, exceto em ensaios clínicos, “independentemente do nível de gravidade ou duração dos sintomas”. Junto com a cloroquina, a ivermectina é um dos itens do kit covid do “tratamento precoce” incentivado pelo governo.
Presidente da Fundação Palmares usa fake news para pedir boicote a filme de Lázaro Ramos
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, pediu boicote ao filme “Medida Provisória”, que ele não viu, em postagens nas redes sociais. A atitude foi tomada após elogios rasgados da crítica americana e prêmios em festivais internacionais ao longa-metragem brasileiro, que marca a estreia na direção de Lázaro Ramos. Camargo diz que o filme que ele não viu “acusa o governo Bolsonaro de crime de racismo”. “O filme, bancado com recursos públicos, acusa o governo Bolsonaro de crime de racismo — deportar todos os cidadãos negros para a África por Medida Provisória. Temos o dever moral de boicotá-lo nos cinemas. É pura lacração vitimista e ataque difamatório contra o nosso presidente”, protestou Camargo, em seu perfil, nas redes sociais. Além de dar o registro, é preciso desmentir mais esta “fake news”, ferramenta seguidamente utilizada por integrantes do governo Bolsonaro contra a Cultura, liberdade de expressão e, durante a pandemia, as vidas dos brasileiros. “Medida Provisória” é uma adaptação da tragicomédia “Namíbia, Não!”, peça que Lázaro Ramos já tinha dirigido no teatro em 2011 – quando a presidente era Dilma Rousseff. Escrito por Aldri Anunciação, o texto foi publicado em livro pela Editora Edufba em 2012 e no ano seguinte venceu o Prêmio Jabuti de Literatura na categoria ficção juvenil. Os “recursos públicos” citados por Sérgio Camargo são os incentivos que o governo Bolsonaro travou na Ancine. O filme foi inteiramente rodado antes da eleição de Bolsonaro. O ator principal, o inglês descendentes de brasileiros Alfred Enoch, viajou ao Brasil para se aclimatar ao país para as filmagens no início de 2019, meses antes das eleições à presidência da República. Na época, nem os piores pesadelos apontavam uma possível vitória de Bolsonaro. A trama de “Medida Provisória” se passa num Brasil do futuro em que uma iniciativa de reparação pelo passado escravocrata provoca uma reação no governo federal, que promulga uma nova lei para deportar todos os brasileiros de “melanina acentuada” para o continente africano. A reação de Sérgio Camargo só comprova como o cenário distópico da produção reflete o país criado após a eleição de Bolsonaro. Se o filme foi feito como ficção futurista, o tempo acabou por transformá-lo numa importante advertência sobre o tempo presente. Lázaro Ramos também se manifestou, após se deparar com as fake news de Camargo nas redes sociais, lembrando a cronologia da produção de “Medida Provisória” – em desenvolvimento há quase uma década – e colocando sua trama distópica no mesmo nicho de “Handmaid’s Tale” (que também poderia ser atacado por Camargo ao descrever um país similar a este que virou pária mundial) e “Black Mirror”. “Qualquer comentário sobre o filme é feito em cima de suposições ou desejo de polêmica, pois ninguém assistiu a obra a não ser quem esteve nos festivais onde o filme foi exibido com extremo sucesso, vide as mais de 24 críticas positivas da obra”, completou o ator e diretor. Em julho do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito e pediu esclarecimentos a Sérgio Camargo sobre o fato de que ele “teria negado a existência do racismo, a importância da luta do povo negro pela sua liberdade e a importância do Movimento Negro em nosso país”. A investigação foi precipitada por um áudio em que Camargo chamou o movimento negro de “escória maldita” e criticou o Dia da Consciência Negra. Para os promotores, a apuração dos fatos foi necessária porque os “fatos noticiados são graves” e violam, em tese, a Constituição Federal.
