Artistas defendem Paulo Betti de acusação de racismo em disputa sindical
As atrizes Júlia Lemmertz e Deborah Evelyn foram às redes sociais nesta terça-feira (18/6) para defender o colega Paulo Betti, acusado de racismo em um processo movido pelos atores Jorge Coutinho e Milton Gonçalves. Os posts ressaltam que a briga tem componente de eleição sindical. As duas atrizes compõem com Betti uma chapa de oposição à presidência do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (SATED-RJ). Jorge Coutinho e Milton Gonçalves integram a chapa da situação. No texto, elas afirmam que “a acusação é baseada em interpretação distorcida e equivocada de uma frase em que Paulo Betti elogia os companheiros Milton Gonçalves e Cosme dos Santos” e que o termo racismo teria “sido usado levianamente” pela chapa rival, como parte de uma “manobra eleitoreira”. Além disso, o post aponta que já houve uma tentativa de impedimento à candidatura da Chapa 2, representada por Betti. “A atual direção do SATED (formada por Jorge Coutinho e Milton Gonçalves) tentou pedir o indeferimento da candidatura da Chapa 2 – Renovação e Transparência, mas a manobra não obteve sucesso, e culminou na volta da Chapa 2 ao processo eleitoral após determinação liminar da 81ª Vara da Justiça do Trabalho.” Caio Blat também chamou atenção para a “distorção” política. “Paulo Betti, gigante batalhador da arte, que elogiou nossos colegas e teve sua fala distorcida por interesses políticos”, ele escreveu no Instagram. Dadá Coelho, mulher de Paulo Betti, reproduziu a manifestação de Caio e acrescentou: “Amigos, a causa racista é legítima e não pode NUNCA, jamais em tempo algum, ser usada de forma leviana e oportunista”. Até a ex-mulher do ator, Maria Ribeiro, usou as redes sociais para se se pronunciar sobre o caso. “Ao acusar, a meu ver, levianamente, um sujeito íntegro como Paulo, esses senhores não só não estão lutando por um Brasil melhor, como estão, na melhor das hipóteses, confusos sobre seus reais inimigos”, escreveu. “Paulo, na camisa do meu time está escrito o teu nome, e eu a exibo com amor e orgulho há 22 anos.” A acusação de racismo teve como base uma mensagem de Betti no WhatsApp, na qual o ator afirmava que “a atual diretoria do sindicato está lá há muito tempo e tem uma forte representação negra com Jorge Coutinho e o grande Milton Gonçalves, além do querido Cosme, isso complica bastante a luta, pois pode confundir as coisas.” Ainda de acordo com o jornal, a defesa de Coutinho e Gonçalves alega que as falas de Betti são “insinuações evidentemente maledicentes” e pede que o acusado responda a pelo menos três perguntas: “que complicador seria o levantado por Betti diante o fato de Milton e Jorge terem forte representação negra? O que poderia “confundir as coisas”? Que coisas seriam essas? Que luta seria essa?”. A ação aberta por Coutinho e Gonçalves na Justiça diz que a fala do ator de “Órfãos da Terra” acarreta interpretação “imprópria e infeliz” e faz “distinção entre negros e brancos”. “É uma acusação muito grave. Eu não sou racista. Pelo menos até onde eu saiba, a minha história não diz isso, eu nunca me considerei”, disse Betti ao UOL, por telefone. “Mas prefiro responder primeiro à interpelação”, completou o ator. As eleições para a presidência do sindicato estão marcadas para os dias 29 e 30 e 1º de julho. Ver essa foto no Instagram TODO O APOIO AO GRANDE ARTISTA PAULO BETTI. NÃO CAIA EM FAKE NEWS. NUNCA FOI SOBRE RACISMO. A Chapa 2 – Renovação e Transparência vem prestar toda solidariedade ao companheiro Paulo Betti, que tem sido injusta e ostensivamente acusado de racismo, fascismo e nazismo em redes sociais pelo Sr. Jorge Coutinho, candidato à 5ª reeleição para a presidência do SATED RJ. Para não nos deixarmos enganar, precisamos nos informar e refletir. Precisamos saber, por exemplo: – que a acusação é baseada em interpretação distorcida e equivocada de uma frase em que Paulo Betti elogia os companheiros Milton Gonçalves e Cosme dos Santos; – que nenhum juiz jamais recebeu nenhuma denúncia contra Paulo Betti, mas apenas um pedido de interpelação impetrado pelos senhores Jorge Coutinho e Milton Gonçalves; – que os Srs. Jorge Coutinho e Milton Gonçalves, há cerca de 20 anos na diretoria do Sated RJ, integram a Chapa 1, pela qual Sr. Coutinho é candidato à 5ª reeleição à presidência da entidade; – que Paulo Betti integra, com outros 23 colegas, a chapa concorrente, Chapa 2 – Renovação e Transparência, sendo portanto, neste contexto, um adversário eleitoral dos Srs. Milton Gonçalves e Jorge Coutinho; – Que a atual direção do SATED (Chapa 1) tentou pedir o indeferimento da candidatura da Chapa 2 – Renovação e Transparência, mas a manobra não obteve sucesso, e culminou na volta da Chapa 2 ao processo eleitoral após determinação liminar da 81ª Vara da Justiça do Trabalho. Diante desse histórico, lamentamos que uma questão tão grave e tão sensível à nossa população, como o racismo estrutural, entranhado em nossa sociedade, tenha sido usado levianamente a serviço de mais uma manobra eleitoreira que vem tentando a qualquer custo deslegitimar a chapa opositora. Paulo Betti, cuja história de integridade e de luta democrática, desde a época da ditadura militar, é conhecida por todos, é artista e cidadão respeitado Brasil afora, e sua trajetória fala por si. Não às calúnias. Não aos atalhos desonestos. Não às já desgastadas “fake news”. Um processo eleitoral legítimo só pode se dar num contexto de respeito, transparência e democracia. CHAPA 2 – RENOVAÇÃO E TRANSPARÊNCIA #RenovaSated #Re Uma publicação compartilhada por Julia Lemmertz (@lemmertzju) em 18 de Jun, 2019 às 7:31 PDT Ver essa foto no Instagram TODO O APOIO AO GRANDE ARTISTA PAULO BETTI. NÃO CAIA EM FAKE NEWS. NUNCA FOI SOBRE RACISMO. A Chapa 2 – Renovação e Transparência vem prestar toda solidariedade ao companheiro @paulobetti que tem sido injusta e ostensivamente acusado de racismo, fascismo e nazismo em redes sociais pelo Sr. Jorge Coutinho, candidato à 5ª reeleição para a presidência do SATED RJ. Para não nos deixarmos enganar, precisamos nos informar e refletir. Precisamos saber, por exemplo: – que a acusação é baseada em interpretação distorcida e equivocada de uma frase em que Paulo Betti elogia os companheiros Milton Gonçalves e Cosme dos Santos; – que nenhum juiz jamais recebeu nenhuma denúncia contra Paulo Betti, mas apenas um pedido de interpelação impetrado pelos senhores Jorge Coutinho e Milton Gonçalves; – que os Srs. Jorge Coutinho e Milton Gonçalves, há cerca de 20 anos na diretoria do Sated RJ, integram a Chapa 1, pela qual Sr. Coutinho é candidato à 5ª reeleição à presidência da entidade; – que Paulo Betti integra, com outros 23 colegas, a chapa concorrente, Chapa 2 – Renovação e Transparência, sendo portanto, neste contexto, um adversário eleitoral dos Srs. Milton Gonçalves e Jorge Coutinho; – Que a atual direção do SATED (Chapa 1) tentou pedir o indeferimento da candidatura da Chapa 2 – Renovação e Transparência, mas a manobra não obteve sucesso, e culminou na volta da Chapa 2 ao processo eleitoral após determinação liminar da 81ª Vara da Justiça do Trabalho. Diante desse histórico, lamentamos que uma questão tão grave e tão sensível à nossa população, como o racismo estrutural, entranhado em nossa sociedade, tenha sido usado levianamente a serviço