Secretário estadual de Cultura de São Paulo é internado com covid-19
O secretário estadual de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, foi internado na sexta-feira (19/3), no Rio de Janeiro, com Covid-19. A informação foi confirmada em comunicado da Secretaria. Segundo a nota, Leitão começou a sentir os primeiros sintomas no último dia 13, quando se colocou em isolamento social, trabalhando remotamente. Ele foi internado no Rio, onde tem família, para seguir o tratamento médico. Seu estado de saúde é estável. Sérgio Sá Leitão é jornalista e trabalhou no Jornal do Brasil e na Folha de S. Paulo, antes de virar diretor da Ancine e ministro da Cultura do governo Temer. Com a troca de governos, ele passou a ser secretário estadual de São Paulo em 2019.
Justiça suspende investigação contra Felipe Neto e aponta ação ilegal de Carlos Bolsonaro
Uma liminar na Justiça do Rio suspendeu a investigação contra o Youtuber Felipe Neto por ter chamado o presidente Jair Bolsonaro de “genocida” em uma postagem em suas redes sociais. O vereador Carlos Bolsonaro tinha pedido investigação de Neto com base na Lei de Segurança Nacional, criada durante a ditadura militar. A investigação era comandada pelo delegado Paulo Dacosta Sartori, o mesmo que, em 2020, abriu na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) inquérito contra o influenciador digital por “corrupção de menores”. Entretanto, a decisão judicial aceitou os argumentos apresentados pela defesa de Felipe Neto e entendeu que a DRCI não possui atribuição legal para investigar os supostos crimes. A juíza Gisele Guida de Faria, da 38ª Vara Criminal, ainda viu “flagrante ilegalidade” praticada por Carlos Bolsonaro, porque ele “não integra o Ministério Público, não é militar responsável pela segurança interna, nem é Ministro da Justiça”, portanto não poderia exigir investigação em nome do presidente da República. Além de Felipe Neto, Carlos Bolsonaro anunciou nas redes sociais que também entraria com queixa crime contra a atriz Bruna Marquezine pelo mesmo motivo. Após a decisão, Felipe Neto usou o seu perfil no Twitter para se manifestar. “Vitória! Justiça suspende investigação feita a pedido de Carlos Bolsonaro contra mim”, escreveu. Em seguida, se posicionou por meio de sua assessoria. “Eu sempre confiei nas instituições e essa decisão só confirma que ainda vivemos em uma democracia, em que um governante não pode, de forma totalmente ilegal, usar a polícia para coagir quem o crítica.” A Polícia Civil do Rio também se manifestou sobre o caso. A entidade disse que ainda não foi intimada, mas que a decisão judicial será respeitada. O órgão ainda informou que há 33 investigações em andamento de pessoas ligadas à política de esquerda e direita, para questionar o argumento de que havia “perfil ideológico” na investigação. “O trabalho realizado pela Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) é totalmente técnico, baseado nas leis e sem perfil ideológico. Qualquer cidadão que compareça à delegacia para fazer uma notícia-crime, levando elementos consistentes e uma denúncia fundamentada, tem o direito de fazer o registro de ocorrência”, sustentou um dos trechos do texto da Polícia Civil. Inicialmente, a Polícia Civil do Rio havia informado que ouviria Felipe hoje. Depois de receber a intimação, o youtuber se manifestou nas redes sociais e manteve as críticas contra o presidente. Ele disse que se tratava de uma tentativa de calar os críticos e impedir que se falasse a verdade sobre a forma como o governo está agindo durante a pandemia de coronavírus.