de mais uma manobra eleitoreira que vem tentando a qualquer custo deslegitimar a chapa opositora. Paulo Betti, cuja história de integridade e de luta democrática, desde a época da ditadura militar, é conhecida por todos, é artista e cidadão respeitado Brasil afora, e sua trajetória fala por si. Não às calúnias. Não aos atalhos desonestos. Não às já desgastadas “fake news”. Um processo eleitoral legítimo só pode se dar num contexto de respeito, transparência e democracia. CHAPA 2 – RENOVAÇÃO E TRANSPARÊNCIA #RenovaSated #Re Uma publicação compartilhada por Deborah Evelyn (@debevelyn) em 18 de Jun, 2019 às 6:50 PDT Ver essa foto no Instagram Todo o apoio ao grande Paulo Betti, gigante batalhador da arte, que elogiou nossos colegas e teve sua fala distorcida por interesses políticos. Homem íntegro, sempre envolvido na causa da representatividade negra e na defesa da arte e da educação. E todo o apoio à Chapa 2 na renovação do Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro – Sated. Uma publicação compartilhada por Caio Blat (@caio_blat) em 18 de Jun, 2019 às 10:42 PDT Ver essa foto no Instagram Amigos, a causa racista é legítima e não pode NUNCA, jamais em tempo algum, ser usada de forma leviana e oportunista. Como diz Angela Davis: “numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.” #ForçaPauloBetti #SomosTodosPauloBetti #repost @caio_blat ・・・ Todo o apoio ao grande Paulo Betti, gigante batalhador da arte, que elogiou nossos colegas e teve sua fala distorcida por interesses políticos. Homem íntegro, sempre envolvido na causa da representatividade negra e na defesa da arte e da educação. E todo o apoio à Chapa 2 na renovação do Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro – SATED. Uma publicação compartilhada por Dadá Coelho (@dadacoelho) em 18 de Jun, 2019 às 11:12 PDT Ver essa foto no Instagram Quando @paulobetti e eu nos separamos, 14 anos atrás, pedi, não à toa, pra ficar com essa carteirinha. Paulo é um sindicalista por natureza, um cara pra quem o ofício e a justiça – ou injustiça – relativos à profissão importam mais do que todas as outras coisas. Compra todas as causas dos colegas, e agora, decidiu entrar pra valer, através da disputa do sated, no que sempre fez: lutar por seu grupo. Eu, ao contrario, mais egoísta, só me dei conta da desunião da nossa classe quando isso bateu em mim – mas isso não importa agora. O que importa é que acordei lendo que Paulo está sendo acusado de racismo porque disse, sobre a disputa de chapa do sindicato dos atores – e num grupo de whats app! – que devemos ficar sensíveis e atentos ao possível uso de lutas fundamentais com o objetivo – velado – de comover e manipular os eleitores, monetizando ideologicamente a questão mais grave do Brasil. Somos um país racista, e é nossa obrigação lutar diariamente contra isso. Ao acusar, a meu ver, levianamente, um sujeito integro como Paulo, esses senhores nao só nao estao lutando por um Brasil melhor, como estao, na melhor das hipóteses, confusos sobre seus reais inimigos. Paulo, na camisa do meu time ta escrito o teu nome, e eu a exibo com amor e orgulho há 22 anos. Sigamos com força e coragem (e nem vem me pedir de volta a carteirinha….rs). ♥️ Uma publicação compartilhada por Maria Ribeiro (@mariaaribeiro) em 18 de Jun, 2019 às 7:28 PDT
Milton Gonçalves está processando Paulo Betti por racismo em meio a eleição sindical