YouTube monetiza vídeos negacionistas da pandemia no Brasil
Um levantamento da empresa de análise de dados Novelo Data e do Monitor do Debate Político no Meio Digital revelou que o YouTube está monetizando vídeos negacionistas, que pregam tratamento precoce sem eficácia contra a covid-19, atacam o uso de máscaras e buscam desestimular a vacinação no Brasil. A descoberta, feita por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), limitou-se apenas aos 15 maiores canais de política e mídia do Brasil em janeiro de 2021, onde foram constadas pelo menos 44 postagens com conteúdo negacionista relacionado à pandemia, vistos ao todo 8,7 milhões de vezes. Vale ressaltar que este tipo de postagem contraria as políticas do YouTube. O fato de permanecerem no ar também revela falta de fiscalização ou conivência dos responsáveis por cumprir a determinação de derrubar vídeos – e até cancelar canais reincidentes – que desrespeitam as boas práticas do portal. Em suas diretrizes, a plataforma afirma que “não é permitido o envio de conteúdo que dissemine informações médicas incorretas que contrariem as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou das autoridades locais de saúde” em temas como tratamento, prevenção, diagnóstico e transmissão do vírus, bem como sobre as diretrizes de distanciamento social e autoisolamento, relacionados à existência da covid-19. As publicações foram selecionados por meio de palavras-chave presentes no título ou na descrição e foram manualmente analisadas por pesquisadores que buscaram neles recomendações ao uso de ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina ou ao chamado “tratamento precoce”, promoção da vitamina D como forma de prevenção, além de desestímulo ao distanciamento social, ao uso de máscaras e à vacinação. Um bot do Google, proprietário do YouTube, chegaria nesses vídeos em frações de segundos. O problema é que o canal com o maior número de violações da conduta exigida pelo YouTube pertence ao do presidente Jair Bolsonaro (3,2 de milhões de inscritos). Ele é seguido pelo jornalista Alexandre Garcia (1,8 milhões de inscritos) e o programa “Os Pingos nos Is” (3 milhões de inscritos), da rádio Jovem Pan. Além de encontrar os maiores responsáveis por fake news contra a saúde pública brasileira no YouTube, os pesquisadores também usaram o site Social Blade para estimar quanto o portal pagou para esses canais prejudicarem a prevenção contra a pandemia. Apenas o canal do presidente Jair Bolsonaro não é remunerado. Já o programa “Pingos nos Is” recebeu mais de R$ 100 mil – uma conta mais exagerada chega a calcular R$ 1,729 milhão – somente em janeiro de 2021, embora não seja possível saber quanto desse montante vem dos vídeos desinformativos. Os pesquisadores concluem que, se o YouTube tivesse aplicado as punições previstas em sua própria política, esses canais já teriam sido permanentemente excluídos há muito tempo. “A regra existe e nesse casos a margem de duvida e interpretação é muito pequena. E esses vídeos são só de janeiro, quando já havia passado o pico de postagens por exemplo sobre hidroxicloroquina. Ainda assim, fica claro que existe uma afronta às políticas”, aponta Guilherme Felitti, da Novelo Data, um dos responsáveis pelo levantamento, em declaração à imprensa. Enquanto isso não acontece, a desinformação vem ajudando o Brasil a bater recordes de infecção e mortes pela covid-19. O país se tornou o novo epicentro da pandemia mundial, superando as mais de 2 mil fatalidades diárias. No caso do canal de Bolsonaro, no dia 4 de janeiro, foi compartilhado um vídeo intitulado “o tratamento precoce salva vidas”, com 78 mil visualizações. Nele, o pediatra e toxicologista Anthony Wong afirma em uma entrevista que “os lugares que usaram a hidroxicloroquina, azitromicina precocemente, a mortalidade era 50 a 80% menor tratando precocemente”. Isto não é verdade. O prefeito bolonarista de Uberlândia chegou a distribuir os medicamentos de graça e o resultado deste “tratamento precoce” foi que a cidade se tornou o maior foco de covid-19 de Minas Gerais. O jornalista Alexandre Garcia também defendeu em diversos vídeos compartilhados em seu canal o tratamento precoce sem eficácia comprovada. Em um deles, de 20 de janeiro, afirma que não há qualquer “prejuízo” para as pessoas que usarem medicamentos como hidroxicloroquina. Mais uma vez, isto não é verdade. Vários estudos apontam que a droga desencadeia arritmias cardíacas. “A consequência foi gente morrendo com problema cardíaco. Faleceram de Covid com arritmia. Não dá pra tratar prescrição de medicamento com achismo de autoridade pública”, disse nesta semana o Presidente do Conselho de Secretários Estaduais de Saúde, Carlos Lula. No caso do canal “Pingos nos Is”, os vídeos colocam em xeque o distanciamento social e até as vacinas contra a covid-19. Em um dos vídeos apontados, o jornalista Guilherme Fiuza afirma que não há estudos suficientes que embasem as vacinas. Outra mentira. Todas as vacinas passaram por três fases de testagem intensa e seus resultados foram checados e rechecados por médicos, cientistas e autoridades sanitárias em vários países simultaneamente. O levantamento da Novelo Data e do Monitor do Debate Político acrescentou que parte dos canais teve vídeos apagados depois de algumas semanas. Um exemplo citado foi o canal Foco do Brasil, que viu sumir 2 de 6 vídeos que violam as diretrizes do YouTube. O Foco do Brasil é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito sobre as manifestações antidemocráticas. Procurado pelo jornal O Globo para comentar os resultados do levantamento, o YouTube se limitou a afirmar que não permite vídeos que promovam desinformação sobre o coronavírus e que, desde o início de fevereiro de 2020, removeu manualmente mais de 800 mil vídeos relacionados a afirmações perigosas ou enganosas sobre o vírus. “Temos o compromisso de zelar pela segurança dos nossos usuários ao utilizarem o YouTube, por isso continuaremos com o trabalho de remoção de vídeos que violem nossas regras. Além disso, qualquer pessoa que acredite ter encontrado um conteúdo no YouTube em desacordo com as diretrizes da nossa comunidade pode fazer uma denúncia e nossa equipe fará a análise do material”, declarou.
Felipe Neto reforça crítica após ser intimado por chamar Bolsonaro de genocida
O Youtuber Felipe Neto foi intimado pelo vereador Carlos Bolsonaro, que abriu um processo para enquadrá-lo na Lei de Segurança Nacional por chamar o presidente de genocida nas redes sociais. Em resposta, Neto divulgou um vídeo em que reforçou suas críticas. “Não sei exatamente como ele gostaria que eu me referisse ao presidente da República, um presidente que chamou reiteradamente a maior pandemia que se viu em muitos anos de ‘gripezinha'”, disse no vídeo. “Um presidente que incentiva a todos a saírem às ruas como se nada estivesse acontecendo, que provocou aglomerações em todos os momentos da pandemia… Um presidente que sabotou e sabota as medidas de prefeitos e governadores que tentaram fazer alguma coisa contra a propagação do vírus, um presidente que condenou durante todo esse tempo o uso de máscaras e se recusou a utilizá-las, que demitiu dois ministros da Saúde e gastou milhões em cloroquina, uma droga comprovadamente ineficaz, que se recusou veementemente a comprar vacinas. Como eu deveria chamar esse presidente? Colegão, amigo do povo, guerreiro? Não sobrava outra palavra para definir o presidente.” A investigação é presidida pelo delegado Paulo Dacosta Sartori, o mesmo que, em 2020, abriu na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) inquérito contra o influenciador digital por “corrupção de menores”. Após a intimação, a expressão “Bolsonaro genocida” disparou na internet. Até sexta-feira passada (12/3), a busca por “Bolsonaro genocida” resultava em 1,3 milhão de links na homepage do Google. Nesta terça (16/3), após a intimação, a pesquisa resulta em mais de 2 milhões de links. Só na segunda, o termo “genocida” foi usado em 330 mil tuítes, de 115 mil perfis mobilizados, segundo o especialista em redes sociais e big data, o professor Fabio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo. Também no Twitter, Neto lembrou que passou cinco anos criticando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem nunca ter sido importunado, apontando uma tentativa de limitar sua liberdade de expressão, via intimidação policial, por parte da família Bolsonaro. Na segunda, Lula prestou solidariedade ao influenciador digital. Jair Bolsonaro foi denunciado por genocídio no ano passado no Tribunal Penal Internacional, com sede na Suíça, que atualmente decide se irá abrir inquérito. Carlos Bolsonaro não intimou os responsáveis pela denúncia, a Comissão Arns e a Conectas Direitos Humanos.