Os atores Milton Gonçalves e Jorge Coutinho estão processando o colega Paulo Betti por racismo. A ação foi feita na 33ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Segundo os autos do processo, revelados pelo jornal Folha de S. Paulo, Betti faz parte de uma chapa criada com intuito de concorrer contra Milton e Jorge na próxima eleição para presidência do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente, Jorge e Milton são Presidente e Diretor Geral, respectivamente. Todos os três atores estão no grupo de Whatsapp “Profissão Artistas”. E foi lá que se deu a polêmica. No dia 16 de abril, Betti escreveu: “A atual diretoria do sindicato está lá há muito tempo e tem uma forte representação negra com Jorge Coutinho e o grande Milton Gonçalves, além do querido Cosme, isso complica bastante a luta, pois pode confundir as coisas”. Para Milton e Jorge, as falas de Betti possuem “ambiguidade e dubiedade”, denotam interpretação imprópria e infeliz, fazendo distinção entre negros e brancos, e são “insinuações evidentemente maledicentes.” Milton e Jorge querem que Betti esclareça em juízo o que quis dizer com suas declarações e responda a pelo menos três perguntas: que complicador seria o levantado por Betti diante o fato de Milton e Jorge terem forte representação negra? O que poderia “confundir as coisas”? Que coisas seriam essas? Que luta seria essa? “Embora não reste dúvidas quanto à hostilidade das palavras prolatadas por Betti, há real possibilidade de se aferir a prática de crime de injúria preconceituosa, dependendo do que declarar o interpelado”, diz a petição inicial. O juiz Daniel Werneck Cotta determinou que Betti apresente sua defesa em 15 dias, a contar do último dia 13 de junho. A defesa se apoia no artigo 144 do Código Penal, que diz que, se Betti se recusar a dar explicações em juízo, ou o juiz entender que as explicações não são satisfatórias, ele deve responder pela ofensa. Caso condenado, Betti pode pegar de um a três anos de prisão, mais multa. A eleição da presidência do Sindicato dos Artistas acontecerá em três datas: 29 e 30 de junho, e 1º de julho. Os Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, é um dos locais de votação. Ao lado de Betti, a chapa 2 tem Tonico Pereira, Zeze Polessa e Júlia Lemmettz. Veja abaixo a mensagem que motivou o processo.
O Paciente: Trailer emocionante recria a tragédia da morte de Tancredo Neves, que parou o Brasil em 1985
A Paris e a Globo Filmes divulgaram fotos, o pôster e o primeiro trailer de “O Paciente – O Caso Tancredo Neves”. O título horrível, mais adequado a um documentário televisivo, tese de graduação acadêmica ou pesquisa literária, esconde uma prévia emocionante, com doses equilibradas de tensão, dramaticidade e perspectiva histórica. O mais impressionante na prévia é enxergar o grande intérprete Othon Bastos (“O Último Cine Drive-In”) e ver Tancredo Neves. E ele não é o único ator a conseguir este efeito no vídeo. Emilio Dantas (“Motorad”) também some em cena para dar lugar a Antonio Britto, o secretário de imprensa e assessor de Tancredo, que informava diariamente a condição do paciente. Mas o grande papel é mesmo do veterano do cinema brasileiro, que já era destaque desde o clássico “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), e retorna em grande estilo após muitas novelas, num trabalho digno da grandeza de sua filmografia. No filme, Othon Bastos vive o primeiro presidente civil do Brasil após a ditadura, responsável direto pela redemocratização do país, que uniu de Lula a Fernando Henrique Cardoso no mesmo palanque, mas morreu em abril de 1985, antes de assumir o cargo, deixando o país na mão de seu vice, José Sarney – o primeiro de uma longa tradição de vices transformados em presidentes do Brasil nos últimos anos. Acometido de uma doença súbita, Tancredo definhou até morrer após sua eleição. Muitas teorias de conspiração e acusações de erros médicos alimentaram os bastidores de sua morte, que foi tratada como tragédia nacional e parou o Brasil, gerando comoção entre todos os brasileiros. Simbólico, Tancredo representou, com sua eleição, o fim de um dos períodos mais sinistros da nação, mas com sua morte assinalou também o desencanto, o fim da esperança de que tudo pudesse mudar, alçando à presidência um político aliado dos antigos ditadores e que viria a perpetuar no poder o mesmo grupo, denominado de “centrão”, que resiste até a ser lavado à jato. O elenco que recria este capítulo triste da História do Brasil também inclui Esther Goes (novela “Bela, a Feia”), que, como Dona Rizoleta, a viúva de Tancredo, é responsável por dar a dimensão dramática da prévia, além de Paulo Betti (“Chatô: O Rei do Brasil”), Otavio Muller (“O Gorila”), Leonardo Medeiros (“Polícia Federal: A Lei é para Todos”) e Luciana Braga (novela “Vidas em Jogo”). O roteiro foi escrito por Gustavo Lipsztein (“Polícia Federal: A Lei É para Todos”), baseando-se no livro homônimo do pesquisador e historiador Luis Mir, que teve acesso a documentos do Hospital de Base de Brasília e do Instituto do Coração, em São Paulo, onde Tancredo Neves morreu, e que concluiu que um erro de diagnóstico de apendicite aguda levou a equipe médica a realizar, desnecessariamente, uma cirurgia de emergência que impediu o presidente eleito de tomar posse e, basicamente, agravou sua saúde até o óbito, por falência múltipla de órgãos. A direção é do veterano cineasta Sérgio Rezende (de “Guerra de Canudos”, “Zuzu Angel” e “Salve Geral”) e a estreia está marcada para o dia 13 de dezembro.
Primeiro filme brasileiro da Netflix vai concorrer no Festival de Gramado
O Festival de Gramado vai repetir no Brasil a polêmica que marcou o Festival de Cannes deste ano. O primeiro filme nacional produzido pela Netflix para exibição em streaming entrou na seleção do evento. “O Matador”, de Marcelo Galvão, está entre os sete filmes da competição do evento, que acontece de 17 e 26 de agosto. Há dois meses, duas produções da Netflix (“Okja” e “The Meyerowitz Stories”) foram selecionadas para a competição principal de Cannes, provocando a ira dos exibidores franceses e o descontentamento de alguns profissionais da indústria. A repercussão foi tanta que provocou mudanças nas regras da mostra francesa: a partir do ano que vem, somente filmes que forem estrear nos cinemas poderão concorrer à Palma de Ouro. Será curioso ver que repercussão o caso de “O Matador” terá no Brasil, já que os exibidores nacionais não são conhecidos por privilegiarem dramas brasileiros na ocupação de suas telas. O pioneiro filme de Marcelo Galvão será lançado na Netflix no final do ano e não tem previsão de estreia nos cinemas. Faroeste caboclo ambientado no sertão pernambucano nas décadas de 1910 e 1940, “O Matador” conta a história de Cabeleira (Diogo Morgado), que foi abandonado ainda bebê e criado por um cangaceiro local chamado Sete Orelhas (Deto Montenegro). Quando Sete Orelhas desaparece, ele vai a sua procura e acaba encontrando uma cidade sem lei, governada pelo tirânico Monsieur Blanchard (Etienne Chicot), um francês que domina o mercado de pedras preciosas e anteriormente empregava Sete Orelhas como seu matador. O filme foi escrito e dirigido por Marcelo Galvão, que costuma ser premiado em Gramado: “Colegas” venceu Melhor Filme em 2012 e “A Despedida” lhe rendeu o Kikito de Melhor Diretor em 2014. Os outros seis longas que vão disputar Kikitos são “A Fera na Selva”, segundo longa dirigido pelo ator Paulo Betti (após “Cafundó”, em 2005), desta vez em parceria com a também atriz Eliane Giardini e o veterano cinematógrafo Lauro Escorel (“A Suprema Felicidade”); “As