Globoplay libera série de Marielle Franco de graça no aniversário de sua morte
A plataforma Globoplay abrirá “Marielle, O Documentário” para não assinantes exclusivamente neste domingo (13/3). A data marca três anos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, que ainda não teve o mandante revelado. Lançada há um ano, a minissérie documental inaugurou um nova linha de produções de jornalismo para a Globoplay, que tem rendido alguns dos melhores conteúdos da plataforma, como a série chocante sobre os crimes de João de Deus e a história do bicheiro Castor de Andrade, o Poderoso Chefão brasileiro. Escrita e dirigida por Caio Cavechini (dos documentários “Entre os Homens de Bem” e “Cartas para um Ladrão de Livros”), “Marielle, O Documentário” poderá ser vista de graça por todos os que acessarem a plataforma a partir das 0h. O Globoplay também está preparando uma série de ficção sobre a vereadora. A previsão era que as roteiristas Maria Camargo e Mariana Jaspe entregassem o texto da trama à direção da Globo em janeiro, mas desde que elas assumiram em outubro passado, após uma crise de bastidores, não há maiores informações sobre o projeto.
Governador do DF indica filme para Bolsonaro aprender o que é Estado de Sítio
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, rebateu uma fala de Jair Bolsonaro com a sugestão de um filme. O político, que supostamente também é bolsonarista, não gostou de ouvir de Bolsonaro que tinha decretado um “estado de sítio” em Brasília e sugeriu que o presidente assistisse ao clássico “Estado de Sítio”, de Costa-Gavras, para aprender como é “o terror de viver sob repressão”. Bolsonaro comparou o toque de recolher decretado por Ibaneis, para conter a transmissão do coronavírus, a um Estado de Sítio durante sua live de quinta (11/3). “Uma medida extrema dessa, só eu, o presidente da República, e o Congresso Nacional, poderiam tomar”, disse Bolsonaro, antes de fazer alusões cifradas à quebra-quebras e tumulto social (até aqui inexistentes) por todo o Brasil. “O presidente da República, Jair Bolsonaro, por quem eu tenho respeito e apreço, disse que o Distrito Federal está sob estado de sítio. Desta vez eu discordo dele. O DF está sim com restrição na mobilidade das pessoas a partir de 22h por uma medida sanitária”, escreveu Ibaneis Rocha no Twitter. “O objetivo é claro, reduzir a disseminação do coronavírus”, acrescentou. Na sequência, Ibaneis indicou o filme de 1972, que retratou uma situação real. Em 1970, o cônsul brasileiro Aloysio Gomide e o agente da CIA Dan Mitrione foram sequestrados em Montevidéu, no Uruguai, pelo Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, organização terrorista uruguaia. O americano foi executado e Gomide só foi libertado sete meses depois, após o governo uruguaio concordar em suspender um estado de sítio que tinha decretado no país. “Quem quiser saber o que é o terror de viver sob repressão, recomendo que veja o filme ‘Estado de Sítio’, de Costa Gravas, lançado em 1972”, afirmou Ibaneis, incluindo até um link para uma cópia (possivelmente pirata) da obra no YouTube. Apesar do uso como ferramenta pedagógica, há uma ironia histórica na citação ao longa, que foi proibido pela Ditadura no Brasil, assim como todos os longas de Costa-Gavras desde “Z” (1969), sobre censura e acobertamento de crimes políticos por militares. O cineasta grego foi o diretor mais censurado do regime que Bolsonaro costuma idolatrar. “Estado de Sítio” só foi exibido nos cinemas brasileiras quase uma década após seu lançamento e sob ameaça de bombas, após o último general-presidente, Figueiredo, anunciar a “abertura política” (“É pra abrir mesmo. Quem não quiser que abra, eu prendo e arrebento!”), em meio à vários atentados terroristas de grupos que não queriam abrir mão de dizer o que os brasileiros podiam ver, falar e fazer. O objetivo é claro, reduzir a disseminação do Coronavírus. Quem quiser saber o que é o terror de viver sob repressão, recomendo que veja o filme Estado de Sítio, de Costa Gravas, lançado em 1972, e que está na íntegra e com legendas no YouTube: https://t.co/GauTW3ToSj (2/2) — Ibaneis Oficial (@IbaneisOficial) March 12, 2021