Duas Irenes”, primeiro longa do paulista Fábio Meira; “Bio”, do cineasta gaúcho Carlos Gerbase (“Menos que Nada”); “Como Nossos Pais”, de Laís Bodanzky (“As Melhores Coisas do Mundo”); “Não Devore Meu Coração!”, de Felipe Bragança (“A Alegria”); e “Pela Janela”, primeiro longa de Caroline Leone (editora de “Vermelho Russo”) numa coprodução com a Argentina. Todos os filmes terão sua première nacional em Gramado, mas “As Duas Irenes”, “Como Nossos Pais” e “Não Devore Meu Coração!” já foram exibidos no Festival de Berlim 2017 e em outros eventos internacionais. “As Duas Irenes”, inclusive, foi premiado como Melhor Filme de Estreia e Melhor Direção de Fotografia no Festival de Guadalajara, no México, enquanto “Como Nossos Pais” venceu o Festival de Cinema Brasileiro de Paris. Trata-se de uma ótima seleção, mas, como tem sido regra nos festivais brasileiros, bastante enxuta. Apesar do prestígio que acompanha Gramado, são enormes as chances de todos os filmes saírem premiados, já que há apenas sete obras em competição – o que diminui a importância do prêmio. Nisto, Gramado se mostra bem diferente de Cannes, que reúne mais de 20 longas na disputa pela Palma de Ouro – o que realmente dá outra representatividade ao troféu. Para não ir tão longe, o último Festival do Rio juntou 14 longas, entre obras de ficção e documentários, em sua mostra competitiva principal – e mais seis, um Festival de Brasília inteiro, numa mostra paralela de filmes autorais.
Quase uma lenda, Chatô sobrevive a polêmicas e se prova atual
Não é sempre que se tem a oportunidade de assistir a um filme mítico, quase uma lenda do cinema brasileiro, como “Chatô – O Rei do Brasil”. O lançamento, que finalmente estreia em circuito comercial, comprova que assombrações existem. Pois enquanto permaneceu invisível para o público, “Chatô” assombrou a carreira de Guilherme Fontes de forma tortuosa. Adaptação do livro homônimo de Fernando Morais sobre o empresário das comunicações Assis Chateaubriand, responsável pela inauguração do primeiro canal de TV do Brasil e um dos brasileiros mais poderosos do século 20, a produção se estendeu por duas décadas completas, consumiu milhões e rendeu diversos processos por má gestão financeira. Numa das contas recentes do Ministério Público, Fontes foi apontado como devedor de cerca de R$ 72 milhões em verbas incentivas sem comprovação, somadas a multas e juros. Primeiro e único longa-metragem dirigido por Fontes, “Chatô” teve a filmagem mais tumultuada já registrada no país, com cenas rodadas conforme o então ator de novelas conseguia negociar verbas, desde 1995, recebendo retoques até à véspera do lançamento, com a inclusão de uma narração de Marco Ricca (intérprete de Chateaubriand) para amarrar a trama. O mais impressionante nessa epopeia toda é o filme ter coesão. Não virou um desastre épico, consegue entreter e tem marca autoral. Um filme sobre seus bastidores não teria dificuldades em mostrar Fontes como um Howard Hughes brasileiro, rodando infinitamente o mesmo projeto, muito além do limite aceitável, em busca da perfeição ilusória – megalomania que vai além das filmagens, na criação de uma distribuidora própria para levar o longa às telas. Mas Fontes pode preferir se ver como um Orson Welles nacional, apostando que seu primeiro longa viraria a obra-prima que definiria toda a sua carreira. E, de certa forma, definiu mesmo. São claros os paralelos entre o Chateaubriand do cinema e “Cidadão Kane” (1941), tanto pelo tema quanto pela estrutura do filme, que começa com os suspiros finais do protagonista. A diferença é que, em seu delírio de morte, Chatô se vê em uma espécie de julgamento televisivo, comandado por um apresentador feérico (o próprio Fontes, emulando Chacrinha), que desfila todas as pessoas que passaram por sua vida, tendo Getúlio Vargas como seu advogado e Carlos Rosemberg como promotor. A narrativa picotada, que mergulha em flashbacks e delírios, é ousada, demonstrando outra semelhança com “Cidadão Kane”, mas também destaca a principal diferença entre os dois longas. Fontes não é Welles, e o vai e vem de imagens se mostra desconexo, cansativo, levando à dispersão. Num filme assumidamente alegórico, isto pode ser um problema grave. Entretanto, há um fio condutor que, bem ou mal, consegue amarrar as pontas. A estrutura também permite romper com o padrão de realismo e interpretação naturalista que se espera de uma cinebiografia. Graças à dramatização exótica, centrada num programa onírico de auditório, o exagero cênico se torna aceitável. Os personagens caricatos não causam mais estranhamento que o contexto. Assim, Marco Ricca pode aparecer afetadíssimo, exagerando em tudo – no sexo, no cinismo e na ganância. Do mesmo modo, os coadjuvantes que o cercam viram projeções arquetípicas: Getúlio Vargas (Paulo Betti) surge como uma caricatura populista, Lola Abranches (Leandra Leal) como a esposa histérica, etc. Até a única personagem fictícia da história, Dona Vivi (Andréa Beltrão), manifesta-se em registro extremo, como femme fatale. Isto não tira o mérito dos intérpretes. Ao contrário, Marco Ricca dá sangue e pulsação a seu Chatô, numa performance febril, adequada à opção narrativa. Outra qualidade encontra-se na reconstituição de época, que é realista quando precisa, mas também embarca na proposta surreal, como na cena de avião em meio a uma tempestade, realizada como num filme dos anos 1940. Ironicamente, graças a estes maneirismos, “Chatô – O Rei do Brasil” resistiu melhor à passagem de tempo de sua produção, chegando as telas sem o desgaste esperado de um filme supostamente datado. O longo processo de gestação, porém, criou um apego maior que o recomendável entre o diretor e seu material. A projeção se beneficiaria muito de uma montagem mais enxuta, eliminando sobras de roteiro e cenas que parecem supérfluas. O corte já é irregular o suficiente, levando a duração a parecer muito maior que seus 102 minutos. Embora os bastidores conturbados e eventuais defeitos de execução jamais se dissociem da obra final, também se deve reconhecer o esforço e o resultado total. “Chatô” consegue cobrir os momentos mais polêmicos da história do Brasil, da revolução de 1930 ao golpe militar de 1964, contando ao mesmo tempo a história das comunicações no país, com ênfase na corrupção com que foram conduzidos a política e os negócios do período. A produção pinta Chateaubriand como uma espécie de jagunço da mídia, um visionário chantagista, capaz de usar jornais, rádios e TV para manipular e dobrar poderosos, impondo sempre a sua vontade. Ao mesmo tempo, foi quem deixou, como legado, a TV brasileira e o MASP, um dos museus mais importantes do país. Não era mesmo fácil contar sua história num único filme. Nem que este filme durasse 20 anos para ganhar forma. Ao final, é até possível encontrar um lado positivo na demorada gestação. Tropicalista tardio, “Chatô” destoa do convencionalismo das últimas cinebiografias brasileiras, concebidas como minisséries televisivas, com começo, desenvolvimento e conclusão lineares, além de extirpadas de qualquer indício de polêmica. “Chatô” nasceu polêmico e assume ainda mais polêmicas na tela, servindo de analogia para situações que ainda existem, perpetuando-se no país em pleno século 21. Neste sentido, quem diria, “Chatô” acaba se revelando um filme bem atual.




